A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (The Mitchells vs. the Machines, 2021)

“The endgame has begun. That? Is that what you're looking for?”

QUE FILME BOM! Eu estava bem ansioso e curioso por “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” desde o primeiro trailer e sinopse do filme, mas ele é muito mais do que eu podia esperar. Além de ter um visual muito bom e ser uma animação competente, o filme consegue abordar vários assuntos de forma inteligente, leve e divertida, como a dependência que o humano desenvolveu pela tecnologia e as relações familiares. Assim, o filme consegue ser crítico, consegue nos fazer pensar, consegue certamente nos emocionar com várias cenas bonitas, nunca deixando de ser alegre e engraçado. Os personagens são carismáticos, as situações são hilárias, os diálogos são bem escritos! É uma das melhores animações que eu vi nos últimos anos, mostrando que a Sony está aí para produzir animações tão boas quanto as da Pixar, e num estilo completamente diferente.

(Lembrando que foi a Sony quem produziu “Homem-Aranha no Aranhaverso”)

“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” começa nos apresentando os Mitchell – uma família imperfeita e divertida que, por algum motivo, me fez pensar nos Incríveis. Katie Mitchell, a filha mais velha, está se preparando para ir embora para a Califórnia para estudar cinema, e finalmente “encontrar a sua tribo”, depois de ter passado a vida inteira se sentindo excluída porque ninguém entendia os filmes que ela fazia… Katie é uma personagem que te conquista já em um primeiro momento (e eu adorei o fato de ela ser LGBT, o que ficou sugerido no início do filme, mas confirmado na última cena, sem alarde nem nada, porque não tem nada de mais), e eu achei os filmes dela muito criativos e bacanas! Talvez as pessoas na sua cidade ainda não estivessem preparadas para eles. Mas tudo está prestes a mudar para Katie – mais do que ela imagina.

Uma boa parte do filme é construída em cima da relação de Katie com o pai… a maneira como eles sempre foram próximos (as cenas são muito fofas!), mas como algo se rompeu há algum tempo, e talvez apenas porque um não consegue entender o outro – eles são diferentes; ela quer fazer cinema, enquanto ele quer que ela encontre uma carreira segura, mas Rick erra ao não dar a Katie o apoio que era tudo o que ela buscava antes de ir para a faculdade. Assim, eles acabam tendo uma briga feia no dia anterior à viagem à faculdade e, para tentar consertar tudo, Rick cancela o voo dela para a Califórnia (!), dizendo que ele decidiu que eles mesmos vão levá-la à faculdade, de carro… uma viagem em família. Assim, o filme consegue ser uma comédia, um drama, um filme de road trip e apocalíptico – e toda essa mistura, surpreendentemente, funciona muito bem!

Como eu comentei no início, o filme tem um roteiro brilhante que se sai muito bem ao abordar temas como a tecnologia e a família, com ótimas mensagens finais. A parte mais cômica do filme, por sua vez, está presente em pequenos momentos e em situações bizarras que certamente nos arranca as melhores risadas. Sério, não tem como não amar esse filme! Durante a desastrosa viagem da Família Mitchell, o mundo é atacado por máquinas controladas por uma inteligência artificial, a PAL, e então chegar à faculdade já não é mais o objetivo dessa viagem: o objetivo é sobreviver a um apocalipse tecnológico e, quem sabe, salvar o mundo, sabe? Gosto muito de todo o clima dramático de ação, que é debochado e, às vezes, nos lembra a ação de HQs (foi aqui que pensei em “Homem-Aranha no Aranhaverso”), e o filme ganha uma camada extra que eu adoro.

Há uma interessante inversão do que estamos habituados no mundo atual, mas quando vemos as máquinas nos tratando daquela maneira, percebemos que realmente não estamos distantes dessa realidade – o filme desempenhando o papel de um episódio de “Black Mirror” aqui. PAL, a inteligência artificial, não quer apenas mostrar aos humanos como as tecnologias são tratadas, como quer capturar todos os humanos e enviá-los para o espaço (o que não parece uma alternativa tão ruim quando eles descobrem que terá wi-fi de graça), enquanto as máquinas tomam conta do mundo, e ela não enxerga nenhum motivo pelo qual os humanos deveriam ser poupados, afinal de contas, eles não se tratam bem nem entre eles… e conversas clichês não vão convencê-la. Assim, pouco a pouco os humanos são todos capturados – e os Mitchells são os únicos que sobram.

Cabe a eles salvar o mundo.

Mas se o ataque das máquinas é uma adição interessante ao filme e rende ótimos momentos de ação dos mais bizarros possíveis, a alma do filme nunca deixa de ser a relação familiar – e eles vão descobrindo que o que eles têm pode não parecer perfeito como de algumas outras famílias (os vizinhos, por exemplo), mas o que eles têm é só deles: eles se amam, se protegem e agora sabem disso. A segunda parte do filme, então, se desenvolve enquanto os Mitchells tentam liberar o “código-bomba” e acabar com a PAL, desligando as máquinas e salvando os humanos, mas parece que tudo dá errado mil vezes – e eu gosto disso no filme, porque gera uma ansiedade e a sensação de que o roteiro se preocupou com detalhes ao invés de escolher uma solução fácil e pronto… eles tiveram várias chances de conseguir o que queriam, e algo sempre deu errado.

Bem, quase sempre.

Preciso comentar, também, sobre o Pug que é o cachorro da Família Mitchell, e que é um espetáculo à parte – porque ele gera VÁRIOS dos momentos mais divertidos do filme e, não bastasse isso, ele ainda é quem ajuda a salvar a humanidade no fim das contas… mais de uma vez. Depois que o plano de invadir a base da PAL no Vale do Silício fantasiados de robôs dá errado, Rick e Linda são capturados, e Katie e Aaron precisam improvisar… e Katie usa o Pug na frente do carro para confundir os robôs. Em paralelo, Rick assiste, pela primeira vez, a um filme de Katie, protagonizado pelo Pug da família (!), e percebe o que ela sempre quis lhe dizer: ela o ama, mas às vezes ele é duro demais e, agora que ela está indo embora, ela só queria ter o seu apoio, mas ele não está lá. Por isso, ele resolve “mudar a sua programação”, como os robôs amigos comentam, e ajuda a salvar o mundo.

O clímax do filme é eletrizante. Temos a Katie dirigindo exatamente como o pai ensinou, temos a Linda se tornando furiosa quando os robôs capturam Aaron (afinal de contas, uma mãe faria de tudo para defender um filho), e Rick consegue sair de onde está preso e fica responsável por colocar os vídeos de Katie em todos os telões, para desnortear os robôs que ficam tentando entender se o pug é um cachorro, um porco ou um pedaço de pão. A ação aqui é exagerada e divertida, e a união peculiar dessa família é um máximo… no fim das contas, não é “a família perfeita” dos vizinhos que salva o mundo, mas os Mitchells, cujas imperfeições provavelmente os fazem ainda mais perfeitos. Temos vários momentos emocionantes nessa reta final, como a Katie falando com PAL sobre a sua família, ou o Rick dando suas “ideias” para a sequência do filme do pug… QUE FILME SENSACIONAL!

“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” tem uma aprovação de 97% da crítica especializada no Rotten Tomatoes, e você entende assim que você o assiste, porque não tem como não se apaixonar. O filme consegue entregar tudo que prometeu e um pouco mais – diversão, emoção, reflexões… e ainda temos um “epílogo” de alguns meses depois, quando a vida de todos está voltando ao normal e Katie pode finalmente ir para a faculdade, levada pela família, mas dessa vez por sua própria escolha, com uma cena linda dela se despedindo da família (com destaque para o abraço no pai, e a emoção do Aaron, o irmão mais novo que é um fofo!), antes de começar uma nova fase da sua vida, mas, diferente do que ela imaginou, não com a “sua tribo” – a sua tribo, no fim das contas, são os Mitchells. O quanto essa família aprendeu e cresceu durante um apocalipse robótico é sensacional!

 

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Comentários

  1. Haha adorei sua review! Voce escreve muito bem 💙 Realmente, reconheço que é um bom filme embora não tenha gostado muito, achei bem clichê e não consegiu prender minha atenção :')
    shinekyouki.blogspot.com

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