CHAVES: Um Tributo Musical



“O seu menino imaginado é um anjo…”
UM DOS MELHORES MUSICAIS QUE EU JÁ VI NA VIDA! Felizmente o sucesso dessa obra-prima garantiu que o espetáculo continuasse e continuasse além do previamente estabelecido, porque “Chaves: Um Tributo Musical” é um lindíssimo espetáculo, que nos diverte e nos emociona… um elenco talentoso, ótimas músicas originais para acompanhar as clássicas do programa de TV, caracterizações e cenários impecáveis, e um enredo que é, provavelmente, o grande trunfo do musical, porque é belo e tocante. Eu esperava gostar, eu esperava me divertir, mas eu confesso que não esperava ME APAIXONAR da maneira como eu me apaixonei… quero muito que eles fiquem em cartaz até minha próxima viagem para São Paulo, para que eu possa ver novamente, rir novamente, e me emocionar novamente… e eu quero que mais pessoas tenham a chance de assisti-lo.
Se estiver por São Paulo, VEJA O MUSICAL DO “CHAVES”.
É perfeito.
O musical é um pouquinho diferente do que esperamos… as primeiras cenas, ainda sem a vila do Chaves, e sem os personagens que conhecemos, nos intriga, e quando finalmente entendemos qual é o propósito, percebemos que é muito mais grandioso do que a ideia de “um episódio transposto aos palcos” ou algo assim – é ambicioso, inteligente, e atinge o seu objetivo, que é divertir, homenagear e emocionar. O musical é muito divertido, como algo sobre o “Chaves” tinha mesmo que ser, mas também é surpreendentemente comovente – então ele é aquilo que você espera, e um pouquinho mais. Amei a história, amei o visual, amei esse elenco maravilhoso, amei as pequenas referências, como a aparição do Chapolin na vila ou o “Já chegou o disco voador”, mas amei, mais que tudo, como eles incluíram o Bolaños no musical… foi a maneira perfeita de contar a história.
“Chaves: Um Tributo Musical” começa com um grupo de palhaços que está entrevistando novos palhaços, para saber se eles podem passar “pela fila da imigração”. É assim que conhecemos o Palhaço Benjamin, por exemplo, ou o Tufo e a Paçoquinha, além dos novos palhaços: a Palhaça Patinete e o Palhaço Tatuzinho – esse último interpretado por Lucas Drummond, que nos apresenta a minha segunda música original favorita no espetáculo. O terceiro “palhaço” a passar pela entrevista é Roberto Bolaños… mas ele não é o palhaço convencional. Ele trabalhou muito tempo em um escritório, veste roupas sérias, era roteirista e ator, e os palhaços ficam assustados com a sua figura, e não querem deixá-lo passar pela “imigração”. Até então, Roberto Bolaños nem sabia onde é que ele estava… e eles explicam para ele…
Roberto Bolaños é o criador do personagem Chaves, e seu “nome de palhaço”, como outra música original pede, é “Chespirito”. Chespirito, o Bolaños, é lindamente interpretado por Fabiano Augusto, que dá vida a esse talentoso homem que nos deu o Chaves de presente. Com talento e carisma, nós nos apaixonamos por Bolaños e queremos acompanhá-lo mais e mais. Sem entender o que está acontecendo, Bolaños pergunta onde ele está, para onde aquele elevador leva, se ele passar pela imigração, e então ele descobre que ESTÁ NO CÉU DOS PALHAÇOS. Mas talvez ele não seja “um palhaço de verdade”, e talvez não possa entrar. Mas ele ganha uma chance: ele vai descer de volta na Terra, voltar no tempo, e então ele poderá tentar convencer os “palhaços supervisores” (ou qualquer coisa assim) que ele é, de fato, um legítimo palhaço…
Assim, chegamos à Cidade do México… à vila do Chaves.
E ESSE MOMENTO É TÃO LINDO. O musical inteligentemente apresenta a trama inicialmente, e cria um suspense para o momento em que veremos a vila do Chaves, como já vimos no programa (que, por sinal, está lindíssimo, que trabalho incrível!). Assim, é ainda mais impactante ver a vila do Chaves e os personagens pela primeira vez. A sensação é arrebatadora, e nos arranca lágrimas. O cenário perfeito, as cores perfeitas, as caracterizações perfeitas… Bolaños apresenta cada um de seus personagens, enquanto eles chegam, e aquele momento nos mostra como não estamos bem preparados para tudo que vem a seguir. AMO que a primeira música aqui é “Aí Vem o Chaves”, como se estivéssemos mesmo começando a assistir um episódio na TV… e nós estamos ali porque amamos o “Chaves”. Toda vez que ligo a TV e tá passando, eu paro para assistir.
E sempre me divirto.
O “Chaves” é isso. A criação do Bolaños é isso.
Bolaños foi acompanhado à Terra pelos divertidos Palhaço Zambeta (interpretado pelo Dante Paccola, que está impagável, provavelmente o palhaço mais divertido do musical) e o Formiga (interpretado por Marcelo Vasquez), que é uma espécie de Groot, porque tudo o que ele diz é “Formiga”. E os palhaços se dão conta de que aquilo tudo não está ajudando muito o caso do Bolaños… afinal de contas, é uma vila pobre, cujo protagonista é um garoto órfão, que mora num barril e sempre está com fome… e o próprio Bolaños se pergunta se ele foi mesmo muito cruel com o Chaves. Eu achei particularmente emocionante qualquer interação do Bolaños com o Chaves, porque ele olhava para o Chaves e se via ali… afinal de contas, era ele. E quando ele dizia isso para os palhaços, era sempre MARAVILHOSO. Então, ele pede que eles se escondam e assistam.
E nós fazemos o mesmo…
É a confortável sensação de estar se aconchegando no sofá de sua casa e se preparando para se divertir com um episódio do Chaves. O elenco é talentosíssimo e incrível, porque, além das caracterizações perfeitas, eles encarnam os personagens em todos seus trejeitos e modo de falar, fora o roteiro que é inteligentemente escrito. Mateus Ribeiro, nosso eterno Peter Pan, interpreta o Chaves, e está absolutamente fofo. Carol Costa é a Chiquinha, absolutamente fofa. Diego Velloso é o Quico, um talento e tanto (como ele consegue manter aquelas bochechas?!). Pedro Arrais é o Seu Madruga, Andrezza Massei é a Dona Clotilde, Patrick Amstalden é o Professor Girafales, Maria Clara Manesco é a Dona Florinda e Ettore Verissimo é o Sr. Barriga. Todos estão INCRÍVEIS e nos passam perfeitamente a sensação de estar assistindo a um dos episódios do Chaves…
Até porque o roteiro, como eu comentei, é bem inteligente. Essa sequência despretensiosa, é a recriação perfeita do clima de qualquer episódio do “Chaves”, e é tão gostoso de assistir. Nós nos divertimos acompanhando situações como as que já conhecemos, como as chegadas do Professor Girafales à vila, sempre com muita fidelidade aos bordões como os vemos na série na TV… e toda vez que uma fala podia ser reconhecida, nós sorríamos e aplaudíamos. A história é divertida, e conta uma confusão que faz as pessoas pensarem que as crianças estão sendo sequestradas. Tudo começa com a nova bicicleta velha do Seu Madruga, que faz a Dona Florinda e a Bruxa do 71 acreditarem que a Chiquinha está sequestrada; depois, o sumiço do algodão doce (que o Chaves come), que faz o Seu Madruga e o Sr. Barriga acreditarem que o Chaves foi sequestrado, e o bilhete…
AH, O MARAVILHOSO BILHETE NA PORTA! Tem referência a “Caneta Azul”, tem a escrita do Seu Madruga, e tem o Chaves colando o bilhete na porta da Dona Florinda com cuspe (“Por que não colaram na porta dela? A Dona Florinda nem frequenta o meu barril”), um bilhete no qual o Seu Madruga explica para a Dona Florinda que “levaram o Quico”, mas não fica claro que ele só os acompanhou atrás do Chaves “sequestrado”, parece que ele foi levado por bandidos… é uma divertida confusão, com direito a tapas da Dona Florinda, muita risada e um final emocionante no qual o Chaves explica que ele está com fome, e todos acabam se solidarizando. Assim, a vila inteira decide “brincar de Circo” com o Chavinho, o que nos dá um maravilhoso segundo ato, em parte uma recriação do FESTIVAL DA BOA VIZINHANÇA, com um toquezinho especial…
Um toque de “Chaves: Um Tributo Musical”.
O segundo ato é LINDO DEMAIS, e totalmente diferente do primeiro ato. A primeira cena (que começa com “Se Você é Jovem Ainda”, que eu AMO) é um ensaio para a aula do Professor Girafales… e, aqui, eu preciso fazer alguns comentários: eu sempre amei os episódios da escola (sempre foram meus favoritos), e o elenco do musical fez com que sentíssemos que estávamos de fato assistindo a um episódio da escola. As piadas eram maravilhosas, o elenco estava afiado, a emoção estava a mil, a parte do “Professor Boneco de Olinda” foi perfeita (o Patrick rindo, falando o “Silêncio!” do Professor para a plateia!) e do Tiradentes também (“Ele foi enforcado e o senhor acha pouco?”), e eu adorei os atores que duplicaram papel… Maria Clara Manesco volta como Pópis e está linda (ela amarrando aquela boneca, maravilhosa!), Ettore Verissimo volta como Nhonho (tão fofo que nem sei explicar) e o Lucas Drummond é o Godinez mais lindo do mundo…
Eles arrasaram demais!
Digo que o segundo ato é diferente do primeiro, porque retoma a parte dos palhaços – Bolaños era ou não era um palhaço? O que ele fez com o “Chaves” é inominável, a maneira como ele divertiu e alegrou gerações (e ainda o faz)… ele merece, então, ir para o Céu dos Palhaços? Nós sabemos que sim, e os palhaços que desceram com ele à Terra estão se divertindo à beça com o Chaves, mas quando o Dr. Zambeta passa mal (!), Benjamin tem que descer pessoalmente à Terra, e todos os palhaços que conhecemos pegam passaportes e descem também… é legal vê-los na vila, interagindo com os personagens que não podem vê-los – fica claro, o tempo todo, que ninguém pode vê-los na Terra… a não ser que seja um anjo à paisana. E então ficamos aguardando para saber quem é o ANJO, embora seja muito fácil perceber desde o começo: “Tinha que ser o Chaves!”
Gostei muito da interação deles com os personagens do “Chaves” que amamos. A música da Dona Florinda e do Professor Girafales, por exemplo, é acompanhada pela Patinete e o Formiga se apaixonando (!), enquanto a música do Sr. Barriga e da Dona Clotilde para o Seu Madruga é assistida pelo divertido Palhaço Wladimir, interpretado por Thiago Carreira, que é um “especialista em línguas” (“Hola, ¿que tal?”). Enquanto isso, se organiza na vila o FESTIVAL DA BOA VIZINHANÇA, com direito a churros da Dona Florinda e tudo (!), e é tão bom reviver um dos melhores episódios do programa… a cena tem tudo o que adoramos, como o Chaves com o seu “Volta o cão arrependido”, e é um dos momentos mais legais de Mateus Ribeiro no musical. E, falando no Mateus Ribeiro, ele interpreta um Chaves EMOCIONANTE quando ele vê todos os palhaços ao seu redor.
Só os Anjos podem vê-los…
Dali em diante, o musical é PURA EMOÇÃO. Como eu comentei lá no início do texto, eu adoro todas as cenas do Chaves e do Bolaños, e o Mateus Ribeiro e o Fabiano Augusto nos emocionam de verdade naquela conversa final entre eles… é lindo ver a emoção de Bolaños vendo seu personagem, se vendo, e percebendo como parece que ele tem vida própria. E é lindo como o Chaves interage com ele, sem deixar de ser o Chaves. Nós rimos no meio de lágrimas de uma forma inusitada – e a sensação é tão boa, como se nossa alma estivesse sendo lavada! Aqui, temos a última música original do musical, chamada simplesmente de “Chaves”, e é a música em que o Chaves explica para o Bolaños como ele não foi cruel com ele, como aquela é a sua família… ele fala sobre como o Quico tem inveja dele porque ele tem muitos mais brinquedos que ele, através da imaginação, como a Chiquinha secretamente quer ser sua namorada, como o Seu Madruga apanha da Dona Florinda, mas nunca diz que o culpado é ele, como a Dona Clotilde é sim uma bruxa, mas bruxas são aquelas que nos dão chá quando estamos doentes, e como a Dona Florinda é chata, mas ele queria que ela fosse sua mão… aquilo é tão lindo, tão emocionante.
E estou chorando agora, só de lembrar!
<3
Depois dessa bela conversa do Chaves e do Bolaños, a plateia está praticamente inteira chorando – e então Roberto Bolaños retorna ao Céu dos Palhaços, para ver se ele vai poder ou não passar pela imigração… e Benjamin explica que sim, sua entrada foi autorizada, e é aqui que o roteiro fica ainda mais inteligente e especial, juntando tudo de forma comovente. Ele explica por que apenas os anjos podem vê-los quando eles estão na Terra: porque é dali que vêm os anjos, e os anjos nascem a partir do coração e da alma de um palhaço. E a prova de que Bolaños é, sim, um palhaço, é que o Chaves pôde vê-los quando estiveram lá embaixo: “O seu menino imaginado é um anjo… ele só pode ter saído do coração de um palhaço”. Então, Bolaños entra no elevador… as portas se fecham. Quando se abrem novamente, temos o Chaves chegando ao Céu dos Palhaços, com a trouxinha no ombro, chorando copiosamente… e nós choramos com ele.
É assim que nos levantamos para aplaudir esse musical IMPECÁVEL. “Chaves: Um Tributo Musical” é facilmente um dos melhores musicais que eu tive a oportunidade e a honra de assistir. Tudo funciona perfeitamente. É nostálgico, nos leva de volta à vila, nos fala um pouco sobre a vida de Roberto Bolaños, o Chespirito, nos diverte como qualquer episódio do programa, nos ensina e nos emociona… a emoção não pode ser descrita o suficiente, por isso, eu basicamente tenho uma coisa para dizer para encerrar esse texto: se você tiver a oportunidade, ASSISTA AO MUSICAL! Vale muito a pena e você vai querer voltar várias outras vezes… ah, e esse elenco maravilhoso, além de talentosíssimo e lindo, é simpático, acessível… tive a chance de conversar com vários deles no fim do musical, e eles são pessoas iluminadas, certamente. Mas eu vou falar mais disso no próximo texto… e trazer umas fotinhas.
Porque eu tenho o direito de tietar, não?
LINDO! *-*

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