Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)



“Leo, se você roubasse um beijo de alguém… como você faria para devolver?”

ESSE É UM DOS MEUS FILMES FAVORITOS NA VIDA! Em 2014, o Brasil produziu um filme sobre um garoto cego e gay, que era o aprofundamento da história contada no curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, de 2010, que contava com o mesmo elenco… o que eu gosto em “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é a maneira paradoxalmente inocente e ousada como o roteiro escolhe contar a história desses dois garotos, e o fato de que não é apenas a história de Leo e Gabriel… é, sim, um belíssimo romance gay, pelo qual nos apaixonamos (!), mas é também a história de uma amizade, uma história de crescimento e uma história de superproteção, porque Leo é cego e às vezes parece que a mãe não sabe lidar muito bem com isso. O filme é ousado e inovador, e ele cobre com maestria todos os assuntos que escolhe abordar, de uma forma tocante. Eu sempre fui apaixonado por esse filme.
E é um orgulho toda a repercussão mundial que ele ganhou em 2014…
Reassisti recentemente, e o filme continua conversando comigo de uma maneira quase inexplicável. Quando o assisto, eu vivo aquilo tudo tão intensamente. Eu queria continuar na vida de Leo e de Gabriel eternamente… queria poder transformar aquela uma hora e meia de filme em uma série infindável, de temporadas e temporadas, apenas para que eu pudesse ter mais tempo ao lado deles. Certamente existia muito mais que podíamos explorar. O filme é inteligente, o roteiro é incrivelmente bem-escrito, e o elenco é talentoso e nos cativa desde o primeiro momento… quando Gabriel entra naquela sala, por exemplo, começamos a nos apaixonar por ele antes mesmo que Leo se dê conta do que está acontecendo. E eu gosto muito da direção do filme, e de momentos que não nos mostram os rostos dos personagens, e provocam uma pequena angústia, um pequeno incômodo…
Mas não é assim que é para o Leo o tempo todo?
E a direção inteligentemente nos proporciona isso.
O filme começa nos apresentando Leo, interpretado por Ghilherme Lobo, e sua melhor amiga, Giovana, interpretada por Tess Amorim. Eu gosto da relação dos dois, da cumplicidade, e de como Giovana o ama incondicionalmente. Como está sempre ali por ele… e eles conversam, na beira da piscina da casa dela, sobre o primeiro beijo, sobre “a chegada de um Príncipe Encantado”, e sobre como nada parece acontecer nas férias… também entendemos um pouco da superproteção dos pais, que exigem que ele diga sempre onde está, que não gostam que ele ande sozinho pelas ruas, que se preocupam com qualquer atraso… poderia ser qualquer pai superprotetor, mas Leo sabe que eles só agem assim porque ele é cego, e ele sabe que pode se virar sozinho, e gostaria de um pouquinho mais de liberdade… gostaria de poder ir ao acampamento da escola, por exemplo
É assim que surge a história do intercâmbio. Em uma conversa casual com Gi, Leo fala sobre pensar em morar fora, mas é claro que ele nunca falou nada disso aos pais… e Giovana não parece gostar tanto assim da ideia. Meio contra sua vontade, no entanto, ela acompanha o amigo até uma agência para que eles consigam umas informações, e isso gera algumas ótimas cenas no filme, porque a mulher na agência é muito legal, dizendo que “eles nunca tiveram um intercambista cego, mas isso não quer dizer que ele não possa, eles só têm que encontrar uma família que esteja preparada para recebê-lo”. Inclusive, ela até encontra uma agência nos Estados Unidos especializada nisso… e quando ele finalmente fala com os pais sobre isso, a mãe reage muito mal, pega pesado (o que ela diz é horrível), e o pai serve de mediador… porque o pai é, na verdade, um paizão.
Aquela cena da barba! <3
Mas a vida de Leo muda quando um aluno novo chega à escola. Ele até deixa de pensar no intercâmbio com a chegada de Gabriel, interpretado pelo lindo do Fábio Audi, embora ainda demore um pouco para que eles comessem se aproximar de fato… e eu acho os momentos que fazem isso acontecer perfeitos. Está lá no fato de Gabriel se sentar na cadeira atrás dele na escola, independente do barulho, ou no Gabriel pedindo uma borracha emprestada, sem maldade, por mais sem-noção que isso seja, e no fato de ele começar a caminhar para casa com Leo e Giovana todo dia, porque mora na mesma direção, até que ele descubra que aquele não é bem o caminho de Giovana… como ela mora uns quarteirões para trás, ela sempre vem até a casa de Leo para deixá-lo e volta, mas, como Gabriel ainda mora para frente, talvez ela não precise mais fazer isso.
Então, Gabriel e Leo começam a voltar esses últimos quarteirões sozinhos.
Gosto de como o filme é singelo e verdadeiro. De como ele coloca o Gabriel totalmente sem noção em vários comentários, porque ele nunca precisou lidar com um garoto cego antes, ou como ele deixa que Leo tropece em um degrau, em determinado momento, porque esqueceu-se de avisar… é a primeira vez que ele está guiando, eu mesmo já deixei minha tia tropeçar, mesmo depois de 20 anos a guiando! Gabriel e Leo têm a chance de passar mais tempo juntos quando a professora pede um trabalho em dupla e, por algum motivo, ela quer duplas de meninos e de meninas… então, Leo é separado de Giovana, com quem ele fez dupla sua vida inteira, e não é um grande problema. Ele gosta do Gabriel… embora ainda não saiba o quanto. E quando os dois começam a ter que passar todas as tardes juntos, o filme ganha CENAS TÃO LINDAS.
Eu sou apaixonado.
Eu suspiro o filme todo… o filme me faz sorrir.
É tudo tão lindo.
Amo a maneira como eles trabalham juntos, como Gabriel se cansa e diz que “eles deviam ter ido ao cinema”, e talvez o Leo nunca tivesse ido ao cinema antes, ou talvez nunca tivesse sido tão legal quanto naquela tarde, em que o Gabriel fica conversando com ele, contando o que aconteceu… também temos aquela cena da música, com o Gabriel mostrando outras músicas além das clássicas que o Leo sempre escuta, ou aquele momento em que o Gabriel o convence a se levantar e dançar com ele… também a cena em que o Gabriel diz que acha que nunca aprenderia braile, porque é muito difícil, e Leo tenta mostrar para ele que não é assim tão difícil, e segura sua mão, mas a solta rapidinho, envergonhado, quando a mãe entra no quarto… e esses são momentos tão especiais que criam o sentimento que o filme quer nos transmitir.
O amor da adolescência.
Uma das melhores cenas do filme acontece durante o eclipse lunar. Gabriel convida Leo para “ir ver” o eclipse, e embora Leo não vá poder realmente vê-lo, lhe agrada a ideia de estar com Gabriel… mesmo que seja à uma e meia da manhã e ele saiba que os pais não vão permitir. Mas eles fogem naquela noite, e compartilham momentos marcantes. Eles estão sozinhos, na cidade vazia, deitados na grama… Gabriel explica para o Leo o que seria o eclipse lunar, e eles andam de bicicleta juntos, com o Leo segurando nos ombros de Gabriel, como em um dos pôsteres (lindos) do filme. E, claro, temos aquela ousada e excitante cena do moletom… Gabriel diz que esqueceu seu moletom no quarto de Leo e pergunta se “ele pode levá-lo para ele amanhã na escola”. Assim que entra no quarto, Leo o cheira… o cheiro de Gabriel. E então se despe, coloca o moletom de Gabriel, e se deita na cama sentindo o cheiro do seu príncipe, e uma coisa leva à outra, e ele acaba se masturbando.
Tão natural. Tão adolescente.
Tão real.
Graças ao trabalho e ao fato de Leo estar passando cada vez mais tempo com Gabriel, Giovana e ele acabam se afastando, e ela fica muito brava quando ele vai para casa sozinho com Gabriel e nem espera por ela. No dia seguinte, ela nem fala com os garotos. Mas não é só isso, é uma série de coisas acumuladas que mexem com a amizade delas, como ela acaba contando para o Gabriel na festa da Karina, depois de beber um pouco: “Eu só não entendo o Leonardo. Essa coisa de fazer intercâmbio… em nenhum momento ele pensou que eu ia ficar aqui sozinha…”, ela se lamenta. A festa toda da Karina é tensa, e foi desesperador ver os babacas da escola tentando zoar o Leo enquanto Giovana estava bêbada no banheiro, conversando com Gabriel. Felizmente, quando ela o beija, ele desvia o beijo e ela sai brava do banheiro, a tempo de salvar o Leo.
Mas não explica nada.
E o Leo fica sem entender.
E, aqui, ganhamos, meio que inesperadamente, outra cena MARAVILHOSA: O PRIMEIRO BEIJO DE GABRIEL E LEO. É só um selinho, mas significa demais, especialmente porque vem quase do nada, embora não venha… no banheiro, enquanto conversava com Gi, Gabriel ouviu tudo o que ela tinha a dizer para o Leonardo e a aconselhou a dizer para ele como se sente, e então ela, impulsivamente, o beijou. Ele faz o mesmo, segue o próprio conselho, “diz” o que sente, e beija o Leo, enquanto o Leo está reclamando que “todo mundo fica querendo controlá-lo e ninguém quer que ele beije ninguém”. Então, Gabriel beija Leo, mas ele mesmo não sabe lidar com o que acabou de fazer, e acaba indo embora, confuso, deixando o Leo com aquela expressão perdida no rosto, tentando saber como ele vai falar sobre isso com o Gabriel… porque ele precisa, não?
Logo em seguida, temos o acampamento da escola, ao qual o Leo foi autorizado a ir, contra todas as possibilidades. Mas o Leo está sozinho. Giovana ainda não conversou com ele, e o Gabriel meio que o está evitando – e é muito triste quando ele chega atrasado para o ônibus, acompanhado de Karina. Eventualmente, Gabriel acaba indo falar com Leo, se sentando ao seu lado na grama, de frente para um lago, mas ele ignora completamente o que aconteceu na festa da Karina… Leo tenta puxar o assunto (“Que loucura a festa da Karina, né?” – e sentimos nossos corações dispararem, exatamente como o de Leo!), mas Gabriel se esquiva, e diz que “estava bêbado demais e não se lembra de nada”. AQUILO ME PARTE O CORAÇÃO, mas nem nesse momento eu consigo ficar bravo com o Gabriel… tudo também é muito novo para ele, afinal de contas!
O acampamento traz outra cena quente dos dois, e se a cena do moletom expressava, sem equívocos, o desejo de Leo por Gabriel, a cena do chuveiro mostra o desejo de Gabriel por Leo. Antes disso, na piscina, temos a ótima cena do protetor (!), e depois Leo espera uma eternidade à beira da piscina até que todos tenham ido embora, porque “não vai tomar banho na frente de ninguém”. E, no fim, Gabriel e Leo compartilham o banheiro em uma cena excitante. Para Gabriel é fácil tirar a roupa toda, ele sabe que Leo não vai poder vê-lo. Mas não é simples para Leo. Mesmo assim, ele acaba se sentindo à vontade o suficiente para tirar o shorts, afinal, e eu adoro a cena. Não só porque ela é excitante (porque ela é!), mas porque a direção a tornou, apesar do desejo e da nudez, bela. Acompanhamos o choque de Gabriel ao ver Leo se despir, ao vê-lo se virar, e então ele foge do chuveiro para esperar o Leo sentado, escondendo a ereção com a toalha…
E isso significa muito.
EU AMO ESSA CENA! <3
O acampamento é repleto de ótimos momentos. Gabriel ajuda Leo e Giovana a ficarem sozinhos para que eles possam conversar, e então eles fazem as pazes em um momento lindo em que Giovana diz tudo o que tem sentido, e depois que eles bebem um pouco, Leo acaba confessando para Giovana que está apaixonado por Gabriel. Depois disso, Giovana some, em choque, e Leo fica sozinho, até encontrar Gabriel nadando com Karina de madrugada e ir nadar com eles… o que lhe custa um resfriado no dia seguinte. Sem que Leo vá para a escola, Giovana vai mais tarde à casa dele para ver como ele está e para conversar sobre o que ele falou no acampamento, depois de ter processado a informação, e é outra cena linda da dupla: “Acho que vocês formariam um casal bonitinho”. Naquele momento, é tão evidente o quanto ela é uma amiga boa!
E ela ainda faz Gabriel ir vê-lo, porque “é quarta e ele está sozinho”.
E Gabriel vai.
A finalização do filme é linda e apaixonante. Gabriel vai conversar com Leo, ver como ele está, e Leo pergunta se ele ficou com Karina… mas Gabriel explica que não, diz que, naquela noite, ela tentou beijá-lo, e ele desviou, “porque gostava de outra pessoa”, e então ela começou a desabafar sobre todos os ex, eles beberam e acabaram indo nadar, até que Leo os encontrasse na piscina… e é a coisa MAIS LINDA como Gabriel fala sobre essa outra pessoa de quem gosta, até que Leo entenda que é dele que ele está falando. O sorriso do Gabriel quando Leo fala sobre “como ele deve ter bebido muito na festa da Karina, porque ele bebeu no acampamento e se lembra de tudo isso, mas não se lembra do que fez na festa” é lindo, porque é claro que ele se lembra… e ele gosta de Leo tentar trazer isso à tona. Isso o motiva a continuar falando, a continuar sugerindo.
Gabriel fala sobre como “até beijou essa pessoa, mas foi só um selinho”, e quando não há mais dúvidas, Leo se levanta. “Leo, se você roubasse um beijo de alguém… como você faria para devolver?” Então, Leo beija Gabriel, e é um beijo tão bonito, tão entregue, um beijo apaixonado, belo como todo o filme, transmitindo toda a essência do filme, nessa única e bela cena. Também amei como Leo toca o rosto de Gabriel, “o vendo” pela primeira vez, e o abraço fofo que eles trocam no final. Também amei o final na escola, com aqueles garotos babacas provocando, como fizeram o filme todo, dessa vez falando sobre como “o namoro tá ficando sério”, e então Leo não se incomoda… ele desce a mão pelo braço de Gabriel e, dessa vez, ele segura sua mão. E Gabriel sorri com o gesto. É TÃO LINDO, MAS TÃO LINDO, QUE SEMPRE ME FAZ CHORAR.
Esse filme é LINDO DEMAIS.
Poderia ver mil vezes, e me emocionaria mil vezes…
Um dos filmes da minha vida! <3


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Comentários

  1. Em todos esses anos não vi uma descrição tão bela e profunda como a sua. Sou um grande fã de HEQVS e ENQVS. Simplesmente incrível. Não sei se vc irá receber o comentário, mas saiba que foi o resumo/critica mais incrível que já li desde 2014.


    Att, Didi.

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    1. Olá, Didi! Recebi o comentário sim e, inclusive, fico muitíssimo feliz de lê-lo! Muito obrigado!!!

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  2. Que lindooooo,amei o filme vó olhar de novo é tão perfeito ver pessoas aceitando se ♥️chega de preconceito.

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  3. Finalmente li o texto. É simplesmente perfeito a riqueza de detalhes e ainda assim objetiva nos faz rever todas as cenas na mente. Confesso que li duas vezes, hehehe e já quero rever o filme mais uma vez. Ah propósito, atrevi me a ler o texto antigo e amei também, achei até mais emotivo, fiquei até imaginando uma criança desenrolando o embrulho de um presente com brilho nos olhos. Muito lindo!
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    Na pesquisa "voltar sozinho", vi um review por ali do Toy Story 2, que depois voltarei pra ler, e acho bom ter do Toy Story 3, se não vou ficar puto. Kkkkk...

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    1. "Confesso que li duas vezes": QUE LINDO *-* hahaha Eu também estou ficando com vontade de rever o filme, desde que começamos a falar sobre ele haha (Textos antigos continuam e continuarão no blog por questão de registro, mas eu não confio em textos de 2015 pra trás kkkkk)

      Tem review de Toy Story 3, sim, fica tranquilo kkkk Escrevi de todos quando ia sair o quarto filme.

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