Sandman, Volume 1 – Anfitriões Imperfeitos



“O Mundo dos Sonhos, o Tempo dos Sonhos, o Inconsciente – chame-o como quiser – é tão parte de mim quanto eu sou parte dele”

Bastante diferente da primeira edição, “Anfitriões Imperfeitos” é a continuação direta de “O Sono dos Justos”, e deixa para trás, pelo menos por enquanto, o reino humano e o conto histórico, para se aventurar em algo mais místico, e introduzir o que devemos acompanhar nas próximas edições… depois de se livrar de seu cativeiro e de ir atrás de Alex Burgess por suas ferramentas, Sandman (nessa edição chamado principalmente de Morfeus) usou todas as energias que lhe restavam para poder condenar Burgess ao eterno despertar (!), e agora ele ainda está muito fraco – foram anos de cativeiro, sem se alimentar, e aquele sonho que impôs a Alex exigiu demais dele. Então, ele vaga tentando chegar ao Tempo dos Sonhos, de volta ao seu lar, e acaba sendo encontrado nas Zonas de Alternância por Gregory, que o leva até a Casa dos Mistérios.
A Casa dos Mistérios é um lugar interessante habitado por Caim e Abel, da “primeira história”, e eles são os anfitriões de Morfeus, que cuidam dele como podem e que o ajudam a se fortalecer, quando Morfeus pergunta por algo que tenha sido criado por ele, e eles lhe entregam cartas que ele escrevera e assinara – assim, Morfeus pode reabsorver a parte de si mesmo que colocara nas cartas há tanto tempo… ainda não é o suficiente, mas é algo. Agora, ele tem alguma força para ir atrás de suas ferramentas, estejam elas onde estiverem… em paralelo, acompanhamos uma cena interessante no Asilo Arkham, enquanto John Dee, o Doutor Destino, é visitado por sua mãe de 90 anos, que não o vê há 10, e ela é informada sobre como ele não dorme mais, como não sonha… “Mamãe? Tomaram meus sonhos de mim!” Ele está acabado.
Destruído.
Deixando a Casa dos Mistérios para trás, Devaneio continua sua jornada de volta ao seu lar, de volta ao Castelo que costumava habitar antes que isso tudo tenha começado, lá em 1916… Caim e Abel sabiam, no entanto, que o seu castelo já não era mais o mesmo que ele deixara para trás, mas eles não o advertiram disso, porque “ele veria com seus próprios olhos muito em breve”. Brevemente, exploramos um pouquinho de todo esse Reino que é parte do domínio de Morfeus, o tão misterioso e interessante “Sonhar”. Enquanto caminhamos ao lado de Morfeus, em uma jornada interessante e envolvente, calma e firme, Morfeus nos fala um pouco sobre como são as coisas por ali, e nós percebemos como Neil Gaiman tem tudo isso muito claro, e como ele joga as informações de maneira quase casual, porque não é uma novidade para Morfeus.
É apenas seu lar.
Mas, para nós, é fascinante. Queríamos parar, explorar cada detalhe…

“E o mundo dos sonhos é infinito, embora limitado por todos os lados. O caminho para o centro é uma lenta espiral. Primeiro, devemos passar pela Casa dos Mistérios e pela Mansão dos Segredos, velhas estações intermediárias nas fronteiras do pesadelo… de lá, o viajante estabelece uma rota na direção da noite até alcançar os Portais do Chifre e do Marfim. Eu mesmo os esculpi quando o mundo era mais jovem e a ordem, necessário. Apresso o passo para chegar aos Portais. Os sonhos que passam pelos Portais de Marfim são mentiras, invencionices e fraudes. O outro admite a verdade. Ninguém mais guarda o Portal do Chifre. Eu me lembro dos tempos idos. Assim que atravessá-los, poderei ver meu Castelo. Ao passar por eles, serei capaz de enxergar… meu lar…”

Eventualmente, chegamos ao Castelo de Morfeus, mas tudo está acabado, estranhamente vazio, porque ele é a encarnação do Tempo de Sonhos e, com o seu sumiço, “o lugar começou a se decompor, a se esfarelar”. Então, Morfeus sabe de como precisa encontrar suas ferramentas, recuperar suas forças, recomeçar… e ele pede a ajuda de três bruxas que “são uma só”. Ele tem direito a três perguntas e três respostas, uma de cada bruxa, e então ele pergunta sobre o paradeiro de cada uma de suas ferramentas… primeiro, a algibeira, que ele descobre que foi comprada pela última vez por um inglês, John Constantine (!), mas a bruxa não vai informar-lhe se a algibeira ainda está com ele; depois, o elmo, que há muitos anos foi negociada com um demônio e desapareceu há décadas do plano mortal; por fim, o rubi, sobre o qual ele deve perguntar à Liga da Justiça…
É bizarro, é diferente, reúne várias mitologias em uma só história.
E, assim, Neil Gaiman cria algo ambicioso, novo e original…
Curiosíssimo para ver essa jornada em busca das ferramentas de Morfeus!

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