Lost 1x16 – Outlaws

“It will come back around”

Digam o que quiser, mas o Sawyer é um dos personagens mais interessantes de “Lost”. Depois de um primeiro flashback que mostrou quem o Sawyer era antes da queda do avião e a maneira como um trauma de infância ajudava a moldar sua personalidade, “Outlaws”, exibido em 16 de fevereiro de 2005, se aprofunda na história de Sawyer e nos mostra, enfim, por que ele estava na Austrália para pegar o Voo 815. Gosto muito de como a série está lentamente nos mostrando que os personagens estão mais conectados do que originalmente pensamos. Se foi muito legal acompanhar uma aparição surpresa do Sawyer no flashback de Boone, sem nem que eles interagissem ou interferissem um na história do outro de fato, esse episódio traz uma conexão ainda mais forte entre personagens quando Sawyer encontra Christian Shephard em um bar australiano.

O episódio começa intenso, mostrando algo que o primeiro episódio de Sawyer não quis mostrar para segurar até quase o fim aquela reviravolta sobre a carta: que a carta não tinha sido escrita para Sawyer, mas por ele. Agora que sabemos que “Sawyer” era o nome de um golpista que enganou a mãe de Sawyer/James, roubou o dinheiro do pai e foi o responsável pela morte de ambos, de alguma maneira, já podemos ver isso acontecer em flashback – e é traumatizante até para nós, eu imagino para aquela criança embaixo da cama. Não me admira que Sawyer tenha se tornado uma pessoa tão difícil. Vemos a mãe de Sawyer escondê-lo embaixo da cama do quarto enquanto o pai bate violentamente na porta, e apenas ouvimos enquanto o pai mata a mãe antes de entrar no quarto do filho e se matar sentado na cama dele. É uma sequência horrível!

Na ilha, Sawyer começa a ser atormentado por um javali que começa o atacando durante a noite, fazendo uma bagunça na sua tenda e roubando a sua lona de proteção… Sawyer fica obcecado por aquilo, por “vingança”, e ele acaba indo à floresta, acompanhado de Kate, para caçar o javali e “acertar as contas com ele”. Eu acho interessante que o episódio consegue encaixar uma série de elementos importantes para a série, como o Locke se aproximando e contando uma de suas histórias, ou a Kate tentando conseguir de volta a arma que Sawyer guardou para si depois da missão do episódio passado contra Ethan, ou os sussurros que foram oficialmente introduzidos no episódio de Sayid, e que Sawyer também escuta quando está sozinho. Uma das melhores cenas do episódio, de longe, é o Sawyer e a Kate brincando de “Eu Nunca”.

Esses dois funcionam muito bem juntos!

O “Eu Nunca” traz algumas informações, mas é principalmente para gerar uma conexão entre eles, e eu adoro como eles se provocam continuamente, como eles jogam um com o outro, e como eles são, no fundo, parecidos – eles sempre rendem excelentes cenas juntos. O jogo traz informações como o fato de a Kate “fingir” se importar com a arma ou com ter carta branca com Sawyer apenas para passar um tempo com a única pessoa que realmente o entende, ou que ambos mataram um homem. E essa é a principal trama que vemos no flashback do episódio: Sawyer buscando o Sawyer Original, o homem que é o responsável pela morte de sua família. E é essa busca exacerbada que o leva até a Austrália, mas a vingança o cega de um jeito que ele acaba não pensando bem no que está fazendo, e ele acaba sendo usado por um homem para matar um cara inocente que lhe devia dinheiro.

Hibbs o faz acreditar que aquele homem que ele quer morto é o Sawyer tão procurado.

Os flashbacks de Sawyer são extremamente bem conduzidos e entregam muita coisa durante esse episódio. Do trauma de infância ao motivo pelo qual estava na Austrália e seu mais novo trauma, matando um homem inocente, passando por um inusitado encontro com Christian Shepard. Eu estava esperando entender o que Sawyer estava fazendo na delegacia no flashback de Boone e rever aquela cena, mas fui pego de surpresa pela excelente cena do bar, em que ele conversa com Christian – inclusive, Christian fala um pouco sobre ele e sobre o filho (!), diz que o filho é um bom homem e age com o coração, e que ele pensa que o pai o odeia, mas na verdade Christian é grato a ele e se orgulho pelo que ele fez ao denunciá-lo… algo que talvez o Jack merecesse saber, mas quando Sawyer finalmente percebe que Jack é filho do homem que encontrou em um bar na Austrália, ele acaba não dizendo nada.

Enquanto Sawyer resolve seus problemas e abandona a vingança contra o javali, porque, no fim, é apenas um javali, também acompanhamos um pouco da trama de Charlie, e o vemos fechado em si mesmo depois de ter matado Ethan – não por que acha que estava errado, porque ele diz que faria isso de novo, mas porque ainda assim é um estresse pós-traumático. Gosto de como Hurley se preocupa com Charlie e busca a ajuda de Sayid, alguém que talvez possa entendê-lo e conversar com ele, e Sayid tem uma cena breve com Charlie, mas que funciona perfeitamente bem, com o Sayid dizendo a ele que “ele não está sozinho, e que ele não precisa fingir que está”. Por enquanto, parece ter sido o suficiente, e foi reconfortante ver o Charlie voltando a ser o Charlie que amamos enquanto procura Claire para dar um passeio que ele tinha recusado mais cedo…

 

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