Por Lugares Incríveis (Jennifer Niven)



“Quando Theodore Finch conhece Violet Markey no alto de uma torre do colégio, uma amizade única surge entre os dois. Cada um com seus próprios traumas e sofrimentos, eles se juntam para fazer um trabalho de geografia sobre os lugares incríveis do estado onde moram. Ao lado de Finch, Violet para de contar os dias e finalmente passa a vive-los. O garoto, por sua vez, encontra alguém com quem pode ser ele mesmo, e torce para que consiga se manter desperto.”

AVISO: CONTÉM SPOILERS E TEMAS SENSÍVEIS.
Eu estou devastado. Terminei de ler “Por Lugares Incríveis” e sinto um aperto tão grande no coração… as lágrimas fluíram durante a leitura e eu tive que parar e pensar para me recuperar, antes de sentar-me para escrever esse texto. “Por Lugares Incríveis” é um livro escrito por Jennifer Niven e publicado em 2015, e é uma história incrível, bonita e dolorosa – e profundamente real. Quando termina de contar sua história, Jennifer Niven escreve uma nota para os leitores no qual fica evidente o quanto ela conhece sobre o assunto porque teve que vivê-lo de perto, e talvez haja um pouquinho dela em Violet, de forma livre. De qualquer maneira, o livro nos apresentou duas histórias que se entrelaçam: a de Theodore Finch e a de Violet Markey. E então nos apaixonamos com eles, nos emocionamos com eles e, claro, sofremos com eles.
O livro começa na torre do sino do colégio, com dois adolescentes que parecem prestes a pular – mas apenas um deles teria coragem realmente de fazê-lo. É um primeiro encontro inusitado, mas que, de certa forma, cria automaticamente um vínculo entre Finch e Violet… no mínimo, eles esperam que o outro guarde o seu segredo. Não é a primeira vez que Theodore Finch pensa em suicídio; na verdade, ele sabe muito sobre o assunto e faz uma série de anotações sobre métodos, curiosidades e suicídios famosos na história da humanidade. Violet, por sua vez, não sabe bem o que está fazendo naquele parapeito… ela não pensou realmente em se jogar, mas quando percebeu, já estava lá, assustada, e não tinha como voltar. Então, quando a vê, Finch a ajuda a voltar para a segurança da escola, e a escola toda parece assumir que foi o contrário:
Que Violet salvou Finch.
Mas ele não se importa.
Esse início nos causa certa angústia, mas nos deixa curiosos porque queremos saber os motivos que levaram aqueles dois adolescentes ao parapeito da torre do sino do colégio. Violet Markey tem um trauma em seu passado recente: há poucos meses, ela perdeu a irmã mais velha em um acidente de carro, e ela se sente culpada por isso, pois foi ela quem sugeriu que elas tomassem uma estrada diferente para voltar de uma festa, e então o acidente aconteceu. Desde então, Violet está apática, se recusa a entrar em um carro, para qualquer coisa, e ela deixou de escrever… Eleanor era a sua melhor amiga e, com ela, ela mantinha uma “revista de irmãs” na internet, e escrever era tudo o que ela mais adorava, mas agora ela sente que nada disso faz sentido. A situação de Violet é dolorosa, mas muito mais pontual do que tudo o que acontece na vida de Finch.
Ao falar de Finch, não podemos nomear uma coisa que o faça pensar constantemente em suicidar-se… ele apenas pensa. E tem uma série de fatores que provavelmente o levam a isso, como ele comenta ao longo do livro… talvez as químicas no seu cérebro, uma doença “invisível” que as pessoas não veem ou, pior, escolhem não ver. Ninguém se importa, ninguém vê os sinais… e Finch vem de uma família problemática. Os pais se divorciaram – o pai construiu uma nova família, que ele precisa visitar todo domingo, mesmo que seja um inferno, e o homem ainda é violento (batia na mãe e bate nele duas vezes ao longo do livro); a mãe, por sua vez, nunca se recuperou, afundou-se em trabalho e vinho, e nunca se importou com os filhos de verdade. Na escola, ele é chamado de “Aberração” o tempo todo e por praticamente todo mundo.
Eu sofri muito com toda a história de Finch, o tempo todo.
Então, vem O PROJETO DE GEOGRAFIA. O professor de geografia quer que os jovens conheçam o que Indiana tem de interessante para mostrar-lhes, antes de irem embora para a faculdade… eles trabalharão em dupla e visitarão pelo menos dois lugares no estado, para apresentá-los mais tarde, e Finch levanta a mão para dizer que quer que Violet seja a sua dupla. O que acontece nessas “andanças” é muito mais do que eles poderiam imaginar, porque tudo começa como um projeto de escola, mas se torna muito mais do que isso… a maneira como eles se aproximam, se conectam, se tornam cúmplices e, até certo ponto, compartilham traumas. Pelo menos ela compartilha os seus e deixa que Finch entre e a ajude a melhorar. Ela acaba não tendo poder o suficiente para fazer o mesmo por ele, mas não é culpa dela – só não estava em suas mãos.
O que um significa para o outro sempre será fortíssimo.
No começo, as andanças são divertidas ou bizarras, e Violet só quer acabar o projeto o mais depressa possível para que possa se fechar em seu mundo… Finch, por sua vez, quer conhecer tudo o que tiver para conhecer, visitar o maior número de lugares possível, e viver esses meses ao lado de Violet. O primeiro lugar que eles visitam é um monte, o Hoosier Hill, o “ponto mais alto de Indiana”, que acaba sendo uma verdadeira e divertida decepção… é bom vê-los lidar com isso com bom humor, sorrindo e aprendendo a ver a beleza mesmo nos lugares mais inusitados… Finch fala sobre isso, e ensina Violet a fazer o mesmo: para algumas pessoas, é bonito. Violet e Finch determinam novas regras para o projeto, e decidem que levarão algo de cada lugar que visitarem e, além disso, deixarão algo para trás – um pedacinho deles que sempre estará nessas andanças.
E então, conforme eles andam pelo estado, primeiro em lugares próximos o suficiente que eles possam ir de bicicleta, porque Violet se recusa a entrar num carro, e depois lugares mais distantes porque Finch finalmente convence Violet a entrar no Tranqueira, o seu carro, Violet e Finch acabam se aproximando… é inevitável, porque é evidente O QUANTO ELES SE FAZEM BEM. Aos poucos, Violet está voltando a viver, começando a parar de marcar dias em um calendário até a formatura, quando “ela estará livre”; ao lado de Violet, Finch se sente desperto, se sente importante, e sente que ela é uma das poucas pessoas no mundo que não o julga, que não o considera uma aberração e que, mesmo que parcialmente, o entende. Amo as andanças, amo as trocas de mensagens pelo Facebook, cheias de passagens de livros e nervosismo.
“Você é todas as cores em uma, em pleno brilho”
Alguns dos lugares que Violet e Finch visitam são interessantíssimos… amei toda a ideia da biblioteca móvel, por exemplo, e aquela sequência da parede “Antes de morrer quero…” me partiu o coração, porque Finch escreveu coisas fortíssimas ali sobre as coisas que ele queria antes de morrer: “…saber como é ter um melhor amigo”, “…ter algum valor”. Também é muito bonita a cena em que eles saem de madrugada, primeiro para a livraria em que a mãe de Finch trabalha, depois para a Torre Purina, de onde eles podem ver toda a cidade, e no qual eles compartilham um momento realmente íntimo, um momento em que eu acho que os dois são exatamente quem são… é um momento importante, emocionante e intenso, enquanto eles gritam do alto da torre para que toda a cidade adormecida escute. Também AMO a cena da Flash Azul!
<3
E então percebemos o quanto Violet Markey, a Ultravioleta Markante, mudou – e o quanto Finch a ajudou nisso, talvez sem nem mesmo perceber. Será que Finch sabe que aquela parte de “antes de morrer quero ter algum valor” e “antes de morrer quero ter importância” ele já conquistou? Violet consegue seguir em frente, finalmente tocar a vida depois do trauma da morte da irmã… depois de uma cena com Finch pelado no rio em frente à escola, Violet acaba sentando-se para conversar com a mãe sobre o projeto de uma nova revista (“Semente”), e inclusive compra o domínio na internet… ela começa a fazer projetos e, envolvida nisso tudo, ela acaba se esquecendo, pela primeira vez, de riscar o dia no calendário, e percebe que isso já não importa mesmo. Então, ela guarda o calendário no armário e devolve no quarto da irmã os óculos que vinha usando dela.
É um momento importantíssimo para ela.
Uma das cenas mais intensas e mais importantes de “Por Lugares Incríveis” acontece no Buraco Azul – são três visitas ao lugar, em pontos diferentes da história. No primeiro deles, Finch e Violet aproveitam o primeiro dia quente para ir nadar. É incrível como Jennifer Niven consegue mesclar momentos que nos emocionam, nos alegram e nos angustiam, porque, na verdade, é assim a mente de Finch e, no fundo, todos nós… as coisas podem mudar tão depressa. O Buraco Azul é um lago cheio de lendas em Indiana, porque, aparentemente, ele não tem fundo… capaz de segurar a respiração por muitos minutos (ele treinara muito), Finch passa muito tempo embaixo da água, procurando o fundo do lago ou a passagem para um outro mundo, e isso causa uma angústia tão grande em Violet. Quando ele retorna, ela está sentada na beirada do lago, chorando.
Ela já perdera a irmã…
Ela não quer perdê-lo também.
Ela se despedaça, os dois gritam e “brigam”, mas também se beijam mais ardentemente do que nunca, porque ele sentiu medo embaixo da água… medo de não conseguir mais voltar à superfície, de não conseguir voltar para Violet, e ele jamais se perdoaria se isso acontecesse. E, estranhamente, ou não, isso leva para a primeira vez dos dois, e eles compartilham momentos TÃO BONITOS, seja no quarto dele, quando eles se entregam fisicamente ao que sentem, pela primeira vez, ou quando retornam para a Torre Purina e ele conta uma história de Sir Patrick Moore e o efeito causado pelo alinhamento de Plutão e Júpiter, uma história bacana para dizer que, quando está com ela, ele sente como se estivesse flutuando… e ela responde que ele é estranho, mas que “essa foi a coisa mais bonita que alguém já lhe disse”. Os dois juntos são… adoráveis.
Depois disso, tudo parece desandar… Finch e Violet passam o que eles chamam de “o dia perfeito” juntos, mas isso faz com que eles percam a noção do tempo, e quando eles amanhecem juntos na Torre Purina, eles sabem que as famílias estarão preocupadas – ou pelo menos a família de Violet estará preocupada. As cenas seguintes são fortíssimas, revoltantes e precisam que você pare para respirar um pouco. Os pais de Violet são duros e a proíbem de continuar vendo o Finch (e é uma injustiça tão grande que eu queria que ela se manifestasse e dissesse que foi ELE que A salvou naquele dia no parapeito do colégio), e Finch chega em casa e apanha do pai novamente… o pai que nunca nem se importou com ele! Daquela vez, no entanto, Finch enfrenta o pai, segura o seu braço e diz que é a última vez que ele bateu nele… ele precisava dizer aquilo!
Nos próximos dias, semanas, meses, Finch e Violet continuam se vendo às escondidas, e tememos que eles estejam se afastando, sendo que as andanças deles estavam fazendo tão bem. Mas não, eles não se afastam o suficiente… tudo o que querem é estar bem. Violet até pega o carro para poder ir vê-lo, e ele tem uma cena lindinha na qual ele está correndo (ele faz isso com frequência) e então para e compra flores para ela, mesmo que seja um domingo e eles não estejam atendendo… ele consegue uma família muito simpática. E então ele leva as flores para Violet: "Acabou o inverno. Finch, você me trouxe a primavera”. Mas Finch não está bem, e qualquer um que o conheça bem (e, no caso, esse alguém é apenas a Violet) pode notar isso. Ele está mais distante do que nunca, e ele não está mais com paciência para ser chamado de “aberração”.
Em uma das cenas mais desesperadoras do livro, Finch toma vários comprimidos… durante todo o livro, Finch falou incessantemente sobre suicídio e sobre métodos, e o vemos ficar tempo demais embaixo da água da banheira, por exemplo, ou na garagem com o carro ligado, mas aqui é o momento que ele chega mais perto de realmente tirar sua própria vida. Logo que ele toma os remédios e sente o mundo começar a desligar, ele tenta vomitá-los, mas eles não saem, e então Finch acaba saindo para correr, para se manter desperto, e chega sozinho a um hospital, o que mostra certa consciência dele… ou ele só não achou que era o modo correto. Depois dessa experiência, e aqui eu acho que temos uma das jogadas mais inteligentes da autora, Finch procura ajuda em um grupo de apoio, “Vida É Vida”, no qual ele encontra Amanda Monk… e ele não esperava vê-la ali.
Afinal de contas, Amanda Monk é a garota mais popular da escola.
Achei importantíssima essa passagem, porque as pessoas, de modo geral, são muito ligadas a estereótipos. Ninguém acharia “estranho” que alguém como Theodore Finch tivesse pensamentos suicidas, ou mesmo que se matasse… mas e Amanda Monk, a garota mais popular da escola, que tem tudo? Acho que Jennifer Niven estava tentando nos mostrar que nós normalmente não temos conhecimento das coisas que outras pessoas estão enfrentando, e não devíamos julgá-las por uma partezinha pequena que podemos ver… e alguém com pensamentos suicidas não precisa se encaixar em um “tipo”, não é necessariamente tão fácil de reconhecer. Por isso é importante que prestemos atenção às pessoas ao nosso redor, mas quantas pessoas realmente fazem isso? Quantas pessoas são como Violet e quantas pessoas são como a relapsa família de Finch?
“O Finch é assim mesmo”
“O Finch faz isso”
Amanda acaba contando para Violet que viu Finch em um grupo para pessoas que tentaram ou já pensaram em se matar, e as cenas que se seguem são, novamente, fortíssimas… Violet vai para a casa de Finch, para o aniversário dele, e ele preparou toda uma surpresa lindíssima para ela no closet no qual ele está morando. Tudo parece tão perfeito e ele parece tão bem que ela quer acreditar que está tudo bem, mas ela não consegue segurar a informação que tem. Eventualmente, ela cai no choro e acaba contando para ele que sabe que ele tentou se matar e que foi a um grupo de apoio, e então as coisas parecem descarrilhar de vez… ele não reage bem a isso tudo, ele não gosta de ser confrontado, ele não gosta que ela assuma uma posição de “quero ajudar você”, mas a verdade é que ela está preocupada e só quer que ele continue ali.
Violet sai supostamente brava, bate a porta ao sair, mas ela o ama demais, e prova isso ao chegar em casa e conversar com os pais, um pouco exasperada, porque precisa de uma solução. Ela diz aos pais que foi FINCH quem o salvou naquele dia no colégio, e agora “é ele quem está naquele parapeito” e eles precisam fazer alguma coisa para ajudá-lo… até porque a família dele não vai fazer nada. É revoltante como a família dele escolhe fechar os olhos para os sinais, para a verdade que os pais de Violet expõem, e então Finch desaparece… e a família dele continua nem aí, porque, para eles, “o Finch é assim mesmo”. Não é a primeira vez que ele desaparece… dessa vez, no entanto, ele fica desaparecido por muito tempo, e Violet não sabe nada mais sobre ele… o livro vai tomando um tom cada vez mais sombrio, nos enche de angústia e desespero.
E Finch não retorna.
Determinado dia, ele envia mensagens e e-mails que parecem de despedida… como se ele estivesse mesmo prestes a se suicidar, e dessa vez para valer. Aqui, é evidente como Violet o conhece melhor do que ninguém, e como a família nunca prestou atenção nele – eu fiquei com muita raiva da mãe quando ela entrou no quarto e perguntou “quando ele pintou tudo de azul”, porque isso FOI HÁ MESES. Violet é quem descobre umas pistas em post-its colados no armário, e então ela vai juntando pedaços para descobrir onde ele está. A primeira frase que ela desembaralha é a mesma coisa que Finch disse quando aquele passarinho morrera na infância, depois ele fala de água. Violet percebe o cuidado de Finch para escolher que livro citar ao lhe enviar a mensagem, e a hora exata na qual a enviou, e então ela sabe exatamente onde ele está…
No Buraco Azul.
Eu fiquei destroçado. Eu estava esperançoso, o tempo todo esperançoso. O tempo todo achando que Finch mudaria de ideia, como quando engoliu os comprimidos e foi para o hospital, ou que Violet fosse encontrá-lo a tempo, mas quando Violet chega no Buraco Azul, ela vê a roupa dele dobrada e colocada em um montinho perfeito na margem, e então isso me consumiu de um modo… eu chorei, eu sofri e eu fiquei triste, porque eu queria tanto que fosse diferente. Violet nada ela mesma, o máximo que pode, em busca de Finch, e não o encontra, e se pergunta se ele realmente queria se matar ou se ele estava “procurando a passagem para o outro mundo” e não conseguiu voltar, mas ela nunca saberá… mais tarde, quando ela liga para a emergência, eles tiram o corpo azul e inchado de Finch da água, e então não existe mais esperança que possamos ter.
Finch está morto.
Tudo dali em diante NOS DESPEDAÇA, mas uma passagem do velório diz muito sobre tudo:

“Charlie está em pé, as mãos cruzadas na frente do corpo, olhando pro caixão. Brenda olha pro Roamer e pros outros do bando da choradeira, com os olhos secos e furiosos. Sei o que ela está sentindo. Essas pessoas o chamavam de ‘aberração’ e nunca deram atenção a ele, a não ser pra tirar sarro ou espalhar boatos, e agora estão agindo como carpideiras profissionais […]. O mesmo vale pra família dele. Depois que a pregação termina, todos vão até a família pra apertar as mãos e oferecer condolências. A família aceita como se merecesse. Ninguém diz nada pra mim”

“Nada poderia fazer com que ele resistisse muito tempo”
Sabe como a “história do passarinho” foi importante ao longo do livro? Não é apenas porque o Finch sofreu por causa do passarinho ou porque ali foi a sua primeira grande crise, mas porque o passarinho é uma perfeita alegoria para ele: durante muito tempo, um mesmo passarinho batia no vidro da casa deles, e depois ia embora… até que um dia ele bateu no vidro e morreu. Finch diz que a história seria muito diferente se eles tivessem feito alguma coisa, se eles tivessem deixado o passarinho entrar, por exemplo. Agora, Finch é o passarinho. Finch é quem bateu no vidro várias vezes, até que, um dia, ele bateu e morreu… as coisas poderiam ter sido diferentes se alguém tivesse feito alguma coisa. Se alguém “tivesse o deixado entrar”. Mas ninguém fez nada, só assistiu enquanto o “passarinho” batia no vidro, até que fosse tarde demais.
Eu sofri DEMAIS. Foi doloroso ler às últimas páginas de “Por Lugares Incríveis”, e eu li quase o tempo todo chorando. Muita coisa acontece após a morte de Finch, e eu particularmente fiquei pensando em Violet e em como ela conseguiria seguir a vida dessa vez, porque ela perdera a irmã há um ano e agora Finch, que se convertera na pessoa mais importante da sua vida. Para sempre mudada, como ela percebe. Mas ela consegue. Inusitadamente, um novo grupo se forma: Violet, Charlie e Brenda, que eram os melhores amigos de Finch, Amanda, que também já pensara em se matar, e Ryan, o ex-namorado “perfeito” de Violet. E a Semente, a nova revista online de Violet, também parece estar prestes a decolar, cada vez com assuntos mais importantes, cada vez tendo mais personalidade e mais importância.
Jennifer Niven fala muito sobre o suicídio nesse final, e faz leituras interessantes a respeito disso. A família de Finch prefere propagar a ideia de que foi um acidente, e Violet quase se sente grata por isso, “porque então eles podem fazer o luto sem sentir vergonha”, porque, como a autora diz em sua nota, “as pessoas normalmente não levam flores para suicidas”. A nota da autora, depois do fim do livro, sobre o suicídio, me deixou muito pensativo e com um pouco de raiva do mundo hipócrita no qual vivemos… ela compara duas pessoas próximas a ela que morreram: uma por câncer e uma que se matou, e a reação das pessoas às duas mortes foram completamente distintas. Porque embora sejam duas doenças e duas mortes, uma é visível e palpável, e a outra não… e se você não pode “vê-la” é fácil fechar os olhos e ignorar os sinais, fingir que não existe. E continuar fazendo isso depois. Julgando.
O final é doloroso em todos os sentidos… Finch, infelizmente, sentiu que ele não tinha outra escolha e tirou a própria vida, e agora as pessoas estão reagindo a isso da forma mais ridícula possível, porque a escola está repleta de homenagens, de mensagens que dizem que “Finch era muito importante”, que “eles o amavam” e que “sentem sua falta”. O TAMANHO DA HIPOCRISIA DESSAS PESSOAS – as pessoas que, em parte, causaram tudo isso o chamando de aberração, nunca o acolhendo de modo algum… é revoltante, e não sei como Violet conseguiu suportar, porque eu mesmo estava à beira de um colapso e de um surto. Mas talvez tenha sido melhor do que dizer abertamente que Finch se suicidou e ter toda a escola o chamando de egoísta e o julgando ainda depois de sua morte… a autora fala sobre quantas pessoas com transtornos mentais e emocionais não recebem tratamento ou porque sentem vergonha ou porque as pessoas próximas não veem ou fingem não ver o que está acontecendo.
OLHE PARA AS PESSOAS AO SEU REDOR. SE IMPORTE.
Se precisar, busque ajuda… não é fácil, mas é possível.
“Você não está sozinho”
Eu estava sentindo falta do Finch o tempo todo, e então Jennifer Niven nos apresenta AS ANDANÇAS RESTANTES. Violet e Finch ainda tinham alguns lugares no mapa que queriam visitar, e então Violet resolve ir a esses lugares sozinha… o primeiro lugar é uma “árvore dos sapatos”, onde ela escreve “Ultravioleta Markante” em um All-Star e então o joga na árvore, e antes de ir embora vê um sapato que reconhece, escrito “TF”, lá no galho mais alto… Theodore Finch esteve ali antes de morrer. E Finch talvez soubesse que Violet ia terminar o “projeto” sozinha, e resolveu “acompanhá-la” como pôde, e ele deixou uma partezinha dele em todos os lugares restantes, até Violet chegar a uma mensagem final que é EMOCIONANTE e que me arrancou as últimas lágrimas. Eu estava como Violet, ansioso pelo próximo lugar, pelo próximo pedacinho de Finch que poderíamos reencontrar.
Violet não está realmente sozinha nessas últimas andanças.
O segundo lugar é uma bola de tinta, na qual Finch escreveu alguma coisa, mas Violet nunca poderá ler, porque já existem novas camadas de tinta por cima – de qualquer maneira, ela fica tranquila em saber que o que ele escreveu sempre estará lá, sob as camadas. E tem uma pequena mensagem para ela no livro de visitantes. Tudo é intenso e forte (e triste), mas a EMOÇÃO da leitura dessas páginas finais me arrebatou… e Finch ajuda Violet uma vez mais, quando, depois de visitar a bola de tinta, Violet chega em casa e diz aos pais que ela quer falar sobre Eleanor e sobre Finch, quer se lembrar deles, porque eles não precisam desaparecer porque morreram… a terceira andança restante é uma placa de um drive-in que foi muito popular nos anos 1960, e Violet responde a uma mensagem pichada por Finch. A quarta andança são santuários, e uma pedra no apocalipse ultravioleta…
“Sua vez”
Finch era poético, extremamente cuidadoso com os detalhes, e nos lembramos disso mais uma vez nessas últimas páginas – talvez por isso ele escolhera a morte que escolheu, porque ele queria que fosse especial, e ele estava tentando encontrar uma passagem para outro mundo. Violet gosta de acreditar que ele está lá, em seu mundo, seja onde for… por fim, a última andança de Violet é um pouco mais complexa e exige um pouco mais de pesquisa, mas Violet consegue encontrar o que Finch queria que ela encontrasse… e, novamente, ele pensou em todos os detalhes. É uma igrejinha pequena, construída em homenagem às pessoas que perderam sua vida em acidentes de carro e para curar as que ficaram (!), onde Violet encontra um envelope deixado por Finch… um envelope com uma música que ele escreveu para ela e que parece dizer uma coisa: “Você não tem culpa”.
E ela precisava que ele lhe dissesse isso.
Para então seguir em frente…
Um livro lindíssimo… forte, belo e importante.


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