Sandman, Volume 2 – Casa de Bonecas (Prólogo e Parte 1)

Rose Walker…

Estamos começando uma nova fase de “Sandman”. O Volume 2, “Casa de Bonecas”, conta a história de Rose Walker, e é interessante como o Senhor dos Sonhos vai se interessando por sua história, e como as coisas estão mais conectadas do que pensamos… meus olhos brilharam ao rever Unity Kinkaid, por exemplo. Nessas duas primeiras edições do arco, publicado ainda em 1989 durante o primeiro ano da revista, sentimos uma inegável sensação de frescor e de recomeço, mas Neil Gaiman continua narrando uma história tocante, de uma maneira surpreendente… o prólogo, em particular, me encantou de uma forma envolvente que eu não consegui largar a edição nem mesmo para fazer anotações. Estava fascinado com o tom poético e belo que Neil Gaiman apresentou principalmente na edição anterior, “O Som de Suas Asas”, e mantém aqui.

O Prólogo de “Casa de Bonecas” acontece em uma tribo e fala sobre histórias… histórias que são contadas por mulheres, histórias que são contadas apenas uma vez na vida, e a edição é inteligente e intrigante. Acompanhamos a história com curiosidade, querendo saber aonde ela vai chegar e, principalmente, como ela vai dar origem a um novo arco dentro de “Sandman”. Trata-se de uma tribo em algum lugar há muito tempo, e de um velho levando um jovem a algum lugar desértico para contar-lhe uma história, uma única vez em sua vida – a história de como o Senhor dos Sonhos se apaixonou por uma rainha mortal, e como isso deu errado. É uma história incompleta, sem final, mas repleta de simbolismo, do tipo de lendas que se contam para explicar coisas como “o porquê de determinado pássaro ser marrom”, e nós nos pegamos ansiosos por mais.

Conhecemos, assim, nada, uma antiga rainha, bela e sábia, que governava como ninguém, e que nunca tinha tido um amor… até que um forasteiro misterioso apareça em sua cidade de vidro, e então ela se apaixone. Para buscá-lo, ainda que advertida a não fazê-lo, ela acaba se arriscando e caindo no Mundo dos Sonhos, onde descobre que se apaixonara por um Perpétuo e que, portanto, o amor deles é impossível… ela precisa voltar para casa para que desgraça não caia sobre seu povo. Morfeus, no entanto, a segue mundo acima, insistindo para que ela seja sua noiva, para que governe o Sonhar ao seu lado, pela eternidade. E, embora ela também esteja apaixonada, ela sabe que o amor de uma mortal e de um Perpétuo é impossível e não pode acontecer… então, ela nega o pedido de Morfeus mais de uma vez, embora se renda aos seus braços.

Quando eles passam a noite juntos e fazem amor em suas vestes de ébano, a desgraça que ela tanto temia recai sobre seu povo, e toda a cidade de vidro é completamente destruída, deixando apenas o deserto em seu lugar – o deserto onde aquela tribo habita, onde aquela história é contada de geração a geração. Sentindo-se culpada e querendo afastar-se de Morfeus, Nada escolhe o Reino da Morte, e Morfeus a segue até os domínios de sua irmã mais uma vez, a convidando novamente para ser sua noiva, mas ela sabe que não pode aceitar isso, tendo em vista tudo o que já aconteceu por causa de uma noite de amor entre eles… a história termina sem que saibamos o que aconteceu quando Nada nega o pedido de Morfeus pela terceira vez. Não é algo que os homens da aldeia saibam… talvez as mulheres sim, mas elas nunca contariam para eles.

Agora, a história pode estar prestes a se repetir com Rose Walker… a Parte 1 da história começa com Rose e sua mãe sendo convidadas para a Inglaterra por uma figura misteriosa que paga as passagens de avião delas, e a estadia no país por duas semanas… mas Rose Walker está tendo sonhos estranhos e contínuos, em situações que nem era para ela estar sonhando, e ela não entende o que está acontecendo com ela. Essa edição é interessante e tem um tom introdutório que nos dá a sensação de que algo muito maior ainda está por vir nas próximas revistas… quem está por trás de tudo, manipulando com seus próprios interesses, é outro Perpétuo, que vemos pela primeira vez agora: DESEJO. Conhecemos um pouquinho de Desejo, sua aparência, suas ações, seus planos e o lugar que habita… eu estou amando conhecer cada um dos Perpétuos!

 

“Há apenas uma coisa a ser vista nos domínios crepusculares de Desejo. Chama-se Limiar, a fortaleza de Desejo. Desejo sempre viveu no limite. O Limiar é maior do que se pode imaginar. É uma estátua do(da) própria(a) Desejo. (Desejo nunca se satisfez com apenas um sexo. Ou com apenas uma de qualquer coisa que fosse, exceto talvez o próprio Limiar.) O Limiar é um retrato completo e detalhado de Desejo, erguido a partir do anseio de Desejo por ter carne e osso, sangue e pele. E, como toda verdadeira cidadela, desde os primórdios do tempo, o Limiar é habitado. Há apenas um ocupante neste momento: Desejo dos Perpétuos. O Limiar é demasiadamente amplo para apenas uma pessoa. Contém dois tímpanos maiores do que uma dúzia de salões de baile revestidos de mármore. E veias vazias que ecoam feito túneis. É possível caminhar por elas até envelhecer e morrer sem ter repetido um único trajeto. Dado o temperamento de Desejo, no entanto, apenas um único lugar na catedral de seu corpo pareceu apropriado para lhe servir de lar. Desejo vive no coração”

 

Na chegada de Rose Walker à Inglaterra, ela acaba pegando no sono enquanto um carro leva ela e sua mãe até a pessoa misteriosa que as chamou ali, e então ela se vê no Sonhar, embora não saiba que aquele lugar é real… enquanto está lá, podemos acompanhar Sandman, o Senhor dos Sonhos, recebendo de Lucien informações de um inventário – ele quer saber como estão as coisas nos seus domínios depois de ele ter passado tanto tempo fora. E ele descobre que quatro criaturas poderosas escaparam do Sonhar: Bruto e Glob, em primeiro lugar. Coríntio, depois. E, por fim, o Verde do Violinista, que parece ser o que mais assombra Sandman, por algum motivo. E, em um momento bizarro, Sandman e Lucien veem Rose Walker ali, espiando o que está acontecendo, e retribuem o olhar, a encaram diretamente, até que ela seja desperta no carro.

Eles chegaram.

Gostei de como tudo está conectado, de alguma maneira, porque estamos na casa de Unity Kinkaid, uma das pessoas que sucumbiram à “Doença do Sono” durante o período em que Sandman esteve sequestrado e trancado naquela jaula de vidro, e ela está em busca do bebê que teve enquanto estava dormindo, e do qual se lembra vagamente quando desperta, quase como se fosse um sonho distante… e descobrimos que Unity Kinkaid, a mulher que, quando criança, sonhava com uma criatura estranha e que caiu num sono longuíssimo ainda na infância, é a mãe de Miranda Walker e, consequentemente, avó de Rose Walker. Por isso ela as chamou ali, porque queria vê-las, conhecê-las, contar sua história, e agora não sei mais o que ela quer… mas Morfeus parece assistir com fascinação à história de Rose Walker, aquela garota que pode vê-lo nos sonhos…

Parece coisa do Desejo.

O que ele/ela está armando contra o irmão?

 

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