Turma da Mônica Jovem (2ª Série, Edição Nº 43) – O Outro Lado da Moeda

Uma visita inesperada no hospital.

Eu não sei nem bem como começar a comentar “O Outro Lado da Moeda”, mas eu vou ter que dizer: a edição tem vários problemas. A começar pela arte duvidosa na capa, seja na aparência do Cascão, por exemplo, ou na falta de fundo que foi substituído por algo genérico e sem vida (as artes foram muito criticadas durante a 2ª série da “Turma da Mônica Jovem”, o que, aliado a um roteiro que deixou muito a desejar durante edições a fio, precisou de uma espécie de reboot para salvar a publicação), mas eu não acho que em roteiro “O Outro Lado da Moeda” tenha se saído melhor. A história começa com Maria Mello muito perto de realizar o seu sonho de se tornar uma modelo quando ela é chamada para um teste importante, mas então ela acaba sofrendo um acidente – ela é atropelada por um táxi – e, com a perna quebrada no hospital, sua chance parece ter sumido.

Eu acho que a premissa é bacana, e eu acho que a edição traz alguns assuntos que precisam ser falados. Maria Mello está arrasada e revoltada com o mundo naquela cama de hospital, xingando o tal motorista que a atropelou e falando que “ele acabou com a sua vida” ou qualquer coisa assim; em paralelo, a Mônica está se sentindo triste e desanimada sem nenhum motivo aparente, mas não está querendo falar sobre isso e o Cebola não estudou para uma prova, colou da Maria Cascuda, a colocou em problemas com o professor e ainda foi muito mal na prova… são assuntos pertinentes ao universo adolescente, acredito, e eu acho que a “Turma da Mônica Jovem” tem a oportunidade de falar sobre coisas que o seu público está vivendo, mas o roteiro, infelizmente, não é bem conduzido. Novamente, temos algo excessivamente expositivo que torna a edição cansativa.

Às vezes, as edições da “Turma da Mônica Jovem” podem ser extremamente didáticas e parecerem uma aula; em outras ocasiões, como em “O Outro Lado da Moeda”, ela parece um longuíssimo sermão, um livro de autoajuda ou uma lição de moral prolongada por 120 páginas e, bem, talvez não seja para isso que eu estou lendo a turma – não sei qual é a opinião dos adolescentes a quem a publicação é destinada em relação a edições como essa, mas, de todo modo, o intuito da ficção nunca deve ser a “lição de moral”; é aquela coisa de torna-la intrínseca ao texto, e não o motivo central da trama. Como eu falei, a ideia não é ruim, mas ela poderia ter sido melhor desenvolvida em uma história que chamasse a atenção de diferentes públicos, por diferentes motivos, ao mesmo tempo em que conseguisse passar essa mesma mensagem pretendida.

O “médico” que aparece no quarto de Maria Mello para falar com ela e com o resto da turma parece um fã de “Pollyanna” (um exemplo fascinante do que eu estava falando no parágrafo anterior, porque Eleanor H. Porter conseguiu colocar, em seu livro, uma espécie de “lição de moral”, conseguiu ensinar o “Jogo do Contente”, sem perder o encanto de uma ficção bem contada, de personagens e situações bem construídos… serve tanto como entretenimento quanto como aprendizagem), e ele fala sobre “o outro lado da moeda”, levando os jovens para uma espécie de “viagem” na qual eles veem “realidades possíveis” e são convidados a visualizarem “o outro lado da moeda”. Confesso que quando eles são “transportados” para outro lugar pela primeira vez eu me empolguei, mas não se anime demais: a edição não engrena dali para a frente.

Eu achei tudo exagerado e cafona, mas pior: achei forçado e senso comum. Não é uma edição que empolga ler. Vemos alguns possíveis futuros ou versões diferentes de acontecimentos; vemos uma versão na qual Maria Mello morre atropelada (!), por exemplo, ou um futuro no qual Cebola e Cascão estão brigando depois de o Cebola ter reprovado de ano e não ter se explicado com o professor e inocentado a Maria Cascuda, e no fim é aquela coisa “feliz” na qual todo mundo admite seus erros, faz o que é certo ou entende que “poderiam estar muito pior e precisam estar felizes pelos que têm”. Enfim… como dito, é uma ideia pertinente em uma execução não tão feliz assim. Pelo menos a prévia da próxima edição conseguiu me empolgar mais em duas linhas do que essa edição toda em 120 páginas (!) – só espero não me decepcionar…

 

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