Leah fora de Sintonia (Becky Albertalli)
“Quando
está tocando bateria, Leah Burke está sempre em sintonia – pena que nem tudo na
vida é fácil assim. Leah é diferente da maioria de seus amigos: filha de mãe
solteira e com uma vida bem menos privilegiada, ela ama desenhar, mas morre de
medo de expor seu trabalho. E, embora a mãe saiba que ela é bissexual, Leah
ainda não teve coragem de contar a verdade nem a seu melhor amigo, Simon, que é
gay.
Para
completar, o mundo que ela conhece está prestes a mudar drasticamente. A escola
se aproxima do fim, e a tensão entre seus amigos aumenta a cada dia. Leah está
perdida, sem saber o que fazer, sem saber o que sentir. E fica ainda mais
confusa quando certa garota linda e simpática – com quem até então implicava –
não sai mais de sua cabeça. Leah está fora de sintonia, e talvez seja disso
mesmo que ela precisa para sair de sua zona de conforto e finalmente ir atrás
do que quer”.
É tão bom
estar de volta a Creekwood High e a todo esse universo ao qual Becky Albertalli
nos apresentou em “Simon vs a Agenda Homo
Sapiens” (muito antes de se tornar “Com
Amor, Simon”), quando nos apaixonamos pela história de um garoto gay que só queria ter uma história de amor e um
final feliz… que ele merecia, como todo mundo. Três anos depois de seu
primeiro livro, a autora nos traz “Leah
fora de Sintonia”, um retorno à Creekwood High e tudo aquilo que conhecemos
e amamos, mas sob um novo ponto de vista…
Leah Burke é uma das melhores amigas de Simon Spier em “Simon vs a Agenda Homo Sapiens”, e agora ela assume o protagonismo
em uma história lindíssima, divertida e emocionante, que nos entrega tudo o que
amamos e esperamos da autora – e é interessante acompanharmos Leah agora, e
conhecê-la melhor.
Porque temos
a sensação de que só agora conhecemos, de fato, Leah Burke. Gosto muito da
ideia de Becky Albertalli de trazer “Lea
fora de Sintonia” com outro enfoque, mas os mesmos personagens, porque o
livro funciona tanto como uma sequência ao original quanto como uma história
independente sobre uma garota bissexual, apaixonada e apaixonante… Leah é uma
garota que está acostumada a “ver a vida do lado de fora”: ela geralmente está
em silêncio quando no grande grupo de amigos, e observa a “turma do teatro”, da
qual a maior parte de seus amigos faz parte, sempre do fundo do auditório –
como se estivesse assistindo à vida, esperando pelo momento em que a formatura
chegaria e sua vida mudaria para sempre. É o último ano da escola, um ano que
lhe reserva várias surpresas e descobertas, culminando em um excelente BAILE DE
FORMATURA.
Com direito a tudo o que os filmes
adolescentes clichês prometem…
…e Leah detesta. Normalmente.
Foi legal
receber mais informações sobre Simon e Bram, e sobre como o namoro deles parece continuar perfeito – é raro
termos essa oportunidade depois de encerrada uma história, e eu fico feliz por
eles… assim como fico feliz com cada momento protagonizado por eles, que a
autora encaixou brilhantemente na história, sem nunca ofuscar o protagonismo de
Leah, porque o livro era dela, dessa vez. Mesmo assim, vemos Simon e Bram ser
um casal apaixonado e lidar com as decisões para o futuro, principalmente em
relação à faculdade: Simon e Bram estavam determinados a irem juntos para a
Universidade de Nova York, mas, eventualmente, as coisas mudam e Simon se apaixona por uma outra faculdade, e
então ele não sabe o que fazer: e se o
namoro com Bram não der certo se eles não estiverem morando na mesma cidade?
Embora ele escolha uma universidade a uma hora e meia de trem de Nova York.
Então, eu
acho que vai ficar tudo bem.
Também me apaixonaria pela faculdade que
Simon escolheu!
Mas o
problema do “namoro à distância” é algo discutido ao longo do livro por causa
de outro casal que pode estar enfrentando problemas – Nick e Abby. Eu gosto
muito de como o livro me deixou pensativo, e não a respeito do namoro à
distância, sobre ser possível dar certo ou não, mas sobre como as pessoas tiram conclusões baseadas no que
veem e no que sabem das outras pessoas, mas não têm ideia do que realmente está
acontecendo… Leah sabe mais sobre os “problemas” de Nick e Abby do que
qualquer outra pessoa do grupo, porque o término não tem lá muito a ver com o
fator “distância”, no fim das contas; e também penso em como Simon e os demais não sabem o que realmente está
acontecendo na vida de Leah – mas é claro que isso também se deve ao fato de
que Leah quis guardar algumas coisas para si ao invés de dividir com os amigos.
Leah é bissexual,
e Becky Albertalli fala lindamente sobre isso… novamente, a autora não trata o
drama familiar que muitas vezes acompanha as pessoas LGBT, porque a mãe de Abby
já sabe de sua bissexualidade há muito tempo, e as duas têm uma relação bem
bacana – mas isso não é uma crítica à obra. Felizmente, existem famílias (como
a de Simon, a de Leah e a minha) que lidam com essa “saída do armário” muito
bem, e às vezes é o que queremos ouvir e ver, sabe? Porque nos permite ter esperanças… na verdade, a história de Leah
não é definida pelo fato de ela ser bissexual, o que é maravilhoso (embora ela
tenha dois pretendentes ao longo do livro: Garrett e Abby), porque ela é só uma
garota descobrindo seu lugar no mundo, se apaixonando e enfrentando indecisões
e inseguranças que qualquer adolescente precisa enfrentar na vida.
Becky
Albertalli continua arrasando nas
referências, sempre apaixonada por “Harry Potter”, e foi muito legal ver a
Abby fazendo referências à saga durante todo o livro, enquanto lia os livros
por insistência de Simon e de Molly (de “Os
27 crushes de Molly”, outro livro da autora que eu amo). Também temos
referências fanfics Drarry, a “Sailor Moon”, a “Percy Jackson”, e alguns musicais como “Grease”, “Hamilton” e “Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat”,
que é o musical que Creekwood está montando e rende momentos bem incríveis… também amei aquela referência
inteligentíssima a “Star Wars” quando
Leah compara o fato de Simon ter contado para ela que era gay (ou ter contado
para ela antes de para qualquer outro sobre o dilema da faculdade) e ela não ter contado que é bissexual com a
Leia dizendo “Eu te amo” e o Han
respondendo “Eu sei”.
Como sempre,
os personagens são apaixonantes… e eu adorei o fato de Becky Albertalli não ter
feito Garrett ser horrível só porque
era para a Leah ficar com a Abby – acaba que Garret, além de bonito, é um cara
muito dedicado, divertido e tem vários ótimos momentos… eu achei ele uma graça. E a própria Leah também o acha uma graça e
sabe que seria muito mais fácil começar a
namorar com ele e pronto, mas acontece que não é por ele que seu coração bate mais forte… é por Abby.
Descobrimos, ao longo de “Leah fora de
Sintonia”, que a história de Leah
e Abby começou há muito tempo, logo
que ela chegou, lá durante “Simon vs a
Agenda Homo Sapiens” ainda, e é estranho pensar que nós não fazíamos ideia. Elas tiveram momentos de claros flertes, um
quase beijo, um desenho ousado e bonito que Leah fez dela e de Abby… e que Abby guardou.
Mas Leah
acredita que Abby seja hétero.
“Antes de mais nada, Abby é hétero até dizer chega. É
bem constrangedor. Ela assistiu a todos os episódios de ‘Sailor Moon’ e jurava
que Haruka e Michiru eram apenas boas amigas. Provavelmente acha que as músicas
do Troye Sivan são sobre garotas também”
Acho que é mais fácil para ela pensar dessa maneira
– afinal de contas, Abby namora o seu melhor amigo da vida inteira (além do
Simon), o Nick, e ela nem pode cogitar
se apaixonar por ela, mesmo que as coisas estejam ruins para eles… mas sabemos
que isso não se escolhe e o amor não vem da cabeça. Por isso, não adianta
tentar ser racional – Leah já está apaixonada por Abby e há muito tempo. E é
bacana nos aventurar, através de flashbacks
ou comentários, nas coisas que aconteceram sem que soubéssemos, que fizeram com
que Abby e Leah parecessem tão distantes
lá na época em que Jacques ainda trocava e-mails misteriosos com Blue… agora, tudo faz sentido. Mas, no último
ano de escola, Abby volta a se aproximar de Leah: ela não entende por que elas deixaram de ser amigas, porque Abby se
afastou daquela maneira… e gostaria que tudo voltasse a ser como antes.
E o coração
de Leah dispara, toda vez que a vê, que ela sorri…
E nosso coração dispara com ela.
Amei as cenas
de Leah e Abby e toda a construção da história delas, e percebo um pouco de
onde “Love, Victor” tirou inspiração
para alguns plots de sua primeira
temporada – afinal de contas, há certa semelhança no fato de Victor namorar Mía
a temporada toda, quando, na verdade, queria namorar o Benji, que era
comprometido, assim como Leah mantém Garrett por perto (não namorando, mas
também sem dispensá-lo oficialmente), quando, na verdade, queria namorar Abby,
que é comprometida. Ou, ainda, nas cenas importantes que os casais protagonizam,
seja em uma viagem que fazem juntos até outra cidade (Victor e Benji para
arrumar uma máquina de café, Leah e Abby para visitar a faculdade, ambas
contendo um importante beijo do
casal), ou mesmo pela maneira como tudo acaba se resolvendo durante o baile de
formatura.
O
aguardadíssimo baile de formatura.
Gosto de como
Becky Albertalli apresenta duas garotas em estágios diferentes de suas
autodescobertas. Leah pode não ter contado para ninguém além da mãe que é
bissexual, mas ela tem isso bem claro para si mesma – ela sabe o que sente
quando Abby sorri para ela, quando se aproxima, quando parece estar a
provocando. Abby, por sua vez, sempre se entendeu como hétero, e só agora está
descobrindo que talvez não seja hétero,
porque Leah faz com que ela “questione coisas”, como ela diz em uma
interessante passagem do livro. A viagem para a faculdade é importante para as
duas, e depois de uma festa, Abby desafia
Leah a beijá-la… é inusitado, intenso e incrível, mas acaba gerando problemas. Para Leah, é o seu primeiro
beijo, e importa demais; para Abby, “elas eram apenas duas amigas
experimentando”. E então Leah fica brava.
Meio brava.
Ela não
consegue ficar brava de verdade com
Abby… nem pode culpá-la. Afinal de contas, ela nunca disse que era bissexual e
que podia ter sentimentos por ela – ou pelo menos não com todas as letras. Mas
esse beijo é bem importante para que Abby comece a se conhecer, para que se
assuma bissexual para suas primas, e é interessante como isso mexe com Leah… e
tudo culmina no baile de formatura. Inicialmente, tudo parece dar errado, mas
Leah decide escutar a mãe e “não deixar que nada estrague sua noite”, e então
ela dá uma volta de limusine, janta numa loja de bonecas, e chega no baile de
formatura para descobrir que talvez os
filmes adolescentes clichês que ela tanto questiona estivessem certos no final…
há realmente algo de poderoso na pista de dança, quando ela é tomada pela
música e apenas se diverte com os seus amigos.
“Meu coração quase salta do peito. Só posso estar
sonhando. Isso não está acontecendo de verdade. Estou ao lado de Abby, que está
vestida como a Cinderela, e estamos de mãos dadas assistindo a uma batalha de
dança, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Acho que perdi a
habilidade de respirar”
E o baile é
uma interessante sequência de acontecimentos – da coreografia dos meninos e a
batalha de dança ao início do namoro de Abby e Leah. Uma sequência que ficaria linda em filme e que eu adoraria assistir.
Fiquei bastante emotivo ao lado de Leah, e isso ainda antes de as coisas ficarem realmente intensas, e toda a
finalização de “Leah fora de Sintonia”
é perfeita. Nick está começando a
superar Abby, depois de encher a cara, dançar uma música para ela e acabar beijando outra garota na frente da escola
inteira, e é Leah quem vai conversar com ela, ver como ela está, e ali as
duas compartilham um momento bem especial, no qual Abby envia uma mensagem no
Tumblr de Leah (encomendando um desenho para ela, de duas garotas se beijando
na noite do baile de formatura), mas Leah tenta ser racional e madura em
relação a isso tudo…
Ela diz que
elas não podem fazer isso com Nick, não agora. Que elas irão para a mesma
faculdade, que elas poderão levar isso com calma nos próximos meses, esperar as
feridas cicatrizarem… não é, no entanto,
o que nenhuma quer, mas elas “concordam” que isso é o melhor. A cena é
bonita, embora deprimente, porque mostra o quanto elas se amam, o quanto se
importam, mas o quanto querem fazer isso da
maneira certa… e o quanto desejam que tudo tivesse sido diferente. Abby até
traz mais uma referência a “Harry Potter”,
para “impressionar uma certa garota aí”, sobre como gostaria de ter um
vira-tempo, e então as coisas poderiam ter sido diferentes… ela não precisaria
ter namorado Nick, e então isso não seria tão difícil agora, e ela e Leah
poderiam ter vivido um amor na escola… quando
Leah a deixa sozinha, ela tem lágrimas nos olhos.
E nós estamos quase chorando com ela.
Mas então ela
volta – ela não pode deixar a noite terminar daquela maneira, e precisa
esquecer-se de todo o resto e fazer o que a mãe aconselhara: curtir a noite, ser feliz, ser livre.
Por isso, ela volta e faz o que queria fazer: beija Abby. E é um beijo tão
intenso, tão verdadeiro, tão entregue… não podia ser mais perfeito. E ainda ganhamos aquele momento divertido em que
elas são “descobertas” por Simon e Bram, e Simon não poderia estar mais perplexo… mas ele está feliz,
completamente feliz por elas e por todo o grupo. Bram, como sempre, é um fofo
maravilhoso. E eu adoro aquele momento final, em que os quatro saem da trilha
de novo para o baile de formatura, com Leah se aproximando, deixando de “ver a
vida do lado de fora”. Gosto de como Becky Albertalli juntou seus quatro
protagonistas (Leah, Abby, Simon e Bram) nesse último momento simbólico e
emocionante.
Uma obra e
tanto.
Novamente,
apaixonado!
<3
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