Sítio do Picapau Amarelo (2003) – O Gran Circo Mefistofélico: Parte 1



“Que lugar é esse? Que gentalha!”
UMA DAS MINHAS HISTÓRIAS PREFERIDAS DO “SÍTIO”. Para mim, essa é a história mais marcante da Temporada 2003 do “Sítio do Picapau Amarelo”, e a Cláudia Raia está maravilhosa no papel da perversa Medeia. Enquanto reassistia à temporada, eu mal podia esperar pelo momento em que estaria aqui, porque tudo aqui é muito grande, muito intenso, e eu gosto do roteiro que é desenvolvido, gosto do mistério que o “Gran Circo Mefistofélico” representa, bem como a chegada do bondoso e intrigante Berloque à casa do Tio Barnabé… há tanta coisa a se explorar, sem contar que os personagens são interessantes, os cenários e as cores são lindas, todo é envolvente, tudo é mágico… ainda que estejamos lidando com pessoas perversas e um circo visivelmente malvado. E o Zé está no Arraial dos Tucanos quando o Gran Circo Mefistofélico chega, e ele se encanta…
Malabaristas, mágico, mulher barbada, o homem mais forte do mundo…
…a bailarina…
Os artistas do circo são encantadores. Medeia e Mefisto, os donos do circo, são pessoas visivelmente desprezíveis. Sem saber disso, o Zé Carijó chega todo animado no Sítio, contando para todo mundo, sonhando com a “mais linda bailarina que já viu na vida”. O Quindim, ao ficar sabendo, sai correndo, porque ele morre de medo de circos… Miloca, por sua vez, ao perceber que o circo armou sua tenda em uma propriedade que lhe pertence, vai toda brava dizer que as terras são suas e mandando eles saírem, mas Medeia joga dinheiro e mais dinheiro para cima dela, para “pagar o aluguel”, e Miloca fica louca de felicidade: “Menina, eu intuí que vocês eram pessoas de bem”. Aparentemente, a burrice passa de pai para filho, porque Miloca vai cometer os mesmos erros que o Coronel Teodorico já cometeu antes: aceitar um dinheiro que nunca viu antes?
Que nem o Visconde (!) nunca viu antes?
Conhecemos um pouco da perversidade daquele lugar e daquelas pessoas através, justamente, da maneira como a Medeia trata a bailarina… a bailarina mora dentro de uma caixinha de música, mas Medeia a tira constantemente de lá, exigindo que ela ensaie incessantemente, por mais que seus pés doam, por mais que ela esteja sofrendo… ela implora por piedade, mas Medeia não a escuta. A pobre bailarina é explorada, maltratada e humilhada, e eu me lembro de como achei tudo aquilo forte quando assisti pela primeira vez, em 2003. A maneira como Medeia diz que a bailarina está enferrujada, e como ela se aproxima ameaçadoramente quando ela cai, e a bailarina implora para que ela não bata nela. Fora a maneira como ela é confinada naquela caixinha de música, como uma prisioneira… tudo é muito misterioso.
Também temos Berloque, o misterioso viajante que chega à casa do Tio Barnabé e é um mestre carpinteiro, mas ele é mais que um simples viajante: ele é cheio de truques e segredos. Percebemos rapidamente que ele conhece o pessoal do circo (“O circo? Então eles chegaram”), especialmente a bailarina, sua “filha querida”, a quem ele pede que o Zé Carijó leve uma flor especial, mas o Zé acaba sendo capturado e não consegue entregá-la… algumas das cenas mais interessantes da primeira semana dessa história têm a ver com o Berloque revelando seus poderes às escondidas – e ele me faz pensar no Gepeto. O vemos fazer um bonequinho de madeira e colocá-lo para dançar, por exemplo, e a Narizinho vê: então, ela conta para todo mundo, mas não é nada lá tão grandioso “um boneco ganhar vida” por ali… veja a Emília e o Visconde.
De qualquer maneira, eles querem investigar.
Emília vai descobrir tudo sobre a vida de Berloque!
Mas Emília também está muito curiosa com o circo propriamente dito – qualquer criança estaria. Então, ela faz o Visconde de Sabugosa acompanhá-la até o Arraial, só para ela poder dar uma espiadinha, e os dois acabam sendo capturados e levados para a Medeia. Inicialmente, ela fica furiosa, porque eles atrapalham sua contagem do dinheiro que o Visconde não conhece (!), mas ela muda totalmente de atitude quando descobre que eles vieram do Sítio do Picapau Amarelo… então ela se torna cordial, apresenta todo o circo (e eu amei a Emília levantando o peso de isopor do “homem mais forte do mundo” ou dando a sua célebre tesourinha de uma perna só para a mulher barbada cortar pelo menos metade da barba), mas volta a ser macabra quando Emília por ventura encontra a bailarina escravizada… Nabera se ajoelha, pede socorro, é desesperador…
“Emília, me ajuda, pelo amor de Deus!”
Emília até tenta proteger a bailarina, sem sucesso, e acaba voltando para o Sítio com isso na cabeça. Enquanto isso, Medeia e Mefisto pensam no que farão para conseguir capturar os bichos do Sítio do Picapau Amarelo, e eles veem a oportunidade perfeita quando o Zé Carijó aparece rondando por ali – o Zé estava lá a pedido de Berloque, para entregar uma flor para a bela bailarina, mas ele acaba sendo capturado, e é dolorosa a cena em que Medeia o leva de volta ao Sítio, porque tudo é bastante cruel. Eles arrastam o Zé do circo até o Sítio pela orelha, e o pobre Zé chega com a orelha vermelha e inchada, morrendo de dor, para o horror de Dona Benta… além disso, tem a maneira como Medeia e Mefisto se referem a ele, o chamando de “isso”, e perguntando se “‘isso’ a pertence”… eu juro que eu fiquei morrendo de dó do Zé chorando daquele jeito!
E Dona Benta também…
Mas Dona Benta é muito educada para fazer o que devia ter feito naquele momento: expulsar Medeia e Mefisto de seu Sítio. Mas eles não ficam muito por ali… eles logo retornam para o Circo, encantados com o que viram: um leitão falante, um burro filósofo, um rinoceronte inteligente… agora, eles vão tentar roubar os animais do Sítio de Dona Benta, eles só precisam pensar em como farão isso: um a um, para não chamar a atenção de ninguém. E o primeiro é o Rabicó. Mas Medeia e Mefisto vão acabar capturando muito mais do que apenas os animais de Dona Benta, e provavelmente Pedrinho vai ser sua primeira vítima… ele fica todo animado quando a avó pede que ele vá à venda do Elias comprar umas coisas, porque ele pode aproveitar e “dar uma olhada no circo”, mas ele nem imagina o tamanho do perigo que está correndo, bisbilhotando por lá…


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