“What does ‘sueñito’ mean?”
Parece que
2021 vai ser o ano de adaptações musicais – e eu adoro ver os musicais da
Broadway ganhando as telonas do mundo todo, especialmente se forem em
adaptações bem-feitas como é o caso de
“In
the Heights”. O musical, que estreou na Broadway em 2008 (mas foi lançado
oficialmente em 2005), é um grande sucesso de Lin-Manuel Miranda, que foi o
responsável pelo conceito do musical e pela composição de todas as músicas… o
início de uma carreira de sucesso! Rapidamente, o espetáculo conquistou o
público com a história de uma comunidade latina em Nova York, em uma narrativa
emocionante e bonita, repleta de diversão, amores e
boa música. O filme de 2021 faz jus ao musical, sendo uma obra
deslumbrante, musical e visualmente. Atualmente, o filme tem uma aprovação de
96% da crítica especializada no Rotten Tomatoes e 95% do público… um número
expresso, evidenciando o encanto que esse filme proporciona.
A história
acompanha alguns personagens latinos que moram em um bairro de Nova York, o
Washington Heights, e eu gosto de como várias discussões são colocadas como
pano de fundo, enquanto o foco do musical é, no fundo, mostrar a vida e os
sonhos daquelas pessoas. O filme consegue mostrar a realidade dos imigrantes
latinos em uma cidade grande como Nova York, e nos afeiçoamos a cada uma
daquelas pessoas que estão buscando seus sonhos, sejam eles quais forem,
enquanto vivem como uma
grande família
– e Cláudia, uma das personagens mais encantadoras do filme, é quem claramente
evidencia essa relação “familiar” de todos eles, porque ela é chamada de
“abuela” por todo mundo… tratada como
abuela,
na verdade ela não tem parentesco com nenhum deles.
E ela nos entrega uma das cenas mais emocionantes e tristes do filme.
O filme
começa com Usnavi (seu nome escolhido pelo pai quando viu um navio se
aproximando com os dizeres “U.S. Navy”) explicando a algumas crianças o que
significa “sueñito”, e apresentando um pouco do bairro e dos personagens com
quem estaremos pelas próximas duas horas… o próprio Usnavi é um rapaz que sonha
com o dia em que retornará à República Dominicana. A introdução do filme é um
dos melhores números de abertura já vistos em musicais, e mostra toda a
vitalidade que o filme evoca, e nos pegamos
ansiosos
pelo que veremos a seguir.
“In the
Heights” é um número musical lindíssimo que mostra a direção perfeita do
musical, além de contar com um número grande de personagens e bailarinos, em
uma coreografia cheia e elaborada que me deixou sorrindo como um bobo… naquele
momento, eu sabia que ia amar.
No início
desse texto, falei sobre como o filme é
musicalmente
maravilhoso – e cada música tem a sua identidade, o seu estilo, mas todos
trazendo aquela atmosfera latina que é o que o filme se propõe a fazer: ouvimos
essa música e nos sentimos parte desse bairro, dessas vidas, dessa comunidade
latina! Gosto como as músicas de Usnavi apresentam um quê mais voltado ao rap
(que é o que Lin-Manuel Miranda volta a utilizar em abundância quando compõe
“Hamilton”), mas como isso não é
predominante no musical, que consegue caminhar por vários gêneros, e eu acho
que um dos ápices musicais do filme está em
“Carnaval
del Barrio”, porque é tão intensa a maneira como eles se colocam à frente,
como eles trazem suas bandeiras, como eles reafirmam sua identidade e o orgulho
de ser quem são, e a música consegue intensificar isso lindamente.
Visualmente,
o filme é impecável… além de cenários e figurinos perfeitos para representar o
Washington Heights e a comunidade latina que vive no bairro, o filme nos
surpreende com efeitos impressionantes em cenas como
“When the Sun Goes Down”, mas o que precisa ser elogiado longamente
quando falamos de
“In the Heights”
são os números musicais e as coreografias incríveis que o filme apresenta. São
vários números musicais que envolvem um número grande de bailarinos, dançando
em uma sincronicidade fascinante, e isso torna o filme grandioso, complexo,
belo… eu assisto a números musicais como o próprio
“In the Heights” de boca aberta, aplaudindo a perfeição atingida
através de muito ensaio.
“96,000”,
por exemplo, foi gravado ao longo de dois dias (não sei quanto tempo de ensaio
antes disso), e contou com 500 figurantes.
QUINHENTOS
FIGURANTES!
Além de
adorar as músicas, as coreografias, os cenários e tudo o que o filme tem a
oferecer, os personagens são carismáticos, e nos apaixonamos por cada um deles…
Usnavi tem o
sueñito de retornar à
sua República Dominicana, por exemplo, e abrir o negócio com o qual o pai
sempre sonhou, mas Sonny, o seu primo mais novo por quem ele, de certa forma, é
responsável, não tem o mesmo sonho que ele – ele não tem memórias da ilha, ele
não tem um lugar para o qual “quer voltar”; Nova York sempre foi sua casa, ele
quer continuar ali, quer fazer faculdade, quer ser alguém como Nina…
o problema é que Sonny não é um imigrante
legalizado, e esse é um tema que o filme trata rapidamente. Nina, por sua
vez, é a garota que supostamente “conseguiu sair de Washington Heights”, foi
para Stanford, mas agora ela está retornando, e tentando entender
onde se sente em casa.
Outras
personagens de quem gosto bastante são Daniela e Vanessa. Daniela é a dona de
um salão de beleza que, infelizmente, está se mudando para outro bairro porque
o constante aumento do aluguel não a permite mais continuar ali, e ela é uma
mulher forte, determinada, cheia de vida, de momentos excelentes. Vanessa, por
sua vez, é uma das funcionárias do salão de beleza, mas ela não quer passar o resto
da vida pintando unhas, e eu adoro vê-la sendo criativa ao desenhar roupas,
usando as coisas que estão à sua volta e que significam algo para ela, e ela
sonha com o dia em que terá seu estúdio e em que poderá, quem sabe, vender as
peças que cria. O filme ainda tem romances bonitos embalados por muita música,
como Nina e Benny, que são extremamente fofos e apaixonados, ou Vanessa e
Usnavi, que acabam sendo divertidos…
Usnavi passa o filme todo apaixonado por
ela… e é hilário.
E, é claro,
a Abuela Claudia… a abuela é uma figura carinhosa e respeitada por toda a
comunidade, e por isso mesmo é extremamente doloroso assistir à sua morte
graças ao apagão que toma conta de Washington Heights e dura alguns dias.
Claudia acaba morrendo em uma mistura de estresse e calor, mas ela tem uma cena
lindíssima antes de morrer, cantando
“Paciencia
y Fe”, que era o que ela costumava dizer. A cena é uma das sequências mais
bonitas do filme, com Claudia se lembrando de Cuba, dos motivos que a fizeram
se mudar, como a falta de emprego e comida, e de tudo o que ela sofreu em Nova
York, tendo que aprender inglês, sofrendo preconceito… visualmente, estamos em
uma estação de trem de Nova York, e o resultado é impressionante, de fato! Com
a morte de Claudia, temos um dos momentos mais tristes e emocionantes do filme
com
“Alabanza”.
Um momento
fortíssimo.
Terminamos o
filme com a sensação de que poderíamos passar muito mais tempo em Washington
Heights, muito mais tempo ao lado de todos esses personagens incríveis, ouvindo
essas músicas, dançando com eles,
chorando
com eles… no fim, quando Usnavi está prestes a partir para a República
Dominicana e está
deixando tudo pronto,
ele acaba mudando de ideia no último segundo, percebendo que, na verdade, o seu
lar, a sua família e o seu
sueñito
estão ali mesmo,
“in the Heights”. É
um momento emocionante quando percebemos que Usnavi esteve ali o tempo todo em
que contava a história para sua filha e outras crianças da comunidade, e que
aquele é o lugar ao qual ele pertence… aquele é o seu lar, no fim das contas.
“In the Heights” é animado e belo,
íntimo e grandioso, uma experiência repleta de cor, de música, de amor… de
vida. Adorei.
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