Chico Bento Moço, Edição #23 – A Árvore da Vida
Uma edição bonita sobre a NATUREZA. Tem tudo a ver
com o tema do “Chico Bento Moço”, mas
uma coisa que eu não venho gostando na revista há algum tempo é essa sugestão
de que “as coisas não são reais”. Desde “Muito
Além do Anzol”, nós estamos confusos com o que é real e o que não é, e não
de um modo inteligente e divertido como em Philip K. Dick. O Chico esteve mesmo
na Corte do Rei Artur? O Chico passou mesmo anos presos em um time loop tentando salvar a vida da
Rosinha? Eu queria acreditar que sim, mas todo o misticismo que envolve essa
edição, “A Árvore da Vida”, pode ser
muito bacana, pode até ser um pouco sombrio, mas o fato de a Rosinha e o Zé
Lelé não guardarem nem um tipo de memória do que aconteceu me faz pensar, às
vezes, que os roteiristas estão achando que o Chico “pirou de vez” ao algo assim.
A história é boa. O Chico começa deitado na grama
com o Bravo, seu cavalo de estimação (ou quase), olhando nuvens, e então ele
sai montado no cavalo em busca da pipa vermelha de um garoto, e essa pipa o
leva, sozinho, até o meio da FLORESTA, para um lugar até então desconhecido,
onde ele encontra um imenso carvalho.
O carvalho, que leva 300 anos para crescer, 300 anos para manter-se adulto e
mais 300 anos para morrer, pode ser uma árvore misteriosa, e a edição é bonita. O Chico sente uma paz nova e total
quando está ali no meio da mata, junto a seu mais novo amigo, o Carvalho, e nem
a árvore nem a pipa parecem deixá-lo
partir. A pipa aparece na janela do seu quarto na Vila Abobrinha, e ele sai
para segui-la, de volta para dentro
da mata… ele tem uma missão e está sendo
convocado, como o amigo da floresta que é.
Seus amigos são convocados com ele, quando vão
procurá-lo e encontram a caminhonete do Seu Tonico estacionada à beira da mata.
Grande parte da edição se passa durante a noite e pode ser bem macabra, quando
fala de “um mal que ressurge”, por exemplo, e o Chico e os amigos são
perseguidos por pessoas que querem destruir a mata, e um macabro chefe que é,
na verdade, a onça-negra que perseguiu o Chico uma vez antes, até que ele se
protegesse em um círculo de pedras, próximo ao Carvalho. Quando Chico, Rosinha
e Zé Lelé se embrenham na mata em uma aventura perigosa, o Chico é brutalmente
atacado pela onça-negra, Arawn, e ele desmaia junto ao Carvalho, tendo uma
experiência que pode ter sido de quase-morte, em que ele conversa com o Grande
Carvalho, como vem o chamando, e descobre quem ele é:
“Apesar da minha aparente condição passiva, enraizada
em teu mundo, posso viajar e enxergar através da natureza. É como se as
florestas fossem uma grande rede interligada, onde me conecto aos animais e
enxergo através dos seus olhos! Uma simples ave migratória pode me mostrar a
vida a distâncias longínquas… até mesmo o pólen e as sementes ao vento me
transportam pelo ar! Os homens me deram muitos nomes… Ardduhu, deus dos bosques
dos gauleses… os celtas me chamaram Cernunnos, deus dos animais… mas prefiro
ser chamado de OAK DAUR, o Velho Carvalho! E pra ti, meu jovem amigo… apenas
Daur!”
A edição tem todo um misticismo que eu adoro e que
combina muito com a revista do Chico Bento Moço. Com o Chico ainda desacordado,
a Rosinha sai em busca do Druida Vermelho, e retorna com o lobo-guará, aquele
que pode ajudá-los a deter o avanço de Arawn, e eles empreendem uma luta maior
que eles com muita coragem, enquanto o Chico toca uma antiga flauta celta. No
fim da edição, infelizmente, nem Rosinha nem Zé Lelé se lembram de nada do que
viveram na floresta, da “aventura” que tiveram, mas acreditamos que ela foi
real. O Chico ainda lembra dela, e o garoto da pipa vermelha reaparece para
pegá-la de volta, resgatada por Bravo… e esse garoto não é ninguém menos do que
o próprio Druida Vermelho, o que faz todo o sentido. Uma edição muito bonita,
em defesa da natureza, que mostra, novamente, o bom coração do Chico!
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