Sandman vs o Vórtice
WOW, QUE
FINAL DE TIRAR O FÔLEGO PARA ESSE ARCO.
“Casa
de Bonecas” chega ao fim de forma eletrizante e, como sempre, emotiva e
poética – é bem diferente de
“Prelúdios
& Noturnos”, mas eu amei como Neil Gaiman criou a atmosfera e fez com
que nos preocupássemos com Rose Walker e com sua família antes de explicar-nos
o que, de fato, era um “vórtice do sonho”.
E
o motivo de Sonho estar sempre a vigiando de perto. Gostei muito de como alguns
caminhos se cruzam, mesmo que de maneira discreta, como o fato de Rose ser a
neta de Unity Kinkaid, que conhecemos no primeiro arco, ou como a melhor amiga
de Rose, Judy, morreu em um massacre em uma lanchonete de cidade pequena,
durante aquele pavoroso e sangrento conto de horror que fez parte de
“Prelúdios & Noturnos”, enquanto
Sandman não recuperava seu rubi…
Wow.
As duas
últimas edições de
“Casa de Bonecas”
nos mostram a verdadeira e perigosa natureza de Rose Walker, e eu adoro todo
esse universo de SONHO que é construído, porque
“Sandman” tem uma mitologia ampla e inteligente, com muita coisa
ainda a ser explorada, e o tema do sonho
sempre
me fascinou… em
“Noite Adentro”,
a sexta edição do arco, Rose Walker se preocupa com a avó morrendo na Inglaterra
e o irmão morrendo no hospital (
“Nas
últimas três semanas, encontrei uma avó desconhecida e um irmão perdido há
muito tempo. Agora parece que posso perder os dois”), enquanto Sonho
percebe que terá que enfrentar um vórtice novamente (
“Então, tudo começa mais uma vez. O primeiro vórtice desta era […] Devo
lidar com este vórtice, como já fiz com outros no passado. Como devo lidar com
qualquer coisa que ameace o Sonhar”).
E embora se
fale sobre o VÓRTICE desde o começo de
“Casa
de Bonecas”, não sabíamos, até então, o que
realmente era um vórtice do sonho, mas essa edição nos mostra a
imensidade do perigoso poder que Rose tem e que nunca soube… acompanhamos os
bizarros sonhos das pessoas que dividem a casa com ela… os sonhos de Ken, de
Bárbara, de Chantal, de Zelda e de Hal… Rose Walker é a última a dormir, por
causa de todas as preocupações que tem na cabeça, mas eventualmente ela
consegue dormir e, ao sonhar, ela sente-se maior do que ela mesma… ela consegue
ver, sentir e tocar
cada um dos sonhos ao
seu redor. Os sonhos de Ken, Bárbara, Chantal, Zelda e Hal, em um primeiro
momento. E enquanto ela os via e os misturava, derrubando as paredes que os
separavam, percebemos o quanto ela era poderosa e, principalmente, perigosa.
Por que o
Sonho estava atrás dela, afinal…
“Todos
procurando um lugar ao qual pertencer, todos buscando um canto para se sentir
seguros. E ela vê como é tudo tão simples. Vê como são finas e frágeis as
paredes que os separam. Vê como seria simples esmigalhá-las. Ela estende sua
mente e dá um pequeno cutucão. E as paredes… as paredes vêm abaixo”
“Ela pode
senti-los: por toda a cidade, um desfile de mentes adormecidas. Cada uma cria e
habita seu próprio mundo; e cada mundo é apenas uma pequena fração da realidade
que é o Sonhar… e ela pode tocá-los, pode tocar a todos. Começa, então, a
libertá-los, perdendo-os no fluxo. Por toda a cidade, os sonhos começam a se
unir e se integrar e, ao fazer isso, mudam os sonhadores para sempre”
Eu achei
simplesmente FASCINANTE. Eu entendo o porquê de o Sonho se assustar e saber que
precisa detê-la, mas a noção é incrível… eu acho que o sonho é uma das coisas
mais
misteriosas da mente humana, e
Neil Gaiman se aproveita disso para criar uma história envolvente e intrigante
que nos deixa pensando a respeito de nossos próprios sonhos… acho que, depois
de ler
“Sandman”, os nossos sonhos
jamais serão os mesmos. Porque cada vez que sonharmos com
algo “estranho”, nos perguntaremos se isso é parte de algo maior…
se há algo
a mais acontecendo, algo
que não sabemos. Rose derruba as paredes entre os sonhos dos sonhadores de
maneira inocente – ela está curiosa, descobrindo isso tudo, não tem noção do
que está fazendo.
E eu acho que esse é o
principal perigo do vórtice: não saber que é tão perigoso.
E ela pensa
em transformar tudo em um único e grande
sonho.
Enquanto
Unity está cada vez mais perto da morte na Inglaterra, e pede que Miranda dê a
Rose a sua
casa de bonecas, Sonho
captura Rose nos sonhos que, agora, ela reuniu, porque ele precisa acabar com
isso e precisa ser agora. Enquanto isso, Gilbert, que descobriremos ser “Verde
do Violinista”, um dos sonhos que escaparam do Sonhar na ausência de Sandman,
conversa com Matthew, o corvo de Sandman, no hospital, ao lado de Jed,
assustado ao descobrir que
Rose Walker é
um vórtice… porque, se Rose é um vórtice, não há esperanças para ela: Sonho
vai matá-la, e ele precisa fazê-lo. Como o Verde do Violinista explica, essa é
a
única ocasião em que o Sonho tem
permissão para
tirar uma vida humana
– ele pode fazê-lo para
proteger o Sonhar.
Por isso,
ele terá que matá-la…
Antes que
seja tarde demais. “Corações Perdidos”,
a última edição do arco, começa com o Sonho anunciando a Rose Walker que ela é
um vórtice, e finalmente explicando com todas as palavras o que é um vórtice, por que é tão perigoso e, consequentemente, por
que precisa ser detido:
“Um vórtice
surge uma vez a cada era. Nem mesmo eu sei por quê… um mortal que se torna
brevemente… o centro… do Sonhar. O vórtice, por natureza, destrói as barreiras
entre as mentes que sonham; destrói o caos ordenado do Sonhar… até que a
miríade de sonhadores seja colhida num único e enorme sonho, até que todos os
sonhos sejam um só. Então, o vórtice entra num colapso sobre si mesmo. E, por
fim, acaba. Leva a mente dos sonhadores consigo e danifica o Sonhar de modo que
não possa ser reparada. Deixa nada além de trevas”
Se Rose
vive, se ela transforma tudo em um único sonho, sua mente colapsará e ela
levará consigo todos os sonhadores que compartilham o Sonhar – e, assim, o
universo morrerá, algo que já aconteceu uma vez, há milênios, e que Sonho jurou
que jamais deixaria acontecer novamente. Por isso, Verde do Violinista, embora
queira, sabe que não pode fazer nada para salvá-la. Então, ele se despede de
sua nova amiga em uma cena emocionante antes de voltar a ser o que era antes de
sua fuga do Sonhar:
um lugar… um lugar
lindíssimo. A despedida de Rose também é bonita, e dolorosa, e não
conseguimos culpar o Sonho – essa é sua obrigação, e ele precisa proteger o
Sonhar e, consequentemente, o mundo. Antes que ele possa tirar a vida de Rose
Walker, no entanto, o Sonhar recebe uma visitante inusitada:
Unity Kinkaid, a segundos de sua morte.
Unity
aparece no Sonhar jovem, para salvar a neta, e explica:
“Rose não
vai morrer esta noite. Eu vou. […] Eu deveria ter sido o vórtice. Se você não
tivesse sido aprisionado longe do Sonhar, eu teria sido”
O que faz
perfeito sentido, na verdade, porque
Unity Kinkaid, como a
primeiríssima
edição de
“Sandman” nos mostrou,
sonhava com a figura misteriosa que era o Sonho quando era criança, antes de
ele ser sequestrado e ela sucumbir à Doença do Sono.
Ela deveria ter sido o vórtice, há muitos anos, e não sua neta. A
noção é interessante e inteligente, e então Unity pede que Rose entregue seu
“coração”, aquilo que a torna o vórtice, e então Unity Kinkaid assume a função
que deveria ter assumido há anos, vira o vórtice e morre, como já ia acontecer
de qualquer maneira, salvando a vida da neta…
um último sacrifício por sua família. É tocante! Sonho fica
confuso, mas o vórtice se foi, o que quer dizer que Rose não precisa morrer, e
então ele pode liberá-la, e ainda anuncia que, na manhã seguinte, Jed acordará
–
como um presente dele.
Então, Rose desperta…
O final é interessantíssimo,
todo místico, sentimental e um pouco melancólico. Acompanhamos Rose Walker seis
meses depois disso tudo, morando em uma casa imensa com a mãe e com o irmão,
mas sem sair do quarto para praticamente nada. Ela se lembra de um
sonho estranho da noite em que Unity
morreu e Jed despertou, mas agora ela já não sabe se aquilo foi mesmo um sonho
ou se aconteceu de verdade… os detalhes estão nublados, e ela sente que
nada do que ela sempre acreditou é verdade
se aquele sonho foi real… sua mente ainda está tentando achar sentido em
tudo, está se organizando em volta dos acontecimentos bizarros, e eu achei
legal como, seis meses depois, ela resolveu seguir a sua vida normal, deixar
isso para trás, sair do quarto e seguir adiante…
uma edição bastante singela, bastante tocante, eu gostei muito!
“Casa de Bonecas” foi um excelente arco!
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