Sandman, Volume 1 – 24 Horas / Som e Fúria
A crueldade de John Dee…
O rubi, a
Pedra dos Sonhos, a última ferramenta que Sandman precisava recuperar depois de
seus 70 anos de cativeiro, foi a mais difícil de todas, e levou três edições… na primeira delas,
descobrimos o paradeiro da Pedra, que foi usada por John Dee, o Dr. Destino,
por muito tempo para trazer os pesadelos das pessoas à realidade. Quando
Sandman a localizou, no entanto, ele não pôde reavê-la como fizera com a
algibeira ou com o elmo, porque ela foi
adulterada, e parece já não responder mais a ele. Então, John Dee recupera
sua “Pedra dos Sonhos” para causar o
maior estrago no mundo inteiro, e é isso o que a ASSUSTADORA “24 Horas” traz com tanta perfeição… é,
em “Prelúdios & Noturnos”,
certamente o conto mais apavorante… ou, nas palavras do próprio Neil Gaiman,
“um ensaio sobre histórias e autores, e também um dos primeiros contos
genuinamente horripilantes” que escreveu.
Essa edição, Sandman #6, se passa inteiramente em uma
lanchonete e sob o olhar de Bette, uma garçonete aspirante a escritora que
observa seus clientes para recolher material
para os contos que se senta à noite para escrever… “Eles não eram simples fregueses. Eram matéria-prima”. Os contos de
Bette sempre terminam com um final feliz, porque, segundo ela, ela sabe a hora de parar… se continua
por muito tempo, os contos sempre terminam em morte. Naquela noite, ela planeja
escrever sobre o forasteiro que chegou à lanchonete e que está sentado de
maneira esquisita no canto… John Dee, em
posse do rubi de Sandman, brincando com aquelas pessoas da forma mais cruel
possível. Acompanhamos 24 horas de John Dee se deliciando com o que há de
mais horrendo e assustador, enquanto ele manipula tudo ao seu redor, usando o rubi em
busca de prazer…
De
“entretenimento”.
Ele prende
todos os clientes na lanchonete, ocasionalmente conscientes, outras horas
sonhando… ou tendo pesadelos. Indo das alturas de seus sonhos (Bette sonhando
passar o Stephen King como autora mais vendida) ao pior de seus pesadelos, e
tudo começa a ficar cada vez mais bizarro e cada vez mais macabro… tem oferenda de sangue, mortes, confissões
assombrosas… tudo é de arrepiar. E foi uma edição extremamente pesada de se ler, extremamente
angustiante, o momento em que “Sandman”
definitivamente se caracteriza como uma
HQ de terror, horripilante. E isso não se restringe apenas à lanchonete em
que John Dee está: “Noticiário das seis.
Será que todo mundo está enlouquecendo? Chegam informes de todas as regiões do
estado sobre um surto de loucura, suicídios e pesadelos…” Aos poucos, se
espalha.
Se torna
universal.
As pessoas
começam a ter acidentes estranhos, desastres acontecem, pessoas adormecem,
pessoas não conseguem dormir, mais ou
menos como quando Sandman foi feito prisioneiro e a Doença do Sono se instalou
no mundo, mas John Dee faz isso por prazer.
Ele se diverte com cada momento, até que se sinta entediado… com o passar das
horas, tudo piora… fica mais cru, mais brutal, mais doloroso… Dee é assustador,
maltratando todos que estão ali, até que ele chegue à 24ª hora e não sobre ninguém vivo na lanchonete. É um
verdadeiro massacre, e John Dee está
entediado. Então, Sandman FINALMENTE aparece, e começamos nossa próxima
edição, “Som e Fúria”, que é o
momento em que Sandman tentará tomar novamente para si o poder do rubi que lhe
foi roubado há tantos anos… e que está
causando isso tudo.
John Dee está
orgulhoso do que está fazendo – “O que
parece que estou fazendo? Eu mandei meu rubizinho penetrar nos sonhos mais
profundos dessa cambada e escavar as trevas de suas almas. Estou ferindo toda a
corja. Estou enlouquecendo um por um” –, mas Sandman diz que não é para
isso que a Pedra dos Sonhos foi criada… ela foi feita a partir do seu próprio
ser para que ele controlasse a trama dos sonhos do mundo que governa, e ele
precisa desse poder de volta o mais rápido possível, para restaurar todo o estrago que está sendo feito no mundo. John Dee,
no entanto, não pensa em devolver a Pedra dos Sonhos para Sandman… na verdade, ele planeja matá-lo. E se
Sandman está sendo desafiado, ele vai escolher onde esse duelo terá lugar, e ele parte, então, para o Sonhar – para o lugar que ele conhece e domina tão
bem. Onde é mais poderoso.
Assim, John
Dee o segue, brevemente se distraindo com sonhos esquisitos antes de se lembrar
do que está fazendo ali, e então ele
começa a brincar com os sonhos que encontra, começa a machucar as pessoas que estão sonhando, para chamar a atenção de
Sandman e funciona, porque ele finalmente aparece: “Dee… pare. Você está ferindo os sonhadores. Está interferindo na ordem
das coisas”. Dee é cruel, e eu gosto de como Sandman é um bom Perpétuo,
dentro do que lhe é possível… Dee está pronto para acabar com Sonho, para matá-lo, para tomar a vida em suas mãos, da
forma mais cruel possível, e ele acha que conseguiu fazê-lo, quando, de
repente, se vê sem o rubi, mas tampouco sem Sandman ou qualquer outra coisa…
Dee está em um amplo espaço vazio, sentindo-se o REI DOS SONHOS, planejando,
esperando aplausos…
Mas não.
Ele não é o Rei dos Sonhos.
Claro.
Encerrando
essa primeira parte de “Sandman”
(antes do “Epílogo” que traz a Morte à cena pela primeira vez!), encontramos
Sandman – Sonho, Morfeus, como você quiser chamá-lo – MAIOR E MAIS PODEROSO DO
QUE NUNCA. Foi incrível ler essa parte, sem contar que a página ficou linda,
com um Sandman imenso tomando a página
inteira, mostrando toda a sua grandiosidade recém-recuperada, mostrando que
ele é mais poderoso do que John Dee jamais poderia sonhar em ser, e ele
“agradece” a Dee: “Obrigado, John Dee.
Faz tanto tempo que até havia me esquecido. Eu havia me esquecido de quanto
poder depositei nessa joia. De quanto dele me foi negado…” Dee acabou destruindo o rubi e, ao fazê-lo,
permitiu que todo o poder retornasse a Sandman, que retoma todo o poder que um
dia lhe foi negado… é um final MARAVILHOSO!
Sandman está
“de volta”.
Assim como
John Dee… de volta a Arkham.
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