Chiquititas (2015) – A história de Binho



“Eu te amo de verdade, tá? Você nunca vai estar sozinho, tá bom?”
É dolorosamente impressionante como as pessoas podem ser cruéis umas com as outras e com crianças como o Binho. E não, eu não estou falando da atitude e dos comentários maldosos do Thiago naquela pista de skate, porque ele foi motivado pela ingenuidade e deslumbramento de uma vida que não conhecia. Foi diferente. Estou falando de adultos sem tato ou profissionalismo algum, e destaco duas pessoas. Preciso comentar rapidamente aquele homem que trabalhava no abrigo e foi cruel com o Binho dizendo que “ele foi deixado no lixo”, mas ele, por incrível que pareça, não é minha maior revolta. Minha profunda revolta vai contra aquela PROFESSORA imbecil do Binho que, além de não ser nada humana, não tem a mínima noção da profissão que exerce e agiu de forma completamente errada traumatizando um garoto sem necessidade.
Não que alguma vez haja necessidade de traumatizar alguém.
Infelizmente, no entanto, professoras idiotas como ela existem aos montes.
E eu sei o que estou dizendo, estou nesse meio, sou um professor eu mesmo, e é infeliz a maneira como algumas pessoas estão na profissão errada. A história do Binho que culminou nessa belíssima e triste cena em que ele chora no orfanato, consolado por Carol, começa a ganhar destaque quando a professora pede uma redação “sobre a sua história”, e é cruel você mexer em feridas se não tem noção do que fazer depois que a expôs. A proposta da professora deixou o Binho incomodado e em dúvida sobre o que escrever, e isso por si só já era algo terrível: “Tá difícil. Eu não sei se eu conto a verdade ou se o que eu queria que fosse verdade”. Ele até conversa com a Lúcia sobre isso e é triste ver os seus olhinhos brilhando cheios de lágrimas quando ele fala de seu primeiro orfanato e de toda a dor e sofrimento que ele lhe trouxe antes que fugisse e fosse morar na rua.
Então, como o Binho fazia constantemente lá no início da novela, ele conta uma história toda fantasiosa, mas incrivelmente bem-escrita e MUITO FOFA, com uma finalização incrível. E é aí que vem a minha REVOLTA contra a escola. Binho se saiu muito bem na sua redação, escreveu bem, com coerência, com imaginação e a história ficou muito bonita… a professora, ignorante, despreza o seu trabalho e diz que “não pode avaliá-lo”, o que certamente é algo que lhe caberia um processo se o Binho contasse para a Carol como tudo aconteceu. Acontece que ela não tem direito algum de expor o garoto daquela maneira na frente de toda a sala, tampouco pode se negar a avaliar uma redação que estava tão incrivelmente bem-escrita porque “a história não era real”. Ela estava avaliando e dando nota para a escrita e língua portuguesa dele ou para a história de sua vida?
Simplesmente lamentável.
Só depois disso vem a participação do Thiago na história. O Thiago também teve um desenvolvimento bonito em toda a trama que envolveu o Robson Nunes como seu pai, e a despedida dele do orfanato foi uma das coisas mais lindas que vimos em “Chiquititas”, com os meninos, principalmente o Binho, chorando com a despedida do amigo, e ele abraça a Carol e diz algumas coisas lindas para ela, sobre como ela é uma “mãe” para todo mundo ali, e que ela nunca devia desistir do que faz. Depois disso, Thiago fica meio deslumbrado com sua nova vida de riqueza, se acha um pouquinho demais, e acaba tendo uma briga séria com o Binho enquanto eles gravam o clipe para o trabalho na escola lá na pista de skate. Ali, ele diz que o Binho tem inveja dele e completa: “Eu consegui meu pai primeiro do que você. E o meu pai também é o que todo mundo queria ter, ele é um jogador de futebol famoso e você nem tem notícia do seu”.
Ouch.
Thiago não precisava ter feito isso, mas são crueldades amargas que crianças dizem umas às outras em momentos de explosão de raiva. Diferente de professores, crianças não foram preparadas para essas situações, em sua maioria. Então o Binho chora, sozinho, e se lembra do que o Thiago disse e sobre o que aconteceu em seu antigo abrigo, onde ele insistia para saber algo sobre seus pais, e a “informação” que lhe deram foi essa: “Você quer a verdade? Você foi encontrado no lixo. […] É por isso que ninguém veio atrás de você e nem vai vir. Nunca”. E aqui, o Gui Vieira, ator que interpreta o Binho, teve a chance de mostrar todo o seu trabalho em um momento mais sério e doloroso, raro para o personagem, e ele arrasou. Foi de partir o coração assistir ao Binho chorar tão descontroladamente, e todos nós queríamos ser um pouquinho de Carol naquele momento…
Felizmente a Carol estava lá.
Foi de chorar com ele quando o Binho disse que “o Thiago estava certo e ele tinha inveja dele mesmo”, e que “ninguém gostava dele”, e talvez ele “não fosse um bom filho, talvez não fosse o suficiente”. São sentimentos de rejeição acumulados com os quais ele não sabe lidar, e chora em um sofrimento profundo, e a Carol está ali com ele, coloca a mão em seu rosto e diz as coisas mais lindas possíveis, que incluem “Eu te amo de verdade, tá? Você nunca vai estar sozinho, tá bom?”, em uma cena tristíssima e emocionante que acaba com um lindo abraço da Carol… infelizmente, essas devem ser inseguranças que o Binho carregará com ele para o resto da vida, graças a pessoas estúpidas como a sua professora. Quanto ao Thiago, eles são bons amigos que não podiam ficar muito tempo brigados, por isso eles se encontram na praça ainda no mesmo dia e pedem desculpas um ao outro, e acabam se abraçando e voltando a ser amigos…
Foi fofo.

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