As Aventuras de Poliana (2018) – O primeiro dia de aula na Ruth Goulart
“Oi, meu nome é Poliana, prazer. Como é o seu?”
Eu estava bem
ansioso para o começo das aulas na Ruth Goulart, mas confesso que as primeiras
cenas me preocuparam um pouco. “As Aventuras de Poliana” resolve tratar
de um assunto muito importante, o bullying,
mas embora isso seja realmente necessário,
especialmente como conscientização
para as crianças, eu acho que eles podem ter pegado pesado demais – e eu não digo
isso como algo bom. Não é que tenha ficado forte, ou que tenha ficado sério demais, mas me parece apenas que ficou um pouquinho forçado. Parece que METADE
(aspas e aspas e aspas aqui, você me entende) dos alunos da Ruth Goulart são bullies. Era como se estivéssemos em “Chiquititas”, mas invés de termos
pessoas legais na escola, só tivéssemos “os vizinhos”. E só. Então isso me preocupa, e eu temo que a novela vá demorar
para derrubar esses bullies ainda.
Poliana está
empolgadíssima para o seu primeiro dia de aula – quem sabe até empolgada demais, a julgar pela maneira
como “se enfeita” toda, tanto que, talvez, nem dê para ver o uniforme sob tanta
coisa… a Tia Luísa é bacana com ela na despedida, e ela retribui com um abraço
que a tia não esperava, e as expressões da tia são hilárias. Assim que chega na escola, no entanto, a felicidade de
Poliana parece que não vai durar, porque ela já é provocada pela Filipa (e seu
capacho, Yasmim), e a menina é bem babaca,
derrubando seus livros e dizendo que “aquele não é seu lugar”. No entanto, parece
difícil fazer bullying contra Poliana
se ela levar sempre as coisas assim tão
bem. Ela não baixa a cabeça, diz que “não concorda” com o que elas estão
dizendo, e todos sabemos que essa indiferença
é a MELHOR MANEIRA de atingir pessoas como a Filipa.
Provocações são vazias se não encontram
resposta.
Cada protagonista
da novela tem seu bully pessoal. Luigi,
por exemplo, é provocado por Éric e Hugo, que roubam sua câmera, mas, diferente
da Poliana, o Luigi não tem forças para se defender. Assim, a própria Poliana o
faz, topetuda, dizendo que “é alguém que sabe o que é certo, e que o que estão
fazendo não é”. É bonito, e assim a amizade de Poliana e Luigi começam, quando
ela diz, empolgada, que “fez seu primeiro amigo”, e ele fica meio surpreso –
achei um pequeno momento emocionante. Então ele se voluntaria para mostrar-lhe
a escola e apresentar a hierarquia da Ruth Goulart, baseada em um sistema de castas, tipo na Índia. Aqui, quando
Poliana se dá conta de que está na casta
mais baixa, pelo modo como Filipa a tratou, ela joga o Jogo do Contente
(uma vez que ela o joga bem!) e diz que é bom, porque se a maioria é desta casta, então ela tem mais chances de fazer
amigos.
É claro que
Poliana também não se ajuda a passar
despercebida. Durante o discurso da Ruth Goulart, que abre o ano letivo e
explica que essa primeira semana, experimental, é voltada para que todos
conheçam todas as aulas, para que então possam optar pelas atividades que
escolherem depois, Poliana fica com vontade de ir no banheiro e acaba levando a
culpa pela microfonia quando Filipa devia cantar o hino da escola… bem, é a segunda vez que ela estraga o
momento da Filipa, então não estou defendendo a Filipa, nem nada, mas talvez ela tenha motivos para não gostar da Poliana. Claro que os culpados são os
bullies pessoais do Luigi, mas
ninguém sabe disso, e Poliana leva a culpa por estar no lugar errado e na hora
errada e, mais do que isso, por ficar
tentando ajudar. Não vale a pena ser tão “bom” e depois ter que passar por
essas coisas!
Acho que
minha personagem favorita na escola é a KESSYA. Estou adorando acompanhá-la,
tanto porque a sua relação com a mãe é linda e o esforço que ela faz para que a
filha estude ali me comove, mas também porque ela é totalmente diferente de Poliana e de Luigi, e isso significa que
eles serão UM TRIO E TANTO. Ela não abaixa a cabeça como Luigi, tampouco é
avoada como Poliana… ela enfrenta tudo de
queixo erguido, respondendo coisas como “Não te interessa!”, e isso, ao
lado de tantas outras coisas, a torna uma garota muito forte. Também ME EMOCIONEI com a Kessya toda encantada
assistindo à aula de dança, com aquele mau-humor todo da Débora (embora seja
BEM uma professora de ballet, mesmo, já
presenciei), e com a mãe lhe trazendo e presente uma linda roupa de ballet,
para ela usar nas aulas a partir de agora…
Destaque à
fala de Luigi para a Poliana, no intervalo: “A
gente pode lanchar junto, mas você tem que parar de causar um pouco, é só o
primeiro dia de aula!” Né?! Durante a aula de audiovisual (ah, eu sei BEM
que eu escolheria essa aula em primeiro lugar, embora não necessariamente por
causa da matéria!), que é a cara do
Luigi (!), a Poliana deixa que riam dela mais uma vez, quando se voluntaria
para uma atividade e deixa que a Yasmim a “maquie”, mas na verdade ela fica
parecendo uma palhaça, todo mundo ri dela, o Marcelo encerra a aula, e a
Poliana fica ali, sem saber o que está
acontecendo. Gosto de como Kessya vem falar com ela, dura e realista, e diz
que “se quer que parem de rir dela, ela devia limpar a cara”. A Poliana realmente precisa de uma amiga como a
Kessya, ou então ela estaria ferrada naquela escola, devo dizer isso!
Para falar
sobre o primeiro dia de aula de Raquel e Mirela, eu vou ter que voltar um pouquinho. Gosto muito da Larissa Manoela,
acho que ela brilhou em “Cúmplices de um
Resgate” e em filmes como “Fala
Sério, Mãe!” e “Meus 15 Anos”,
mas embora eu me divirta com a Mirela e ria com ela, eu acho que falta algo à personagem. Talvez seja essa maturidade
admirável que a Raquel transborda, e na verdade EU GOSTO MUITO MAIS DA RAQUEL. E não achei que seria assim. A divulgação
da novela me enganou, e agora estou aqui, torcendo para Raquel ficar com
Guilherme, ou então para que o dispense por ele ser um idiota, como acabou de
demonstrar… um idiota por fraqueza,
mas essa fraqueza nos incomoda profundamente
na vida real, e não acho que a Raquel vá estar disposta a lidar com esse tipo
de coisa, tipo risadinhas tontas com a Brenda.
Raquel e
Mirela se apaixonaram, coincidentemente,
pelo mesmo garoto, mas o clima está rolando de Guilherme com a Raquel, e eu acho que ela o merece mais.
Eles são diferentes, bastante, mas desde que ele quase a atropelou e então a
levou a uma loja de vinil, a relação que começou a nascer é bonita. O clima é
sincero, leve, e na verdade ela está começando a compartilhar algo com
Guilherme que Mirela nunca teve. Para
Mirela, Guilherme é uma miragem, e
existe muito mais coisas em sua cabeça do que na realidade. Mesmo assim, quando ela fica com ciúmes, as amigas
decidem que nenhuma das duas vai ficar com ele e pronto, embora ambas o
procurem em redes sociais e tudo o mais… o mais fofo, para mim, foi a Raquel
indo escutar Cartola (e gostando!) por causa dele, e só mostra o quanto ela está apaixonadinha e tudo.
Mas ela
guarda para si, em sua maturidade.
Não é tão infantil quanto Mirela.
Dito isso, eu
posso retornar ao PRIMEIRO DIA DE AULA. No primeiro dia de aula das meninas,
elas são provocadas por Brenda por causa de uma live divertida que elas postaram em que o Durval e a Lorena
apareciam dançando ao fundo… fútil e imatura, Mirela fica desesperada, enquanto
Raquel não está nem aí, e é super sensata, dizendo que “eles logo esqueceriam”.
Então o Guilherme chega, e as coisas
mudam de figura. Gosto infinitamente mais da Raquel por inúmeros motivos, e
um deles é a maneira como ela sofre calada, como guarda um sentimento que é bem real, para não magoar a amiga, iludida,
que não para de falar sobre isso! A verdade
é que a Raquel construiu algo, enquanto para Mirela, o Guilherme é apenas um
capricho. Não foi no primeiro dia, mas adorei a atitude de Raquel depois da
aula de dança, com a Brenda fazendo piada e o Guilherme rindo… me doeu o
coração ver a decepção nascer nela, mas quando ela fala que “isso não é
motivo pra virar piada na escola”, ela, novamente, se mostra uma pessoa muito
mais desenvolvida do que a Mirela.
Mirela só se
preocupa com o que os outros pensam.
Enfim. Para encerrar
o primeiro dia na Ruth Goulart, Luísa vai buscar a sobrinha, porque estava lá
para conversar com a Helô (e a Lorena a viu e a reconheceu!), e Poliana não podia
estar mais feliz em vê-la ali. Infelizmente, essa felicidade acaba ao chegar em
casa, e eu LAMENTEI MUITO ver a Poliana chegar em casa toda tristonha e
reclamando que “não ia poder fazer as mesmas aulas da mãe”. Poliana vem tendo
lapsos, mas foram tantos em 10 capítulos que nem parecem mais “lapsos”, na
verdade. Para mim, ali a novela passou
dos limites e afastou perigosamente a Poliana da novela da “Pollyanna” do
livro… ela até reclama que “é difícil demais
fazer amigos nessa escola”, e isso não me parece algo que a personagem
realmente diria: “Eu até tentei jogar o Jogo do Contente, mas não consegui”.
Doeu-me assistir, confesso, mas estou tentando relevar.
P.S.: Também não faz parte do primeiro dia de aula, mas a PRIMEIRA
AULA DE DANÇA de Poliana e Kessya. Débora foi durona, mas se você já esteve em
uma aula de ballet na sua vida, você vai saber que as professoras de ballet são daquele jeito em sala mesmo. A diferença
de Débora é que ela é daquele jeito
SEMPRE. Mas eu preciso comentar o GOSTO que foi assistir a ela reclamando
para a Ruth Goulart, dizendo que a Poliana não estava no nível dos outros
alunos, e ouve essa resposta: “E é
exatamente esse seu trabalho como professora: fazer a aluna evoluir”. WOW!
QUER MAIS?!
As aventuras de Poliana é uma boa novela, mas peca muito em relação a personalidade da Poliana que é menos otimista do que a Poliana do livro, a Íris está afastando grotescamente a personagem do livro e fazendo dela uma menina normal, não uma menina corajosa e amável que encanta a todos, não sei se isso é algo positivo ou negativo, só aguardar os próximos capítulos.
ResponderExcluirO Bullying ocorrido no colégio, está sendo tratado com mão bem pesada. A ponto de Poliana perder o protagonismo e ele se voltar totalmente para Filipa. Podemos até rebatizar a novela, sem medo de errar, como: " Filipa, o lado bullying da vida". Creio que a autora adore escrever sobre tudo isso. O marido da mesma, um sujeito que fez história na TV, rindo e depreciando pessoas que não se encaixavam nos ditos "padrões aceitáveis", com uma herdeira que vem colada nos passos de seu pai, devem apreciar toda esta reviravolta na trama e incentivar a mesma. Atrevo-me a opinar que Filipa e seu pai Roger, são os alter egos de Patrícia e seu icônico pai, Senor Abravanel. Há, também, uma afirmação correta, no que tange às aulas de ballet. Em uma arte voltada para a cultura caucasiana, onde somente haverá UM único protagonista, é natural que a exclusão seja a tônica para um território com solo fértil para que se prolifere o Bullying. Comecei assistir e apreciar a novela, pois minha geração, teve o livro em questão,como uma leitura, até mesmo, obrigatória. Mas, estou com um pé dentro e outro fora, em continuar acompanhando a trama televisiva. Em tempos de "empoderamento" e com uma geração de adolescentes direcionada por "influenciadores digitais", o comportamento dos personagens Filipa, Yasmin, Brenda e Eric,pode servir de paradigma, afinal, a popularidade e o consumismo deles, é o sonho dourado dos vorazes seguidores das redes sociais. Em pouco tempo no ar, a autora mudou o foco e vem pesando a mão, ao tratar diferenças sociais como doenças crônicas, a ponto de comparar um colégio com a Índia, diluindo a finalidade maior, que seria transcender as dificuldades, com uma atitude positiva, alegre e mais lúdica. Como há planos da emissora para que a novela se estenda mais que o tempo habitual, isso pode levar a trama a um desgaste, se não for reformulada o quanto antes. Não há um contraponto saudável, no presente caso, como havia em 'Carrossel', na figura da Professora Helena, como uma adulta que confrontava de modo saudável e apontava direção aos oprimidos, fortalecendo suas condutas com orientações proficientes. Aqui, as figuras dos profissionais que, realmente, poderiam agir neste sentido, no caso, Helô e Marcelo, estão engessadas, sem conseguirem ir além numa atitude mais eficaz. Do jeito que as coisas caminham, temo que o sucesso que ora reina, acabe se desgastando e mudando seu status... O que será uma pena!...
ResponderExcluir