Os 27 crushes de Molly (Becky Albertalli)
“Não foi por acaso que tive vinte e seis
crushes e nenhum namorado. Não entra muito na minha cabeça como é possível
alguém arrumar um namorado. Ou namorada. Parece a coisa mais improvável do
mundo. Você tem que ficar a fim da pessoa certa no momento certo. E a pessoa
também tem que gostar de você. Um alinhamento perfeito de sentimentos e
circunstâncias. É quase incompreensível que aconteça com tanta frequência”
Realmente, “apaixonar-se” é, no mínimo, CURIOSO.
Talvez nem
todo mundo na vida tenha sido Molly, mas eu acho que eu fui. Molly Peskin-Suso, a garota que teve 26 CRUSHES, que se
apaixonava facilmente, e que imaginava coisas, e que era insegura demais para fazer algo. Been there, done that. Novamente, Becky Albertalli conduz uma trama
DELICIOSA, regada a boas referências, ligações com “Simon vs A Agenda Homo Sapiens”, que é um verdadeiro presente aos
fãs, mas independência o suficiente para que o livro seja FASCINANTE por si só.
Ele tem protagonistas apaixonantes, e Molly é absurdamente carismática (!), e
nós vibramos com cada virar de página e cada momento pensado pela autora para
que nos empolguemos, para que amemos, e para que nossos corações se partam… mas também para que suspiremos e nos apaixonemos.
Aqui, falamos sobre a insegurança adolescente com a sua forma física, falamos
sobre casamentos gays, e sobre o amor na adolescência.
E são todos temas universais, de um modo ou
de outro!
Você começa a
ler “Os 27 crushes de Molly” e sabe,
pelo primeiro capítulo, que o livro está FADADO A SER PERFEITO. A começar pela
genial e divertida frase inicial: “Estou
no banheiro do 9:30 Club, imaginando como será que as sereias fazem xixi”.
Ali, Molly conhece uma garota absolutamente linda e fã de uma banda que pouquíssima gente conhece, e que parece
ser A GAROTA PERFEITA para sua irmã gêmea, Cassie. O primeiro capítulo é leve,
descontraído, romantiquinho, jovem.
Dá aquela mesma sensação de “Simon vs A
Agenda Homo Sapiens”, aquela sensação de que poderia ser cada um de nós, ou
aquela sensação de que queríamos que
fosse nós. Adoro explorar a personagem de Molly, suas inseguranças, suas
paixonites fáceis (foram 26 crushes
até então!), o fato de sua irmã ser lésbica, e a amizade com Abby Suso, que se
mudou para a Geórgia no verão…
Então, quando
Molly, Cassie, sua irmã gêmea, e Olivia estão indo para o metrô, quase à
meia-noite, quando eles vão parar de funcionar, ela reencontra Mina, “a garota
dos sonhos”, junto com seus dois amigos, um fofo e um gato. Parece que Molly está prestes a oficializar
seu 27º. Impressionante como Becky Albertalli nos envolve de cara, como nos
faz ter a impressão de que conhecemos esses personagens há tempos. É fácil torcer por Cassie e Mina. É fácil achar o Will um fofo. É fácil apoiar Molly, até porque sempre tive uma facilidade tremenda para
“desenvolver crushes”. Tudo contido
em uma introdução fascinante, envolvente e relacionável.
Com um capítulo, “Os 27 Crushes de Molly”
nos conquista, e como eu me apaixonei
por “Simon vs A Agenda Homo Sapiens”,
de novo e de novo a cada virar de página, mal esperava para ver mais dessa união de universos.
Naturalmente,
Cassie está empolgadíssima com a ideia de conseguir um namorado para Molly,
ainda mais se esse namorado for amigo da “garota dos sonhos”, que Molly
conheceu no banheiro de uma balada. Portanto, ela fica empolgada e dizendo
coisas do tipo: “Ei, adivinha. Seu garoto
é solteiro. […] Seu ruivinho. O senhor Bunda de Pêssego na Calça Justa e
Hipster. Ele está solteiríssimo e carente. Mina confirmou”, e mandando
mensagem para todo mundo, até para a
Abby (!), que manda uma mensagem curiosa
para Molly. Por isso, Cassie começa a “Operação
Namorado. Operação Beijos da Molly”, mas nós sabemos que, talvez, ela
esteja fazendo isso não tanto pela irmã, mas mais como uma desculpa para se
aproximar de Mina, e então ela mesma vai poder ter uma namorada… vai poder enfim ficar “com a garota dos
sonhos”. Não?
Mas eu adoro
o clima e o jeito de Cassie com a irmã! <3
Também adoro
como Becky Albertalli brinca com referências, e como agora elas divergem de “Simon vs. A Agenda Homo Sapiens”.
Agora, a autora traz uma das mães de Molly chamando o irmãozinho de “Professor
X”, afinal de contas o seu nome é Xavier! Também comenta o cabelo da outra mãe de Molly, no estilo Sailor
Moon. Ou coloca o “Reid da Terra-Média” como um dos personagens principais,
que, nas palavras de Molly, “é uma propaganda ambulante de O Senhor dos Anéis”. Por falar em Reid, é ele quem desvia todo o rumo da história que você
pensava ter conhecido com base nas primeiras páginas… Molly tem um novo emprego
de verão, e ali ela conhece Reid, e sua primeira impressão parece ser
totalmente diferente da que teve de Will, Reid não é um candidato típico a “crush de Molly”, mas percebemos que eles têm química. Afinal de contas,
trabalhando juntos, eles conversam por horas e horas e horas, algo que Molly
não costuma fazer com os garotos de que gosta…
E descobre muito sobre ele.
São momentos
assim, pequenos momentos assim, que SIGNIFICAM TANTO em nossas vidas. Como eles
se dão bem, como podem conversar sobre tudo, de coisas sérias a coisas
triviais, como falam de “coelhinhos de chocolate em junho” e de como Molly se
sente bem depois de um dia de trabalho. Ela
fez um amigo, um amigo de verdade, Reid da Terra-Média. Depois, ela também
percebe, quando vai à FroZenYo com a irmã e Mina, que também pode gostar dela
de verdade, “Mina da Vulva”, e é a segunda amiga que ela faz em um dia, o que parece um número muito
bom, e diferente para ela! Por sinal,
devo dizer que adorei toda aquela conversa de Molly, Cassie e Mina sobre os
antepassados e tudo o mais, embora possa ser um pouco perturbador. Mas é
como Molly diz: também é muito legal.
Porque você sente que “importa”, e que existem
pessoas torcendo por você.
Não é isso o que todos queremos? Ser
importantes?
Isso fica
muito claro depois que Molly conversa por telefone com Abby. Gosto de como
Becky Albertalli faz seus dois livros conversarem, e entendo que seja
basicamente um fan service, mas não
tem como não VIBRAR com momentos como Abby contando a Molly, por telefone, que
transou com Nick, falando também sobre “a garota insuportável da escola que
‘tem um metabolismo acelerado’ e acha que todo mundo deve saber disso”.
Pequenas informações como um show e o pessoal reunido na casa do Simon depois. Dá uma vontadezinha enorme de estar lá, de
poder saber o que está acontecendo, como o Simon está, como está seu namoro com
Bram. Mas agora é sobre Molly, e a autora é eficaz em usar essa conversa
com Abby para mostrar como Molly se sente… ela não está com inveja porque Abby transou com o namorado, mas porque
ela queria ter esses momentos especiais, e não se refere ao sexo, propriamente
dito, mas às expectativas, às conversas sussurradas, as mãos dadas… ela quer isso tudo.
“E o meu querer é quase grande demais para suportar”
Molly não
percebe ainda, mas está tendo alguns momentos
especiais com Reid (no segundo dia de trabalho, ele é agora “Reid da Casa
Lannister”), e isso fica claro na maneira como ela fala de como normalmente não
consegue conversar com garotos, mas ali está ela, falando, se divertindo, fazendo piadas. Os dois passam momentos
MUITO FOFOS juntos, e parece muito mais significativo do que a cena na casa de
Mina, com Max e Will. Possivelmente porque o Max, embora um gato, é um
babaquinha – Will não, mas tampouco ele é atraente,
a não ser fisicamente. E me irritei um pouco com a Cassie contando histórias
que não precisavam ser compartilhadas (“Isso
aí. É assim que Cassie vai convencer Will a sair comigo”), ou por deixar
Molly ir embora sozinha e ficar para trás, sozinha com Mina… eu entendo que ela está quase começando a
namorar, mas me partiu o coração ver o desconcerto de Molly indo embora.
Ela não estava preparada para isso.
E a Molly é
tão boazinha, não merece sofrer!
Por isso é
bacana a energia que TOMA CONTA do livro nas páginas seguintes… o casamento gay
acaba de ser legalizado, e as mães de Molly e Cassie estão CONTENTÍSSIMAS,
marcando um casamento oficial para elas e “contratando” a Molly como a
decoradora oficial… a energia está no ar e em todo lugar para onde Molly vai e
isso é um máximo. Talvez seja um pouco isso, e um pouco o fato de Reid não
estar no trabalho naquele dia, e também o fato de estar “perdendo” a Cassie
para Mina, que faz Molly tomar uma decisão importante: ela precisava levar um fora. Ela sentia que isso era algo que tinha
que “fazer”, para poder provar que o seu coração aguentava ser partido, e então
ela sofreria menos, se arriscaria mais e, quem sabe, depois de 26 crushes,
pudesse ter um namorado. Ela decide ser
menos cautelosa, e essa é uma decisão e tanto!
E eu acho que
faz a diferença. Quando ela tomou a decisão, ela pensou em entrar na dança da provocação de Cassie sobre o
Will Hipster, mas a verdade é que ela está se
envolvendo cada vez mais com Reid sem nem perceber que está fazendo isso. É
como quando eles comentam sobre o jantar em que Mina e a avó de Molly estarão
presentes, e em que ela está responsável pela sobremesa e decide fazer “massa
de biscoito comestível”. Ali, naquele momento especial com Reid, ela comenta na
função narradora: “Também estou sorrindo.
É inevitável”. Ela já o descreve como FOFO, e aquele momento dos dois indo
juntos até o supermercado é uma das melhores coisas do livro inteiro… ele todo
fofo e mandão, tipo o “garoto
bem-comportado que está se sentindo poderoso quando a professora sai da sala e
deixa ele no comando”. E ela acha isso
adorável.
Gosto de
Reid… me apaixono por Reid eu mesmo.
É impossível. Como Molly diz, “é inevitável”. Ele tem uma aura boa, ele faz bem
a Molly, ele a transforma, ele a torna
confiante. Gostei das brincadeiras com as músicas pop do início dos anos
2000, gostei de como Molly entrou tanto na brincadeira que inventou suas
próprias regras por 10 pontos extra, e tudo é uma experiência inigualável no
mercado… e em um momento especial, quando ela diz que “tem que tirar foto” de
uma cobertura de sabor bizarro que encontrou, para mandar para Cassie, ele pede
que ela mande para ele também, e ela responde: “Mando. É só me dar seu número”. Imediatamente as bochechas dela ficam
vermelhas, e se ela não estivesse, ainda que inconscientemente, pensando em
Reid como um novo “crush”, ela não teria
porque ficar com a bochecha vermelha daquele jeito. Mas ela ficou. Porque
parecia que estava pedindo o número dele.
ISSO PODE SER
MAIS FOFO?!
Esses dois no
mercado… meta de relacionamento! <3
Por que Reid
não tirou uma foto ele mesmo de seu celular? Por que pediu que ela o mandasse a dela? Será que ele queria
que eles trocassem telefone? É o momento fatídico em que Molly começa a
tomar consciência do que está acontecendo… de verdade ou em sua mente.
“Ainda está claro quando vamos embora, e ficamos
engarrafados no caminho de volta. Um silêncio se instalou entre nós. No
supermercado, foi só piada, provocação e competição (na qual eu arrasei, aliás
– cinquenta pontos a zero), mas, no carro, bate um constrangimento de repente.
E acho que Reid se sente da mesma forma”
Relações
humanas são confusas, intrigantes. Gosto muito de ler esse tipo de livro e me
colocar no lugar dos personagens, e descubro coisas aleatórias. Como o fato do
flerte ser ocasional, às vezes até acidental, e como a sensação é gostosa,
leve… as provocações no mercado, as piadas, as risadas… são momentos
importantes, fundamentais, mas apenas
iniciais. Rudimentares. É só depois
do momento de desconforto e constrangimento que percebo o quanto é
REAL. Ali, quando Molly tenta preencher o silêncio e acaba falando sobre Cassie
e sobre como descobriu que a irmã gêmea estava namorando pelo status no Facebook (!), é que tudo toma
uma proporção já inegável. Porque ela se abriu, ela falou sobre como estava se
sentindo, ela esperou ansiosamente para ver a reação de Reid ao seu quase desabafo. “Não sei porque não consigo ficar de boca fechada perto desse garoto”.
A partir
dali, a relação que está nascendo entre eles se torna ainda mais adorável. Ela fica toda nervosa ao ver duas mensagens
dele em seu celular, e fica toda ansiosa porque ele está falando da massa de
biscoito e sobre “ir buscá-la”, e por um momento ela não sabe se ele está
brincando ou não. Ela até chega a confessar: “É meio patético, mas acho que eu gostaria muito que Reid aparecesse”.
E ela troca mensagens, ela flerta, e
ela fica toda nervosa com isso, ela sorri. ISSO NOS FAZ TÃO BEM! Ela até chega a perguntar a ele se ele está
vindo mesmo, e depois precisa disfarçar com alguma piada. É genial. E isso
ameniza, para mim, a dor do jantar vindouro, com a Cassie toda feliz com a
presença de Mina e a avó babaca fazendo comentários racistas e, depois, preconceituosos
a respeito de sua gordura… aquela velha é
bastante desprezível, convenhamos!
E ainda tem a
Cassie insistindo sobre o “Will Hipster”.
Mas Molly já
está se apaixonando… e dessa vez, não é apenas um crush.
Uma surpresa
que “Os 27 crushes de Molly” nos
reserva é aquela passagem da MOLLY BÊBADA. É meio inesperado, e talvez não
combine muito com ela, mas acho que todo adolescente precisa fazer isso ao menos uma vez na vida, não?
Quer dizer, o Simon fez, e foi muito legal! Então a Molly bêbada é um pouco
mais confiante, engraçada, sexy, e manda mensagem bêbada para a Abby, o que é
bem divertido… e é UMA DELÍCIA ler a resposta: “Oi! Desculpa, aqui é o Simon. Abby dormiu. Quer que eu a acorde?”
SENTIR O SIMON NOVAMENTE! \o/ É doloroso como Molly inicialmente pensa nele
como “o Simon, o novo melhor amigo da abby, seu substituto”, mas a verdade é
que como não gostar do Simon? Todos
sabemos que Simon e Molly SE DARIAM MUITO BEM, vide aquele comentário sobre “Harry Potter” que ele faz e, nas
palavras de Molly, “aquilo a fez sorrir pelo resto do caminho”.
Isso não é
fofo?
Assim como é
FOFO demais pensar em Reid. Quando o Quatro de Julho chega e Cassie dispensa a
irmã para sair com Mina, embora fosse um dia que elas normalmente passassem
juntas, Molly acaba em um programa com as mães e a avó e, porque o destino é curioso, ela encontra Reid, que tem
exatos 45 minutos até precisar voltar para a loja, MAS SÃO ÓTIMOS 45 MINUTOS!
Molly até o convida para passar na sua casa e pegar a massa de biscoito que ela
prometera, e que não só guardara para
ele, mas colocara em um pote com o seu nome! “Mas, sim, Reid Wertheim tem perfil no Facebook. E, sim, Reid Wetheim
está solteiro. Não que isso importe. Reparei por acaso”. E eu achei que a
cena estava PERFEITA apenas com os dois, mas então ela descobre Cassie com Mina
na casa, e as coisas ficam um pouco
esquisitas, embora elas até que se comportem.
E ainda está
tudo bem… afinal de contas, Reid quase
a abraça na hora de ir embora, mas ela congela.
Juro que eu temi, TEMI DEMAIS, mas foi com alívio que eu vi Reid mandar duas mensagens a Molly, e embora Cassie
e Mina estivessem falando de Will e sobre como “ele estava flertando com Molly
na noite passada, quando ela estava bêbada”, Molly deixa todos esses
pensamentos de lado pela emoção de ler uma mensagem de Reid, e comenta? “E sinto aquele mesmo formigar suave no
abdome. Ele é bom com emojis”. Se isso não bastasse, ela oficializa para si
mesma: “Acho que ele não é só um colega
de trabalho, foi promovido a crush”. Então é OFICIAL, e o Will pode supostamente ser mais bonito, mas não se
manda no coração. E Reid, definitivamente, é mais fofo. Mais apaixonante.
E se você
ainda não sabe sobre mim, eu tenho algo a dizer: EU SOU ROMÂNTICO, EU SOU BOBO,
EU SOU APAIXONADO! <3 COMO ME EMOCIONEI E SORRI COM A CONVERSA SEGUINTE DE
REID E MOLLY. Tipo, é doloroso esse lance de Molly e Cassie estarem deixando de
ser “nós” para serem “eu” e “ela”, e essa dor de Molly em pensar em “pegar o
próximo trem que vai para a mesma direção”, que seria o Will, ou “pegar o trem
que a afasta mais de Cassie”, que seria o Reid… mas ela precisa seguir o seu coração. E involuntariamente o seu
corpo faz justamente isso. Ela age sem pensar, quase sem prudência quando está
perto de Reid. Quando ele elogia a sua massa de biscoito e diz que “foi a
melhor coisa que já comeu”, ela não pensa antes que as palavras saiam de sua
boca, e diz que “sobrou um pouco e que ele podia passar na sua casa depois do
trabalho”. E depois que juntos eles carregam uma penteadeira ao carro da mulher
que acabou de comprá-la, lemos esse MARAVILHOSO diálogo, que fez meu coração
disparar:
“Tá, uma pergunta”
“O quê?”
Ele inclina a cabeça.
“Você falou sério sobre essa questão da massa de
biscoito?”
“Você quer dizer a questão da massa de biscoito que
sobrou e habita minha casa?”
A covinha dele surge.
“É”
“Ah, eu falei sério. Muito sério”
“É muito bom saber”
“E talvez role um sorvete de baunilha também”,
acrescento, “se você estiver disposto a me ajudar com os arranjos de centro de
mesa do casamento das minhas mães”.
“Entendi”. Ele sorri. “Tudo bem, mas não levo muito
jeito para essas coisas”
“Posso ir dando as instruções”, falo, e sinto uma
pontadinha silenciosa abaixo da barriga.
SÉRIO, QUE
COISA MAIS LINDA <3
E eles
realmente compartilham UM MOMENTO PERFEITO na casa, com massa de biscoitos e
arranjos de centro de mesa para o casamento das mães de Molly.
“Ele se senta de pernas cruzadas com a massa de
biscoito enquanto arrumo os materiais. De alguma forma, é um momento perfeito.
Está nublado e meio fresco. Enfileiro os pincéis e começo a pôr tintas de cores
variadas em uma caixa de ovos. E o engraçado é que Reid não está olhando para
mim, mas eu o sinto olhando para mim. Não faz o menor sentido”
Acho que,
aqui, Becky Albertalli chega em uma parte do livro em que nos recusamos a largá-lo. Tudo está acontecendo, estamos extasiados demais, o coração na boca, a
respiração presa. Reid e Molly compartilham momentos importantíssimos naquela
varanda, e além dela, quando saem
para caminhar, quando conversam, quando ele meio
que a abraça sem aviso, e as entranhas dela “parecem uma garrafa de Coca
que foi agitada à exaustão”. Então a chuva cai, eles param um de frente para o
outro, pensando se precisam correr ou não. Ele tira a franja molhada da frente
dos olhos de Molly, e ela acaba dizendo que eles precisam correr, com a chuva
caindo sobre eles e os deixando encharcados, mas eles correm DE MÃOS DADAS. Eles ainda estão com os dedos
entrelaçados quando chegam na varanda da casa dela, ouvindo a chuva, sentindo o
cheiro de terra molhada, Molly pensando que “não devia ser cautelosa”. Mas então a porta se abre, e o momento chega
ao fim.
Cassie
aparece no pior momento possível.
Mas meu
coração guarda aquela cena com carinho.
“Chegou a hora de declarar oficialmente o crush número
vinte e sete: Reid dos Tênis. Reid da Obsessão por Massa de Biscoito. Reid dos
Coelhinhos de Chocolate o Ano Todo. Eu nem sei como descrevê-lo”
“O mais estranho é essa vontade insana que sinto de
anunciar isso em voz alta. Quero berrar nos túneis do metrô e botar no meu
status do Facebook. Quero olhar bem para ele e dizer: Reid, eu gosto de você,
tá? E acho que talvez ele goste de mim também”
Quando Reid
manda mensagem convidando-a para um evento chamado “FARRA MEDIEVAL”, ela recusa
o convite e diz que não pode ir porque “vai a uma festa com Cassie e Mina”. E
ela realmente vai a essa festa, mas
lamenta não poder estar com Reid, e chega a dizer-lhe que “sente muito”. Molly
está se descobrindo como uma nova garota, não apenas como a garota insegura que
tem crushes (27, no total), mas que
nunca faz nada a respeito disso. Ela está em uma festa cheia de gente bacana,
bebendo e conversando com Will, um cara extremamente gato que chegou a dizer
que “eles estavam juntos”. Certo, foi para afastar
um cara inconveniente que estava incomodando Molly, mas ainda assim… ele não
pareceu se importar em dizer que “eles estavam juntos”, e isso é legal, não é?
Mas embora ela pense o tempo todo em ser “menos cautelosa”, ela não leva esse
plano adiante com Will…
…já com Reid…
É fofo como
ela está lá, presente na festa, mas como ela mesma diz: “como um cubo de gelo”,
separada de tudo. Ela está o tempo todo pensando em Reid e o que ele está
fazendo na “Farra Medieval”, e quando o seu celular vibra e Will se retira
“para falar com Max”, ela não fica
desapontada como achou que ficaria. Pelo contrário, fica feliz em ver que
as mensagens em seu celular são de Reid, e agora eles podem conversar da forma
mais fofa possível… e não só fofa, mas um pouquinho provocativa também: ELES ESTÃO FLERTANDO. E ela estava pronta para
ser ainda “menos cautelosa”, não fosse a Cassie interrompendo tudo (novamente),
dessa vez para dizer que “ela podia ficar com o carro”, quando na verdade
estava só dispensando a irmã para ter uma
noite com Mina, o que provavelmente era seu plano o tempo todo. Cassie me
confunde. Eu tenho raiva dela, às vezes, mas às vezes eu a entendo, e ela está vivendo… está feliz com Mina.
E os
conselhos que dá a Molly sobre Reid são fofos…
Se ela gosta
de Reid, ENTÃO QUE SEJA FELIZ COM ELE. E
foi sincero.
Mas tudo está
acontecendo depressa, Molly tem essa sensação constante de que está perdendo a irmã, e ela não estava
preparada para essas mudanças. As coisas ficam no limite entre elas, como se tudo estivesse bem, mas como se
qualquer coisa fosse transbordar uma briga. Para completar, Olivia, a amiga
delas, acabou de ter o coração partido pelo namorado de quatro anos (!) dela, e
está um pouco tristinha, e Molly foi pega de surpresa ao encontrar com Reid na
feira (e ele a convence a ir trabalhar com ele, para fazê-lo companhia!) e,
depois, com Mina, Cassie e Olivia… porque ela sentiu aquela vibração estranha
nos olhares e sorrisos dos dois. Pode ser pura paranoia, sim, mas a questão da
camiseta de “Game of Thrones” e essa
espécie de “conexão imediata” que existe entre nós e pessoas que gostam das
mesmas coisas que nós (eu encontrando um fã de “Doctor Who”, por exemplo!) é apavorante… li apreensivo, pensando o
mesmo que Molly…
Que era
basicamente: “Não. Não. Não.”
L
O mundo de
Molly desmorona na ideia idiota da FESTA DO PIJAMA, e sinceramente? Sinto como se o meu coração estivesse se
partindo junto ao dela. Dois mundos colidem, como ela diz, e agora ela está
presa entre Will e Reid, mesmo que o tempo todo ela reconheça para si mesma que
não gosta de Will, não como gosta de
Reid. E os dois parecem gostar dela, os dois parecem querer chamar a sua
atenção, parecem olhar com ciúme para o outro… e eu achei que tudo pudesse
ficar bem, mas ainda não era hora de
ficar bem, então meu coração se parte. Meu coração se parte quando ela
acorda, na manhã seguinte, e vê que nem Reid nem Olivia estão no quarto, quando
os vê próximos demais sentados no
sofá, quando imagina eles de mãos dadas, quando vê que agora eles são amigos no
Facebook e devem estar trocando mensagens… é um momento importante, porque
Molly nunca sentiu isso. Ela explode,
por motivos errados, quando as mães perguntam sobre álcool na festa, mas é
GENIAL. Porque ela está sendo adolescente,
ela está sentindo seu coração se partir, ela está imaginando coisas que talvez
nem façam sentido.
A ligação
para Abby é linda, REAL, e tristíssima.
“Eu não quero isso. Não quero partir corações. Só
quero Reid. É assustador pensar nisso. Eu quero Reid. E talvez seja loucura,
mas eu tinha certeza de que ele também estava a fim de mim. O jeito como ele me
encarou naquela tempestade. O jeito como se sentou perto de mim. O jeito como
olhou para mim quando eu estava falando com Will. Eu tinha certeza. Não fui
cautelosa. E agora sei como é levar um fora. É um turbilhão de merda”
Minha sensação era de que eu mesmo tinha
“levado um fora”.
Tenho uma
coisa a dizer sobre ler Becky Albertalli: EU ME SINTO ADOLESCENTE DE NOVO. Tudo
é tão intenso, vivemos tudo com tanta
verdade nessa fase da vida, não? Tudo é grande, tudo é épico, e eu sinto isso tudo de novo ao ler “Os 27 crushes de Molly”. Ao ver
dolorosamente Reid se aproximar de Olivia e Molly sofrer por causa disso. Ao
vê-la desesperada e convidando o Will Hipster para sair naquela tarde, só para
enfim levar um fora e descobrir (surpresa, surpresa), que o Will na verdade
sempre gostou da Mina (!) e não quer que Cassie a magoe – mas ele é legal, e
quer ser amigo de Molly. Ao ver que aquele
fora não doeu tanto quanto o que pensamos que é um fora de Reid. E como
leitor externo, eu quase posso notar as dicas, como Reid citando Douglas como
se achasse que ele é um par perfeito
para Olivia, porque ele mesmo só tem olhos para a Molly, mas estando na mente
de Molly, na perspectiva de Molly… tudo é
muito duvidoso, de verdade.
Ela volta
para casa e encontra Olivia lá, e Cassie está sendo idiota com ela porque ela
foi idiota com a Cassie antes, ao falar para as mães sobre o que ela pensava
sobre orgasmo. Agora o clima está pesado,
Molly quer descontar tudo na Olivia, e concentra sua raiva nela. E como
qualquer adolescente inconsequente, não consegue guardar isso para si… quem nunca, não é?! Ela manda uma
mensagem para Reid, e É UM DOS MELHORES MOMENTOS DO LIVRO. Perguntando da
“caminhada” dele com Olivia, mandando um “Tá
ótimo.”, com ponto final, embora supostamente o ponto final, nesse
contexto, seja a mesma coisa que dizer “MORRA”. E então ele sente que ela está
com raiva, e liga para ela, e eles têm a conversa mais sincera e,
paradoxalmente, ao mesmo tempo menos
sincera possível. Ela pergunta de Olivia, ele pergunta de Will, e ele diz que
não entende por que ela está com raiva se pode sair com Will e ele não pode
sair com Olivia.
Ou algo
assim.
Molly acaba
chorando…
“Você sai com o Will, mas fica com raiva de mim porque
eu saí com a Olivia? Não entendo”. Tem um tremor na voz dele.
“Eu não estou com raiva”
“Tá, então por que a gente está tendo essa conversa?”
Molly fala
para Reid que não entende “de onde isso surgiu”, se ele e Olivia se conheceram
naquela semana (!), e ele diz, com sinceridade, que “não ficou” com Olivia, e
que não tem nada acontecendo entre eles, mas
que tampouco entende por que ela se importa. No dia seguinte, quando tem
que ir ao trabalho, Molly não sabe nem
como agir. “O que se diz para um cara depois que você briga com ele por gostar
de outra garota em um momento constrangedor e lacrimoso?” No fim, ela não
precisa dizer muita coisa. E isso é mais
doloroso do que dizer algo embaraçoso. Ele não quer conversar sobre isso
ali, no trabalho, por isso eles acabam não conversando de modo algum… durante
todo o expediente, os dois estão distantes, e na hora de ir embora, ele
simplesmente desaparece pelas portas do fundo. Não é justo, e é doloroso demais.
Mas acontece.
Gosto de como
Abby Suso, nossa querida Abby (que, em uma divertida cena pelo Skype com Molly
e Simon, é selecionada para a Grifinória, caso fosse para Hogwarts), é uma
amiga muito melhor do que a Cassie tem
sido, durante o livro inteiro. É ela quem percebe o quanto Molly está mal,
é ela quem a faz admitir, em voz alta, que gosta de Reid, porque esse é o primeiro passo, e é ela quem diz que “a Molly
entendeu tudo errado”, embora não se aprofunde nisso e parece que Molly nem
escuta essa parte. Porque Abby também falou com Olivia, e foi graças a isso que
chegou a essa coisa toda de “não gostar do Will” e “gostar do Reid” e tudo o
mais. Mas essa conversa com Abby é importantíssima para que Molly admita que
GOSTA de Reid, e que quer beijá-lo, e que talvez ainda vá beijá-lo. E no meio de toda essa coragem, por mais tarde
que seja, ela começa a mandar mensagens para Reid…
…mensagens e
mais mensagens…
…nada
cautelosas.
Ela fala um
monte, ela se abre. E ela fala que acha que ele “não devia ficar com Olivia”, e
diz um “porque…”, mas não tem tempo para terminar de digitar o que estava
digitando, porque vê TRÊS PONTINHOS do lado de lá. Reid está online, está lendo
aquilo tudo AGORA, e isso subitamente anula
toda e qualquer coragem. Consigo sentir Molly sem fôlego nos intermináveis
segundos enquanto via os apavorantes três pontinhos de Reid no celular. O que fazer? Ele pergunta se “eles
precisam conversar”, e diz que é melhor
fazer isso ao vivo, por isso diz que estará em sua casa em 5 minutos, tempo
no qual Molly espera ansiosamente na varanda, e nos fala sobre como “existem
espaços entre os segundos”, e 5 minutos, nessa situação, parece uma eternidade. E parece mesmo! Mas Reid aparece, de tênis
novos, e ele é basicamente o mesmo de sempre, com uma camiseta da Terra-Média e
a capacidade de fazer a Molly rir… e
quando ele se senta ao seu lado balanço…
Tão perto que as pernas se tocam…
É um momento
lindo, e FINALMENTE está acontecendo.
Ele diz que “não gosta de Olivia ‘desse jeito’”, que só pensa em apresentá-la
para Douglas, mas que estava conversando com ela sobre a Molly. Diz que ela não
é a garota por quem ele está apaixonado, e então não há mais como negar. As
mãos deles se entrelaçam no banco, eles se aproximam, E SE BEIJAM. E se beijam
e se beijam e se beijam. Molly até o convida para entrar, para o seu quarto, e
eles se deitam na cama juntinhos, onde ela está descobrindo todas essas
novidades do beijo. Ela beija seu
maxilar, a curva do pescoço, a clavícula… e ele fica ali com ela até as quatro
horas da manhã, antes de ir embora, e ela parece que está no CÉU. Ela não
poderia estar mais feliz ou, como ela
diz, “se sentindo mais viva”. E ele segue sempre sendo um fofo, mandando
mensagem, mandando um cartão idiota.
Idiota e carinhoso.
Reid <3
No dia seguinte,
ela está mais preocupada com a aparência, quer estar bonita para ir trabalhar, porque vai ver o Reid, mas ela não
precisava ter se preocupado com nada disso: ELE ESTÁ APAIXONADO POR ELA. E
deixa isso muito claro enquanto eles compartilham um momento como qualquer
outro, cheio de ternura e de companheirismo… como “qualquer outro” com exceção da parte do beijo. Ali, ele
declara que ela pode “supor” com ele… como
supor que ele é seu namorado? SIM. E agora essa é a Molly, a “nova Molly”,
a MOLLY COM NAMORADO. E ela está feliz, radiante, e nos faz TÃO BEM poder ler
sobre a Molly e viver isso tudo com ela e através dela. Pequenos momentos como
os dois juntos na cozinha da casa dela, “fazendo o bolo do casamento”, ou quase
isso, porque na verdade eles estão distraídos demais curtindo um ao outro.
Também é
importante a conversa que Molly tem com as amigas. Primeiro com Cassie, que
fica empolgada com o lance do “namorado”, e fica um pouquinho inconformada com
o fato de a Molly não ter contado para ela… aqui,
é interessante a inversão de papéis. As inseguranças e medos de Molly
encontram equivalência em Cassie, embora não soubéssemos disso até agora. Ela
também não gosta de não ser informada
sobre Reid, e ela também teme que elas se afastem com o tempo, e ambas sofrem
por isso, embora de uma maneira muito bonita. Com Olivia, a conversa é
igualmente triste, porque surpreendentemente, Olivia estava mesmo gostando do Reid, talvez, mas ela
é uma pessoa madura, e como Molly diz, “uma pessoa melhor que ela”, e só deseja
que eles sejam felizes… ela tampouco quer pensar em namoro agora, terminou
recentemente com Evan.
E eu acho que ela está certa.
Pessoas são
diferentes. Molly está finalmente entendendo isso!
Para Molly,
por exemplo, é difícil convidar Reid para ir com ela ao casamento de suas mães,
porque parece muito rápido. Afinal, é no domingo e eles recém começaram a
namorar! Por isso ela protela isso até o último instante, e para nós, que
estamos de fora, pode parecer apenas insegurança boba e infundada, mas nós já estivemos ali. Começos de
relacionamentos são curiosos, eu me lembro bem. Curiosos, e empolgantes! Assim, ela o convida por mensagem, porque “é
péssima nisso”, e ele responde da forma mais fofa possível, falando de bolos de
casamento e o Pinterest que ela adora, e, ao fim, adicionando: “Caso não esteja claro, estou dizendo sim.
Vou com você a esse casamento e a qualquer outra coisa para a qual você queira
me levar, em qualquer ocasião, principalmente se houver bolo”. Eu sinceramente
não sei como eles poderiam ser mais fofos!
E momentos
como aquele do ajuste das roupas das noivas:
“Molly, eu soube que você vai levar o Reid”
“Seu namorado”, diz Cassie, sorrindo. “Só para lembrar”
<3
O livro acaba
perfeito, repleto daqueles momentos de encher o coração da gente, mais ou menos
como eu me senti ao terminar de ler “Simon
vs A Agenda Homo Sapiens”. Aqui, temos um momento de Molly, Cassie e Abby
no quarto, por exemplo, tão mudadas, mas ainda tão elas mesmas. Mudamos em nossa vida, mas algumas coisas não mudam
nunca, e isso é bonito. Também temos
o crush nº 11 de Molly, o Julian, que
aparece para trabalhar no buffet do casamento, com o seu namorado. E é uma sensação estranha e boa quando ele abraça
Molly, diz que gosta dela, e que “se gostasse de garotas, gostaria da Molly”. Ou
qualquer coisa assim. Eu acho que é o tipo de coisa que reforça a ideia de que
Molly é bonita, e precisa se sentir mais desse modo… porque nós mesmos, leitores de Becky Albertalli, nos apaixonamos
irremediavelmente por Molly Peskin-Suso.
O grande
evento final é O CASAMENTO DE NADINE E PATTY, as mães de Molly e Cassie. E é um
evento e tanto, repleto de momentos pequenos e marcantes, como sorriso de Molly
e Reid durante o discurso de uma amiga das mães, ou ainda o fato de a Tia
Karen, mesmo depois de tudo, estar ali, e de a vovó, aquela mulher questionável,
ser super legal com a Molly, enfim. E é mais ou menos como Olivia, que está responsável
pelas fotografias do casamento, resume em uma única frase: “São muitos momentos perfeitos. Não consigo acompanhar”. Becky Albertalli
conseguiu de novo, e eu mal posso esperar para ler o próximo, para voltar a
esse universo delicioso e reconfortante, pelo qual nos apaixonamos… da próxima
vez, teremos Leah como protagonista, e eu tenho certeza que será tão fascinante
quanto foi com o Simon ou com a Molly.
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