Doctor Who 11x03 – Rosa
“Tiny
actions change the world”
UM DOS
EPISÓDIOS MAIS FORTES DA HISTÓRIA DE “DOCTOR WHO”. Sou fã dessa série há muitos
anos, e nunca me canso de me surpreender com as histórias narradas por ela, e
como ela pode andar por gêneros e trazer, por exemplo, um episódio altamente histórico e ainda relevante para a
sociedade atual. A história de ROSA PARKS é mesmo um exemplo de determinação, e
ela mudou a história na década de 1950 ao se recusar a levantar-se para que uma
pessoa branca pudesse sentar no banco que ela estava usando em um ônibus de
Montgomery. Com uma pitadinha de “Doctor
Who”, visitamos Montgomery, Alabama, em 1943 e, depois, em 1955, conhecendo
Rosa Parks e toda a diferença que ela estava prestes a fazer em uma sociedade
desprezível comandada pelo racismo vergonhoso e revoltante. Um episódio fortíssimo.
O episódio
começa em 1943. Vemos o primeiro confronto entre Rosa Parks e James Blake, o
motorista que a faz sair e entrar pela porta dos fundos, dizendo que aquele é o
seu lugar. O racismo enraizado chega a ser sufocante, e cada segundo do
episódio é cheio de REVOLTA contra isso tudo. Sentimos asco, desespero,
desesperança – o episódio é bastante
brutal e, pior, altamente real. Acho que justamente por isso é tão difícil assisti-lo: porque sabemos que
tudo foi desse jeito. Enquanto vários lugares “reservados para brancos” estão
vazios no ônibus, os negros se amontoam no fundo do ônibus, em pé. 12 anos
depois, a TARDIS leva a Doctor e seus novos companions
para a Montgomery de 1955, enquanto a Doctor só tenta levá-los para casa. Acontece que a TARDIS sabe que tem
alguém mexendo com a história ali, e
a Doctor devia averiguar.
Gosto muito
de VIAGEM NO TEMPO, sinto um prazer imenso nessas histórias, e “Doctor Who” já começa o episódio com um tapa em nossas caras – nem sempre
é “maravilhoso” ou “lindo”. Yaz está fascinada com a década de 1950, ao vivo,
até que Ryan aja por impulso pegando do chão um lenço que uma mulher deixou
cair, por pura educação, e então ele leva um tapa do marido da mulher, que diz
horrores terríveis contra ele, apenas por
ele ser negro. É humilhante e alarmante – ali, também, conhecemos a Rosa
Parks de 1955, que os defende, de alguma maneira, e eles se comovem quando ela se apresenta. Mas
embora seja “fascinante”, também é “preocupante”, segundo a Doctor, porque
alguém está mexendo com a história:
querem fazer com que o protesto pacífico de Rosa Parks não aconteça, e então
isso pode mudar todo o restante da
história.
Estamos em 30
de Novembro de 1955, um dia antes do dia em que Rosa Parks vai se recusar a se
levantar e iniciar um boicote ao sistema de ônibus de Montgomery que, por fim,
acabará com a segregação nos ônibus – se o vilão da semana não conseguir
atingir o seu objetivo, que é justamente impedir que isso aconteça. O vilão,
Krasko, é um ex-detento com um Vortex Manipulator, e que sabe bastante sobre
viagens no tempo – “Blue box in the
alley. Is it a TARDIS?” Eu acho que a aparição de Krasko abre alguns
precedentes para o futuro de “Doctor Who”,
já que coloca pessoas viajando pelo tempo com manipuladores de vórtices e que
estão dispostos a mudar a história.
Além daquela arma dele que é capaz de mandar qualquer coisa através do tempo,
seja para o passado ou para o futuro. E a
Doctor sabe o quanto isso pode ser perigoso.
Um dos
momentos mais bonitos do episódio foi a conversa sincera e dolorosa de Yaz e
Ryan enquanto Graham e a Doctor “recebem” um policial que invade seu quarto de
hotel em busca “do negro e da mexicana”. Enquanto Graham se sai bem, falando
sobre o celular e dizendo que se chama Steve Jobs (!), Ryan e Yaz conversam
sobre tudo o que sofrem e sobre como as coisas ainda não são fáceis para eles – é triste ouvir Ryan dizer que
“Rosa Parks não vai acabar com o racismo para sempre”. Mesmo assim, Yaz o faz
pensar em como as coisas mudaram sim
ao longo desses anos: agora ela pode ser uma policial e, em 53 anos, os Estados
Unidos terão um presidente negro como seu representante – e tudo isso é graças
a pessoas como Rosa Parks, que lutaram por eles. Quem pode dizer como as coisas estarão 50 anos no futuro? “That’s proper
change”.
Então, eles
iniciam a OPERAÇÃO ROSA PARKS. Como Krasko está mudando a história, a Doctor e
os demais precisam garantir que ela
aconteça conforme o esperado. Para isso, eles a seguem e conversam com ela,
com destaque para a cena fofa de Rosa
com Ryan, quando ele conhece o Martin Luther King e quase não se aguenta de
EMOÇÃO. Enquanto isso, a Doctor vai atrás de Krasko, descobrindo tudo a seu
respeito, destruindo o seu manipulador de vórtice e entendendo que, como um
antigo prisioneiro perigoso, ele foi alterado e não pode matar nem machucar ninguém, ainda que queira. Assim, ele
não pode matar Rosa Parks para impedir que a história aconteça, mas ele pode
fazer pequenas alterações que serão o
suficiente para impedir que as coisas saiam como o planejado no dia seguinte…
coisas como tirar James Blake do caminho, estragar o ônibus ou esvaziá-lo.
Então Rosa não teria como ou porquê
protestar.
Assim, a
Doctor e seus companions e Krasko
entram em uma batalha incansável. Krasko faz com que James Blake seja liberado
do trabalho no dia seguinte, mas a Doctor e Yaz conseguem mandar o seu
substituto para um encontro com Frank Sinatra em Las Vegas, enquanto Graham e
Ryan conseguem mandar James Blake de volta ao trabalho – onde ele encontra o
seu ônibus com os pneus furados. Então, tudo é cheio de TENSÃO! Eles precisam
fazer o ônibus funcionar ou colocar um substituto, mas também precisam impedir
as pessoas nas paradas de desistirem
de pegar o ônibus, porque se ele não estiver cheio o suficiente, Rosa Parks não
terá que ceder o seu lugar. Enquanto os companions
garantem que tudo esteja saindo conforme o planejado, Ryan consegue mandar
Krasko para o passado com a arma dele mesmo, e então eles não precisam se
preocupar com novas alterações.
Assim, o
SUSPENSE se consolida enquanto nos perguntamos se todos os detalhes darão certo
e nos levarão, enfim, à cena esperada, e acontece algo pelo que eu já esperava:
a Doctor e os outros três precisam ficar
no ônibus. Eles são parte
do “ônibus cheio”. “We were here. We’re
parto f the story. Part of
history”, diz Yaz. Graham diz que “não quer ser parte disso” e, com muito
pesar, a Doctor diz: “We have to, I’m
sorry. We have to not help her”. É DOLOROSO ver acontecer o que já sabemos
que aconteceu. Ver Rosa Parks se recusando a se levantar e ceder o seu lugar,
quando o motorista babaca grita com ela e decide chamar a polícia. Em nenhum
momento, no entanto, Rosa hesita. Ela
sabe o que está fazendo, e vai lutar por seu direito. O fato de a Doctor e
os demais presenciarem tudo e não olharem para ela é ainda mais doloroso. Então Rosa vai presa, apenas por ser negra e
não se levantar de seu lugar no ônibus.
Cena forte demais.
Então, a
Doctor e os demais vão embora, mas a Doctor conta a eles o resto da história de
Rosa Parks, para quem não a conhecer: ela foi presa naquele 01 de Dezembro de
1955, mas ela fez a diferença. Sua
prisão fez com que os negros iniciassem um boicote contra o sistema de transporte
público na cidade de Montgomery, e eles sustentaram isso por muito tempo. Pouco mais de um ano depois, em 21 de Dezembro de
1956, a segregação nos ônibus chegava ao
fim, porque as empresas estavam falindo sem os milhares de negros que,
agora, se recusavam a usar o transporte público. E, em 1999, Rosa Parks foi
enfim reconhecida por toda a sua
importância. “Yes, it did. But she changed the world”. Certamente um dos episódios
mais lindos e mais TRISTES da história de “Doctor
Who”, e que vai marcar esse início da jornada de Jodie Whittaker como a 13ª
Doctor!
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