“If you
spend your whole life being someone else, who’s gonna be you?”
COMPLETAMENTE
APAIXONANTE!
“Handsome Devil” é um
filme jovem e gay com um tom leve que me deixou com um sorriso no rosto e uma
sensação de “queria viver nesse filme para sempre” durante a maior parte do
tempo. Com personagens carismáticos, um visual incrível e colorido, o filme tem
personalidade e um coração imenso, e toca em assuntos sérios e traz reflexões
sem ser aquele filme que nos deixa melancólicos no final…
eu terminei o filme com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos – e
com a sensação de que queria mais. Fionn O’Shea e Nicholas Galitzine
estavam perfeitos nos papeis principais, mostrando uma química incrível, embora
não cheguem a, de fato, namorarem durante o filme, e Andrew Scott interpreta
Dan Sherry, o novo professor de inglês da escola, que é o
terceiro protagonista e entrega alguns dos melhores momentos e
melhores frases de
“Handsome Devil”.
O filme é
diferente do que eu esperava, mas exatamente o que eu precisava assistir agora.
Logo de cara, fui surpreendido com o tom que lembra a comédia dado pela
narração de Ned Roche, um garoto desajustado em uma escola que só valoriza o
rúgbi e que sonha, mais do que tudo, em ser expulso… pelo menos até conhecer
Conor Masters, um garoto que veio transferido de uma outra escola (porque ele
“brigava demais”) e que se torna o seu companheiro de quarto – e, como Ned diz,
ele é “o garoto que mudou tudo”. Esse início do filme traz sensações mistas, na
verdade, e nos afeiçoamos a Ned quase que instantaneamente, e embora já
estejamos amando, detestamos ver a maneira como ele é tratado pelo simples fato
de que
ele é gay e todo mundo sabe disso…
as constantes demonstrações de homofobia que fazem com que Ned fique sozinho.
Não foi
apenas Conor Masters, o bonito e popular jogador de rúgbi, que mudou as coisas
na escola… com a morte do antigo professor de inglês, o Mr. Sherry assume essa
posição, e ele é totalmente
fora do
convencional, e eu adorei. Ele é intenso, até um pouco assustador às vezes,
mas apaixonado e motivador –
ele é o tipo
de professor por quem me apaixono, e foi impossível não se apaixonar por ele.
Ainda mais em paralelo ao terrível, preconceituoso e quadrado treinador de
rúgbi. O filme brinca com aquela velha dicotomia de artes e esportes. De um
lado, temos o rúgbi, algo que a escola supervaloriza… de outro, temos um
professor interessado no que está ensinando e
para quem está ensinando, alguém que valoriza a literatura e a
música… amei aquela cena do Mr. Sherry indo levar um livro ao dormitório dos
garotos e ajudando Ned com o violão!
Mr. Sherry é
um personagem complexo, e eu acho que é por isso que Ned, por exemplo, acaba se
tornando seu fã… ele é legal na parte do violão, por exemplo, mas ele expõe Ned
por ter usado a letra de uma antiga canção para “escrever” sua redação, mas
talvez fosse algo de que Ned precisava, de qualquer maneira…
afinal de contas, há quanto tempo que ele
fazia isso e deixava o seu real talento de lado? E o professor utiliza esse
momento para dar uma lição
em toda a sala,
e percebemos que existe muita pessoalidade quando ele pede, clama, que eles
“não usem vozes emprestadas”, que eles “tenham suas próprias vidas”, afinal de
contas:
“Se vocês passarem a vida inteira
sendo outra pessoa, quem vai ser você?” Eu até pausei o filme depois dessa
frase, para que ela tomasse o tempo necessário para assentar. QUE ROTEIRO BEM
ESCRITO.
Vários
outros momentos provam isso… e, de quebra, ainda temos aquela dinâmica perfeita
entre Ned e Conor. Inicialmente, Ned não acha que ele e Conor podem ser amigos,
e detesta dividir um quarto com ele, tanto é que ele ergue uma espécie de “Muro
de Berlim” entre eles – afinal de contas, Conor é um atleta e deve ser como
cada um dos caras que sempre pegam no seu pé…
ele não tem tempo para isso. Depois da aula do Mr. Sherry em que
ele mostra a todos a música da qual Ned tirou sua redação, Conor
fala de verdade com ele pela primeira vez,
e aquela primeira interação entre as caixas que os separam é incrível, porque
mostra o quanto eles não precisam nem estar perto para funcionarem
incrivelmente bem. A maneira como Conor tenta mostrar que é
mais do que Ned imagina e que
realmente gostou da música, como está
dizendo.
Inicialmente,
Ned é fechado, uma medida de autoproteção que aprendeu com os anos…
mas Conor parece estar sendo sincero, e
então eles descobrem algo em comum: a música. É muito bom ver o “Muro de Berlim”
cair, e ver como a amizade entre eles
floresce – e talvez, inesperadamente, o filme seja mesmo sobre a amizade e não
sobre o romance.
Embora eles compartilhem
uma química tão latente que eventualmente levará ao romance, inevitavelmente.
É um pouco triste como Ned comenta que “não sabia o quanto era solitário até
ter um amigo”, e é perfeito vê-los conversando, ver Ned dando um presente de
aniversário a Conor, ver a maneira como Conor o ajuda a aprender a tocar o
violão, e como eles compartilham um espaço antigo da escola cheio de vinis
antigos que parece ser um lugar
apenas
deles… e o Mr. Sherry os incentiva a se escreverem para um show de
calouros.
Amo vê-los ensaiando, tocando o violão e
cantando juntos!
As coisas
mudam depois de um jogo de Conor no qual ele leva o time à vitória, algo que a
escola não está habituada, e o pai de Conor leva ele e os colegas de time para
beber… no fim, Conor diz ao pai que vai pegar o trem de volta para a escola.
Enquanto isso, Ned está em um cinema, vendo um filme que acaba sendo longo
demais e, por isso, perde o ônibus de volta para a escola e também precisa
pegar o trem… é quando ele vê Conor na rua e pensa em surpreendê-lo,
mas acaba saindo surpreso ele, porque
Conor entra em um bar no qual não o deixam entrar, um bar que, como ele
descobre, É UM BAR GAY.
Ou seja, esse
tempo todo Conor também era gay e Ned não fazia ideia… para completar a
PERFEIÇÃO que é essa cena do bar gay, vemos Conor lá dentro, encontrando um
outro rosto conhecido…
o do Mr. Sherry,
que está ali com o seu próprio namorado.
Depois
disso, a tensão sexual que paira no ar entre Conor e Ned durante o próximo
ensaio para o show de calouros é PALPÁVEL, e a interpretação é incrível – como
disse, os dois compartilham uma química quase inigualável! A maneira como Ned
custa a se concentrar nos acordes, na voz ou na letra da música, porque tudo o
que ele consegue é ouvir a voz de Conor e mal consegue conter o desejo de olhar
para ele com curiosidade… com interesse. Ele quase fala que o viu entrar em um
bar gay no dia anterior, mas acaba não tendo coragem, e então as coisas seguem
como antes – pelo menos até serem tomadas pela pressão dos colegas de rúgbi, e
o preconceito acentuado daqueles jovens imbecis que não aceitam o que é
“diferente”. Um dos garotos do time, que descobre o motivo pelo qual Conor
brigava tanto na antiga escola, ameaça
Conor e o faz se afastar de Ned.
Aquele típico momento em que as coisas dão
errado… e nós sofremos.
Ned acaba
ficando sozinho no show de calouros, o que é uma injustiça sem tamanho, mas eu
adoro como ele não fica necessariamente bravo com Conor…
mas ele quer conversar com ele, não quer permitir que as pessoas o
afastem do seu amigo sem ele lutar por isso. É quando ele acaba arrumando
confusão com um dos babacas do time, leva um soco, e o Conor o manda embora,
sem fazer nada para de fato ajudá-lo… naquele momento, Ned implora para que
Conor “conte para eles”, e ele não está pedindo que ele conte para o time que é
gay, como pode parecer e como Conor
talvez tenha acreditado:
ele só está
pedindo que ele conte que eles são amigos, e não apenas companheiro de quarto.
Mas é tarde demais, o Muro de Berlim volta a separá-los e, dessa vez, é uma
iniciativa de Conor…
é mais transponível
que o de Ned, mas está ali de todo modo.
Perto do
grande jogo final de rúgbi, então, Ned é forçado a “ensaiar a torcida” como os
demais, e, naquele momento, no qual ele se recusa a cantar e é arrastado à
frente por um babaca, para ser humilhado, ele deixa que algo tome conte de si e
faz algo que pode não ter sido muito certo… mas, naquele momento, EU O ENTENDI.
Aquela narração de Ned que nos dá uma visão para dentro de sua cabeça é um
máximo, porque nos ajuda a entender o que ele está sentindo: por que ele é
constantemente segregado e humilhado por ser gay, enquanto Conor, que é
gay assim como ele, é idolatrado? Então,
um pouco por raiva por causa da injustiça, outro pouco com raiva porque Conor
abandonou a amizade deles, ele pega o alto-falante e diz que vai dizer quem é
gay, e conta:
“Conor Masters é gay”.
No momento, ele ficou aliviado, se sentiu um máximo, mas enquanto é levado para
fora do auditório, ele sabia que tinha feito merda.
Ou não.
Porque esse acaba sendo o chacoalhão que
Conor e o próprio Mr. Sherry precisavam.
O diálogo da
cena de Conor com Mr. Sherry, depois disso tudo, é um dos textos mais
bem-escritos de todo o filme… o momento em que Conor o enfrenta e percebemos
não o quanto eles são parecidos,
mas o
quanto eles são diferentes. Naquele momento, Conor está decidido e diz que
não vai jogar a final, que “não pode fazer isso”, e fala sobre não mais mentir
e sobre
ser quem ele é… se, naquele
dia da música, a lição do Mr. Sherry não era apenas para Ned, mas para todos,
Conor sente que também era para ele:
não
falar com voz emprestada, não ser uma ovelha, não fingir ser quem não é… é
quase um grito pela liberdade e um clamor por apoio, mas o Mr. Sherry também
precisa assumir algumas coisas e enfrentar seus medos, e é perfeito como ambos
fizeram a diferença na vida do outro mutuamente. O crescimento para o Mr.
Sherry também é visível e recompensador.
Destaque,
também, para quando o Mr. Sherry enfrenta o diretor quando ele vem falar sobre
o rúgbi: “Some boys don’t play rugby. What about those boys?”
A cena de
Conor e Mr. Sherry é fortíssima, certamente o ponto alto do filme, e Nicholas
Galitzine e Andrew Scott entregaram
tudo
naquele momento, é de arrepiar. Depois disso, as coisas felizmente melhoram.
Quer dizer, Conor desaparece e parece que não vai jogar mesmo a final e Ned é
expulso da escola, mas as coisas melhoram… isso porque Ned foge dos pais para
correr até onde
sabe que Conor estará
e para fazê-lo ir até a partida, não pelo treinador, não por seus colegas, mas
por eles – Ned diz que “esse será o seu
time se Conor estiver nele”. É terno, é fofo, e é de uma força incrível que
Conor levante a cabeça e aceite quem ele é e que as pessoas vejam isso
finalmente, sem medo… juntos, Conor e Ned enfrentam o treinador, ganham apoio
dos colegas de time que, afinal de contas, precisam de Conor e entendem que
ele é o mesmo que sempre foi.
O filme
termina em uma excelente partida, com belos momentos para Conor, para Ned e
para o Mr. Sherry, e é impossível não sorrir com esse final tão mágico… eu acho
que faltou um
beijo entre Conor e
Ned, e meu coraçãozinho gay
queria
muito ver isso, mas eu entendo que a proposta do filme era muito mais sobre
quem eles eram separadamente e como influenciaram um ao outro do que sobre um
romance – o romance virá com o tempo, agora que tudo o que podia dar errado foi
tirado do caminho, e o abraço final dos dois mostra isso claramente, e eu
vibrei com aquele breve momento de contato direto dos dois. O filme é incrível!
Além do carisma e das atuações brilhantes, o filme tem um roteiro incrível e
uma bela mensagem… atualmente, o filme tem 83% de aprovação no Rotten Tomatoes,
foi aclamado pela crítica e recebeu vários prêmios em festivais…
certamente, um filme LINDO que precisa ser
assistido e sentido.
Amei demais.
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