Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990)



“No matter what, Edward will always be special!”
É impressionante como, há quase 30 anos, “Edward Mãos de Tesoura” habita o nosso imaginário. Ao começar a reassisti-lo e revisitar essas casinhas coloridas (e padronizadas!) em contraste à grandiosa e sinistra mansão de Edward, tudo o que eu podia pensar era: “Minha nossa, como eu AMO esse filme!” A história bem contada, bem interpretada e com um primor técnico admirável, nos guia por uma variedade de sentimentos, e ao passo em que sorrimos e nos divertimos em alguns momentos, estamos horrorizados e/ou angustiados em outros, e acho que “Edward Mãos de Tesoura” entra para a história do cinema mundial justamente por atingir a grandiosidade na imperfeição. Não é um roteiro pronto, não é uma história com soluções mágicas e, infelizmente, não é uma trama com final feliz. Resta, ao fim do filme, a melancolia e a paixão eterna por essa obra.
Tudo começa quando uma garotinha pergunta a uma velha senhora “de onde vem a neve”, e ela diz que para explicar isso, vai ter que voltar muito atrás e terá que contar a história de Edward, o gentil e diferente homem que tinha mãos de tesoura. Assim, conhecemos Peg Boggs em toda sua fofura e bondade sincera no coração, andando pela vizinhança vendendo Avon (!), até que resolva se aventurar pela misteriosa mansão no pico de uma montanha, parcialmente isolada. Lá, em um sótão que me faz pensar muito em “Sweeney Todd”, ela conhece Edward, e embora inicialmente se assuste com as suas mãos de tesoura, que parecem ameaçadoras, a inocência e bondade em sua expressão fazem com que ela note que ele não é um perigo. Ao contrário, ele precisa de ajuda, de companhia! Por isso, decide levá-lo para sua casa.
O visual do filme é belíssimo e brilhantemente construído, e eu gosto de como Tim Burton guia os mesmos cenários para mudarem frente aos nossos olhos com o desenrolar de sua trama. A mansão do Inventor, onde Edward mora sozinho, por exemplo, é uma representação precisa do próprio Edward. Ela tem um quê de sinistra, grandiosa e escura, mas é belamente decorada com cores nas esculturas que Edward fez em árvores no pátio de entrada, e aquilo é MUITO BONITO! E é isso, em parte, que diz a Peg quem Edward realmente é, e ela é a primeira que consegue ver além de sua aparência. A cidade lá embaixo, por outro lado, é toda colorida, cheia de suposta alegria, e se torna muito mais macabra do que a mansão no decorrer da trama, o que é representado pelo padrão de saída dos carros, por exemplo (achei genial!), ou as cenas noturnas.
Mas mesmo sob o sol, o lugar já não parece mais aconchegante.
Quando Edward é trazido para a cidade por Peg, nós o conhecemos e nos apaixonamos por ele, naquela cena em que ele se encara no espelho, prova roupas novas, corta os suspensórios sem querer, e faz um furo na cama de água que usará por enquanto… ele é todo inocente, e isso é quase doloroso de assistir, porque “ele é bom demais para esse mundo”. Poucas pessoas se aproximam dele por verdadeira bondade, como é o caso de Peg, que gosta dele DE VERDADE (adoro a cena dela cuidando de suas cicatrizes com produtos Avon!). A maioria se aproxima por mera curiosidade, especulação, ou até para se aproveitar dele… e ainda há aqueles puramente maldosos. Por isso começamos a pensar se foi realmente bom trazer Edward para baixo, em um mundo tão cheio de preconceito e resistência. E quando ele está “velado” é pior ainda.
Como é o caso das mulheres… Edward serve de espetinho em churrascos, faz trabalhos belíssimos de jardinagem, corta os pelos dos cachorros e os cabelos das mulheres (tudo bizarramente interessante!), mas estavam todas esperando um momento para se voltar contra ele. E isso acontece quando Kim Boggs, a filha de Peg, retorna para a cidade com um namorado chamado Jim, que rapidamente percebe como podem usar da inocência de Edward. E ele, parcialmente inocente e parcialmente encantado por Kim, faz o que ela pede, ainda que saiba que ele pode se dar mal por isso… é assim que, quando Jim tenta roubar a própria casa, Edward é o único que fica para trás e acaba preso, levando a culpa de tudo sozinho. Então, a cidade se volta contra ele, e trata-se de uma sequência perversa e nojenta… e então a escuridão começa a tomar conta do filme.
É comum vermos cenas durante a noite, por exemplo, e embora uma das mais lindas aconteça na noite de Natal (quando Edward está esculpindo um anjo em gelo e FAZENDO NEVAR!), ela é logo interrompida pela chegada de Jim que lhe diz coisas terríveis e o expulsa… com raiva pela atitude de Jim e por ter machucado Kim sem querer, Edward sai pela cidade furioso, cortando arbustos, furando pneus, acentuando a imagem que a cidade está fazendo dele, e tudo piora quando ele faz de tudo para salvar a vida de Kevin, mas em toda a sua falta de jeito em ser protetor, acaba ferindo o garoto, o que é encarado como um ataque pelo restante dos moradores do perverso vilarejo. Assim, quando a polícia se aproxima, Kim pede que ele “corra”, e felizmente o policial também permite a sua fuga, de volta para a mansão, para o isolamento.
Porque o mundo não está preparado para ele.
O final é profundamente melancólico. Acontecendo durante a noite e no cenário da escura mansão, Jim aparece lá para matá-lo por ter sido rejeitado por Kim por ele, e a luta acaba quando Edward é quem o acaba matando, deixando o corpo caído do lado de fora, onde a cidade inteira o encontra. Para protegê-lo e deixar que ele viva sua vida em paz, Kim mente que ele também morreu no combate, e um matou ao outro. Assim, as coisas voltam ao normal na cidadezinha, enquanto Edward volta a morar sozinho na sua mansão, cuidar de seu jardim, e isso tudo é profundamente doloroso. Termino o filme com um sorriso melancólico no rosto, mas é bom notar como Kim, a senhorinha do começo do filme que conta a história, nunca o esqueceu, e como sabe que ele ainda está vivo, porque antes dele descer nunca tinha nevado… e agora neva, enquanto ele faz esculturas em gelo lá em cima.
A neve é a presença constante de Edward nas nossas vidas!
<3


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Comentários

  1. Devo dizer que foi maravilhoso e delicioso ver Edward novamente! É um filme tão nostálgico, e tão cativante! Tem aquele gostinho de infância, e é incrível como em cada fase da vida olhamos a produção de forma diferente: ao assistir novamente, depois de anos, eu pude notar o quanto Edward é um filme profundo, emocionante, melancólico, triste e cheio de um conteúdo humano que nos faz refletir muito sobre a diferença no outro, e a forma como encaramos isso, porque Edward trata de diferença, preconceito, medo do desconhecido e o quanto aforma como encaramos isso pode afetar violentamente o próximo. Eu sou apaixonado por este filme, ele é muito marcante e comovente, e não vou mais esquecer da mensagem linda de compreensão e respeito ao outro que ele traz. Bom, pelo menos foi isso que eu enxerguei e aprendi com um dos personagens mais inesquecíveis do cinema mundial. O Edward! E por aqui, pelo Brasil, o eterno "Mãos de Tesoura".

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    1. Realmente é um filme MUITO BONITO, e nos faz pensar em muitas coisas... adoro essa cena final, que coloquei como última foto, em que ele ainda está lá em cima, depois de tanto tempo, fazendo esculturas em gelo e "fazendo nevar" aqui embaixo. É tão tocante e tão singelo! <3

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  2. Ah, acabei me esquecendo de comentar: belíssima foto de topo, assim como todas as outras no corpo do texto. Mas senti falta de pelo menos uma foto picante, tipo dele com a Joyce (Brinks!). Está tudo perfeito.

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    1. HAHA Para fotos picantes, vide postagens de "Sense8" e "Looking" KKK

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