“Todo mundo tem direito a uma segunda vida nessa ilha”
Nossa, esse
é de longe um dos meus episódios favoritos na primeira temporada de
“Lost”. Eu adoro a Sun, então foi muito
bom ver o crescimento da personagem adquirindo a sua liberdade durante esse
episódio, mas, paradoxalmente, eu também gosto muito do Jin, e esse episódio e
esses
flashbacks nos permitiram olhar
para o personagem novamente e, quem sabe, repensar algumas conclusões que
tínhamos tirado dele.
“[Lost] in
Translation”, exibido em 23 de fevereiro de 2005, é um dos maiores exemplos
de algo que sempre comentamos a respeito de
“Lost”:
o fato de que a série é sobre
pessoas.
Temos toda a trama da jangada na ilha, temos o Hurley fazendo uma breve
aparição em uma TV no
flashback de
Jin, reforçando a ideia de que, de alguma maneira, todos estão conectados, mas
o episódio, no fim, é sobre o Jin e sobre a Sun.
E eu adoro isso.
Uma coisa
que me chama muito a atenção nesse episódio é a maneira como o
flashback, sendo focado em Jin, consegue
revisitar algumas coisas que vimos do ponto de vista de Sun quando foi a vez
dela de ter um
flashback – e algumas
cenas ganham novos significados interessantes. O episódio é muito bem-escrito e
nos ajuda a montar o quebra-cabeças da relação dos dois, e podem dizer o que
quiserem, mas eu vou falar:
eu gosto do
Jin. Eu detesto que ele fique controlando as roupas que a Sun quer vestir,
por exemplo, e eu acho que essas atitudes são horríveis, mas, de modo geral,
ele não é uma má pessoa… e ele já tinha dado a entender isso quando o Hurley se
aproximou dele há alguns episódios e ele lhe presenteou com um peixe já limpo
no fim. E é muito triste pensar que Sun e Jin tinham tudo para terem sido muito
felizes juntos…
No
flashback de Sun, vimos que ela e Jin se
amavam demais no começo da relação deles, e que se casaram
por amor – aqui, vemos Jin convencendo o pai de Sun a permitir o
casamento deles, mesmo que ele venha de uma família humilde de pescadores (!),
e na verdade foi por culpa do pai de Sun que as coisas deram errado… vemos Jin
se transformando no homem frio e silencioso que ele se tornou graças aos
“trabalhos” que o pai de Sun o manda fazer, mas também revemos aquela cena na
qual ele chega em casa ensanguentado e não quer dizer a Sun o que aconteceu e
de quem é aquele sangue, mas agora sabendo que, na verdade, ele bateu em um
cara e salvou a sua vida ao fazê-lo, porque o outro homem que o pai de Sun
mandara para “entregar-lhe uma mensagem” ia matá-lo.
E eu fiquei angustiado em ver o Jin chorando sozinho no banheiro depois
que a Sun sai.
No presente
da ilha, Jin e Sun se desentendem pela milionésima vez por causa de um biquíni
que ela quer usar, e Michael acaba se intrometendo na briga para defender a
Sun. É um
timing péssimo, porque,
logo em seguida, a balsa que Michael está construindo para sair da ilha aparece
em chamas, e é claro que imediatamente ele acredita ter sido o Jin, e então se
volta contra Sun, perguntando
onde o Jin
está porque “vai quebrar o seu pescoço”. Versado em
“Lost”, eu não acreditei que tivesse sido o Jin mesmo
nem por um segundo, mesmo quando o
episódio mostrou o Jin com as mãos queimadas e até Sun, por um minuto, pensou
que pudesse ter sido ele. Mas Michael está cego pela raiva, e eu vou dizer:
eu sofri com o Jin durante toda essa
história, e eu fiquei com raiva de Michael e de Sawyer. É engraçado como as
pessoas se comportam em situações extremas, não?
Sawyer
captura Jin, o arrasta até a praia e o entrega para Michael, para que ele seja
espancado. Algumas pessoas, como Hurley e Jack, pedem que Michael se acalme,
mas, eventualmente, alguém diz que essa briga é entre eles e Michael espanca
Jin enquanto Jin diz coisas que não entendemos… e isso culmina em uma das
melhores cenas da primeira temporada de
“Lost”:
o momento em que Sun revela para todo mundo
que
ela fala inglês. Ela grita, pedindo que Michael pare e deixe Jin em paz,
porque
não foi ele quem queimou a balsa.
A cena é intensa, eu adoro ver a força de Sun naquele momento, adoro ver as
pessoas reagindo ao fato de que ela sabe falar inglês, e ela revela o que Jin
está dizendo:
a balsa já estava em chamas
quando ele chegou, e suas mãos estão queimadas porque ele tentou apagar o fogo.
Mas nem todos estão dispostos a acreditar nisso…
O episódio
acaba nos pegando de surpresa, eventualmente. Locke tem uma cena excelente
interferindo nesse momento, quando colocam a palavra de Sun em dúvida e ele diz
que ela não está mentindo, porque eles não estão sozinhos naquela ilha e todo
mundo sabe disso… existem pessoas lá dentro que os manipulam, que os
sequestram, que os assassinam, e já é chegado o momento de parar de brigar
entre eles e apontar dedos entre os sobreviventes e começar a se preocupar com
quem quer que esteja lá dentro. Ele é
extremamente racional nesse discurso, e acreditamos nele, embora parte de nós
ainda acredite que
foi o próprio Locke
que colocou fogo na balsa – até uma cena surpreendente mais perto do fim do
episódio em que Locke se senta para jogar gamão com Walt e pergunta para ele
por que ele fez isso. No fim, foi o Walt
quem colocou fogo na balsa do pai!
[Sou mau por
querer que o Michael descubra isso? Seria ótimo!]
Em paralelo,
o episódio também desenvolve um pouquinho da relação que está nascendo entre
Sayid e Shannon há alguns episódios, e como os flertes estão se tornando
cada vez mais óbvios, Sayid vai
conversar com Boone sobre isso, mais para informá-lo e para dizer que não
gostaria que ele ficasse
contra isso,
e Boone fala algumas coisas para ele sobre como Shannon vai fazer com ele o que
faz com todo mundo: usá-lo enquanto ele estiver lhe dando o que ela precisa, e
depois largá-lo, mas “não é nada pessoal”. A amargura de Boone é visível e um
tanto vergonhosa, mas não é mentira o que ele diz, na verdade. E talvez uma
nova Shannon esteja nascendo também graças a Locke (!), quando ela procura por
Boone para gritar com ele ou qualquer coisa assim, e Locke lhe fala sobre como
“todos têm direito a uma segunda vida na ilha, e talvez seja hora de ela
começar a dela”.
“[Lost] in Translation” ainda traz mais
uma cena de Jin e Sun e um último
flashback,
e tudo é amarrado lindamente. No
flashback,
Jin visita o pai na vila de pescadores e fala sobre como não pode conversar com
Sun porque
não pode lhe contar quem é o
pai dela, e seu pai o incentiva a largar o que faz para o Sr. Paik e salvar
seu casamento, “começar de novo com Sun”. No presente, quando Jin está indo
embora das cavernas e não está falando com Sun, ela tem um monólogo pungente no
qual fala sobre como pensou em abandoná-lo e desistiu porque sentiu que ele
ainda a amava e queria poder “começar de novo”.
Então, ela o convida a fazê-lo, mas ele diz que é tarde demais e vai
embora. No fim, acho que vai ser bom para ambos, porque Sun conquista sua
liberdade (a cena da praia no final é LINDA!), e se Jin quiser voltar, vai ser
nos termos dela; Jin, por sua vez, se propõe a ajudar Michael com a nova balsa.
Mas, sinceramente, eu torço para que eles
avancem e, um dia, tenham a chance de “começar de novo”.
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