Lost 1x19 – Deus Ex Machina

O avião nigeriano.

Eu preciso dizer: o Locke é um personagem extremamente bem-escrito. Eu não consigo de fato gostar dele, porque eu consigo vê-lo manipulando as pessoas de uma maneira fria, fazendo com que todos confiem nele, e eu sei que, eventualmente, ele vai ser um dos personagens que mais vão me fazer passar raiva (se a minha opinião não mudar enquanto eu reassisto, porque estou pensando nas minhas opiniões de mais de 10 anos atrás), mas que ele é um personagem bem-escrito, isso eu não posso negar. “Deus Ex Machina”, exibido em 30 de março de 2005, é o segundo flashback de John Locke, trazendo uma parte de sua vida de antes de ele ficar na cadeira de rodas, e é uma história bastante dolorosa na qual ele conhece seus pais biológicos. Em paralelo, na ilha, acompanhamos o que ele encara como um “teste de fé”, e estamos prestes a perder um personagem querido.

O primeiro flashback do episódio traz Locke trabalhando em uma loja de brinquedos quando uma mulher estranha o observa – uma mulher que descobrimos ser sua mãe, Emily Annabeth Locke. Durante a história de Locke no passado descobrimos que ele cresceu em um orfanato, por isso nunca conheceu os pais, mas quando Emily diz que ele “não tem pai” e que “foi concebido imaculadamente”, ele coloca um detetive para investigar o seu passado, confirmando que Emily Annabeth é realmente sua mãe (e que ela tem um grau de esquizofrenia que já lhe rendeu algumas internações), e ele também lhe dá o endereço de seu pai, Anthony Cooper. Foi com Anthony Cooper, seu pai biológico, que John Locke aprendeu a caçar, o que nos permite entender uma parte de suas características na ilha que seu primeiro flashback não conseguiu explicar.

Durante todo o tempo que Locke passa com Anthony, ele quer acreditar que encontrou um amigo em seu pai, mas nós percebemos desde o começo que aquilo tudo não passa de uma armação. Anthony Cooper é astuto e filho da p*ta, e se aproxima do filho, apela para a carência de Locke, e então “deixa escapar” que ele está fazendo um tratamento e precisa de uma doação de rim, e é claro que Locke acaba se voluntariando para ser esse doador. Quando Locke desperta no hospital depois da operação, no entanto, a cama ao lado está vazia, e Anthony foi embora. É uma breve visita de Emily que nos mostra que, na verdade, tudo foi um plano de Anthony, que a procurou dizendo onde o Locke estava para que ela pudesse ir atrás dele e plantasse nele essa vontade de buscar o pai: porque sabia que ele só aceitaria lhe doar o rim assim, se pensasse que tinha sido ideia dele.

Bem, é revoltante e triste… sofremos por Locke naquele flashback, mas se Anthony Cooper usou o próprio filho no passado, não é mais ou menos a mesma coisa que Locke está fazendo no presente? Ele está usando o Boone agora e, mais do que um simples rim, isso pode lhe custar a vida. Locke e Boone estão há semanas visitando a escotilha diariamente, sempre com um novo plano para abri-la ou para quebrar o vidro e entrar, mas sempre sem sucesso… mesmo quando Locke acredita que não tem como o plano não funcionar. Enquanto Boone parece estar começando a perder as esperanças, Locke começa a pedir por um sinal, e temos aquele sonho macabro em que ele vê um avião caindo ali por perto e o Boone, todo ensanguentado, falando sobre a “Theresa caindo escada abaixo, Theresa caindo escada acima”, enquanto o próprio Locke volta à cadeira de rodas.

Tudo isso, de um jeito ou de outro, começa a “acontecer” na ilha. Locke acha que a ilha está “tirando dele” o presente que lhe dera quando as pernas começam a falhar e ele deixa de senti-las, mas ele acredita que se seguir os sinais que lhe foram enviados, ele talvez possa “voltar às graças” da ilha ou qualquer coisa assim. Boone e Locke encontram, então, o corpo de alguém cheio de dinheiro vestido como um padre e um avião cheio de estátuas recheadas de heroína, o avião do sonho de Locke, mas ele não entende o que isso quer dizer. Eu me lembro de que, quando assisti “Lost” pela primeira vez, eu sofri muito nessa parte da temporada – o Ian Somerhalder foi um dos meus primeiros crushes na vida, e eu não queria perder de assisti-lo continuamente em “Lost”. Vendo hoje, eu coloco uma parcela imensa de culpa em Locke: ele usou o Boone, e ele sabia que isso ia acontecer… afinal de contas, o avião do sonho estava ali, as pernas falhando aconteceram, por que ele ignorou a parte do Boone ensanguentado?

Foi deliberado… ele deixou que o Boone se sacrificasse e que o Boone despencasse daquele avião – no fim, aparentemente para nada. Tudo bem que o Boone poderia ter saído antes de o avião cair, talvez, se tivesse ouvido o Locke e saído quando ele mandou, mas a verdade é que o Boone encontrou um rádio que ainda funcionava naquele avião, e quando alguém o respondeu do lado de lá, ninguém pode culpá-lo por não ter saído imediatamente, por ter, primeiro, tentado usar o rádio para pedir ajuda… inclusive, ele chega a falar que ele é parte dos sobreviventes do Voo 815. De qualquer maneira, Boone despenca junto com aquele avião, e sua vida está por um fio. Locke o carrega nos ombros de volta para as cavernas para pedir a ajuda de Jack, mas o estado de Boone é crítico (vou sentir falta desse rostinho perfeito), e Locke retorna para a escotilha… que milagrosamente acende uma luz, mostrando que talvez haja alguém lá dentro.

Desmond só na segunda temporada.

Em paralelo, também acompanhamos uma história bem divertida com o Sawyer, que está sofrendo diariamente com dores de cabeça fortíssimas, e pede a ajuda de Sun… é assim que a história chega aos ouvidos de Kate, e é ela quem traz o Jack para a trama, mesmo que Sawyer não queira a ajuda de Jack. Sawyer e Jack passam o episódio todo se provocando, como sempre, mas dessa vez tem um clima divertido que me arrancou risadas, e o Jack foi bem maldoso provocando o Sawyer e fazendo perguntas que não tinham nenhuma relação com a sua condição depois de já ter percebido que ele anda lendo muito e que provavelmente só estava precisando de óculos, mas não posso culpar o Jack – acho que faríamos o mesmo no seu lugar. O lance dos óculos é bacana, e as piadas que vêm disso, com o Sawyer, o Jack, a Kate e até o Hurley são ótimas.

 

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