Uma visita inesperada no hospital.
Eu não sei
nem bem como começar a comentar
“O Outro
Lado da Moeda”, mas eu vou ter que dizer: a edição tem vários problemas. A
começar pela arte duvidosa na capa, seja na aparência do Cascão, por exemplo,
ou na falta de fundo que foi substituído por algo genérico e sem vida (as artes
foram muito criticadas durante a 2ª série da
“Turma da Mônica Jovem”, o que, aliado a um roteiro que deixou
muito a desejar durante edições a fio,
precisou de uma espécie de
reboot
para salvar a publicação), mas eu não acho que em roteiro
“O Outro Lado da Moeda” tenha se saído melhor. A história começa
com Maria Mello muito perto de realizar o seu sonho de se tornar uma modelo
quando ela é chamada para um teste importante, mas então ela acaba sofrendo um
acidente – ela é atropelada por um táxi – e, com a perna quebrada no hospital,
sua chance parece ter sumido.
Eu acho que
a premissa é bacana, e eu acho que a edição traz alguns assuntos que precisam
ser falados. Maria Mello está arrasada e revoltada com o mundo naquela cama de
hospital, xingando o tal motorista que a atropelou e falando que “ele acabou
com a sua vida” ou qualquer coisa assim; em paralelo, a Mônica está se sentindo
triste e desanimada sem nenhum motivo aparente, mas não está querendo falar
sobre isso e o Cebola não estudou para uma prova, colou da Maria Cascuda, a
colocou em problemas com o professor e ainda foi muito mal na prova… são
assuntos pertinentes ao universo adolescente, acredito, e eu acho que a “Turma da Mônica Jovem” tem a
oportunidade de falar sobre coisas que o seu público está vivendo, mas o
roteiro, infelizmente, não é bem
conduzido. Novamente, temos algo excessivamente expositivo que torna a
edição cansativa.
Às vezes, as
edições da
“Turma da Mônica Jovem”
podem ser extremamente didáticas e parecerem uma aula; em outras ocasiões, como
em
“O Outro Lado da Moeda”, ela
parece um longuíssimo sermão, um livro de autoajuda ou uma lição de moral
prolongada por 120 páginas e, bem, talvez não seja para isso que eu estou lendo
a turma – não sei qual é a opinião dos adolescentes a quem a publicação é
destinada em relação a edições como essa, mas, de todo modo, o intuito da
ficção nunca deve ser a “lição de moral”; é aquela coisa de torna-la intrínseca
ao texto, e não o motivo central da trama. Como eu falei, a ideia não é ruim,
mas ela poderia ter sido melhor desenvolvida em uma história que chamasse a
atenção de diferentes públicos, por diferentes motivos, ao mesmo tempo em que
conseguisse passar essa mesma mensagem pretendida.
O “médico”
que aparece no quarto de Maria Mello para falar com ela e com o resto da turma
parece um fã de “Pollyanna” (um exemplo fascinante do que eu estava falando no
parágrafo anterior, porque Eleanor H. Porter conseguiu colocar, em seu livro,
uma espécie de “lição de moral”, conseguiu ensinar o “Jogo do Contente”, sem
perder o encanto de uma ficção bem contada, de personagens e situações bem
construídos… serve tanto como entretenimento quanto como aprendizagem), e ele
fala sobre “o outro lado da moeda”, levando os jovens para uma espécie de
“viagem” na qual eles veem “realidades possíveis” e são convidados a
visualizarem “o outro lado da moeda”. Confesso que quando eles são
“transportados” para outro lugar pela primeira vez eu me empolguei, mas não se anime demais: a edição não engrena dali para a frente.
Eu achei
tudo exagerado e cafona, mas pior: achei forçado e senso comum. Não é uma
edição que empolga ler. Vemos alguns possíveis futuros ou versões diferentes de
acontecimentos; vemos uma versão na qual Maria Mello morre atropelada (!), por
exemplo, ou um futuro no qual Cebola e Cascão estão brigando depois de o Cebola
ter reprovado de ano e não ter se explicado com o professor e inocentado a
Maria Cascuda, e no fim é aquela coisa “feliz” na qual todo mundo admite seus
erros, faz o que é certo ou entende que “poderiam estar muito pior e precisam
estar felizes pelos que têm”. Enfim… como dito, é uma ideia pertinente em uma
execução não tão feliz assim. Pelo menos a prévia da próxima edição conseguiu
me empolgar mais em duas linhas do que essa edição toda em 120 páginas (!) –
só espero não me decepcionar…
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