“Por que será que esse Visconde saiu tão diferente do
outro?”
Com a morte
do Visconde de Sabugosa, uma tristeza muito grande tomou conta do Sítio do
Picapau Amarelo, e é por isso que Dona Benta aconselhou o Pedrinho a
fazer um novo Visconde. Dessa vez, no
entanto, as crianças resolveram inovar: por que não escolher uma espiga verde e
pequena para fazer o novo boneco e, dessa vez, ganharem um “Viscondinho”, um
que ainda fosse criança e gostasse de brincar com eles?
Eles não esperavam, no entanto, que o tal Viscondinho de Sabugosa fosse
uma criança tão arteira. Quando o boneco ganha vida, o Saci é o primeiro a
vê-lo, mas não tarda para que as crianças o vejam na cozinha, e
elas estão tão felizes… afinal de
contas, o Sítio de Dona Benta volta a ter um boneco de sabugo que é gente.
Felizes, todos começam a se apresentar, Pedrinho conta que foi ele quem o fez,
Emília apresenta os demais…
Mas ele é
claramente diferente do primeiro Visconde.
Saci até diz
que “ele parece um Saci”.
Milhares de
confusões começam a acontecer no Sítio com a chegada do Viscondinho – ele até
tomou leite direto da Vaca Mocha depois de ver os bezerrinhos fazerem isso,
porque estava com cede… e ele não leu nenhum livro da biblioteca no tempo em
que ficou lá, porque, afinal de contas,
ele
é apenas uma criança e ainda nem sabe ler. As crianças não se incomodam, a
princípio, e dizem que ele ainda vai ler muito para ficar sábio como o outro
Visconde, e é aí que o Viscondinho pergunta pela primeira vez:
“Pra quê?” Assim como crianças que
perguntam “Por quê?” o dia todo, o Viscondinho parece não tirar essa pergunta
da boca…
até o ponto de ser irritante.
Mas, como Dona Benta diz, ele é uma criança – e não é isso o que eles queriam?
Emília corre para brincar com o Viscondinho, então, mas Pedrinho e Narizinho
não conseguem evitar certa decepção…
Não é o Visconde deles, mas eles vão dar uma
chance.
O
Viscondinho é uma criança em todos os sentidos, e às vezes parece um pouco com
a Emília: birrento e teimoso. Ele se recusa a descer da charretinha da Emília,
por exemplo, e não tarda para que os dois briguem pela primeira vez, tipo briga
de criança – mas o Viscondinho
não cansa,
e não para de fazer traquinagens, aquele pestinha atrevido! Percebemos que não
vai tardar muito para que todos se cansem das suas travessuras e da sua
constante falta de respeito; até a Emília está incomodada e decide ensiná-lo
bons modos e respeito, o que a Narizinho acha o cúmulo da comédia. Entre as
artes do Viscondinho estão dar nós nas roupas do Malasartes e do Zé Carneiro e
colocar um monte de pimenta e sal no jantar que a Tia Nastácia tinha preparado
com tanto cuidado…
e foi mais ou menos
naquele momento em que eu comecei a me cansar dele.
As crianças
tentam conversar com ele, tentam ensiná-lo o que pode e o que não pode fazer, e
ele pergunta uma série de
“Por quê?”,
mas acaba indo pedir desculpas a Tia Nastácia, mesmo que não entenda bem o que
isso significa. Ele acaba pedindo que “Tia Nastácia lhe dê uma desculpa”, e ela
sorri, toda boba, e dá um beijinho no rosto dele, o que ele acha um máximo, e
sai por aí distribuindo “desculpas” para todo mundo. Mas o Viscondinho não tem
jeito… o Saci o apresenta até para a Cuca, e nem mesmo a jacaroa pode com ele.
Ela fica
furiosa quando percebe que
ele não tem medo dela (e fica pergunta
por
que deveria ter), e eventualmente o Viscondinho acaba a irritando, dizendo
que ela é engraçada ou a atormentando puxando o seu rabo e rindo… quando o
Viscondinho volta para o Sítio, ele deixa a Cuca cansada, mas muito brava…
“Eu fui brincar com a Cuca!”, ele conta,
ao voltar para o Sítio.
Enquanto o
pessoal do Sítio está se perguntando
por
que esse Visconde saiu tão diferente do outro, o Rabicó percebe que tem um
pezinho de milho nascendo lá onde as crianças enterraram o primeiro Visconde, e
a jaqueira tenta falar com o Rabicó para incentivá-lo a subir uma cerca em volta
do pezinho, para protegê-lo.
Quando o
Rabicó faz isso, a jaqueira até o recompensa com uma jaca. Mais tarde,
quando o Pedrinho vai visitar o túmulo do Visconde de Sabugosa, ele se
surpreende com a cerca, mas logo entende que foi colocada ali para proteger o
pezinho que está nascendo, e ele não pode deixar de ficar muito feliz:
“Ué… isso significa que o Visconde brotou!”
Ele corre de volta para o Sítio para contar para Dona Benta, e Dona Benta tem
até mesmo uma teoria de como isso aconteceu:
a raiz da jaqueira deve ter rompido a caixa em que o Visconde foi
enterrado, por isso ele brotou!
Muito fofo
da jaqueira, tentando consertar seu erro!
Mas Dona
Benta também não pode deixar de comentar que talvez eles estejam imaginando
coisas, e talvez seja qualquer milho que tenha caído ali – não é
necessariamente um pezinho que brotou do antigo Visconde. Pedrinho, no entanto,
tem certeza de que aquele pé é fruto de um dos milhos nos botões do Visconde
antigo, e por isso
talvez ele possa
trazer o velho Visconde de volta à vida… ele só precisa esperar o pé
crescer, e então ele vai pegar uma nova espiga de milho e fazer um Visconde
igualzinho ao outro – e, dessa vez, vai
ser mesmo idêntico, porque vai ser filho do Visconde original, de alguma
maneira. Agora, Pedrinho mal consegue dar atenção para o Viscondinho e para as
milhares de artes que ele continua aprontando pelo Sítio de Dona Benta, porque
ele só consegue pensar no pé que ele está esperando crescer e em ter seu velho
amigo de volta…
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