O avião nigeriano.
Eu preciso
dizer: o Locke é um personagem extremamente bem-escrito. Eu não consigo de fato
gostar dele, porque eu consigo vê-lo
manipulando as pessoas de uma maneira fria, fazendo com que todos confiem nele,
e eu sei que, eventualmente, ele vai ser um dos personagens que mais vão me
fazer passar raiva (se a minha opinião não mudar enquanto eu reassisto, porque
estou pensando nas minhas opiniões de mais de 10 anos atrás), mas que ele é um
personagem bem-escrito, isso eu não posso negar.
“Deus Ex Machina”, exibido em 30 de março de 2005, é o segundo
flashback de John Locke, trazendo uma
parte de sua vida de
antes de ele ficar
na cadeira de rodas, e é uma história bastante dolorosa na qual ele conhece
seus pais biológicos. Em paralelo, na ilha, acompanhamos o que ele encara como
um “teste de fé”, e estamos prestes a perder um personagem querido.
O primeiro
flashback do episódio traz Locke
trabalhando em uma loja de brinquedos quando uma mulher estranha o observa –
uma mulher que descobrimos ser sua mãe, Emily Annabeth Locke. Durante a
história de Locke no passado descobrimos que ele cresceu em um orfanato, por
isso nunca conheceu os pais, mas quando Emily diz que ele “não tem pai” e que
“foi concebido imaculadamente”, ele coloca um detetive para investigar o seu
passado, confirmando que Emily Annabeth é realmente sua mãe (e que ela tem um
grau de esquizofrenia que já lhe rendeu algumas internações), e ele também lhe
dá o endereço de seu pai, Anthony Cooper. Foi com Anthony Cooper, seu pai
biológico, que John Locke aprendeu a caçar, o que nos permite entender uma
parte de suas características na ilha que seu primeiro
flashback não conseguiu explicar.
Durante todo
o tempo que Locke passa com Anthony, ele quer acreditar que encontrou um amigo
em seu pai, mas nós percebemos
desde o
começo que aquilo tudo não passa de uma armação. Anthony Cooper é astuto e
filho da p*ta, e se aproxima do filho, apela para a carência de Locke, e então
“deixa escapar” que ele está fazendo um tratamento e precisa de uma doação de
rim, e é claro que Locke acaba se voluntariando para ser esse doador. Quando
Locke desperta no hospital depois da operação, no entanto, a cama ao lado está
vazia, e Anthony foi embora. É uma breve visita de Emily que nos mostra que, na
verdade, tudo foi um plano de Anthony, que a procurou dizendo onde o Locke
estava para que ela pudesse ir atrás dele e plantasse nele essa vontade de
buscar o pai:
porque sabia que ele só
aceitaria lhe doar o rim assim, se pensasse que tinha sido ideia dele.
Bem, é
revoltante e triste… sofremos por Locke naquele
flashback, mas se Anthony Cooper
usou o próprio filho no passado,
não é mais ou menos a mesma coisa que Locke está fazendo no presente?
Ele está usando o Boone agora e, mais do que um simples rim, isso pode lhe
custar a vida. Locke e Boone estão há semanas visitando a escotilha
diariamente, sempre com um novo plano para abri-la ou para quebrar o vidro e
entrar, mas sempre sem sucesso…
mesmo
quando Locke acredita que não tem como o plano não funcionar. Enquanto
Boone parece estar começando a perder as esperanças, Locke começa a pedir por
um sinal, e temos aquele sonho
macabro
em que ele vê um avião caindo ali por perto e o Boone, todo ensanguentado,
falando sobre a “Theresa caindo escada abaixo, Theresa caindo escada acima”,
enquanto o próprio Locke volta à cadeira de rodas.
Tudo isso,
de um jeito ou de outro, começa a “acontecer” na ilha. Locke acha que a ilha
está “tirando dele” o presente que lhe dera quando as pernas começam a falhar e
ele deixa de senti-las, mas ele acredita que se seguir os sinais que lhe foram
enviados, ele talvez possa “voltar às graças” da ilha ou qualquer coisa assim.
Boone e Locke encontram, então, o corpo de alguém cheio de dinheiro vestido
como um padre e um avião cheio de estátuas recheadas de heroína, o avião do
sonho de Locke, mas ele não entende o que isso quer dizer. Eu me lembro de que,
quando assisti
“Lost” pela primeira
vez, eu sofri muito nessa parte da temporada – o Ian Somerhalder foi um dos
meus primeiros
crushes na vida, e eu
não queria perder de assisti-lo continuamente em
“Lost”. Vendo hoje, eu coloco uma parcela imensa de culpa em Locke:
ele usou o Boone, e ele sabia que isso ia acontecer… afinal de contas, o avião
do sonho estava ali, as pernas falhando aconteceram,
por que ele ignorou a parte do Boone ensanguentado?
Foi
deliberado… ele
deixou que o Boone se
sacrificasse e que o Boone despencasse daquele avião – no fim, aparentemente
para nada. Tudo bem que o Boone poderia ter saído antes de o avião cair,
talvez, se tivesse ouvido o Locke e saído quando ele mandou, mas a verdade é
que o Boone encontrou um rádio que
ainda
funcionava naquele avião, e quando alguém o respondeu do lado de lá,
ninguém pode culpá-lo por não ter saído imediatamente, por ter, primeiro,
tentado usar o rádio para pedir ajuda… inclusive, ele chega a falar que ele é
parte dos sobreviventes do Voo 815. De qualquer maneira, Boone despenca junto
com aquele avião, e sua vida está por um fio. Locke o carrega nos ombros de
volta para as cavernas para pedir a ajuda de Jack, mas o estado de Boone é
crítico (vou sentir falta desse rostinho perfeito), e Locke retorna para a escotilha…
que milagrosamente acende uma luz,
mostrando que talvez haja alguém lá dentro.
Desmond
só na segunda temporada.
Em paralelo,
também acompanhamos uma história bem divertida com o Sawyer, que está sofrendo
diariamente com dores de cabeça fortíssimas, e pede a ajuda de Sun… é assim que
a história chega aos ouvidos de Kate, e é ela quem traz o Jack para a trama,
mesmo que Sawyer
não queira a ajuda de
Jack. Sawyer e Jack passam o episódio todo se provocando, como sempre, mas
dessa vez tem um clima divertido que me arrancou risadas, e o Jack foi bem
maldoso provocando o Sawyer e fazendo perguntas que não tinham nenhuma relação
com a sua condição depois de já ter percebido que ele anda lendo muito e que
provavelmente
só estava precisando de
óculos, mas não posso culpar o Jack – acho que faríamos o mesmo no seu
lugar. O lance dos óculos é bacana, e as piadas que vêm disso, com o Sawyer, o
Jack, a Kate e até o Hurley são
ótimas.
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