Durante a Tormenta (Durante la Tormenta, 2018)
“Yo te salvé.
Ahora te toca a ti”
Para amantes
de ficção científica e de “Dark”, “Durante a Tormenta” é um FILMAÇO que precisa ser assistido e
enaltecido… é um dos melhores filmes do gênero que vejo em muito tempo! Dirigido
por Oriol Paulo e protagonizado por Adriana Ugarte e Chino Darín, “Durante a Tormenta” é um filme espanhol
de 2018 que conta a história de uma mulher que, durante uma tempestade
elétrica, acaba conseguindo entrar em contato com o garoto que morava naquela
casa há 25 anos… quando uma tempestade
elétrica idêntica aconteceu em 1989 (no melhor estilo “Alta Frequência”). O garoto estava prestes a morrer atropelado e,
ao perceber que podia mudar essa história,
Vera Roy não hesita e salva a vida do pequeno Nico Lasarte, sem saber o quanto
isso vai interferir na sua própria vida…
e, agora, ela tem que fazer de tudo para conseguir sua filha de volta.
O filme é
incrivelmente bem construído. Misturando suspense e ficção científica, “Durante a Tormenta” consegue construir
tensão nos melhores momentos, e entregar as melhores revelações. O roteiro é
ágil e cheio de detalhes que vão, aos poucos, se conectando, até que tudo faça
sentido e tenhamos uma história incrível e bem fechadinha em mãos. Além disso,
os protagonistas são interessantes, com destaque, é claro, para Adriana Ugarte
como Vera Roy, a mulher que perdeu a filha depois de mexer com o passado, e
Chino Darín como o Inspetor Leira, o policial que acaba se envolvendo no caso
com ela quando ela aparece na delegacia, apavorada. É uma história de viagem no
tempo (de algum modo), com todos os elementos característicos do gênero bem
colocados e bem desenvolvidos, mas tem um toque de investigação e de romance
que deixam o filme ainda melhor.
É um filme
sensacional!
A história
começa em 1989, quando Nico Lasarte fica sozinho em casa durante a noite e
percebe que alguma coisa está acontecendo
na casa do vizinho – quando ele vê uma mulher morta e o vizinho com uma
faca na mão, ele sai correndo apavorado da casa e acaba sendo atropelado e morrendo, em um momento bem trágico. 25
anos mais tarde, uma nova família se muda para a casa na qual Nico Lasarte
viveu na infância; Vera é uma enfermeira talentosa (que podia ter sido uma
neurocirurgiã, mas abandonou a faculdade), com um marido e uma filha, Glória – que é a coisa mais fofa do mundo e quem ela
mais ama. Pouco depois de se mudarem, eles esbarram na história de Nico
Lasarte, descobrem sobre a prisão do vizinho e a confissão dele de que “enterraria
o corpo da mulher no matadouro da família”, e é claro que isso causa uma grande
impressão nela.
Por isso,
quando a tempestade elétrica recomeça, parte de Vera parece acreditar que ela está sonhando acordada… mas, de
alguma maneira, ela consegue ver Nico Lasarte do outro lado de uma antiga
televisão e, eventualmente, ele também consegue vê-la. E, assim, ela acaba salvando a sua vida, implorando para que ele não saia,
porque ele vai ser atropelado: e, para provar o que está dizendo, ela conta
que, no dia seguinte, as aulas serão suspensas por causa de um raio que cairá
na escola ou algo assim – ela sabia disso porque Aitor, seu amigo que era o
melhor amigo de Nico na infância, lhe contara a história toda. Assim, Nico
acaba ficando vivo, o que não quer dizer que ele não vá se envolver novamente
em toda essa história do vizinho, porque ele é um garoto curioso e acaba se
colocando em perigo para poder verificar o que aconteceu.
Quando Vera
desperta, ela se encontra em uma vida muito
diferente da sua, e é um pouco assustador. Me faz pensar um pouco em “Efeito Borboleta”, quando Evan tinha
que se adaptar à nova versão da sua vida, mas Vera não recebe todas as memórias
dessa “nova versão”. Mas, aos poucos, ela vai vendo o quanto as coisas estão
diferentes… ela desperta no hospital, onde, aparentemente, ela é uma
neurocirurgiã; depois, ela vai até a escola em que a filha estudava, mas não
encontra Glória, e ninguém (colegas e professores) parece se lembrar de uma
garota chamada “Glória”; quando ela procura por David, o marido, também, ela
descobre que ele não se lembra dela. De
alguma maneira, ter salvado a vida de Nico Lasarte há 25 anos mudou toda a sua
própria vida, e então o filme já começa nos deixando com duas dúvidas: como que isso mudou tanto a vida de Vera? E como
ela vai fazer para recuperar a sua filha?
Vera Roy
acaba na delegacia, contando tudo o que aconteceu ao Inspetor Leira, que não parece
acreditar muito nela – porque a sua
história é mesmo bastante incrível. Dali em diante, o filme é recheado de
deliciosas surpresas e, mais do que isso, de um excelente desenvolvimento para
cada um dos personagens e para cada parte da trama… porque, como eu disse na introdução do texto, o filme é repleto de
detalhes, e é maravilhoso vê-los irem se juntando para formar a grande figura.
E, no fim do filme, até os detalhes que pareciam mais insignificantes ou coisas
que esperávamos ficar sem resposta acabam sendo contemplados, construindo uma
história incrível. Como amante de viagem no tempo e ficção científica em geral,
eu terminei o filme apaixonando, adicionando-o rapidamente às minhas listas de
ficção científica a serem assistidas e reassistidas.
Enquanto tenta
construir sentido no que está acontecendo e busca uma maneira de trazer a filha
de volta, Vera Roy vai atrás de quem quer que possa ajudá-la… e, de quebra, ela
descobre que David, seu marido na outra realidade, não presta e a trai, assim como, nessa versão, está traindo sua outra
esposa. Vera acaba chegando ao nome de “Nico Lasarte” convertido em um
personagem fictício de uma escritora que publicou um livro com base no relato
de uma mãe de “um garoto esquizofrênico que falava sobre o encontro com uma mulher do futuro na televisão de sua
casa”, e ao seu antigo amigo, Aitor Medina, mas descobre que, nessa realidade, eles não se conhecem… tudo porque, no
dia em que ela quase caiu no trem e ele a ajudaria e eles virariam amigos, ele não se sentou na sua frente… por algum
motivo. E, sendo assim, Aitor nunca a apresentou a David e,
consequentemente, Glória nunca nasceu.
As pontas
começam a se fechar, mas ainda não completamente.
Gosto muito
de toda a investigação que permeia o filme, porque Nico Lasarte só morreu, em
primeiro lugar, porque viu um crime na casa da frente – e agora que ele
sobreviveu, ele quer provar que estava
dizendo a verdade… é claro que ninguém acredita na história do garoto que
comete o erro de incluir em seus relatos “a mulher do futuro na televisão”, e
então Ángel, o assassino, acaba saindo impune. Até que Vera reapareça na vida
do Inspetor Leira com uma revelação importante: onde o corpo de Hilda Weiss está enterrado: no matadouro de Ángel. Quando
eles desenterram o corpo de Hilda, os ciclos começam a se fechar, e Nico
Lasarte finalmente vence uma batalha de mais de 20 anos, conseguindo provar que
estava dizendo a verdade desde o início
e que Ángel tinha realmente matado a esposa… ou feito parte disso, na verdade…
…a história era ainda mais complexa que isso.
O interessante
é, então, a “revelação” de quem é o Inspetor Leira: o próprio Nico Lasarte adulto. Naturalmente, muita gente (inclusive
eu) percebeu essa possibilidade desde a
primeira cena do policial, e eu passei o filme inteiro esperando que ele
fosse dizer a verdade a Vera – naquela cena da biblioteca, por exemplo. Mas ele
não diz, e só temos a confirmação de que o Inspetor Leira é Nico Lasarte (FICOU
BONITO, NÉ? GENTE!) perto do fim do filme, quando ele finalmente consegue ter
Ángel na sua frente na delegacia (a maneira como ele fala sobre a história e revela
sua identidade é de arrepiar), e David consegue ajudar Vera a encontrar “Nico
Lasarte”. O pior de tudo é que sabemos que o intuito de Vera é reencontrar sua
filha, e torcemos por ela, mas nos afeiçoamos tanto ao “Inspetor Leira” que não
queremos que ele tenha que morrer para isso acontecer.
E não tem.
Eu achei
profundamente emocionante a sequência em que Vera se encontra com Nico depois
de finalmente saber quem ele é, e ela vê um apartamento que aparentemente
dividia com ele – a casa está cheia de
fotos dos dois juntos. Aqui, as últimas pontas se soltam e eu fiquei tão satisfeito de entender por que
salvar a vida de Nico Lasarte a impediu de conhecer David e ter a Glória, e então
entendemos: Nico cresceu obcecado pela “mulher do futuro”, esperando que ela
fosse retornar para ajudá-lo a provar que estava dizendo a verdade e prender
Ángel, e isso fez com que ele vivesse uma vida em sua procura, em uma estação
de trem, por exemplo, que tinha a ver com uma placa que vira com ela através da
TV… quando ele a encontra, então, ele
acaba estando no mesmo trem que ela e sendo quem a ajuda quando ela quase cai
no trem. No dia em que ela conheceria Aitor…
Nico é o “algum motivo” pelo qual Aitor não se
senta na frente dela naquele dia… e, sem conhecer Aitor, ela não conhece
David e, consequentemente, ela não tem a Glória. Ao invés da vida que tivera, então,
nessa versão ela acaba vivendo com Nico, e podemos ver que tem muita coisa
nessa versão da sua vida que valeu a pena… ela viveu uma história de amor,
concluiu sua faculdade e virou neurocirurgiã… mas os problemas estão no fato de
Nico tampouco ter tido uma vida, crescendo obcecado por ela, e ter meio que “imposto”
essa vida sobre ela, porque ele estava perseguindo a “mulher do futuro”; e Vera quer a sua filha de volta. Tudo é
doloroso, Nico não quer perder a vida que tem, e uma lágrima escorre do olho de
Vera quando ele toca seu rosto e ela se “lembra” de tudo o que eles viveram juntos,
e são momentos que parecem muito especiais.
Mas ela
precisa de Glória…
Então,
sabendo que ele não vai entregar a TV e a fita para que ela possa se comunicar
com o Nico de 1989 nas últimas horas da tempestade elétrica, em que a conexão segue
aberta, ela se joga do alto do apartamento deles, dizendo que “salvou a vida
dele, e agora é sua vez de fazer o mesmo”. Então, Nico precisa correr contra o
tempo para se comunicar com o seu eu do passado, em 1989, e pedir que ele não vá atrás da “mulher do futuro”. A
gente não sabe o quanto isso pode interferir na vida de outras pessoas, mas a
gente sabe que, sem ir atrás da “mulher do futuro”, Nico acaba não conhecendo
Vera Roy, e ela acaba sendo ajudada por Aitor naquele dia no trem, e tudo volta
aos trilhos… ela volta a ter a filha que
perdeu. E é emocionante demais vê-la acordar de volta na sua casa, e correr
até o quarto da filha e encontrá-la dormindo lá, sã e salva…
A conclusão
do filme, então, é incrível, porque estamos numa espécie de terceira versão da linha do tempo – na primeira,
Nico Lasarte morreu atropelado; na segunda, ele vivera em busca da “mulher do
futuro”; na terceira e última versão, Nico Lasarte cresceu um policial
competente e bonito, sem interferir na vida de Vera. Ao perceber que tudo o que
viveu foi verdade, Vera precisa
deixar o marido que a trai, mandar Ángel para a prisão e resolver a sua vida. E ela consegue fazer isso tudo ao mesmo
tempo, de alguma maneira. Ela mesma descobre o corpo de Hilda Weiss
enterrado no matadouro e chama a polícia, naquele final que foi de arrepiar, porque o detetive que
acaba vindo cuidar do caso, é claro, é Nico Lasarte: o Inspetor Leira. É emocionante ver o sorriso de Vera ao
vê-lo, dizendo que “sabia que era ele quem viria”. Sou romântico, eu adorei
esse final, porque Vera se livra do marido que não presta, recupera a filha e
ainda tem a chance de começar uma história com Nico – agora sendo o começo para os dois.
Um final
lindíssimo.
Um filme,
como um todo, incrível, em todos os sentidos. AMEI DEMAIS.
Assistam!
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