Sítio do Picapau Amarelo (2001) – Viagem ao País das Fábulas



“Vamos até lá, eu quero conferir umas histórias que a Dona Benta anda contando”
Mais um monte de estreias bacanas no “Sítio do Picapau Amarelo” quando as histórias “Pena de Papagaio” e “O Pó de Pirlimpimpim”, as duas últimas de “Reinações de Narizinho”, são adaptadas para a TV. Aqui, começando com a Emília e a Narizinho comendo jabuticaba direto do pé e a menina do nariz arrebitado tendo a língua mordida por uma abelha, que morava dentro de uma jabuticaba madura, a história nos leva por uma viagem através da leitura de Peter Pan, a aparição do Peninha, o garoto invisível, uma deliciosa visita ao País das Fábulas e, por fim, a primeira viagem da Dona Benta com as crianças… Peninha dá de presente para as crianças algo muito importante para as aventuras seguintes, o pó de pirlimpimpim, e o hall de animais falantes no Sítio do Picapau Amarelo cresce mais ainda quando o pessoal resgata o Burro Falante de ser condenado à morte no País das Fábulas!
Eu gosto particularmente da história sobre a Narizinho tendo sua língua mordida por uma abelha ao comer jabuticabas, porque em parte mostra a inocência da garota, e em parte também mostra as espertezas da Emília, capaz de ver a abelha dentro da fruta com os seus olhinhos de retrós. Depois que Narizinho promete “nunca mais comer jabuticaba do pé”, ela e Emília decidem fazer um enterro para a abelha, e Emília vai em busca do “Fazedor de Discursos”, o Visconde de Sabugosa, enquanto briga com o Rabicó: “Rabicó, você não sabe brincar de enterro? Tem que chorar e falar bem da abelha que morreu!” Depois dessa aventura durante o dia, as crianças tentam enganar a vovó mudando a hora do relógio da sala para que “já seja hora da história”, o que não dá muito certo… mas, naquela noite, Dona Benta começa a contar para elas a história do “Peter Pan”, o garoto que não queria crescer.
Pedrinho fica fascinado, e ele é bem parecido com ele em várias questões… ele não quer crescer, por exemplo (“Crescer pra onde? Crescer pra quê?”), e o Tio Barnabé, pescando com ele, já avisou que isso estava acontecendo. Todas as crianças ficam admiradas (“Eu vou dormir, mas vou deixar a janela bem aberta… pro Peter Pan entrar”) e obcecadas pela história, e talvez por isso o Pedrinho fique tão certo de que se trata de Peter Pan quando ele conhece um misterioso “garoto invisível” na goiabeira: “Ele não me engana! Ele é o Peter Pan, sim!” Ele dá um mapa de presente ao Pedrinho e o convida para visitar o Reino das Maravilhas no dia seguinte, e Pedrinho resolve levar todo mundo com ele… Emília, então, dá uma PENA de presente ao garoto para que eles possam saber onde ele está quando falam com ele, e o nomeia “Peninha”.
“E como a gente vai?”
“Com o pó de pirlimpimpim!”
É A ESTREIA DO FAMOSO PÓ DE PIRLIMPIMPIM, a primeira viagem meio psicodélica das crianças, e eu tenho minhas leituras peculiares a respeito do que Monteiro Lobato quis dizer com isso tudo quando escreveu essas histórias, especialmente quando foca na ação de “cheirar o pó”, ou quando diz que eles “trocam de estado”. De todo modo, o Peninha explica que o pó de pirlimpimpim foi inventado pelas fadas, e as crianças, a boneca de pano e o sabugo de milho giram e giram por um longo tempo até chegarem ao lugar desejado, o Reino das Maravilhas. Mais especificamente, O PAÍS DAS FÁBULAS. Lá, eles conhecem o Senhor La Fontaine, com a Emília toda metida, dizendo: “Vamos até lá, eu quero conferir umas histórias que a Dona Benta anda contando”. O mais legal, no entanto, foi a Emília interferindo na fábula da Cigarra e da Formiga…
“Não morra, boba! Não dê esse gosto àquela malvada!”, ela diz para a Cigarra, indo até ela. Depois, ainda lhe instrui: “Em vez de morrer igual uma idiota, você tem que preparar uma boa revanche! Vai, bate de novo!” Então Emília se vinga da formiga pela Cigarra, e é HILÁRIO. Na despedida do personagem, Emília lhe dá uma tesouro de uma perna só, para ele “cortar o cabelo” (nem que seja só metade dele), e pede que ele lhe escreva uma fábula… depois as crianças se aventuram pelo mundo de ESOPO, conhecendo a menina do leite, que não derruba e chora mais pelo leite no meio do caminho, e conhecemos o Burro Falante, que é injustamente acusado de ser um grande criminoso, só porque ele é o único que é sincero e não puxa o saco do Leão. De todo modo, enquanto gritam “morte ao Burro!”, o pessoal do Sítio aparece e o resgata!
Depois de salvar o Burro Falante, eles acabam presos por estranhos macacos (“Isso aqui tá parecendo Planeta dos Macacos”), e enquanto Emília e Narizinho são espertinhas e conseguem a liberdade, o mesmo não pode ser dito sobre o Pedrinho e o Visconde… então, com eles amarrados em um tronco, Peninha coloca planta dormideira no poço de onde os macacos tomam água, e com todos dormindo, o Burro Falante, novo amigo do pessoal, os desamarra e todos juntos usam o pó de pirlimpimpim para voltar ao Sítio do Picapau Amarelo, com direito àquelas reações hilárias da Tia Nastácia, primeiro ao Visconde voando (“Socorro, Dona Benta, acude aqui! Agora além de falar, o sabugo tá voando!”), depois à fala do Burro (“Mas gente! Não é que além de falar, o bicho ainda fala bonito!”). depressa, o Burro conquista todo mundo no Sítio!
Dona Benta fica fascinada ao ouvir as crianças contando sobre suas aventuras e sobre La Fontaine, e diz que até ela gostaria de conhecê-lo. Então, não seja por isso: as crianças planejam uma nova viagem e, dessa vez, levando Dona Benta com eles! Eles não chegam, no entanto, no País das Fábulas, como da última vez, mas em uma praia misteriosa em que duas “árvores” se revelam ser as pernas do terrível Pássaro Roca, que sai voando levando o Visconde e a canastrinha da Emília com ele… para resgatá-lo, Pedrinho vai sozinho, com o pó de pirlimpimpim, em busca do Barão de Münchausen, interpretado por Ney Latorraca, que consegue libertar o sabugo de milho das garras do Pássaro Roca com um tiro, mas ele cai no mar, e então, o que fazer? Pedrinho e o próprio Barão de Münchausen resolvem entrar no mar para salvá-lo.
Enquanto isso, Emília grita: “Segurem ele pelas pernas e puxem! Mas não muito forte, pra não arrancar. E cuidado com a minha canastra!” Eles resgatam a canastra e o pobre sabugo de milho, todo molhado, e a Emília parece só se importar com sua canastra, sendo repreendida pelos demais: “Você não tem coração, Emília! Ele se afogou, mas salvou a sua canastra!” Ele foi fiel à Emília e à sua promessa até o fim, algo que o Visconde de Sabugosa sempre foi e sempre será à Emília, mas a verdade é que, no fundo, a Emília também o ama, apesar da maneira como o trata e como o obriga a carregar suas coisas… tanto que ela o guarda com jeitinho dentro da canastra, dizendo que a Tia Nastácia ia fazer um Visconde muito mais bonito e muito mais inteligente. Então, ela sai correndo com o pessoal até o Castelo do Barão, grande, bonito, cheio de comida…
E de histórias inventadas pelo Barão.
A viagem, no entanto, é curta, porque eles precisam levar Dona Benta de volta ao Sítio: “Pedrinho, é melhor a gente levar a vovó embora. Aflita desse jeito, vai acabar ficando louca”, diz a Narizinho, mas o pó de pirlimpimpim molhou quando Pedrinho entrou na água para salvar o Visconde, e felizmente a Emília tinha um pouquinho de pó que “pegou emprestado” do Pedrinho, guardado dentro de sua canastrinha… então, eles voltam ao Sítio do Picapau Amarelo, onde Pedrinho e Tia Nastácia consertam o Visconde, que depressa está vivo e inteligente como sempre, enquanto Emília e Narizinho vão cuidar do Rabicó, que está dormindo por causa de um feitiço da Cuca, e não há nada que o faça acordar, a não ser “um beijo de princesa”. Difícil convencer a Emília a beijá-lo, mas eu confesso que adoro a negociação e o jeitinho da Emília: “Então, nada feito!”
Essa bonequinha sabe conseguir o que quer!

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