“Eu brigo com ele, mas eu gosto muito dele”
Essa é uma
das minhas histórias favoritas no
“Sítio
do Picapau Amarelo” de 1978, mas também é uma das mais tristes! Seguindo a
história bem próxima do livro original, com adaptação de Benedito Ruy Barbosa,
“A Morte do Visconde” nos diverte, nos
emociona e nos faz chorar, porque o nosso querido sábio Visconde de Sabugosa
não está sendo suficientemente apreciado – e a sua morte vai mostrar a
Pedrinho, Narizinho e Emília
o quanto ele
faz falta no Sítio de Dona Benta. A história começa com a Emília chamando o
Visconde de “Thomas Edison Sabugal”, porque ele está todo empenhado em inventar
alguma coisa nova, mas ao mesmo tempo em que ela o admira por sua criatividade
e inteligência, ela também se irrita porque o Visconde
parece não querer dizer para ela para que serve a sua mais nova
invenção… como sempre, Emília e Visconde acabam se provocando e brigando.
No fundo, a
Emília só está
se sentindo excluída –
enquanto o Visconde se empolga e fica lá “bancando o inventor”, como ela diz,
ele não lhe dá atenção. Amo ver a Emília
bicuda e a Tia Nastácia comentando com a Dona Benta que “ela azucrina e
azucrina o pobre do Visconde, mas quando ele dá o troco, ela fica assim”. Mais
tarde, Pedrinho e Narizinho também entram no laboratório enquanto o Visconde
está trabalhando no seu invento, e eles agem mais ou menos como a Emília,
querendo saber o que ele está inventando, quando que vai ficar pronto e esse
tipo de coisa, e Visconde responde exatamente como respondeu para a Emília:
que ele não sabe e que eles não podem ficar
fazendo tanta pergunta porque ele precisa se concentrar. É estranho ver o
Visconde bravo e sendo um pouco grosseiro com eles, e as crianças acabam saindo
magoadas igual à Emília.
Pedrinho até
diz que “Emília tem razão”.
“Meu trabalho exige concentração! Por favor,
retirem-se”
Como os três
estão
chateados com o Visconde,
Emília dá uma ideia que Pedrinho e Narizinho resolvem adotar:
se o Visconde não dá mais atenção a eles,
eles vão fazer o mesmo e dar um gelo nele. Mas nós sabemos que eles
provavelmente não vão conseguir manter essa decisão quando descobrirem que a
nova invenção do Visconde é uma espécie de binóculo que permite que eles vejam
um “mundo paralelo”, algo que esteve invisível aos humanos até então… quando
termina a invenção, Visconde chega todo animado e feliz, querendo compartilhar
suas descobertas com todo mundo, mas o trio acaba o ignorando e fingindo que
ele nem está ali. Eu fiquei com dó do
Visconde, mas só porque
eu sabia o que
viria a seguir, porque, na verdade, ele bem que mereceu um gelo também –
afinal de contas, é bem coisa de criança ignorar o outro assim!
Dona Benta,
no entanto, não gosta muito de ver as crianças dando um gelo no Visconde (
“Nós não estamos vendo nenhum Visconde, viu,
Dona Benta? Para nós, o Visconde morreu. Tá mortinho da Silva”), e até
decide
não contar história naquela noite.
Quando as crianças se retiram para ir dormir, então, Dona Benta e Tia Nastácia
tentam acalmar e alegrar um Visconde que ficou mexido e triste ao ser ignorado
por Emília, Pedrinho e Narizinho… mas Dona Benta e Tia Nastácia conseguem
alegrá-lo um pouco perguntando sobre a sua invenção, e ele começa a tagarelar
sobre mundos invisíveis… e, curiosas, as crianças acabam voltando como se
nada tivesse acontecido, na maior
cara-de-pau falando com o Visconde como se só agora tivessem se dado conta que
ele estava ali, e Visconde devolve na mesma moeda:
“Eu ouvi alguma coisa ou é impressão minha? Eu acho que deve ter sido o
barulho do vento no telhado”.
AMO O
DEBOCHE.
Visconde,
então, vai dormir dando boa noite apenas à Dona Benta e à Tia Nastácia, e até a
Dona Benta sai rindo com as crianças inconformadas, chamando o Visconde de
“petulante”. Durante a noite, então, o trio tenta invadir o laboratório em
busca da invenção que o Visconde não quis mostrar, e felizmente eles são pegos
no flagra quando o Visconde acende a luz e pergunta se
eles desejam alguma coisa… Visconde diz que vai mostrar o seu
invento, mas com uma condição: ele quer um pagamento, como os fones de ouvido
do Pedrinho –
“É o meu preço. O convívio
com a Emília serviu pra alguma coisa. Ensinou-me a negociar”. AH, ESSES
DIÁLOGOS SÃO MESMO MUITO PERFEITOS. Na manhã seguinte, então, Visconde traz o
seu invento para fora, todo animado para mostrar para eles – juntos, eles podem
ver os duendes que moram nos cogumelos do Sítio.
Ele está tão orgulhoso… eu amo ouvir o
Visconde empolgado, explicando como as coisas funcionam, e ele escolhe Dona
Benta para ser a primeira a usar a sua invenção, mas a Emília acaba se
intrometendo e se colocando na frente, e então diz que está vendo uma porção de
sacizinhos… Emília fica narrando o que vê, mas não deixa ninguém mais pegar o
binóculo dela, e graças ao egoísmo da Emília e da falta de educação e cuidado
de Pedrinho e Narizinho,
eles acabam
derrubando e quebrando a invenção do Visconde. MEU DEUS, MEU CORAÇÃO SE
PARTIU EM PEDAÇOS ASSISTINDO ÀQUILO. É tão triste ver a reação do Visconde, que
um segundo atrás estava orgulhosíssimo e feliz com a sua invenção, e agora ela
está destruída… quase chorei ao vê-lo levando os destroços do seu invento para
o laboratório, sozinho, enquanto as crianças levam uma merecida bronca.
“Por causa dessa briga de vocês, vocês
destruíram o trabalho de um mês do pobre Visconde!”
Visconde
está arrasado e imóvel no laboratório quando Pedrinho e Narizinho entram para
pedir desculpas para ele, e eu acho que o Visconde até os desculpa, mas a sua
dor não diminui – ele está muito triste e em silêncio… depois, a Emília vem, e
eles acabam brigando novamente, porque o Visconde está muito triste e muito
bravo, e a Emília não é lá muito boa em reconhecer os seus erros e pedir
desculpas, então os dois estourados acabam se provocando. Visconde sai bravo, e
Emília diz sozinha o que devia ter dito para ele e não conseguiu:
“Eu só ia dizer que eu sou testemunha de que
o invento dele funcionou… e que eu brigo com ele, mas eu gosto muito dele”.
NÃO TEM COMO NÃO SE EMOCIONAR COM ESSA HISTÓRIA, DE VERDADE. Visconde sai para
caminhar, para espairecer, e acaba na casa do Tio Barnabé, com quem tem uma
conversa interessante…
Tio Barnabé
comenta como o Visconde é um sábio sabugo e eles são
crianças, por isso agem dessa maneira… talvez se eles tivessem
escolhido uma espiga ainda verde e pequena, e não uma madura, podiam ter feito
um Viscondinho criança como eles. Visconde ri e acaba dizendo que “precisa ter
mais paciência”, enquanto Pedrinho, Narizinho e Emília se reúnem no laboratório
dele tentando arrumar o seu invento porque
não
aguentam vê-lo triste desse jeito. O problema, é claro, é que eles não
sabem como consertar o invento, e o Faz-de-Conta não parece estar funcionando.
Me emocionei com o Visconde chegando no momento e soltando:
“Faz-de-Conta que a gente não brigou”. É
tão bonita essa relação deles, no fim das contas, quando as crianças correm
para abraçá-lo e Emília sorri, feliz…
agora,
é hora de o Visconde voltar a se fechar no laboratório e trabalhar.
Dona Benta,
por sua vez, aconselha as crianças a deixá-lo tranquilo por uns dias…
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