Fronteiras do Universo, Volume II – A Faca Sutil (Philip Pullman)
“Will tem 12 anos e acabou de matar um homem. Agora está fugindo,
decidido a descobrir a verdade sobre o pai que jamais conheceu. Sem querer,
atravessa uma janela que dá para um outro mundo – onde espectros devoradores de
almas assombram as ruas de uma cidade e uma estranha menina chamada Lyra está à
procura do Pó. As buscas em que Will e Lyra estão empenhados têm uma ligação
misteriosa e, juntos, os dois precisam procurar um objeto poderoso e secreto. Só
que pessoas de mundos diferentes matariam para possuí-lo”
Eu amo “A Faca Sutil” ainda mais do que eu amo “A Bússola de Ouro”. Algo ali me fascina
imensamente… Philip Pullman consegue expandir o que criou no primeiro livro da
trilogia “Fronteiras de Universo” com
propriedade e criatividade. Nós seguimos o que foi plantado lá no primeiro
livro, mas percebendo, agora, que é tudo
tão maior que isso… é incrível acompanhar Lyra e Will, ambos retirados de
seus próprios mundos, descobrindo um terceiro e aterrador mundo – a misteriosa
e vazia cidade de Cittagàzze. O livro tem personalidade e nos prende desde as
primeiras páginas, com uma ação desenfreada que nos joga no meio da história e
nos deixa com a sensação de que conhecemos
Will Parry há muito tempo. Quer dizer, o que é aquele primeiro capítulo,
começando no nosso mundo e terminando
com Will e Lyra na cidade fantasma?
É INCRÍVEL!
\o/
“A Faca Sutil” é imensamente diferente
de “A Bússola de Ouro”, embora
mantenha-se a intensidade da narrativa e o interesse constante do leitor. Aqui,
exploramos novos universos, com uma pegada de ficção científica que me fascina, além de toda uma relação do que
vimos antes, em relação ao Pó, por exemplo, com o nosso mundo – e então tudo parece incrivelmente mais real…
e mais aterrador. O livro é organizado de maneira diferente, menos linear e
repleto de ação, em capítulo de nos fazer roer as unhas e devorar as páginas
com ansiedade, e vários personagens assumem o protagonismo e contam histórias
paralelas que são parte de uma só
história (algumas das quais ainda contamos com “A Luneta Âmbar” para encontrarmos seu lugar no quebra-cabeças),
embora o livro ainda seja mais fascinante quando estamos com Lyra da Língua
Mágica ou com Will Parry.
Will Parry é
um garoto de 12 anos que acabou de matar
um homem – é o que a sinopse de “A
Faca Sutil” nos diz, mas a verdade é que tudo é muito mais complexo que isso. Will Parry tem um mistério em
seu passado, porque seu pai desapareceu
há muitos anos e, desde então, ele ficou sozinho com a mãe. Will teve que
amadurecer depressa demais, para cuidar da mãe e para não deixar ninguém perceber
o que havia de errado com ela –
porque ele não queria correr o risco de ser separado dela. A mãe, supostamente
“com problemas mentais”, parecia ver inimigos invisíveis em todos os lugares
(no supermercado, por exemplo), e Will nunca os entendeu de fato… mas cuidou da
mãe, a protegeu, e aprendeu o que tinha que aprender com ela. Mas se algum dia
ele chegou a duvidar de que os perigos fossem reais, ele não pôde mais fazê-lo
quando aqueles homens invadiram a casa.
Eles estavam
em busca de algo… Will acaba planejando fugir, então. Deixa a mãe em segurança
na casa de uma antiga professora de piano, volta para casa em busca de uma bolsa verde com cartas do pai (que é
o que os homens estão procurando), e acaba matando
um homem acidentalmente quando o cara invade a casa e ele o faz cair da
escada… mas ele não tem tempo para ficar. Ele
precisa correr. E é assim que uma gata misteriosa acaba sendo sua guia
através de uma passagem no ar, um
buraco na realidade desse mundo, direto para outro mundo – parecido, mas diferente
do seu. O mundo que conhecemos em “A Faca
Sutil” é muito mais parecido com o mundo de Will (ou o nosso mundo) do que
com o mundo de Lyra de “A Bússola de
Ouro”, mas com uma diferença importante: ele está completamente deserto, e o silêncio é aterrador.
Will explora
com curiosidade o novo mundo misterioso, sabendo que ele não pode ser pior que o mundo que ele acabou de deixar para trás
– e eu adoro essa ideia de explorar um novo mundo, amo como isso nos enche de
curiosidade e certa vontade de poder fazer
o mesmo… então ele nada durante a noite para se refrescar, ele procura
comida e, assim, ele acaba encontrando
Lyra – uma garota quase selvagem que o ataca brutalmente, e ali nasce uma
possível interessante amizade. Cada um com a sua própria busca, eles podem se
ajudar nesse mundo que não parece ter mais ninguém… o garoto fugindo dos
“inimigos” e procurando algo sobre o seu pai, e a garota curiosa que veio em
busca do Pó. As primeiras cenas dos dois são MARAVILHOSAS. Tudo é ainda mais bizarro para Lyra: ela não
sabe o que é uma geladeira, o que é um refrigerante ou uma omelete, e ela nunca
lavou um prato na vida… Will, por sua vez, teve que aprender a se virar desde
muito novo, então ele cozinha para eles.
Gosto de como
os dois são durões, de alguma maneira, mas como ambos precisam de uma companhia. Gosto de como Will mostra
um fascínio curioso, mas, ainda assim, respeitoso, em relação a Pantalaimon, ou
como Lyra percebe que Will é
diferente dela, porque seu dimon não
está aparente, mas ela consegue ver que ele o tem – está dentro dele, e um é
parte do outro, o que é muito estranho
para ela. Eu adoro a escrita de Philip Pullman, eu amo o que ele criou em “A Bússola de Ouro” com os dimons, e nós
parecemos tão parte disso que nós
quase olhamos para Will com os mesmos olhos de Lyra: procurando um dimon, mas sabendo que ele está ali, de algum modo dentro
dele… sendo que devia ser natural para nós: Will é um garoto de nosso
mundo, não é? Mas não, nós olhamos para Will com o mesmo fascínio e curiosidade
de Lyra e Pan.
A conversa
dos dois sobre dimons é MARAVILHOSA
DEMAIS.
Naquela
noite, Lyra invade o quarto de Will para perguntar sobre ele ao aletiômetro, e
tudo o que o instrumento lhe diz é que Will
é um assassino… e, de algum modo sombrio, isso faz com que Lyra se sinta
segura. Tão segura quanto se sentia com
Iorek. Enquanto isso, no mundo de que Lyra viera, as feiticeiras e Lee
Scoresby se reúnem em um conselho, falam sobre a guerra que está por vir, sobre
a profana missão de Lorde Asriel (destruir não apenas a Igreja, mas a
Autoridade propriamente dita!), sobre a garota que desempenhará um papel tão
importante, embora ainda misterioso, nisso tudo, e sobre Stanislaus Grumman,
que, diferente do que pensávamos em “A
Bússola de Ouro”, pode ainda estar vivo em algum lugar… e Serafina Pekkala e 22 outras
feiticeiras decidem cruzar a ponte para o
outro mundo, onde nenhuma jamais estivera.
Cittagàzze é
um lugar sinistro – assustador e fascinante ao mesmo tempo. É praticamente
deserto, e Will e Lyra não conseguem encontrar nenhum adulto. Quando eles finalmente
têm companhia, eles encontram apenas crianças que lhes falam sobre os “Espectros”:
espíritos que as crianças não podem ver e que não caçam crianças, porque eles caçam apenas adultos… por isso não tem
nenhum adulto por perto. A descrição dos Espectros e o que eles fazem com os adultos
me faz pensar no beijo dos Dementadores, e eu só posso pensar que eles devoram os dimons dos adultos – mas,
por algum motivo, o dimon só tem
graça para eles depois de ter se fixado em uma forma única… depois que os humanos, como descobrimos
durante “A Bússola de Ouro”, começam a atrair a misteriosa substância chama de “Pó”.
Lyra está em
busca do Pó – ela precisa encontrá-lo antes do Lorde Asriel, e uma das partes
mais interessantes de todo o livro é ver Lyra transpor essa busca para o nosso mundo, e então os
termos precisam ser atualizados. Will ajuda Lyra a cruzar a janela para o nosso mundo, onde tudo é diferente para ela, embora
estranhamente familiar. É a Oxford, mas não a Oxford que ela conhece,
embora algumas coisas sejam iguais, e
isso é totalmente desconcertante para a garota curiosa – mas, ao mesmo tempo,
continua sendo fascinante. Aqui, Catedráticos e Teólogos Experimentais são, na
verdade, cientistas, e Lyra ganha uma
companheira interessante e estudada que pode compartilhar com ela umas
informações… o aletiômetro pede que “ela não minta para a Catedrática” (é um
assombro para Lyra encontrar uma mulher
catedrática), e lhe dá uma missão que ela não entende:
“Você tem que se preocupar com o garoto. A sua tarefa
é ajudá-lo a encontrar o pai. Se concentre nisto”
Assim,
acompanhamos a união de Lyra e da Dra. Malone, E É UMA DAS CENAS MAIS
IMPACTANTES DE TODO O LIVRO – sentimos como se nossas cabeças estivessem
prestes a explodir enquanto lemos
aquilo tudo e fazemos novas associações. Imediatamente, quando Lyra vê o I
Ching no laboratório de Malone, eu me dei conta de sua similaridade com o
aletiômetro… afinal de contas, o “I Ching”
foi algo que estudei um pouco enquanto escrevia minha dissertação de mestrado.
Para a Dra. Malone, o “Pó” é chamado de matéria
escura, ou de “partículas de sombra”, e ela fala sobre as sombras terem consciência, sobre podermos ouvi-las responder se
quisermos e se “mantermos a mente no estado certo” – QUE É EXATAMENTE O QUE
A LYRA FAZ COM O ALETIÔMETRO. Era muito claro, em “A Bússola de Oura”, a questão do “estado de espírito” no qual a garota
precisava estar para poder conversar com o aletiômetro e entender suas
respostas…
“Bem, não se lê como se lê uma carta, não funciona
assim. O que está acontecendo é que as Sombras estão reagindo à atenção que
você dedica a elas. Isso por si só já é bastante revolucionário: é à nossa
consciência que elas reagem, entende?”
Em seu estudo
das partículas de sombra, a Dra. Malone busca uma maneira de conversar com as sombras, assim como
Lyra conversa com o Pó através do aletiômetro. Algo, talvez o desespero porque
a pesquisa está quase sendo fechada,
faz com que a Dra. Malone confie em Lyra, e ela realmente consegue, com o seu
aletiômetro, informações que ela nunca poderia
ter, e a garota pede que ela a deixe usar a “Caverna”, que é um programa no
computador desenhado para que eles possam
se comunicar com as sombras, e é uma versão “estranha” do aletiômetro,
porque envolve uma tecnologia do nosso
mundo que quase parece deslocada no meio disso tudo. Mas é fascinante, como
cada cena da Lyra lendo o aletiômetro, a maneira como ela se conecta com a “Caverna”
no computador da Dra. Malone, E COMO ELA CONSEGUE RESPOSTAS… mas respostas que Malone
ainda não entende.
Lyra acredita,
então, que ela poderia fazer a “Caverna” respondê-la com palavras na tela.
Isso certamente seria muito prático.
Aqui, eu acho
que o livro atingiu o seu ápice, embora ainda seja mais ou menos a metade das
páginas de “A Faca Sutil”, mas é que
essa troca de experiências e ideias da Lyra e da Dra. Malone são fascinantes,
bem como reconhecer o “aletiômetro” em nosso próprio mundo através do
computador movido por partículas de sombra, ou o I Ching na China. Enquanto isso,
Will anda pelo mundo investigando a expedição na qual o seu pai, John Parry,
desapareceu há muitos anos, e ele finalmente lê as cartas que seu pai enviou,
nas quais ele fala algo sobre a “anomalia”, a “janela para o mundo dos espíritos”. E em uma das cenas MAIS EMOCIONANTES do
livro, Will e Lyra decidem confiar um no
outro, e então eles passam um tempo no nosso mundo, até ser seguro voltar
para Cittagàzze, e Lyra fica totalmente fascinada
quando vai ao cinema.
AQUELA CENA
ME MARCOU DE UM JEITO!
A animação, a
felicidade pura e infantil de Lyra, dizendo que “o cinema é melhor do que
qualquer coisa que ela tenha no seu mundo”.
Essa pureza e
essa inocência de Lyra… É TUDO TÃO LINDO.
“Ficaram ambos sentados em silêncio na pedra coberta
de musgo, sob os raios oblíquos do sol através dos velhos pinheiros, pensando
em quantos acontecimentos casuais ínfimos tinham conspirado para levar os dois
até esse lugar. Cada um desses acontecimentos casuais poderia ter tido um
desfecho diferente. Talvez outro Will, em outro mundo, não percebesse a janela
na avenida Sunderland e saísse andando em direção às Midlands, perdido e
exausto, até ser apanhado. E em outro mundo, talvez outro Pantalaimon tivesse
convencido outra Lyra a não entrar na Sala Privativa, e outro Lorde Asriel
tivesse sido envenenado, e outro Roger tivesse sobrevivido para brincar para
sempre com aquela Lyra sobre os telhados e pelos becos de uma Oxford diferente
e imutável”
Em paralelo,
acompanhamos outras tramas do livro, como o nosso amado Lee Scoresby em busca
de informações de Grumman, e tudo isso é envolto em mistério, porque todo mundo
parece ter ouvido falar sobre o Grumman, todo mundo parece ter um pedacinho da sua história, mas ninguém sabe nada ao certo,
porque as informações não batem. Mas nós captamos uma série de informações
importantes, como a maneira como as pessoas falam de seu dimon e sobre ser um tipo de
águia que nunca viram antes, ou do fato de Grumman estar buscando
civilizações de 20 a 30 mil anos atrás, mas
ninguém saber nada sobre ele antes disso, ou ainda do fato de ele ser um
tártaro e ter um nome tártaro: Jopari. John Parry. Grumman é o pai de Will! E Lee acaba chegando a Grumman/John Parry,
e ele conta sua história, conta sobre como veio
do outro mundo, como foi quando viu o
seu dimon pela primeira vez… e eu não pude deixar de desejar que Will
viesse para esse mundo para que conhecêssemos seu dimon.
John Parry, então,
dá a Lee uma missão, de levá-lo até o outro mundo, pois precisa encontrar o portador da faca. Enquanto isso, as
feiticeiras fazem as suas próprias andanças, porque tudo está convergindo para a grande guerra, e é com elas que vemos os Espectros pela primeira vez,
quando eles atacam os adultos e devoram suas vidas, deixando-os mortos em vida, e elas veem dois adultos
montarem em cavalos e fugirem, quando os Espectros aparecem, porque é assim que
eles fazem em seu mundo: dois adultos
precisam sempre fugir e deixar os demais morrerem, para serem os que vão cuidar
das crianças órfãs dali em diante, que não foram atacadas. “Este é o maior mistério de todos. Na
inocência das crianças existe algum poder que repele os Espectros da
Indiferença”. Também ouvimos falar, pela primeira vez, em “Anjos”, e os
vemos voando ao longe, em direção a algo, e quando Ruta Skadi os segue e os
conhece, eu até senti arrepios por todo o corpo… tudo é impactante, forte,
poético, astral, inusitado, bizarro – difícil de explicar. Então, Ruta os
acompanha até outro mundo, até uma
fortaleza que Lorde Asriel está construindo…
Para a
guerra.
Da próxima
vez que Lyra passa para o nosso mundo, dessa vez sem o Will, tudo acaba dando errado. A Dra. Malone
já foi abordada pelos caras que estão em busca de Will, e Lyra acaba caindo em
uma armadilha e confessando que o conhece e, para piorar tudo, quando ela tenta
escapar, ela tem o seu precioso aletiômetro roubado por um velho asqueroso, o
Sir Charles – cuja real identidade ainda descobriremos mais tarde nesse mesmo
livro. Lyra fica desesperada, como se parte dela tivesse se perdido, e então ela
e Will precisam encontrar uma maneira de recuperar
o aletiômetro, e eles vão até a casa dele, que propõe um “trato”: ele devolverá o aletiômetro se eles
trouxerem para ele um objeto que ele quer ainda mais – uma faca, escondida em
um mundo ao qual ele não pode ir, por causa dos Espectros, mas eles podem andar
por lá livremente.
Ele quer a faca que está na Torre dos Anjos.
E essa é a missão de Will e Lyra.
Grande parte
do livro gira em torno da FACA SUTIL, então, e descobrimos que já era assim, mesmo antes que soubéssemos
– a introdução do objeto na trama é SENSACIONAL, e as primeiras cenas da faca nos
fazem virar páginas avidamente. Toda a relação do Will com a Faca Sutil me fez
pensar um pouco na Lyra com o aletiômetro, mas, ao mesmo tempo, me fez ver que Will precisa de uma conexão muito forte com
o seu “dimon”, embora nós não possamos vê-lo, para que ela funcione… a cena
é de arrepiar. Depois de entrarem na Torre dos Anjos e se depararem com um
rapaz enlouquecido com a Faca, Will acaba entrando em uma batalha na qual ele perde dois dedos da mão, e
aquilo é tão desesperador que, dali em diante, parece que sentimos as dores de
Will Parry. Mas, conforme lhe é explicado, essa
é a marca inconfundível do portador da Faca Sutil.
Agora, ele. Will.
Will, então,
é o novo portador da Faca, e o antigo portador fala sobre ela, sobre a Torre
dos Anjos, sobre a Liga, sobre as regras… e, mais importante, lhe ensina a
usá-la. O velho ensina Will a abrir janelas no ar para outros mundos, e as cenas são incríveis. Will precisa, antes de tudo,
se concentrar e deixar a mente vazia, mais ou menos como Lyra tem que fazer
para se conectar com o aletiômetro e, depois, ele tem que “sentir a lâmina”, “se
tornar ela”, “colocar sua alma ali”, e enquanto ele tenta, eu quase pude ver o dimon de Will caminhando até a ponta da
faca e achando a fenda entre os mundos, cortando o que não está ali, para abrir passagem para o outro lado. Isso tudo
é tão intenso, tão íntimo, e nós sentimos algo poderosíssimo em poder
compartilhar desse momento com Will… o
momento em que ele usa a Faca Sutil pela primeira vez.
Antes disso,
no entanto, a dor quase lhe impede, e as suas lágrimas são tão sinceras e tão
dolorosas que Pantalaimon acaba se
aproximando e tocando nele – e isso é tão chocante, mesmo para nós. Como disse,
Philip Pullman, em “A Bússola de Ouro”,
nos tornou parte da Oxford de Lyra, do mundo de Lyra, e nós sentimos como se aquele fosse o natural:
e ver um dimon tocando outra pessoa
que não seu humano é desconcertante e, ao mesmo tempo, mágico. Mostra uma
conexão entre Will e Lyra que nunca achamos possível – mais tarde, Pan diz a
Lyra que “sentiu que Will precisava de um dimon
naquele momento, e ele não tinha um”. Pantalaimon lambe a sua ferida
carinhosamente e aninha sua cabeça em seu joelho e, então, é como se Will
tivesse forças para tentar novamente… e
percebemos que só assim Will conseguiu aprender a abrir e fechar janelas…
Sozinho não.
Apenas com Lyra e Pan.
Então,
portando a Faca Sutil e sem saber, ainda, tudo o que isso implica, Will resolve
usá-la para ajudar Lyra a recuperar o seu
aletiômetro – e é um roubo alucinante. Em um capítulo tenso e maravilhoso,
Will e Lyra usam a faca ao seu favor, mas isso não é o suficiente para que eles recuperem o aletiômetro… eles ainda precisam de muito jogo de cintura.
Uma vez no escritório do Sir Charles, que descobrimos ser, na verdade, o Lorde
Boreal, Will acaba presenciando uma conversa dele com a Sra. Coulter (!), e me
causa calafrios rever o seu diabólico macaco dourado… toda a cena traz mais
tensão que revelações, e terminamos com a Lyra distraindo os dois jogando
pedras na janela, enquanto Will rouba o aletiômetro, fecha a última passagem
que abriu, e então corre para salvar Lyra… e eles só conseguem porque uma gata que eles ajudaram em
Cittagàzze os ajuda – é uma corrida contra o tempo, o tempo todo não sabemos o que vai acontecer, e eu
fiquei tenso e com o coração disparado O TEMPO INTEIRO, devorando as palavras
num frenesi delicioso.
Uma leitura
envolvente… senti cada segundo daquilo!
Will e Lyra
acabam sendo achados e protegidos por Serafina Pekkala, quando as crianças de
Cittagàzze se voltam contra eles, enquanto a Dra. Malone nos proporciona outro incrível capítulo no qual mais peças
começam a se unir. As Sombras, o Pó, a matéria escura, os crânios de 30 ou 40
mil anos atrás no museu… isso tudo tem a
ver com como os humanos adquiriram consciência em primeiro lugar. Enquanto a
Dra. Malone faz descobertas, Sir Charles/Lorde Boreal vem ao seu escritório, de
forma ameaçadora sob uma máscara
gentil, dizer que pretende financiar a sua pesquisa, desde que ela faça o que ele quer – por exemplo, encaminhe a
pesquisa para a área de controle de consciências (!), investigue mundos paralelos
e, antes de tudo, entregue Lyra para ele.
Malone, maravilhosa, não quer ter nada a
ver com esse homem e vai embora, enquanto o seu companheiro parece muito
mais propício a aceitar as “condições” de Charles.
À noite, a
Dra. Malone volta ao escritório, e é última vez que a veremos nesse livro, mas
ela deve desempenhar um papel importante em “A
Luneta Âmbar”. Durante a noite, correndo contra o tempo, Malone se conecta
ao computador para conversar com a “Caverna”, como Lyra fez, e dessa vez com palavras na tela, e
aquela cena é de arrepiar. Assim como acontece toda vez que vemos Lyra conversar
com o aletiômetro, queríamos ler mais,
queríamos páginas e páginas disso, mesmo que, com o computador e as palavras mais diretas, tudo pareça um pouco menos místico que com o
aletiômetro. De qualquer modo, a cena traz informações como que esses seres
feitos de matéria-de Sombra são “anjos” (ou algo assim), e eles ajudaram na evolução dos humanos, lhe
dando consciência, como vingança. Agora,
eles dão a Malone uma missão: ela bancará a serpente. Ela precisa encontrar
as crianças, ajudá-las e se preparar para
uma longa viagem.
Antes disso, ela precisa destruir o
equipamento…
Lorde Boreal não pode ter acesso à sua
pesquisa avançada!
“Tanto o Conselho de Oblação quanto os Espectros da
Indiferença estão enfeitiçados por esta verdade a respeito dos seres humanos: a
inocência é diferente da experiência. O Conselho de Oblação teme e odeia o Pó,
e os Espectros se alimentam dele, mas ambos são obcecados por ele”
Tudo se
delineia para o último livro… a Dra. Malone atravessou para um novo mundo, onde
desempenhará uma função que ainda desconhecemos. Lee Scoresby, por sua vez, viu
sua jornada chegar ao fim, tendo cumprido a missão de levar John Parry para
outro mundo, onde ele pode encontrar o
portador da Faca e dizer-lhe sua missão… foi sofrido ler o último capítulo
de Lee Scoresby. Aprendemos a amar aquele aeróstata, e é interessante vê-lo tendo
“visões” durante o sono, pouco antes de o vermos lutando até o último momento,
no qual ele e Hester morrem, juntos. E
a Sra. Coulter se torna ainda mais cruel
e brutal do que ela jamais fora. Ela sempre foi um demônio, com aquele
macaco dourado maldito… ela sempre foi obcecada, alienada, perigosa e cruel,
mas agora – agora a Sra. Coulter comanda os Espectros, que fazem a sua vontade, e temos uma cena na qual ela mata uma
feiticeira da maneira mais fria e crua possível.
Aquela cena
causa um desconforto danado…
E então ela
descobre algumas coisas – qual é o papel de Lyra nisso tudo, finalmente. Como eu
comentei, a jornada de Lorde Asriel é profana, e eu cheguei a sentir certo desconforto enquanto lia aquelas
palavras e aquela missão: ele quer acabar com a crueldade imposta pelos servos
da Autoridade (quanta coisa o Magisterium fez em nome dela?) e, para isso, ele quer enfrentar e acabar com a própria
Autoridade… e, então, “vai acontecer tudo de novo”: a Queda, o recomeço, e
a Lyra se tornará a nova Eva. A não ser que as coisas sejam diferentes… porque,
dessa vez, Lorde Asriel terá uma coisa que os anjos rebeldes não tinham da
última vez, uma arma que pode matar a Autoridade: A FACA SUTIL. E é essa a missão
da Faca, esse é o trabalho do portador: levá-la
ao Lorde Asriel, e é isso o que John Parry pede ao filho, pouco antes de
ser assassinado por uma feiticeira que se apaixonara por ele e fora rejeitada…
O fim do
livro ainda traz algumas surpresas, coisas que nos fazem querer partir logo
para “A Luneta Âmbar”, em busca de respostas…
não sei o que será da missão de Lorde Asriel, sei que tudo isso me causou uma
angústia tremenda, mas sei, também, que estou curioso para ver quais são os
rumos e, especialmente, os desfechos dessa história. Agora, Will abraça a sua missão,
passada pelo pai, e será guiado pelos Anjos até a fortaleza de Lorde Asriel ainda em outro mundo, deixando para trás
Cittagàzze e o mundo dos Espectros, que, por sua vez, atacaram e mataram todas as feiticeiras… aquilo é
extremamente cruel e parece nos deixa atordoados e confusos. Além de não termos
mais as feiticeiras, Lyra desapareceu,
e Will sabe que ela foi levada contra a sua vontade porque ela deixou o aletiômetro para trás – e ela nunca faria isso por
vontade própria…
Onde está
Lyra? Como Will vai chegar a Lorde Asriel? E a Dra. Malone? Qual vai ser o
resultado e, mais importante, as consequências dessa grande guerra que o Lorde
Asriel tanto buscou?
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