A Família Addams (The Addams Family, 2019)



“They’re creepy and they’re kooky”
A família “estranha” mais amada por todos está de volta! A nova versão de “A Família Addams” traz os personagens que conhecemos e amamos em uma animação 3D caprichada, divertida e fiel àquilo que conhecemos da franquia… já vimos filmes live-actions, séries de televisão e um musical impressionante (!), mas vale lembrar que os personagens foram criados por Charles Addams em quadrinhos, em 1938. Desde então, uma série de adaptações fizeram com que gerações e gerações conhecessem “A Família Addams”. O filme é divertido e tem uma crítica bastante bacana, além de contar com as mais variadas referências a outros filmes, como “Frankenstein” (na cena do laboratório na escola) e “It: A Coisa” (naquela incrível cena do balão vermelho, com direito até a um comentário de Mortícia: “Normalmente tem um palhaço assassino segurando isso”).
O filme se inicia no passado… muito antes do que estamos acostumados a ver a Família Addams, numa época em que Gomez e Mortícia eram mais jovens do que agora, e caçados por uma série de pessoas conservadoras que os detestavam apenas porque eles eram diferentes – chamados de monstros e caçados com tochas e afins, os Addams foram obrigados a fugir do lugar onde moravam durante o casamento deles, e então eles fugiram até que encontrassem um novo lugar para morar: um antigo e abandonado hospício, com direito a espírito atormentando a casa e tudo! Parecia horrendo… portanto, o lar perfeito para os Addams. E ali eles se estabelecem e constituem família, e é legal ver o tempo passar através de bizarras fotos na parede, até que cheguemos a um momento, 13 anos depois, em que já temos Wandinha e Feioso.
Gostei muito de como o filme trouxe de volta elementos de várias diferentes adaptações de “A Família Addams”, como o Polvo Aristóteles, por exemplo, que é o bichinho de estimação de Wandinha, e visualmente o filme é impecável. A caracterização dos personagens é fantástica (e eu amei o detalhe das forcas nas trancinhas de Wandinha!), e toda a construção do cenário e do clima macabro também é incrível… em contraste, então, conhecemos a PAVOROSA Margaux Agulheira, uma apresentadora de um programa de TV que faz reformas em casas, e que está criando uma assustadora cidade em que todos são iguais… e ela a chama de “Assimilação”. Tudo é excessivamente colorido, tanto que chega a ser cansativo, e as crianças de lá se apresentam com uma dança falando sobre como não é necessário ser você mesmo se você pode ser como todos os outros.
Assustador.
Irônica essa inversão, não?
Porque os Addams é que são considerados “estranhos”, e eles têm gostos e estilos de vidas bem peculiares, mas eles é que são uma família de verdade, e eles é que têm o coração no lugar certo. Mas Wandinha tem uma curiosidade imensa com o lado de fora, e tudo se intensifica quando ela encontra um balão vermelho (!) e alguns confetes, que começam a cobrir toda a propriedade… até os pais de Wandinha ficam curiosos ao descobrir que o pântano que circundava a casa secou, e agora uma cidade apareceu por lá, então eles descem para visitar os moradores, em uma cena hilária! No dia seguinte, Margaux vai até a casa dos Addams para “reformá-la” – mas só porque ela precisa vender as 50 casas que comprou nas redondezas, e a visão da assustadora casa dos Addams no topo da colina pode afastar possíveis compradores de seus imóveis.
Adoro os sustos que a Margaux leva na casa!
No filme, as crianças estão crescendo. Feioso está prestes a passar por uma celebração em que deixará de ser uma criança, o Mazurka, mas ele não está preparado para isso, e outros membros da família estão chegando para o evento – como o Tio Chico e a Vovó. Wandinha, por sua vez, conhece Parker, a filha de Margaux, e elas acabam se tornando improváveis amigas… graças a Parker, Wandinha consegue ir à escola regular (amei a cena dela versus a bully nos corredores no seu primeiro dia de aula, bem como ela ressuscitando os sapos que precisava dissecar na aula de laboratório), e uma ajuda a outra em relação a estilo… eu amei a reação da Mortícia quando Wandinha aparece em casa com uma presilha de unicórnio, rosa e cheia de glitter, no cabelo, e depois quando ela aparece de roupa colorida e laço, mas também amei como Wandinha ajuda Parker a encontrar seu estilo.
Afinal de contas, “choque é sua especialidade”.
A crítica do filme é bem ferrenha e fala bastante sobre peer pressure – ou seja, a pressão pelos pares. Mesmo os Addams, que parecem razoavelmente perfeitos, não entendem a Wandinha quando ela se mostra diferente daquilo que eles esperam; o Feioso, por sua vez, é um desastre no que se espera que ele faça durante o Mazurka, mas toda a intenção do evento é que ele demonstre que pode defender a família, e ele pode fazer isso de outras maneiras… da sua maneira; e Parker é uma garota manipulada pela mãe, que faz dela o que bem entende… e ninguém que é diferente é aceito, em nenhum lugar: isso é o que precisa ser urgentemente mudado. Margaux, com raiva dos Addams, lança no grupo da cidade umas fake news (!) sobre a família, dizendo que “eles querem atacá-los”, e então a turba enlouquecida sobe para atacar a inocente família.
Enquanto isso, o pessoal da Família está chegando para o Mazurka do Feioso, personagens como o Primo Coisa e a irmã da Vovó! E aqui atingimos o clímax do filme, no qual todos, lentamente, entendem que a diferença não é uma coisa ruim… sim, Feioso é um desastre em seu Mazurka, mas ele adora explodir coisas, e isso se mostra uma ótima maneira de defender a sua família – o mais legal disso, no entanto, é que o Gomez o reconhece como um verdadeiro Addams ANTES mesmo que ele use as bombas para protegê-los, e é ele quem o incentiva a fazê-lo. Wandinha, também, retorna para casa, acompanhada de Parker, a tempo de salvar toda a família que quase fica presa na casa que está sendo destruída pela multidão enfurecida e amedrontada, guiada por Margaux… e quando eles são salvos pela árvore da família, todos percebem o erro que cometeram:
“Eles são só uma família”
E todos são estranhos, todos somos… do nosso jeitinho particular.
É linda a cena da família saindo em segurança, e isso comove os moradores de Assimilação, e Margaux já não tem mais nenhum poder sobre eles, porque a ensandecida vilã tenta manipulá-los de novo, e toda a sua maldade acaba transmitida ao vivo pela internet, graças à sua própria filha! A esperada queda de Margaux. A mensagem é bonita, e eu gosto de ver a Mansão Addams sendo reconstruída, não apenas pelos membros da família, mas com a ajuda de todos os moradores que ajudaram a destruí-la, depois de perceberem o quanto erraram… agora, todos podem viver em harmonia. O final do filme traz uma recriação da abertura da série de 1964, com a icônica música que eternizou os estalinhos, e é MUITO EMOCIONANTE assistir a isso, que ideia genial! O filme se sai bem, embora não seja um estrondoso marco, e garante, já, uma sequência para 2021.
Vamos aguardar!
Quando eu digo que o filme não é “um estrondoso marco”, eu penso em termos de “A Família Addams” mesmo… embora tenha um visual bacana e traga os personagens como os conhecemos, com as suas características e personalidades bem definidas, eu sinto que poderia ter sido feito mais com os personagens… a animação, em si, me lembrou bastante “Hotel Transilvânia”, e aquele filme também tinha um quê de piadas com o macabro, mas “A Família Addams” deveria ser mais que isso, e brincar mais com o gênero do terror mesmo, coisa que não fez… talvez por ser uma animação, talvez por ser direcionado especialmente para o público infantil. E eu tenho medo que, com uma sequência já anunciada, os filmes possam se desgastar em histórias simples que só façam piadas seguras, básicas, que não sejam tudo o que “A Família Addams” pode ser.


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