Por Lugares Incríveis (Jennifer Niven)
“Quando
Theodore Finch conhece Violet Markey no alto de uma torre do colégio, uma
amizade única surge entre os dois. Cada um com seus próprios traumas e
sofrimentos, eles se juntam para fazer um trabalho de geografia sobre os
lugares incríveis do estado onde moram. Ao lado de Finch, Violet para de contar
os dias e finalmente passa a vive-los. O garoto, por sua vez, encontra alguém
com quem pode ser ele mesmo, e torce para que consiga se manter desperto.”
AVISO: CONTÉM SPOILERS E TEMAS SENSÍVEIS.
Eu estou
devastado. Terminei de ler “Por Lugares
Incríveis” e sinto um aperto tão grande no coração… as lágrimas fluíram
durante a leitura e eu tive que parar e pensar para me recuperar, antes de
sentar-me para escrever esse texto. “Por
Lugares Incríveis” é um livro escrito por Jennifer Niven e publicado em
2015, e é uma história incrível, bonita e dolorosa – e profundamente real.
Quando termina de contar sua história, Jennifer Niven escreve uma nota para os
leitores no qual fica evidente o quanto ela conhece
sobre o assunto porque teve que vivê-lo de perto, e talvez haja um pouquinho
dela em Violet, de forma livre. De qualquer maneira, o livro nos apresentou
duas histórias que se entrelaçam: a de Theodore Finch e a de Violet Markey. E
então nos apaixonamos com eles, nos emocionamos com eles e, claro, sofremos com
eles.
O livro
começa na torre do sino do colégio, com dois adolescentes que parecem prestes a pular – mas apenas um
deles teria coragem realmente de fazê-lo. É um primeiro encontro inusitado, mas
que, de certa forma, cria automaticamente um vínculo entre Finch e Violet… no mínimo, eles esperam que o outro guarde o
seu segredo. Não é a primeira vez que Theodore Finch pensa em suicídio; na
verdade, ele sabe muito sobre o assunto e faz uma série de anotações sobre
métodos, curiosidades e suicídios famosos na história da humanidade. Violet,
por sua vez, não sabe bem o que está fazendo naquele parapeito… ela não pensou realmente em se jogar, mas quando
percebeu, já estava lá, assustada, e não tinha como voltar. Então, quando a vê, Finch a ajuda a voltar
para a segurança da escola, e a escola toda parece assumir que foi o
contrário:
Que Violet salvou Finch.
Mas ele não se importa.
Esse início
nos causa certa angústia, mas nos deixa curiosos porque queremos saber os
motivos que levaram aqueles dois adolescentes ao parapeito da torre do sino do
colégio. Violet Markey tem um trauma em seu passado recente: há poucos meses,
ela perdeu a irmã mais velha em um acidente de carro, e ela se sente culpada
por isso, pois foi ela quem sugeriu que elas tomassem uma estrada diferente
para voltar de uma festa, e então o
acidente aconteceu. Desde então, Violet está apática, se recusa a entrar em
um carro, para qualquer coisa, e ela deixou de escrever… Eleanor era a sua
melhor amiga e, com ela, ela mantinha uma “revista de irmãs” na internet, e
escrever era tudo o que ela mais adorava,
mas agora ela sente que nada disso faz sentido. A situação de Violet é
dolorosa, mas muito mais pontual do
que tudo o que acontece na vida de Finch.
Ao falar de
Finch, não podemos nomear uma coisa
que o faça pensar constantemente em suicidar-se… ele apenas pensa. E tem uma série de fatores que provavelmente o
levam a isso, como ele comenta ao longo do livro… talvez as químicas no seu
cérebro, uma doença “invisível” que as pessoas não veem ou, pior, escolhem não ver. Ninguém se importa,
ninguém vê os sinais… e Finch vem de uma família problemática. Os pais se
divorciaram – o pai construiu uma nova família, que ele precisa visitar todo
domingo, mesmo que seja um inferno, e o homem ainda é violento (batia na mãe e
bate nele duas vezes ao longo do livro); a mãe, por sua vez, nunca se
recuperou, afundou-se em trabalho e vinho, e nunca se importou com os filhos de verdade. Na escola, ele é chamado de
“Aberração” o tempo todo e por praticamente todo mundo.
Eu sofri muito com toda a história de Finch,
o tempo todo.
Então, vem O
PROJETO DE GEOGRAFIA. O professor de geografia quer que os jovens conheçam o que Indiana tem de interessante para
mostrar-lhes, antes de irem embora para a faculdade… eles trabalharão em
dupla e visitarão pelo menos dois lugares no estado, para apresentá-los mais
tarde, e Finch levanta a mão para dizer que quer que Violet seja a sua dupla. O
que acontece nessas “andanças” é muito mais do que eles poderiam imaginar,
porque tudo começa como um projeto de escola, mas se torna muito mais do que isso… a maneira como eles se aproximam, se
conectam, se tornam cúmplices e, até certo ponto, compartilham traumas. Pelo menos ela compartilha os seus e deixa
que Finch entre e a ajude a melhorar. Ela acaba não tendo poder o suficiente
para fazer o mesmo por ele, mas não é culpa dela – só não estava em suas mãos.
O que um
significa para o outro sempre será fortíssimo.
No começo, as
andanças são divertidas ou bizarras, e Violet só quer acabar o projeto o mais
depressa possível para que possa se fechar em seu mundo… Finch, por sua vez,
quer conhecer tudo o que tiver para conhecer, visitar o maior número de lugares
possível, e viver esses meses ao lado de Violet. O primeiro lugar que eles
visitam é um monte, o Hoosier Hill, o “ponto mais alto de Indiana”, que acaba
sendo uma verdadeira e divertida decepção…
é bom vê-los lidar com isso com bom humor, sorrindo e aprendendo a ver a beleza
mesmo nos lugares mais inusitados… Finch fala sobre isso, e ensina Violet a
fazer o mesmo: para algumas pessoas, é
bonito. Violet e Finch determinam novas regras para o projeto, e decidem
que levarão algo de cada lugar que visitarem e, além disso, deixarão algo para trás – um pedacinho
deles que sempre estará nessas andanças.
E então,
conforme eles andam pelo estado, primeiro em lugares próximos o suficiente que
eles possam ir de bicicleta, porque
Violet se recusa a entrar num carro, e depois lugares mais distantes porque
Finch finalmente convence Violet a
entrar no Tranqueira, o seu carro, Violet e Finch acabam se aproximando… é
inevitável, porque é evidente O QUANTO ELES SE FAZEM BEM. Aos poucos, Violet
está voltando a viver, começando a parar de marcar dias em um calendário até a
formatura, quando “ela estará livre”; ao lado de Violet, Finch se sente
desperto, se sente importante, e sente que ela é uma das poucas pessoas no
mundo que não o julga, que não o considera uma aberração e que, mesmo que parcialmente, o entende. Amo as andanças, amo as trocas de mensagens pelo
Facebook, cheias de passagens de livros e nervosismo.
“Você é todas as cores em uma, em pleno
brilho”
Alguns dos
lugares que Violet e Finch visitam são interessantíssimos…
amei toda a ideia da biblioteca móvel, por exemplo, e aquela sequência da
parede “Antes de morrer quero…” me partiu o coração, porque Finch escreveu
coisas fortíssimas ali sobre as coisas que ele queria antes de morrer: “…saber como é ter um melhor amigo”, “…ter
algum valor”. Também é muito bonita a cena em que eles saem de madrugada,
primeiro para a livraria em que a mãe de Finch trabalha, depois para a Torre
Purina, de onde eles podem ver toda a cidade, e no qual eles compartilham um
momento realmente íntimo, um momento em que eu acho que os dois são exatamente quem são… é um momento importante,
emocionante e intenso, enquanto eles gritam do alto da torre para que toda a cidade adormecida escute.
Também AMO a cena da Flash Azul!
<3
E então percebemos
o quanto Violet Markey, a Ultravioleta Markante, mudou – e o quanto Finch a ajudou nisso, talvez sem nem mesmo
perceber. Será que Finch sabe que aquela
parte de “antes de morrer quero ter algum valor” e “antes de morrer quero ter importância” ele já conquistou? Violet
consegue seguir em frente, finalmente tocar a vida depois do trauma da morte da irmã… depois de uma cena com Finch
pelado no rio em frente à escola, Violet acaba sentando-se para conversar com a
mãe sobre o projeto de uma nova revista (“Semente”),
e inclusive compra o domínio na internet…
ela começa a fazer projetos e, envolvida nisso tudo, ela acaba se esquecendo,
pela primeira vez, de riscar o dia no calendário, e percebe que isso já não importa mesmo. Então, ela
guarda o calendário no armário e devolve no quarto da irmã os óculos que vinha
usando dela.
É um momento
importantíssimo para ela.
Uma das cenas
mais intensas e mais importantes de “Por
Lugares Incríveis” acontece no Buraco Azul – são três visitas ao lugar, em
pontos diferentes da história. No primeiro deles, Finch e Violet aproveitam o primeiro dia quente para ir nadar. É
incrível como Jennifer Niven consegue mesclar momentos que nos emocionam, nos
alegram e nos angustiam, porque, na verdade, é assim a mente de Finch e, no fundo,
todos nós… as coisas podem mudar tão
depressa. O Buraco Azul é um lago cheio de lendas em Indiana, porque,
aparentemente, ele não tem fundo…
capaz de segurar a respiração por muitos minutos (ele treinara muito), Finch
passa muito tempo embaixo da água, procurando o fundo do lago ou a passagem para um outro mundo, e isso causa uma
angústia tão grande em Violet. Quando ele
retorna, ela está sentada na beirada do lago, chorando.
Ela já perdera a irmã…
Ela não quer perdê-lo também.
Ela se
despedaça, os dois gritam e “brigam”, mas também se beijam mais ardentemente do que nunca, porque ele sentiu medo embaixo da água… medo de não
conseguir mais voltar à superfície, de não conseguir voltar para Violet, e ele
jamais se perdoaria se isso acontecesse. E, estranhamente, ou não, isso leva
para a primeira vez dos dois, e eles compartilham momentos TÃO BONITOS, seja no
quarto dele, quando eles se entregam fisicamente ao que sentem, pela primeira
vez, ou quando retornam para a Torre Purina e ele conta uma história de Sir
Patrick Moore e o efeito causado pelo alinhamento de Plutão e Júpiter, uma
história bacana para dizer que, quando está com ela, ele sente como se estivesse flutuando… e ela
responde que ele é estranho, mas que “essa foi a coisa mais bonita que alguém
já lhe disse”. Os dois juntos são… adoráveis.
Depois disso,
tudo parece desandar… Finch e Violet passam o que eles chamam de “o dia
perfeito” juntos, mas isso faz com que eles
percam a noção do tempo, e quando eles amanhecem juntos na Torre Purina,
eles sabem que as famílias estarão
preocupadas – ou pelo menos a família de Violet estará preocupada. As cenas
seguintes são fortíssimas, revoltantes e precisam que você pare para respirar
um pouco. Os pais de Violet são duros e a proíbem de continuar vendo o Finch (e
é uma injustiça tão grande que eu queria que ela se manifestasse e dissesse que
foi ELE que A salvou naquele dia no parapeito do colégio), e Finch chega em
casa e apanha do pai novamente… o pai
que nunca nem se importou com ele! Daquela vez, no entanto, Finch enfrenta o
pai, segura o seu braço e diz que é a
última vez que ele bateu nele… ele precisava dizer aquilo!
Nos próximos
dias, semanas, meses, Finch e Violet continuam se vendo às escondidas, e
tememos que eles estejam se afastando, sendo que as andanças deles estavam fazendo tão bem. Mas não, eles
não se afastam o suficiente… tudo o que querem é estar bem. Violet até pega o
carro para poder ir vê-lo, e ele tem uma cena lindinha na qual ele está
correndo (ele faz isso com frequência) e então para e compra flores para ela,
mesmo que seja um domingo e eles não estejam atendendo… ele consegue uma família muito simpática. E então ele leva as
flores para Violet: "Acabou o
inverno. Finch, você me trouxe a primavera”. Mas Finch não está bem, e
qualquer um que o conheça bem (e, no caso, esse alguém é apenas a Violet) pode notar isso. Ele está mais distante do que
nunca, e ele não está mais com paciência para ser chamado de “aberração”.
Em uma das
cenas mais desesperadoras do livro,
Finch toma vários comprimidos… durante todo o livro, Finch falou
incessantemente sobre suicídio e sobre métodos, e o vemos ficar tempo demais embaixo da água da
banheira, por exemplo, ou na garagem com o carro ligado, mas aqui é o momento
que ele chega mais perto de realmente
tirar sua própria vida. Logo que ele toma os remédios e sente o mundo começar a
desligar, ele tenta vomitá-los, mas eles
não saem, e então Finch acaba saindo para correr, para se manter desperto,
e chega sozinho a um hospital, o que mostra certa consciência dele… ou ele só não achou que era o modo correto.
Depois dessa experiência, e aqui eu acho que temos uma das jogadas mais
inteligentes da autora, Finch procura ajuda em um grupo de apoio, “Vida É Vida”,
no qual ele encontra Amanda Monk… e ele
não esperava vê-la ali.
Afinal de
contas, Amanda Monk é a garota mais
popular da escola.
Achei
importantíssima essa passagem, porque as pessoas, de modo geral, são muito
ligadas a estereótipos. Ninguém acharia “estranho” que alguém como Theodore
Finch tivesse pensamentos suicidas, ou mesmo que se matasse… mas e Amanda Monk,
a garota mais popular da escola, que tem tudo? Acho que Jennifer Niven estava
tentando nos mostrar que nós normalmente
não temos conhecimento das coisas que
outras pessoas estão enfrentando, e não devíamos julgá-las por uma
partezinha pequena que podemos ver… e alguém com pensamentos suicidas não
precisa se encaixar em um “tipo”, não é necessariamente tão fácil de
reconhecer. Por isso é importante que
prestemos atenção às pessoas ao nosso redor, mas quantas pessoas realmente
fazem isso? Quantas pessoas são como Violet e quantas pessoas são como a
relapsa família de Finch?
“O Finch é assim mesmo”
“O Finch faz isso”
Amanda acaba
contando para Violet que viu Finch em um grupo para pessoas que tentaram ou já
pensaram em se matar, e as cenas que se seguem são, novamente, fortíssimas…
Violet vai para a casa de Finch, para o
aniversário dele, e ele preparou toda uma surpresa lindíssima para ela no
closet no qual ele está morando. Tudo parece tão perfeito e ele parece tão bem
que ela quer acreditar que está tudo bem,
mas ela não consegue segurar a informação que tem. Eventualmente, ela cai no
choro e acaba contando para ele que sabe que ele tentou se matar e que foi a um
grupo de apoio, e então as coisas parecem descarrilhar de vez… ele não reage
bem a isso tudo, ele não gosta de ser confrontado, ele não gosta que ela assuma
uma posição de “quero ajudar você”, mas a verdade é que ela está preocupada e só quer que ele continue ali.
Violet sai
supostamente brava, bate a porta ao sair, mas ela o ama demais, e prova isso ao chegar em casa e conversar com os
pais, um pouco exasperada, porque precisa
de uma solução. Ela diz aos pais que foi FINCH quem o salvou naquele dia no
colégio, e agora “é ele quem está naquele parapeito” e eles precisam fazer
alguma coisa para ajudá-lo… até porque a
família dele não vai fazer nada. É revoltante como a família dele escolhe
fechar os olhos para os sinais, para a verdade que os pais de Violet expõem, e
então Finch desaparece… e a família dele
continua nem aí, porque, para eles, “o Finch é assim mesmo”. Não é a
primeira vez que ele desaparece… dessa vez, no entanto, ele fica desaparecido
por muito tempo, e Violet não sabe nada
mais sobre ele… o livro vai tomando um tom cada vez mais sombrio, nos enche
de angústia e desespero.
E Finch não retorna.
Determinado
dia, ele envia mensagens e e-mails que parecem
de despedida… como se ele estivesse mesmo prestes a se suicidar, e dessa
vez para valer. Aqui, é evidente como Violet o conhece melhor do que ninguém, e como a família nunca prestou atenção nele – eu fiquei
com muita raiva da mãe quando ela entrou no quarto e perguntou “quando ele
pintou tudo de azul”, porque isso FOI HÁ MESES. Violet é quem descobre umas
pistas em post-its colados no armário, e então ela vai juntando pedaços para
descobrir onde ele está. A primeira frase que ela desembaralha é a mesma coisa que Finch disse quando aquele
passarinho morrera na infância, depois ele fala de água. Violet percebe o
cuidado de Finch para escolher que livro citar ao lhe enviar a mensagem, e a
hora exata na qual a enviou, e então ela sabe exatamente onde ele está…
No Buraco
Azul.
Eu fiquei
destroçado. Eu estava esperançoso, o tempo todo esperançoso. O tempo todo
achando que Finch mudaria de ideia, como quando engoliu os comprimidos e foi
para o hospital, ou que Violet fosse encontrá-lo a tempo, mas quando Violet
chega no Buraco Azul, ela vê a roupa dele dobrada e colocada em um montinho
perfeito na margem, e então isso me consumiu de um modo… eu chorei, eu sofri e
eu fiquei triste, porque eu queria tanto que fosse diferente. Violet nada ela
mesma, o máximo que pode, em busca de Finch, e não o encontra, e se pergunta se
ele realmente queria se matar ou se ele estava “procurando a passagem para o
outro mundo” e não conseguiu voltar, mas
ela nunca saberá… mais tarde, quando ela liga para a emergência, eles tiram
o corpo azul e inchado de Finch da água, e então não existe mais esperança que possamos ter.
Finch está morto.
Tudo dali em
diante NOS DESPEDAÇA, mas uma passagem do velório diz muito sobre tudo:
“Charlie está em pé, as mãos cruzadas na frente do
corpo, olhando pro caixão. Brenda olha pro Roamer e pros outros do bando da
choradeira, com os olhos secos e furiosos. Sei o que ela está sentindo. Essas
pessoas o chamavam de ‘aberração’ e nunca deram atenção a ele, a não ser pra
tirar sarro ou espalhar boatos, e agora estão agindo como carpideiras profissionais
[…]. O mesmo vale pra família dele. Depois que a pregação termina, todos vão
até a família pra apertar as mãos e oferecer condolências. A família aceita
como se merecesse. Ninguém diz nada pra mim”
“Nada poderia fazer com que ele resistisse
muito tempo”
Sabe como a
“história do passarinho” foi importante ao longo do livro? Não é apenas porque
o Finch sofreu por causa do passarinho ou porque ali foi a sua primeira grande crise, mas porque o passarinho é uma
perfeita alegoria para ele: durante muito tempo, um mesmo passarinho batia no
vidro da casa deles, e depois ia embora… até
que um dia ele bateu no vidro e morreu. Finch diz que a história seria
muito diferente se eles tivessem feito
alguma coisa, se eles tivessem deixado o passarinho entrar, por exemplo.
Agora, Finch é o passarinho. Finch é quem bateu
no vidro várias vezes, até que, um dia, ele bateu e morreu… as coisas
poderiam ter sido diferentes se alguém
tivesse feito alguma coisa. Se alguém “tivesse o deixado entrar”. Mas
ninguém fez nada, só assistiu enquanto o “passarinho” batia no vidro, até que
fosse tarde demais.
Eu sofri
DEMAIS. Foi doloroso ler às últimas páginas de “Por Lugares Incríveis”, e eu li quase o tempo todo chorando. Muita
coisa acontece após a morte de Finch, e eu particularmente fiquei pensando em
Violet e em como ela conseguiria seguir a vida dessa vez, porque ela perdera a
irmã há um ano e agora Finch, que se convertera na pessoa mais importante da
sua vida. Para sempre mudada, como ela
percebe. Mas ela consegue. Inusitadamente, um novo grupo se forma: Violet,
Charlie e Brenda, que eram os melhores amigos de Finch, Amanda, que também já
pensara em se matar, e Ryan, o ex-namorado “perfeito” de Violet. E a Semente, a nova revista online de
Violet, também parece estar prestes a decolar, cada vez com assuntos mais
importantes, cada vez tendo mais personalidade e mais importância.
Jennifer
Niven fala muito sobre o suicídio nesse final, e faz leituras interessantes a
respeito disso. A família de Finch prefere propagar a ideia de que foi um acidente, e Violet quase se sente
grata por isso, “porque então eles podem fazer o luto sem sentir vergonha”,
porque, como a autora diz em sua nota, “as pessoas normalmente não levam flores
para suicidas”. A nota da autora, depois do fim do livro, sobre o suicídio, me
deixou muito pensativo e com um pouco de raiva
do mundo hipócrita no qual vivemos… ela compara duas pessoas próximas a ela que
morreram: uma por câncer e uma que se
matou, e a reação das pessoas às duas mortes foram completamente distintas. Porque embora sejam duas doenças e
duas mortes, uma é visível e palpável, e a outra não… e se você não pode “vê-la” é fácil fechar os olhos e ignorar os sinais,
fingir que não existe. E continuar fazendo isso depois. Julgando.
O final é
doloroso em todos os sentidos… Finch, infelizmente, sentiu que ele não tinha
outra escolha e tirou a própria vida, e agora as pessoas estão reagindo a isso
da forma mais ridícula possível, porque a escola está repleta de homenagens, de
mensagens que dizem que “Finch era muito importante”, que “eles o amavam” e que
“sentem sua falta”. O TAMANHO DA HIPOCRISIA DESSAS PESSOAS – as pessoas que, em
parte, causaram tudo isso o chamando de aberração, nunca o acolhendo de modo
algum… é revoltante, e não sei como
Violet conseguiu suportar, porque eu mesmo estava à beira de um colapso e de um
surto. Mas talvez tenha sido melhor do que dizer abertamente que Finch se suicidou e ter toda a escola o
chamando de egoísta e o julgando ainda
depois de sua morte… a autora fala sobre quantas pessoas com transtornos
mentais e emocionais não recebem tratamento ou porque sentem vergonha ou porque as pessoas próximas
não veem ou fingem não ver o que está acontecendo.
OLHE PARA AS
PESSOAS AO SEU REDOR. SE IMPORTE.
Se precisar,
busque ajuda… não é fácil, mas é possível.
“Você não está sozinho”
Eu estava sentindo falta do Finch o tempo todo, e
então Jennifer Niven nos apresenta AS ANDANÇAS RESTANTES. Violet e Finch ainda
tinham alguns lugares no mapa que queriam visitar, e então Violet resolve ir a
esses lugares sozinha… o primeiro lugar é uma “árvore dos sapatos”, onde ela
escreve “Ultravioleta Markante” em um All-Star e então o joga na árvore, e
antes de ir embora vê um sapato que reconhece, escrito “TF”, lá no galho mais alto… Theodore Finch
esteve ali antes de morrer. E Finch talvez soubesse que Violet ia terminar o
“projeto” sozinha, e resolveu “acompanhá-la” como pôde, e ele deixou uma
partezinha dele em todos os lugares restantes, até Violet chegar a uma mensagem
final que é EMOCIONANTE e que me arrancou as últimas lágrimas. Eu estava como Violet, ansioso pelo próximo
lugar, pelo próximo pedacinho de Finch que poderíamos reencontrar.
Violet não
está realmente sozinha nessas últimas
andanças.
O segundo
lugar é uma bola de tinta, na qual Finch escreveu alguma coisa, mas Violet
nunca poderá ler, porque já existem novas camadas de tinta por cima – de
qualquer maneira, ela fica tranquila em saber que o que ele escreveu sempre estará lá, sob as camadas. E tem uma
pequena mensagem para ela no livro de visitantes. Tudo é intenso e forte (e
triste), mas a EMOÇÃO da leitura dessas páginas finais me arrebatou… e Finch
ajuda Violet uma vez mais, quando, depois de visitar a bola de tinta, Violet
chega em casa e diz aos pais que ela quer falar sobre Eleanor e sobre Finch,
quer se lembrar deles, porque eles não
precisam desaparecer porque morreram… a terceira andança restante é uma
placa de um drive-in que foi muito popular nos anos 1960, e Violet responde a
uma mensagem pichada por Finch. A quarta andança são santuários, e uma pedra no
apocalipse ultravioleta…
“Sua vez”
Finch era
poético, extremamente cuidadoso com os detalhes, e nos lembramos disso mais uma
vez nessas últimas páginas – talvez por isso ele escolhera a morte que
escolheu, porque ele queria que fosse especial, e ele estava tentando encontrar
uma passagem para outro mundo. Violet
gosta de acreditar que ele está lá, em seu mundo, seja onde for… por fim, a
última andança de Violet é um pouco mais complexa e exige um pouco mais de
pesquisa, mas Violet consegue encontrar o que Finch queria que ela encontrasse…
e, novamente, ele pensou em todos os
detalhes. É uma igrejinha pequena, construída em homenagem às pessoas que
perderam sua vida em acidentes de carro e para curar as que ficaram (!), onde
Violet encontra um envelope deixado por Finch… um envelope com uma música que ele escreveu para ela e que parece dizer
uma coisa: “Você não tem culpa”.
E ela
precisava que ele lhe dissesse isso.
Para então
seguir em frente…
Um livro
lindíssimo… forte, belo e importante.
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