Sítio do Picapau Amarelo (2003) – A Bela e a Fera: Parte 2
Apenas o amor podia salvá-lo…
Naturalmente,
melhor que “Zumpilion”, mas “A Bela e a Fera” não chega a ser tão
boa quanto “A Lenda do Rei Arthur” ou
“O Primo do Carijó”. Com apenas 10
capítulos, a história gastou muito tempo em Dulce e Flora, as irmãs chatas da
Bela, que, por sua vez, são parecidas demais com a Candoca, a filha do Coronel
Teodorico que fez a sua aparição mais recente na história anterior. Assim, o desenvolvimento para a Bela e para a
Fera deixa a desejar, bem como a aproximação deles, que acontece em poucas
cenas da segunda semana, até que eles estejam “completamente apaixonados” um
pelo outro, e nós nem tenhamos de fato acompanhado de como eles passaram daquelas
brigas constantes (quebrando coisas pelo castelo, inclusive!) a um “amor”
repentino… de qualquer maneira, é o
suficiente para quebrar o feitiço da Dona Carochinha.
O Seu Elias
acabou de invadir o castelo da Fera “para defender a sua sobrinha”, e isso
enfurece o príncipe transformado, mas eu vou dizer que foi mesmo o Elias quem invadiu a sua casa e ainda ficou atacando… não
sei com que direito. Então, com raiva, a Fera tranca todo mundo em sua
biblioteca, e é aí que a Bela começa a perceber, lentamente, que pode haver
alguma coisa boa escondida sob toda a
raiva e todo o gênio difícil do “monstro” que os capturou… afinal de contas,
tanto ela quanto o Visconde estão fascinados
com a quantidade de livros em sua biblioteca e, mais tarde, Bela descobre umas
belas pinturas e se pergunta quem foi que
as pintou, enaltecendo “a delicadeza dos traços”, impressionada: “Quanta vida, quanta emoção! Quem será que
pintou todos esses quadros? São verdadeiras obras de arte, a pessoa que os
pintou deve ser muito sensível!”
A Emília é
quem está no meio, de mediadora, mas eu vou confessar que eu não estava gostando da Emília durante essa história… a Emília de
Monteiro Lobato tem um jeito mandão e duro, às vezes até sem coração, mas aqui
ela estava parecendo mais uma garotinha birrenta e gritona que quer tudo da sua maneira e adora dar lições de moral nos outros.
Não sei, não foi de meu agrado, infelizmente… não que ela estivesse totalmente
errada, porque ela disse coisas muito sensatas, também, como quando manda a
Fera os soltar, porque “não pode mantê-los ali”, e a Fera a pergunta se é essa
moça, a Bela, que ela queria apresentar-lhe… “Você gostou da Bela?” Acho que faltou carisma e desenvolvimento em
“A Bela e a Fera”, os personagens
ficaram rasos demais… Bela era caricaturada, excessivamente boba, boazinha e,
consequentemente, chatinha…
Faltou um
motivo para se apaixonar. Faltou cenas…
Faltou.
A Fera diz a
Emília que a Bela nunca vai olhar para
ele, porque ela é bela, educada e sensível, e ele é feio e um bruto. E
realmente ele age como um monstro, na maior parte do tempo! Mas Emília decide
ajudá-lo a aprender a se comportar e a tratar as pessoas bem (!), para que ele
possa ter alguma chance que a Bela
olhe para ele um dia… até porque a Bela acaba dormindo e sonhando “com aquele
monstro horrível”, e a Fera fica ainda
mais brava quando escuta isso. “Ele
tem o gênio ruim, acho que eu vou apresentar ele para a Cuca”. Mas, mesmo
com todas as suas explosões de raiva, Emília não desiste de seu “Lobinho”
(porque agora é assim que ela decide chamá-lo), e então começa a ensiná-lo a se
portar… “Só assim você vai aprender a ser
educado, ou então você não vai conquistar a Bela!” Enquanto isso, o quadro
vai se transformando.
Quase o
prendendo nessa forma para sempre.
Enquanto
isso, Dona Benta desmaia quando o Tio Barnabé e o Zé Carijó chegam dizendo que a Carochinha e a Cuca sequestraram o
Pedrinho e a Narizinho, e estão pedindo a Emília em troca de seus netos…
Nastácia, então, planeja enganar a jacaroa e a baratona, fazendo outra Emília de pano para entregar em
troca das crianças. Como a Carochinha está sem óculos e não enxerga
praticamente nada, pode ser que funcione. Barnabé e Zé, então, esperam a Cuca
deixar a caverna em busca do Pesadelo, e enganam a boba baratona, que fica toda
feliz por ter capturado a atrevida bonequinha de pano… e quando ela quase
desconfia, porque “a Emília está muito silenciosa”, Pedrinho imita a voz da
Emília perfeitamente (!), até que a Dona Carochinha acredite que realmente fez
um bom acordo… fica lá, se vangloriando
de sua esperteza com uma boneca de pano sem vida.
Uma Emília falsa.
“Fala, Emília! Responda, boneca
mal-educada!”
Depois de
algum tempo presos no Castelo da Fera, Bela conversa com o monstro para que ele os solte, e os dois acabam brigando tanto, mas
tão feio, que eles, inclusive, quebram várias louças da casa, durante uma noite inteira, enquanto, por algum
motivo, a Emília diz ao Visconde que “acha que eles estão se entendendo”. Na
manhã seguinte, a Fera pede para conversar com o Elias, e então diz que ele pode ir embora, mas vai manter a
Bela ali como prisioneira, como castigo por eles terem invadido o seu castelo,
numa versão da história original de “A
Bela e a Fera”. Mas isso não dura muito… Bela intervém logo em seguida, diz
que “a Fera não tem esse direito”, e a Fera diz que ela tem razão, e era isso o que ela queria lhe dizer: que a Bela está
livre, pode ir embora… mas talvez a Bela não queira ir embora, não agora… não até saber a verdade.
Como Emília
diz, a Bela gostou dos quadros que encontrou na biblioteca, e a Fera gostou de
saber que ela tinha gostado dos quadros (No
fundo, ele é bonzinho, Visconde”), e a Bela começou, lentamente, a perceber
que a Fera escondia uma faceta boa por baixo de toda a sua feiura e braveza…
escondida, a Bela escuta a Fera falar sobre “garantir a segurança do Elias”,
enquanto o seu tio vai embora, e depois lhe pergunta por que ela se preocupa tanto com o seu bem-estar. “Você já poderia ter
ido embora, por que não vai?”, ele pergunta, cansado, e sem esperanças de
que ainda tenha tempo de impedir o feitiço de durar para sempre. “Porque eu quero ficar, até saber a verdade”,
ela responde. “Quem pintou aqueles
quadros? De quem são aqueles livros? O que você esconde? Precisa se torturar
tanto assim?” Bela já começa a ver o
outro lado da Fera.
No clímax da
história, uma confusão leva UMA GALERA para o Castelo da Fera. Além da Bela, da
Fera, do Visconde, da Emília e da Clarice, também temos o Coronel, o Elias e o
Rabicó, que estão quase chegando até o lugar, além da Cuca e da Dona
Carochinha, que entram no Castelo para tentar impedir a Emília de concretizar
seu plano… e o mais legal é que, quando as bruxas ameaçam a Bela, a Fera a
defende, dizendo que “elas não vão fazer mal algum a ela”. Então Emília belisca
a Dona Carochinha, o Visconde puxa o rabo da Cuca (!), e a Bela e a Fera fogem
para o lado de fora, enquanto a Bela segura a mão da Fera, toca seu rosto,
agradecida, e quase lhe dá um beijo apaixonado… antes que isso aconteça e o
feitiço se quebre, no entanto, as bruxas reaparecem, e quando a Fera defende a
Bela novamente, ele acaba caindo lá de
cima da sacada…
Arriscando
sua vida para defender a dela.
Assim,
enquanto a Fera está ferida, talvez quase morrendo, a Bela cuida dela, a segura
no colo, e a beija… um beijo apaixonado,
o suficiente para quebrar o feitiço lançado pela Dona Carochinha há tanto tempo.
Ele volta a ser, então, o belo Príncipe do passado, e Carochinha, nervosa, vai
embora prometendo a Emília que “isso não vai ficar assim”, e a bonequinha
atrevida responde, sem pestanejar: “Pode
voltar quando quiser, sua barata cascuda!” Então, a Bela ajuda a salvar a
Fera, encontra o amor de sua vida, e enquanto eles dizem que se amam (uhm, foi
meio rápido, mas tudo bem), o pessoal assiste e aplaude… um beijo que encerra a história de “A Bela e a Fera”. Dona Benta a
encerra, contando que Bela, que nunca se preocupou com dinheiro e status, acabou se casando com um
verdadeiro príncipe, enquanto Dulce e Flora, ambiciosas, acabaram trabalhando
na venda do Seu Elias…
Agora, é hora de uma nova história.
E Emília vê uns índios chegando ao Sítio!
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de Luz
Concordo com você. As irmãs da Bela parecem duas Candocas genéricas.
ResponderExcluirNem faz sentido elas terem esse destaque todo, visto que o papel de vilã dessa história é da Dona Carochinha.