Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward, 2020)



“Long ago, the world was full of wonder. It was adventurous, exciting, and best of all, there was magic. And that magic helped all in need. But it wasn't easy to master. And so the world found a simpler way to get by. Over time, magic faded away. But I hope there's a little magic left in you”

Mais um emocionante filme da Pixar. Eu adoro as animações do estúdio, que já nos proporcionaram clássicos como “Toy Story”, os adoráveis “Procurando Nemo” e “Monstros S.A.”, e os meus dois filmes favoritos de animação, por toda sua complexidade e sua carga emotiva: “Divertida Mente” e “Coco”. Agora, a Pixar nos apresenta “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica”, a história de dois irmãos elfos adolescentes que aceitam uma quest para tentar ter mais um dia com o pai que morreu há muitos anos. O filme tem tudo o que aprendemos a amar nas produções do estúdio: é colorido e divertido, repleto de vida, tem uma aventura empolgante, e uma mensagem final bonita e emocionante… e eu adorei (!) como “Dois Irmãos” trouxe toda a temática de magia à tona e foi inteiramente construído como se fosse um grande jogo de RPG.
A premissa é interessantíssima partindo de seus dois pontos principais… de um lado, temos a ideia de magia. Do outro, a relação familiar. Estamos em New Mushroomton, um local habitado por seres outrora mágicos, como centauros, elfos, fadas, sereias e dragões, mas a magia foi há muito esquecida. O prólogo nos mostra como a magia não era algo fácil de dominar, e as pessoas acabaram tomando o caminho mais simples quando encontraram maneiras mais fáceis de fazer as mesmas coisas. Para que eu precisaria dominar a arte do fogo para iluminar o caminho se eu tinha uma lâmpada – é tão fácil. Assim, lâmpadas, fogões e carros substituíram os feitiços difíceis de serem dominados, e o povo de New Mushroomton esqueceu-se da magia, que ficou perdida em algum lugar do passado… agora, eles vivem em uma cidade moderna como a dos humanos. Mas sem magia.
Ian, um dos protagonistas do filme, é um elfo adolescente que acaba de completar 16 anos e “está virando adulto”. Ele é responsável, mas extremamente tímido e, mais do que tudo, ele sente falta do pai, que morrera antes de ele nascer… isso fica evidente em vários momentos, mas mais especificamente numa cena em que ele ouve uma gravação do pai, uma gravação que ele ouvira tantas vezes que já decorara, e ele finge que o pai está conversando com ele quando fala entre as pausas da fita – aquela cena é de partir o coração. Seu irmão mais velho, por sua vez, é o destemido (e o motivo de ele ser destemido é eventualmente revelado, e é um tanto quanto triste!) Barley, um elfo crescido, bagunceiro e que adora jogar um jogo de RPG, acreditando que tudo o que está ali (de história, magia e feitiços) realmente existiu há muito tempo.
No aniversário de 16 anos de Ian, a mãe conta para ele e o irmão que o pai deixara um presente para eles, antes de morrer, que deveria ser entregue quando ambos tivessem mais de 16 anos… e é assim que a magia é reavivada em New Mushroomton – ou pelo menos esse é o início de tudo. Ao abrir o presente, os dois irmãos descobrem um antigo cajado, “com magia em cada fibra” (segundo o empolgado Barley, que entende tudo sobre o assunto por causa de seu jogo favorito), e um “Feitiço de Visitação” – algo que o pai deixara para que eles pudessem trazê-lo de volta por um dia, para vê-los. No entanto, por mais que Barley tente, já que ele entende dessas coisas, a magia não funciona. Por acidente, mais tarde, Ian acaba conseguindo realizar o feitiço… parte dele, pelo menos, e apenas a metade de baixo do pai acaba voltando para visitá-los.
Apenas as pernas…
“There's no top half! I definitely remember Dad having a top half!”
Para que o restante do pai retorne, eles têm 24 horas (até a hora em que ele partirá novamente) para conseguir uma nova Joia Fênix para alimentar o cajado e Ian precisa dominar a arte da magia… com a ajuda do irmão. A jornada começa a partir de então, e é interessantíssima, porque os irmãos são muito diferentes um do outro, mas eles se completam. Ian é organizado, inteligente e, embora cético, é ele quem tem o dom para a magia; Barley, por sua vez, sempre acreditou na magia, e passou a vida jogando um jogo de RPG que ele jura que “é historicamente apurado”. Agora, o conhecimento de Barley em quests e em feitiços vai ser essencial para que eles completem essa jornada juntos, a bordo da Guinevere, uma van antiga que Barley reconstruiu e que é o seu xodozinho. E, dali em diante, o filme se torna uma deliciosa aventura.
Eu me diverti muito com todos os trechos da quest dos irmãos. Temos aquela sequência bizarra e divertida na Taverna da Mantícora, por exemplo, onde eles buscam o mapa até a Joia Fênix, e todo o filme é construído como um grande jogo de RPG animado, com o uso inteligente de vários seres mágicos e de vários feitiços, e isso FOI UMA DELÍCIA DE ASSISTIR. O nerd dentro de mim adorou cada segundo. E essa modernidade toda misturada à magia ou a algo antigo, como a Mantícora agora sendo a dona de uma “lanchonete” e mulher de negócios, me fez pensar muito no estilo de escrita de Rick Riordan… impossível não pensar em “O Ladrão de Raios” durante o filme. Tá vendo, Disney+, é isso que queremos da série, ok? Também temos aquela cena do Barley pequenininho como uma fada, que foi HILÁRIA, e o Ian tendo que aprender a dirigir…
E, assim, Barley vai ensinando uns feitiços ao irmão.
Foi bem bacana vê-lo dominando, dentro do possível, um feitiço atrás do outro. Ele usou um feitiço de levitação pela primeira vez para salvar o irmão na taverna, mas não conseguiu usar um feitiço de engrandecimento para terem gasolina para a Guinevere, e ele consegue usar um feitiço de disfarce que fantasia ele e o irmão do policial centauro namorado da mãe, e essa é uma cena importantíssima, porque o feitiço parece ter revelado a Barley que Ian o acha um “inútil”. Ele fica tão sentido com isso, e nós também! Mas esse é um importante momento para os irmãos, porque eles acabam “fazendo as pazes” com a ajuda das pernas do pai, que os coloca para dançar… e é um dos momentos mais lindos do filme, com os três dançando e se divertindo e rindo. Então, Barley explica que ele não pode achar que ele é um inútil se não lhe dá a chance de provar que não é…
Assim, Ian acaba lhe dando um voto de confiança – Barley não queria pegar a autoestrada para o “Raven’s point” desde o começo, porque “numa quest, o caminho mais óbvio nunca é o correto”. E, eventualmente, ele prova que estava CERTO. Eu gostei de ver Ian perceber que estava errado, que os teria levado para o lugar errado e arruinado a única chance de verem o pai, e gostei de Barley ganhar todo esse crédito dali em diante… também gostei muito da cena do Ian atravessando a “ponte invisível”, com magia, enquanto Barley acreditava nele a cada passo… mais do que o próprio Ian acreditava. Outro momento importantíssimo! E, dali em diante, eles começam uma longa jornada, fugindo do namorado da mãe, com o Barley abrindo mão da van, um momento emotivo importante também, e seguindo os corvos em busca da Joia Fênix, que agora lhes dará algumas poucas horas com o pai.
A jornada ainda os leva por uma série de lugares… um rio, uma caverna, uma série de armadilhas, e o famigerado cubo gelatinoso do qual Barley falava desde o início do filme, mas é interessante como isso é uma jornada importante PARA OS IRMÃOS. O tempo que eles passam juntos, como Ian aprende a respeitar e dar crédito a Barley, como Barley confia em Ian a cada segundo, e como eles conversam sobre o pai… Ian tem uma série de coisas que gostaria de fazer com o pai, como rir com ele, aprender a dirigir, “compartilhar sua vida”; Barley, segundo o que descobrimos quando ele conta a Ian, não teve coragem de se despedir do pai, porque o viu todo entubado e não parecia mais ele, então ele não teve coragem de entrar para falar com ele (por isso, ele decidiu “nunca mais ter medo na vida”… essa é a única coisa que falta em sua lista. Então, a jornada dos irmãos chega ao “fim”, no mesmo lugar em que começara.
Aqui, Ian fica furioso… ele acha que a Joia estava na montanha, conforme ele falara antes, e acha que o irmão o fez perder a oportunidade de conhecer o pai, mas Barley não desiste… ele não podia estar errado, ele sabia o que estava fazendo. Mas é mais do que isso: ele não pode se permitir ter falhado com o irmão, não pode permitir que, por sua causa, Ian não consiga a única coisa que quer na vida, que é a oportunidade de conversar com o pai uma única vez. Em um dos momentos mais tristes e, eventualmente, mais bonitos do filme, Ian se senta ao lado das pernas do pai e começa a riscar todas as coisas de sua lista que planejara fazer com ele e não poderia, até chegar no “aprender a dirigir”, e então se dá conta que, de uma maneira ou de outra, ele fez isso… ele aprendera a dirigir, e quem estava no seu ombro o incentivando era Barley.
E todos os outros itens da lista também já tinham sido feitos… eles riram juntos, naquela linda cena da dança, por exemplo, e certamente Ian compartilhara sua vida com Barley (os flashbacks da infância dos dois, que coisa mais fofa!). Então, aqui, ele percebe uma coisa: que ele passou a vida toda achando que precisava conhecer o pai, enquanto ele tinha o irmão ao seu lado o tempo todo e não se dava conta… não valorizava isso. Não é que o pai não fizesse falta, não é isso, mas tudo o que ele sonhara em fazer com o pai ele já fazia o tempo todo com o irmão… Barley sempre estava ali por ele, sempre acreditou nele mais do que ele mesmo, e isso é tão lindo! E, agora, Barley está fazendo a mesma coisa, mas talvez seja a hora de os papeis se inverterem e de Ian fazer alguma coisa por Barley. Barley encontra, finalmente, a Joia Fênix, mostrando que toda a jornada não fora em vão, e agora Ian pode trazer o pai de volta, pelos últimos minutos até o pôr-do-sol.
Quando Barley pega a Joia Fênix e Ian consegue realizar o Feitiço de Visitação para trazer o pai de volta, no entanto, uma antiga maldição é liberada, um dragão feito de pedra, e os irmãos precisam enfrentá-lo para impedir que o Feitiço seja interrompido, e eles têm a ajuda da Mantícora e da mãe dos garotos, também convertida em uma brava guerreira. O clímax do filme, então, traz uma intensa batalha extremamente bem construída, porque, eventualmente, Ian percebe que ninguém vai conseguir conter o dragão por tempo o suficiente para que o pai retorne… a não ser ele. Então, em posse de seu cajado mágico e tendo dominado cada um dos feitiços que Barley o ensinou, com as dicas que ele lhe deu, ele consegue enfrentar o dragão em uma sequência eletrizante, que usa todos os feitiços… engrandecimento, levitação, ponte invisível…
É uma sequência e tanto.
E, por fim, o pai retorna por alguns segundos porque o sol já está se pondo, e o único que tem a chance de vê-lo e falar com ele, no fim, é o Barley… mas Ian sabe que ele precisava daquilo. Ian nunca conhecera o pai, mas ele tinha o irmão com quem compartilhar a vida; Barley, por sua vez, precisava que sua última memória com o pai não fosse aquela em que ele teve medo de entrar e se despedir dele… ele precisava desse fechamento. Então, os dois conversam, os dois se abraçam, e o pai se vai novamente, e Ian assiste tudo de muito longe, não consegue nem ver o rosto do pai, mas ele está feliz – mais do que ele podia imaginar. E emocionado. Mais tarde, então, ele conversa com Barley sobre o que eles falaram, e Barley diz que o pai está orgulhoso do homem que ele se tornou, e Ian diz que grande parte disso é graças a ele… por fim, Barley diz que “o pai pediu que ele lhe desse isso”.
E abraça o irmão.
A cena MAIS LINDA do filme todo!
<3


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