A Cinco Passos de Você (Five Feet Apart, 2019)



Roubando um passo…
O gênero do amor adolescente e uma doença terminal é algo doloroso que já gerou uma série de histórias emocionantes. Muita gente pensa instantaneamente em “A Culpa é das Estrelas”, de 2014, mas podemos voltar para antes disso, em “Um Amor Para Recordar”, de 2002, e provavelmente existem muitos outros exemplos antes desse… eu gosto do gênero, eu gosto do romance, eu gosto da informação, e gosto das lágrimas (?) que as histórias sempre nos arrancam, mesmo quando sabemos que não podemos chegar a um final feliz. E há quem questione a “romantização” de uma doença grave como a fibrose cística, mas a verdade é que sua presença no filme – e no livro, de Tobias Iaconis – acaba por informar a respeito de uma doença que muitas vezes pessoas que não têm esses casos em pessoas próximas desconhecem por completo.
Me emocionei, e AMEI o filme! <3
Stella Grant começa o filme nos falando sobre o “toque humano”, e como o contato com outras pessoas é importante – como ele nos alegra, nos conforta, o quanto representa… e o quanto ela não dava valor a isso até que não pudesse ter o toque “dele”. Stella é uma garota metódica que vive com fibrose cística, e que já sabe como lidar com ela, organizar seus próprios remédios, e faz uma série de vídeos para o YouTube, para que possa compartilhar com as outras pessoas sobre a sua doença, o que é algo bem interessante! Há anos ela está na fila para um pulmão novo, porque não tem muito tempo de vida com os pulmões que já traz consigo… e então, enquanto está no hospital para um tratamento depois de uma crise, Stella conhece Will Newman, um garoto que não se parece em nada com ela… a não ser, talvez, por ele ter a mesma doença.
Mas ele tem um agravante a mais.
E o grande problema é que os dois não podiam se apaixonar – com fibrose cística, pacientes que têm a mesma doença não podem nunca tocar o outro, porque se eles pegam as bactérias do outro paciente, isso pode matá-los. Por isso a regra dos “seis passos”, a distância que eles precisam manter um do outro por questões de segurança… são três momentos que apresentam Will a Stella: um quando ela o vê alugando o quarto para os amigos transarem; dois quando eles se encontram na ala de recém-nascidos; e três quando ela o vê no terraço do hospital, o que parece meio imprudente. E essa é a diferença entre eles: ela é sistemática, faz o tratamento com rigor, enquanto ele é um pouco descuidado, “adora correr riscos”, mas ele diz algo interessante a Stella, sobre como é a vida e como “ela terá passado antes que eles se deem conta”.
Então, Stella acaba ficando angustiada por causa de Will. A incomoda que ele não esteja fazendo o tratamento à risca, e ela diz isso a ele: pede que ele faça isso para que ela possa “ficar em paz”, mas ele não quer aceitar isso a não ser que “tenha algum ganho para ele”. Então, se ele prometer fazer seu tratamento corretamente, ela o deixa desenhá-la… e parece um bom acordo. Assim, enquanto escapam de Barb, a enfermeira que quer garantir que eles não vão se aproximar um do outro, por causa dos riscos que isso implica, os dois acabam se aproximando, enquanto fazem exercícios, tomam remédios juntos, conversam pela internet, e ela o ajuda a arrumar o carrinho de remédios… e, como seu amigo Poe diz, “para Stella, arrumar o carrinho de remédios é como flertar”. E ela está mesmo sentindo algo por Will, ainda que pareça ser imprudente demais para ela.
As coisas se tornam mais sérias quando Stella tem uma complicação com uma sonda infeccionada e precisa passar por uma cirurgia, e Barb pede a Will que ele não se aproxime dela, porque não vai permitir que mais alguém morra durante seu turno, algo que já aconteceu outra vez, com pacientes de fibrose cística. Mas o Will é tão fofo! Ele foi meio bruto (“a delicadeza de uma britadeira”) ao falar de Abby, a irmã de Stella que morreu no último ano, mas ele pediu desculpas com uma caricatura fofíssima, e depois foi até o quarto de Stella para cantar para ela a música que a irmã cantava antes de procedimentos como esse… e que agora ela não estava ali para cantar mais. Foi algo tão atencioso, tão singelo. Naquele momento, não tinha como Stella não se apaixonar por ele. E como ele disse a Barb:
Ela estava correndo mais risco com a anestesia geral do que com ela.
Mas ele se afasta… depois de Barb falar sobre o caso em que alguém realmente morreu, ele se afasta. Stella sai bem da cirurgia, alegre e apaixonada, e ela quer se encontrar com ele novamente, mas ele a evita, e Joe passa o recado para ela: ele não vai vir. Então, ela TOMA UMA ATITUDE. Ela pesquisa sobre a doença dele, faz um vídeo no seu canal sobre B. Cepacia e os cuidados necessários, e é um momento EMOCIONANTE do filme. Ali, ela fala sobre como a fibrose cística sempre roubou tanta coisa dela, mas ela não vai mais permitir que a doença continue fazendo isso… dessa vez, ela é que vai roubar algo, e ela rouba um passo: um taco de sinuca, de aproximadamente 5 passos, que é tudo o que a separará de Will agora… se ele topar, é claro. A carinha dela do lado de fora do quarto dele, com o taco de sinuca na mão, fazendo a proposta.
EU CHOREI!
E então eles têm o primeiro encontro oficial deles. E tudo é tão lindo, tão perfeito… e tão triste. Triste porque eles não podem se tocar, mas lindo porque eles fazem o melhor que podem, compartilhando um momento especial e sincero, andando quase de mãos dadas pelos corredores do hospital, conectados pelo taco de sinuca, e terminando a noite na piscina… aquela cena da beira da piscina, em que ele diz que ela é linda e “perfeita”, e em que ela se despe para que ele a veja, e ele responde fazendo o mesmo… aquilo me partiu o coração, porque era o mais próximo que eles jamais poderiam chegar. Eles olham um para o outro, então, e Will é o primeiro a pular na água… ainda sem poderem se tocar, ainda sem poderem estar mais próximos do que a cinco passos de distância, eles compartilham uma linda noite, e a terminam fugindo de Barb, que não pode vê-los juntos.
Na noite seguinte, O SEGUNDO ENCONTRO. E é perfeito. É o aniversário de 18 anos de Will, e ela planeja tudo cuidadosamente… uma série de balões roxos com dicas para que ele siga, o que por si só já é perfeito, e uma festa surpresa organizada com os amigos dos dois, e com comida preparada por Joe, que também é uma graça! Naquela noite, eles compartilham um momento lindo, fingindo que tudo está bem (!), e é o momento da “última noite” antes que as coisas realmente saiam de controle… é uma festa clandestina, como eles chamam, e Barb fica furiosa quando descobre, porque diz que “eles estão brincando com as próprias vidas”, então ela decide que, no dia seguinte, Will precisa ser transferido para outro hospital… ainda que saiba que Stella vai odiá-la por isso. Ela está fazendo o que precisa fazer para que ambos possam estar seguros.
Mas as coisas saem de controle rápido demais. Naquele dia, e esse é um dos momentos mais DOLOROSOS do filme, Poe morre, e tudo é tão injusto, embora seja real e soubéssemos que algo assim pode acontecer a qualquer momento… na verdade, o filme também é cuidadoso ao mostrar que Abby, a irmã de Stella que “não tinha uma doença fatal”, morreu antes dela, porque é assim que a vida é. Ninguém sabe quando vai morrer. Joe tinha decidido correr riscos e assumir um compromisso de verdade com Michael, o cara que amava, e então ele morre em uma cena fortíssima em que Stella assiste do lado de fora do quarto dele… eu sofri demais com o surto dela que se segue, quebrando as coisas no quarto, gritando e chorando ao dizer a Will que “Joe era seu melhor amigo e ela nunca nem pôde abraçá-lo”. E agora tampouco Will pode abraçá-la.
Isso muda Stella drasticamente, e aqui temos aquela fala que já estava no trailer e que me chamou muito a atenção… quando ela diz que “esses anos todos têm vivo para o seu tratamento, ao invés de se tratar para que pudesse viver”. E ELA QUER VIVER! Assim, ela convida o Will para ir com ela “ver as luzes”, luzes que ela via do hospital com a irmã, e aqui é quando ela se entrega à imprudência, mas no seu desejo de viver. Com luvas, e ainda longe um do outro, ela segura sua mão, e é assim que eles caminham por quase três quilômetros, no frio, ainda que, no hospital, um pulmão novo tenha chegado para ela… e ela não o quer mais. Quando a mãe dele lhe manda uma mensagem falando do pulmão, no entanto, ele diz que eles precisam voltar imediatamente, e aqui eu achei que um deles fosse morrer, sinceramente… porque ela cai de uma ponte, quebra o gelo congelado e quase se afoga.
Para salvar a vida de Stella, Will precisa fazer respiração boca-a-boca, mesmo com todos os riscos que isso implica. Porque ou é isso, ou é deixá-la morrer naquele mesmo momento. Foi tudo tão forte, tão triste, tão trágico. Achei que ela fosse ser contaminada pela B. Cepacia, ou que ele tinha morrido ali mesmo, mas ele acaba ficando bem. E, quando chegam ao hospital, ele implora para que ela aceite os pulmões novos, e então ela é levada para a cirurgia. Isso tudo serve para que Will perceba que ele realmente a ama, como eles disseram um ao outro no parque, antes do acidente, quando eles estavam mais próximos do que nunca e quando não se beijaram apenas porque sabiam que não deviam, e ele não quer correr o risco de perdê-la, porque vê-la quase morrendo foi o maior desespero que ele já enfrentou na vida… então ele toma uma decisão:
Ele tem que ir embora.
Aqui, ele percebe que o que dizem sobre “amar algo e deixá-lo partir” é verdade, e organiza uma surpresa para ela, para quando ela acordar da cirurgia, e é uma despedida… através de um vidro, com as luzes que ele preparou especialmente para ela, ele conversa com ela e explica que a ama, mas que não pode colocá-la em risco, e então pede que ela feche os olhos para que ele possa ir embora, porque não conseguirá se souber que ela está olhando para ele. E então, chorando, ela fecha os olhos e o deixa partir, ainda que isso lhe doa. De presente, ele deixa um lindo caderno de desenhos, com caricaturas e desenhos realistas, desenhos dela, de momentos deles juntos, um de Joe… uma recordação lindíssima. E, por ora, os dois vão viver. Ela tem um pulmão novo, mais uns anos pela frente. Ele, eu espero que tenha podido conhecer o mundo como ele sonhava.
Ainda que vão morrer a qualquer momento, espero que vivam intensamente o que podem.
Não é assim para todo mundo, no fim das contas?


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Comentários

  1. Nossa! Eu me emocionei muito vendo isso. Depois que terminou o filme eu fiquei chorando. É uma história que toca com a pessoa sabe, faz com que a pessoa reflita sobre a vida, sobre valoriza - lá, aproveita- lá. Você gosta de uma pessoa, ela gostar de você, e vocês não podem ter um contato de ficar junto. Eles se apaixonaram pela pessoa que não devíam, mas, foi uma linda história de amor.

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  2. A pergunta que não quer calar... como Aby morreu e não salvou a irmã dessa doença com o corpo todo dela compatível?

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    1. Mesmo irmãos não quer dizer que sejam compatíveis. E pra doar órgãos teria que ter tido morte encefálica, se sofreu um acidente por exemplo e já chega no hospital morto não tem como doar nada, o corpo precisa estar vivo pr isso

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