Turma da Mônica Jovem (2ª Fase, Edição Nº 38) – Diário de Viagem


“Às vezes, a vida parece um diário de viagem… só paramos para apreciar algumas coisas… anotamos curiosidades, tiramos fotos de poucos momentos… momentos que iremos dar valor por já serem parte do passado. Por estarmos sempre imaginando que seremos felizes amanhã ou em outro lugar, desenhamos um mapa para estrelas desconhecidas, que só irão brilhar daqui sei lá quantos anos… sorrimos nos instantes compartilhados, que permanecem vivos nas memórias de todos ali. Entre uma lembrança e outra, entre uma parada e outra dessa viagem, onde nós estamos? Nos existimos?”

 

AÍ ESTÁ, A MELHOR EDIÇÃO DA “TURMA DA MÔNICA JOVEM” DESDE QUE A CONTAGEM RECOMEÇOU. Ficamos tão contentes quando uma edição da revista foi dada para o maravilhoso Rafael Calça. O autor, que escreveu “Jeremias: Pele”, uma HQ da coleção Graphic MSP, ganhou um Prêmio Jabuti em 2019 por essa história – lembrando que o Prêmio Jabuti é o maior prêmio da literatura brasileira. Agora, o personagem ganha a chance de faze ruma participação na “Turma da Mônica Jovem”, também se voltando ao mesmo personagem, e é tão BOM vê-lo se dedicar ao Jeremias, com uma história tocante e sensível que é, provavelmente, a melhor história que a revista viu em muito tempo… provavelmente, a melhor história que a revista viu no mínimo desde que a contagem foi recomeçada. E eu ADORO quando temos uma história centrada no Jeremias.

Primeiro, eu só quero falar sobre o cuidado da edição com sua apresentação… eu acho muito triste que tenham colocado a Mônica na capa da edição, tendo em vista que a Mônica tem uma participação pequena e sem importância nessa edição, mas nem ela chegou a ser, de fato, um problema, porque tudo o mais nessa capa está LINDO. E a 4ª Capa mostra um dos futuros que a edição nos apresentará, e é bom ver o Jeremias mais velho, como um astronauta, com seu uniforme da BRASA cheio de detalhes… a edição se dedica ao personagem e a um “sumiço” dele porque ele está inseguro em relação ao futuro. Ele é inteligente e extremamente esforçado, mas ele não tem noção do que ele quer ser no futuro, e então ele busca a ajuda de seu melhor amigo desde a infância: o Franja. Enquanto isso, Denise fica buscando o bofe por todo canto.

Assim, a edição é protagonizada por Jeremias, mas com Franja e Denise também desempenhando um papel importante enquanto o nosso querido Jerê explora algumas possibilidades para o seu futuro. E elas são todas bastante interessantes. Para isso, o Franja propõe que ele teste uma de suas invenções, um “decodificador pictórico de padrões cerebrais”, algo que vai colocá-lo em uma espécie de hipnose, liberando o seu subconsciente para que o aparelho possa ler os seus futuros mais prováveis – mas, na verdade, as possibilidades de futuro, como o Franja explica, dependem de uma série de coisas, cada micro decisão gerando novas variáveis, portanto essas são apenas algumas possibilidades entre infinitas, e podem nunca vir a se realizar. Mas já é algo para que o Jeremias tenha uma noção… e para que fique um pouco mais tranquilo.

A primeira possibilidade de futuro para o Jerê – que o Franja e a Denise conseguem assistir na televisão – é aquela que vemos na quarta capa da edição: O JEREMIAS COMO ASTRONAUTA. Eu adorei a possibilidade de ver os personagens mais velhos que na “Turma Jovem”, e não apenas o Jerê, mas também o Franja, trabalhando na BRASA e tudo o mais, ao lado do Astronauta, enquanto o Jeremias viaja o espaço na antiga (e melhorada) nave do Astronauta, para salvar o mundo. Algo bastante nobre. Nesse futuro, os recursos da Terra se esgotaram, e a missão de Jeremias é encontrar algo que possa ajudar a humanidade a seguir em frente… e o interessante é que ele está disposto a ir além, a se arriscar, porque não quer voltar sem cumprir a sua missão, mas, ao mesmo tempo, ele tem pessoas importantes na Terra, e ele prometera voltar.

A segunda possibilidade de futuro para o Jerê também é muito interessante – O JEREMIAS VIRA UM FAMOSO E RECONHECIDO ROTEIRISTA DE HQs. Afinal de contas, o Jerê gosta de escrever histórias, e esse é um futuro maravilhoso, no qual ele consegue resgatar um de seus personagens favoritos dos gibis e desenhá-lo, criando novas histórias que dão nova vida ao personagem, que o faz fazer sucesso, retornar ao cinema, por exemplo, e Jeremias ainda consegue passar a mensagem de que todos nós podemos ser heróis. De alguma maneira, então, podemos começar a ver que as coisas estão conectadas, que esse futuro tem alguma relação com o primeiro futuro, no qual ele queria ajudar a humanidade e tudo o mais. E, particularmente, eu gostei muito desse futuro do Jeremias, acho que seria algo bom para ele, com certeza!

A terceira possibilidade de futuro para o Jerê é bastante melancólica, e chega a ser doloroso de ler… e é interessante a maneira como Rafael Calça guia sua história, não de maneira fantasiosa, não com tudo lindo e maravilhoso, mas uma história humana, sensível e repleta de nuances. Se estamos lendo o subconsciente de Jeremias, e se estamos avaliando possíveis futuros para o personagem, é natural que as suas inseguranças também venham à tona, e é isso o que acompanhamos nesse futuro em que o Jeremias escala montanhas solitário, em busca de respostas para perguntas que talvez ele nem tenha formulado ainda… ele vai mais longe do que qualquer pessoa, ele enfrenta perigos e acaba se colocando em risco, e ele enfrenta sombras assustadoras que, na verdade, provavelmente são apenas projeções de seu próprio subconsciente.

É intenso.

Interessante.

Triste.

Por fim, chegamos à quarta e última possibilidade de futuro, uma sequência que eu achei bem divertida, e que, como eles comentam, “daria uma boa história”. Nessa, um vilão está atacando a cidade, e descobrimos que Jerê é o âncora de um jornal, assim como o Agente J da DI.NA.MI.CA. É um futuro bastante possível e bastante interessante, e acompanhamos partes de uma história inacabada, porque são apenas possibilidades, na qual vemos a Denise, a Mônica e o Cebola trabalharem ao lado do Jeremias, para deter um vilão que está usando uma flauta criada a partir de inventos descartados do próprio Franja, e ainda temos a participação do Doutor Olimpo e do Capitão Feio, dois personagens que vêm aparecendo bastante na “Turma da Mônica Jovem” como vilões – inclusive, eu já estou bem cansado das aparições do Doutor Olimpo.

Mas a história é bacana, e os traços são lindos.

No fim, Jeremias passa de uma angústia ainda maior para uma tranquilidade madura na qual ele percebe que ainda não sabe de nada, mas que talvez não deva se preocupar com isso agora… a única coisa que ele sabe, que ele percebeu, é que Denise parece fazer parte de qualquer futuro dele, o que quer dizer que “não existe futuro para ele sem ela”. EU FIQUEI TÃO FELIZ COM O JEREMIAS E A DENISE OFICIALIZANDO UM ROMANCE FINALMENTE! Afinal de contas, a Denise é apaixonada pelo Jeremias há muito tempo, e esse beijo foi aguardadíssimo – tanto que ele até chegou a ir para a capa, para “chamar atenção”. E que bom que ele acontece no presente, na realidade, e não apenas como “uma possibilidade do futuro”. Eu adorei a edição. Ela é divertida, ela é inteligente, ela fala de assuntos legais, ela trabalha bem com os personagens, ela emociona.

Uma edição incrível!

Parabéns ao Rafael Calça, e a todos os envolvidos!

<3

 

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