Sítio do Picapau Amarelo (1978) – A Morte do Visconde: Parte 3

A morte e o enterro do Visconde.

GENTE, EU NÃO ESTAVA PREPARADO PARA ESSE MOMENTO! É incrível como “A Morte do Visconde”, uma das histórias do “Sítio do Picapau Amarelo” em 1978, pode ser forte e emocionante. A versão de 2001 acabou amenizando a maioria das tramas mais pesadas e sofridas, mas a carga emocional de “A Morte do Visconde” é admirável, porque a história consegue nos entristecer e nos fazer chorar, ao mesmo tempo em que pode nos divertir e ser uma grande declaração de amor ao nosso sabugo de milho favorito… ao lado das crianças, aprendemos a valorizar as pessoas que amamos e que estão ao nosso redor, porque, justamente quando o Visconde de Sabugosa estava prestes a ser esmagado por uma jaca madura, as crianças tinham acabado de destruir dois dos seus inventos e o deixado bastante triste. Imagina a dor dessas crianças?

O primeiro invento eu acho que é mais perdoável – eles estavam afoitos, querendo ver o tal “mundo invisível”, e acabaram se descuidando graças ao egoísmo da Emília, e então estragaram o invento sem querer; era de se imaginar, no entanto, que depois de terem magoado tanto o Visconde e terem visto que ele ficou arrasado, as crianças tivessem aprendido e não fossem fazer exatamente a mesma coisa com o segundo invento, aquele que Visconde estava usando para conversar com as árvores do Sítio de Dona Benta. Mas as crianças não aprenderam, e mais um invento do Visconde se acabou. Bravo e triste, o Visconde decidiu que “nunca mais inventaria nada”, e foi sozinho conversar com a jaqueira – e é ali que um terrível acidente acontece: VISCONDE É ESMAGADO POR UMA JACA. Agora, o Visconde é apenas um boneco de sabugo sem vida.

Eventualmente, as crianças dão pela falta do Visconde e saem para procurá-lo, chamando por ele, e é o Rabicó quem fala alguma coisa sobre “ter encontrado uma jaca bem madurinha debaixo da jaqueira”. Assim, durante a busca pelo Visconde, Pedrinho é o primeiro que chega à jaqueira, E AQUELA É A CENA MAIS TRISTE DA HISTÓRIA INTEIRA. Ainda sem ver o Visconde, o Pedrinho se pergunta se ele estava com tanta raiva deles que decidiu ir embora, mas então ele enxerga o sabugo sem vida, esmagado e todo melecado de jaca, e aquilo tudo é de partir o coração… aos poucos, o Pedrinho vai tomando consciência do que está acontecendo e percebe que o Visconde está exatamente como no dia em que ele o fez: ele virou um boneco de novo. Aquela cena toda me fez chorar, e Júlio César arrebentou dando ao momento toda a carga emotiva que ele merecia.

Chorando, Pedrinho pergunta ao Visconde se ele está morto enquanto o abraça, e então ele chama pela Emília, pela Narizinho e pela vovó, com gritos desesperados… é uma cena bem forte e de partir o coração. Emília e Narizinho, que estavam por perto na busca pelo Visconde, são as primeiras a chegar, e é perfeito como tudo acontece, porque elas não falam nada, apenas acolhem o Pedrinho; Emília se aproxima dele e deita em seu ombro, enquanto a Narizinho acaricia o cabelo do primo, e Pedrinho está destruído. A emoção que se transmite em uma cena tão singela e tão sincera. Pedrinho sai carregando o Visconde solenemente de volta para casa, enquanto Emília e Narizinho o seguem, abraçadas, e eu não tenho palavras o suficiente para descrever a PERFEIÇÃO de toda essa sequência… todo o sofrimento é palpável, o tom de despedida também.

Emília até diz a Dona Benta: “Sabe, vovó? Eu tinha duas pernas, dois braços, dois olhos, dois ouvidos, um nariz… e um Visconde”.

Todos sofrem a morte do sábio sabugo – Dona Benta e Tia Nastácia estão arrasadas, tanto pelo Visconde quanto pelo visível sofrimento das crianças; Pedrinho está desanimado e em silêncio; sozinha, Narizinho também chora com lágrimas escorrendo. Emília é quem fala sobre enterrar esse Visconde, porque embora ele pareça um boneco de sabugo, ele não merece ir para o lixo, não depois de tudo o que eles viveram juntos – ele merece um enterro digno. Emília até diz a Pedrinho que ela tem uma caixinha que eles podem usar para colocar o Visconde dentro, e diz que “ela não quer nada em troca”. A sequência do enterro é outra tristíssima e solene, e as crianças continuam sofrendo… o Pedrinho não quer nem comer, e visita o túmulo que prepararam para o Visconde com a Narizinho, para levar para ele algumas flores e plantá-las por lá.

Eventualmente, então, surge a ideia de fazer um novo Visconde… Dona Benta acha que vai ser bom para distrair a cabeça das crianças, e aconselha o Pedrinho a ir ao milharal e escolher um novo sabugo de milho. Emília dá a ideia de fazer o novo Visconde de um sabugo bem novinho, para que ele saia mais alegre e mais divertido; Pedrinho diz que prefere que ele seja sábio, como o outro, e Emília argumenta dizendo que ele pode ser sábio também, é só deixar ele embolorando na biblioteca de Dona Benta por uns dias, como aconteceu com o outro… Narizinho acha que Emília está certa, e então fica decidido: eles farão um VISCONDE DE SABUGUINHO. Esse é o nome oficial do Novo Visconde, mas parece que todo mundo vai acabar o chamando de “Viscondinho”. Eles querem que ele seja sábio como o outro, mas mais novinho e mais divertido.

Assim, Pedrinho escolhe o novo sabugo e as crianças começam a fazer o Viscondinho – quando eles terminam, eles resolvem fazer como da outra vez e “esquecê-lo” na biblioteca, mas Emília diz que “da outra vez o Pedrinho o esqueceu mesmo, dessa vez é só de faz-de-conta, então pode não dar certo”, mas Pedrinho não quer pensar nisso. Ele diz que vai dar certo: ele só precisa ficar um pouco ali na estante da vovó, embolorar um pouco, ler todos os livros da biblioteca e então o Sítio do Picapau Amarelo terá um novo sábio. Como o Viscondinho parece demorar para reagir e ganhar vida, Emília chega a ameaçá-lo quando eles estão sozinhos, dizendo que “se amanhã ele não estiver vivinho e sabido igual ao ‘pai’, então ela vai jogá-lo para a Vaca Mocha”. Então, naquela noite, o “Novo Visconde” desperta, diferente do Visconde que conhecíamos e amávamos.

Vamos ver o que ele tem para oferecer!

 

Para mais postagens sobre o Sítio do Picapau Amarelo, clique aqui.

Ou visite nossa página: Cantinho de Luz

 

Comentários