Sandman, Volume 1 – O Som de Suas Asas



“E ouço. O som de asas…”
GENTE, QUE EDIÇÃO PERFEITA! Chegamos ao fim de “Prelúdios & Noturnos” com uma edição que o próprio Neil Gaiman chamou de um epílogo, e do momento em que ele sentiu que estava encontrando a sua voz… se é isso que veremos de agora em diante em “Sandman”, eu estou muito FELIZ. Em “O Som de Suas Asas”, conhecemos uma nova personagem, mais um dos Perpétuos, o primeiro desde Sonho… conhecemos a Morte, e ela é uma personagem fascinante. Não maldosa, não cruel – simplesmente cumprindo sua responsabilidade, porque é isso o que os Perpétuos fazem… eles cumprem suas responsabilidades. A edição tem um inevitável tom melancólico que me fascinou. O ritmo é gostoso, flui, e a história contada é singela, bonita, triste… e é a maneira perfeita de apresentar a Morte. Já queremos poder acompanhá-la mais vezes.
Depois que tudo “acabou”, Sonho está sentado sozinho no parque, alimentando os pombos, nas páginas mais claras que “Sandman” viu até aqui. Ele está triste, sozinho, até que uma personagem descolada e interessante se apresente, alguém que mais tarde entenderemos se tratar da Morte, a irmã de Sonho. Amei ouvir a Morte comentando “Mary Poppins”, porque o Sonho está alimentando os pombos (!), e eu gostei de como ela explicou o filme tão bem em tão poucas palavras, com direito a um “Supercalifragilisticexpialidocious” e tudo! “É uma graça de filme”. A conversa de Morte e Sonho flui muito bem, e é evidente o quanto eles se conhecem, mesmo que ainda não tenhamos tido a oficialização de estarmos conhecendo a Morte, o Perpétuo que os humanos queriam capturar em primeiro lugar, quando toda essa história começou…
A edição é incrível! Morte pergunta a Sonho o que ele tem, porque não é de seu feitio estar ali, quieto e sozinho daquele jeito, e então Sonho faz um resumão de tudo o que aconteceu até aqui em “Sandman”, do seu cativeiro, dos anos ansiando vingança, da sua fuga quando o seu captor original já tinha morrido e da vingança que teve contra seu filho, mas que não foi tão satisfatória quanto ele pensou que seria… e, agora, ele sente como se não tivesse um propósito, ou, em suas palavras, como se “não fosse nada”. E eu adorei a maneira como a Morte falou com ele, bem o estilo de irmã mais velha mesmo, dando uma bronca nele por estar ali se fazendo de coitado, dizendo que “ele está agindo como Desejo”, outro dos Perpétuos, e que ela estava preocupada.

“Eu. Não. Acredito. Deixe-me lhe dizer uma coisa, Sonho. E só vou dizer uma vez. Por isso, é bom prestar atenção. Você é simplesmente o mais idiota, o mais egocêntrico e ridículo arremedo de personificação antropomórfica deste e de qualquer outro plano da existência. Um espécime infantil, adolescente e patético. Sentindo peninha de si mesmo porque seu joguinho acabou e você não teve… não teve colhões pra procurar outro”


Morte, então, tem algo missões a cumprir, e convida Sonho a acompanhá-la, e essa é a parte mais melancólica e mais bem-escrita dessa edição, porque, aqui, Neil Gaiman conseguiu misturar os Perpétuos e suas relações com os humanos, enquanto eles continuavam a conversar… Morte e Sonho caminham pelas ruas de Londres, e eu gosto muito de como Neil Gaiman pensou em detalhes, de como ele narra esse caminhar, e de como as pessoas se afastam instintivamente deles, sentem calafrios, mas nunca olham para eles diretamente… e então acompanhamos a Morte fazer o seu trabalho, levar pessoas desse mundo, enquanto a edição vai esclarecendo quem é que estamos vendo ao lado de Sonho. A primeira pessoa que a Morte leva é Harry, um homem já de certa idade que, de alguma maneira, estava esperando por essa visita.
Embora não queira ir…
É uma sequência tocante da edição. Aqui, Neil Gaiman pôde explorar pequenas vidas, discreta e rapidamente, mostrando um pouquinho de como a morte chega para cada um. Primeiro com Harry, alguém que, de um jeito ou de outro, já esperava por isso. Depois, a Morte vai atrás de Esmé, uma comediante que morre por causa de um fio desencapado no microfone, no susto, inesperadamente. Depois, um bebê, que a Morte busca no berço enquanto a mãe vai preparar a mamadeira, e ele lhe pergunta, melancolicamente, “Mas… foi só isso? Foi tudo que me coube?”, e ela responde, com pesar: “Infelizmente, sim”. É triste, mas a Morte cumpre sua missão. Não é nada cruel, não é frio. Só é o que tem que ser. Por fim, a Morte vai atrás de sua última missão do dia: Franklin, o garoto da bola do início da edição, que morre atropelado. É forte, é triste, é belo…
É melancólico.
QUE EDIÇÃO MARAVILHOSA ESSA.
Mais apaixonado por “Sandman” que nunca.
E que venha o segundo arco!


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