Vale o Piloto? – Foundation 1x01 – The Emperor’s Peace

“Why stop at one world? Why not save the galaxy?”

QUE ESTREIA FENOMENAL! Baseado no clássico de ficção científica por Isaac Asimov, “Foundation”, a nova série da Apple TV+, é um épico espacial de tirar o fôlego. O primeiro episódio, de 69 minutos, faz um excelente trabalho apresentando alguns cenários, personagens e elementos do universo que acompanharemos, e eu confesso que fiquei surpreso e extremamente feliz com a qualidade da produção. É comum que uma série de TV tenha um orçamento menor do que o de um filme, e eu não pesquisei o orçamento de “Foundation”, mas certamente a série tem qualidade cinematográfica: visualmente, seus cenários e efeitos especiais poderiam estar em uma sala de cinema como parte de um filme de “Star Trek”, por exemplo. Visuais incríveis, boas atuações e a sensação de que existe muito a explorar: eu já me apaixonei por “Foundation”.

A série começa em Terminus, um planeta afastado onde o Cofre gera fascínio e curiosidade de todos aqueles que tentam e falham em se aproximar dele – todos menos uma pessoa: Salvor Hardin. “The Emperor’s Peace”, então, nos leva 35 anos no passado, para conhecermos “os salvadores que lutaram pela humanidade”… pessoas como Hari Seldon – matemático, mártir, assassino. Terminus só retornará no fim do episódio, e conhecemos, nessa estreia, dois outros planetas: Trantor, o planeta bem desenvolvido que é a base do Império, responsável por, supostamente, manter a paz na galáxia, onde Hari Seldon mora e onde ele está prestes a ser preso por “alta traição”; e Synax, um planeta religioso em que a matemática e qualquer outra ciência é proibida, do qual Gaal Dornick está fugindo antes de ser presa por ser diferente de todos.

Com a já comentada produção impecável de cinema (amo os detalhes como os animais de Terminus, os animais de Synax embaixo da água durante a partida de Gaal, os efeitos do salto que Synax faz até Trantor) que torna tudo excepcionalmente encantador, acompanhamos Gaal partindo de seu planeta natal até um futuro ao lado de um grande cientista em um planeta no qual “a curiosidade não é crime” – teoricamente. Gaal é uma personagem interessante e cheia de mistérios, porque ela é de Synax, mas não se comporta como as pessoas de Synax, por exemplo, e é capaz de acordar durante o salto, algo que quase ninguém é capaz de fazer, a não ser que seja um “Espacial”, como aquelas que estavam cuidando dos humanos durante a viagem até Trantor… é claro, no entanto, que ela não quer fazer alarde sobre ela ter acordado durante a viagem.

Ela já se sente diferente o suficiente

Quando ela está chegando a Trantor, conhecemos um pouco mais do planeta e da descida de 14 horas (!) até a superfície e todos os 100 níveis subterrâneos nos quais as pessoas daquele planeta vivem e trabalham, sob a “paz” proporcionada pelos Imperadores – naturalmente, não acreditamos na tal “benevolência” dos Imperadores nem por um segundo, porque tudo é falado demais, o que quer dizer que é fachada… e o episódio faz questão de deixar isso bem claro com a maneira como um dos Imperadores mata o Mestre Orlio, alguém que trabalhava para ele há mais de 60 anos, depois de ter encontrado em seu quarto um livro escrito por Hari Seldon. Aparentemente, Hari Seldon está dizendo coisas que o Imperador não quer que ninguém fique sabendo, enquanto ele mantém a sua fachada de alguém que é “intermediário da paz” ou algo assim, como com Anacreon e Téspis.

O mundo de “Foundation” é muito bem construído, certamente, e percebemos que tudo ali é repleto de história e possibilidade, o que me encanta… os Imperadores, por sinal, são uma noção bizarra e curiosíssima, porque eles são chamados de Dawn (“Alvorada”, uma criança), Day (“Dia”, um adulto) e Dusk (“Crepúsculo”, um velho) e são clones de Cleon I, decantados em idades diferentes. Os três, portanto, são parte da Dinastia Genética, que por séculos se sucede em versões criança/adolescente, adulta e velha do Cleon original, o Imperador que começou o Império. Atualmente, o Império está com Cleon XI, XII e XIII, três seres macabros e cruéis que aprendemos a detestar desde o primeiríssimo episódio. E é justamente o Império que Hari Seldon está disposto a confrontar com uma previsão baseada na ciência que ele estuda: a psico-história.

Quem recebe Gaal em Trantor é Raych, que trabalha com Hari – e eu concordo plenamente com a Gaal reagindo a ele e a como ele é lindo. Gaal, no entanto, não tem tempo de curtir seu novo lar com tranquilidade como esperava, porque é pega de surpresa pela notícia de que Hari será preso no dia seguinte e, possivelmente, ela também. Isso porque a psico-história, que é uma ciência numérica capaz de “prever” o comportamento de grandes civilizações, prevê que Trantor será destruído, que o Império cairá e o Imperador não quer que Hari Seldon fale sobre isso à população… Gaal, por ora, estará segura, no entanto, porque o Império virá atrás dela para que ela possa entender os cálculos de Hari e confirmar que ele está errado… quer dizer, se ele estivesse errado, mas ele não está. O episódio caminha depressa, Hari Seldon é preso, Gaal é procurada por Lors Avakim, e uma espécie de julgamento começa.

Toda a sequência é extremamente TENSA, e eu adoro como Hari é irredutível: é a ciência, são os números que estão dizendo que o Império cairá, não tem nada a ver com ele, quer eles gostem disso ou não. Segundo o que Hari Seldon diz durante o “julgamento”, para que todos os moradores de Trantor escutem, é que o Império cairá e então um período de barbárie que durará 30 mil anos se seguirá, com guerras intermináveis por toda a galáxia… a pergunta feita a ele, então, é bastante pertinente: se isso é inevitável, o que ele sugere? Aí, chegamos no ponto a que Hari Seldon queria chegar: ele tem uma maneira de atenuar a queda, de encurtar o período de trevas, de fazer com que ele dure apenas mil anos… quando Gaal Dornick confirma que seus estudos ESTÃO CORRETOS, Hari Seldon fala pela primeira vez sobre o seu plano – sobre a FUNDAÇÃO!

 

“The ancients are rumored to have built a repository for the world's wisdom. According to myth, it burned down. I'm proposing something less centralized. An Encyclopedia Galactica.  After the fall, as civilization climbs from the ashes, the coming generations will have something to build upon… a Foundation. They won't have to reinvent the wheel. The knowledge will already exist. But it isn't just knowledge we'd be saving, but humanity's story. Our story”

 

Eu gosto de ver o Imperador se desesperar, porque ele queria que fosse mentira o que Hari e Gaal estão dizendo, mas, no fundo, ele sabe que é verdade… e se ele tem alguma dúvida, os primeiros ataques ao Império começam quando a torre que leva da estação à superfície do planeta é destruída, matando milhões de pessoas. Quando o Imperador manda que matem Hari e Gaal e “acabem com isso de uma vez”, Gaal joga depressa, dizendo que, se matarem Hari, a destruição será acelerada, porque ele é a esperança, e se a esperança morre, o caos reina. Curioso e desafiador, então, o Imperador pergunta se não existe uma maneira de “adiar” as trevas, já que existe uma maneira de adiantá-las, e Hari responde prontamente que sim, dizendo que eles podem adiar as trevas por alguns séculos: acabando com a Dinastia Genética… acabando com os clones.

“Mudanças são assustadoras. Ainda mais para quem está no poder”.

No fim, Hari Seldon consegue exatamente o que ele queria desde o começo: a autorização para começar a construir sua Fundação. O Imperador sentencia Hari e Gaal a um exílio, embora não chame dessa maneira, os mandando para um planeta distante: Terminus, um planeta a 50 mil anos-luz de Trantor, ao qual eles terão que chegar sem a tecnologia de salto, em uma viagem que deve demorar mais de 800 dias… mas um lugar no qual, segundo Hari, eles terão o “apoio” do Império, mas não os olhos deles sobre eles, e é exatamente o que ele quer: ali, eles podem construir a Fundação. “The Emperor’s Peace” é, certamente, uma introdução brilhante, buscando muita inspiração em “Prelúdio à Fundação”, livro de Isaac Asimov de 1988, publicado 35 anos depois do último livro da “Trilogia da Fundação”. O universo é amplo, essa série promete!

 

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