DIANA The Musical
“The people
who will change the world are not who you think will change the world”
É UM MUSICAL
LEGAL – mas também devo dizer que eu terminei o musical bastante
melancólico, porque a história de Diana, a Princesa de Gales, é bastante triste
e bonita, e me parece tão óbvio que ela foi assassinada que isso me deixa
profundamente incomodado, com uma sensação ruim que não sei bem como explicar. “DIANA The Musical”, no entanto, é um
espetáculo que deve ser uma delícia de assistir ao vivo, com um elenco talentoso e músicas contagiantes (e
de um estilo diferente do que eu esperava, mas que faz todo sentido e combina
com quem foi Diana), algumas das quais continuam tocando na minha cabeça, como
a marcante sequência de abertura ao som de “Underestimated”
– “They minimize your thoughts / They
maximize your flaws / The trouble you can cause / When you’re underestimated”
–, na qual Jeanna de Waal dá um show e já nos emociona.
“DIANA The Musical”, musical baseado não
apenas no que se sabia sobre a Princesa Diana enquanto ela estava viva e quando
as pessoas acreditavam em “contos de fadas”, mas que mostra, também, todo o
sofrimento de um casamento infeliz e pressões da realeza britânica quando Diana
aceita “o pior emprego do mundo”, foi escrito por David Bryan e Joe DiPietro, e
estreou nos palcos em 2019. No mês previsto para a sua estreia na Broadway, em
2020, os teatros foram fechados por causa da pandemia de Covid-19 e o musical ainda não fez sua estreia na Broadway, o
que nos proporcionou algo inusitado e inédito: o lançamento em uma plataforma de streaming do musical como estará nos
palcos em breve. Acredito que isso torna “DIANA The Musical” extremamente importante, porque ele pode ser o
precursor de novos lançamentos de musicais filmados.
Será que, no
futuro, teremos mais?
Diana
Spencer começa o musical aos 19 anos, uma garota ingênua, que trabalhava em uma
escola, e que é escolhida para se casar
com o Príncipe Charles – inocentemente, no entanto, ela acredita no amor do
príncipe, acredita em contos de fadas e que “príncipes não mentem”, mas ela
acaba descobrindo, eventualmente, que foi escolhida para o pior trabalho do mundo, e que sua vida será cheia de
sofrimentos. Ainda assim, enquanto acompanhamos a tristeza e as súplicas de
Diana, sua depressão e suas tentativas de suicídio, também acompanhamos uma
mulher forte e que quer fazer a diferença tentando sair do meio disso tudo… uma
mulher que está disposta a mudar o mundo
à sua maneira. E é o que ela faz. Diana foi extremamente importante para o seu
povo, amada por eles e, eventualmente, condenada pela Coroa por não se encaixar no que eles projetaram para
ela.
“Os problemas que você pode causar quando é
subestimada”.
O musical
começa mais leve e apresenta uma Diana tão ingênua e sonhadora que ela é quase boba, e ela demorou a me cativar nesse
início – o que não quer dizer que ela não nos entregue cenas incríveis como a
divertida “This is How You People Dance”,
quando ela acompanha o Príncipe Charles a um concerto clássico e fica entediada
com o violoncelista e o que chama de “música de caras brancos e mortos”,
enquanto, em sua imaginação, ela está em um show de rock, com direito a várias
referências a artistas como Prince e Queen – duas escolhas fenomenais, por sinal, por causa de seus nomes que remetem
justamente à realeza, que é o ambiente do musical. A cena é incrível e esses
gostos musicais de Diana me fazem entender a escolha criativa para as composições
de “DIANA The Musical”, que nos
remete muito mais a um show de rock do que a algo mais austero e clássico. Não
é, preciso dizer, meu musical favorito nesse quesito, porque acho outros
musicais como “In the Heights” ou “Rent” mais complexos, musicalmente, com
“Diana” tendo músicas que parecem
mais comerciais, mas amei várias
delas de qualquer maneira.
Durante todo
o primeiro ato, vemos a “ascensão” de Diana rumo não apenas aos holofotes, mas
também ao coração de seu povo, e é muito interessante como ela ganha atenção
durante “Snap, Click”, fotografada
sem parar e “perseguida” nas ruas por ter sido vista ao lado do Príncipe
Charles. Quando chega o momento do casamento, Diana já sabe que Charles não a
ama e que tem uma amante, Camilla, mas já
é tarde demais para desistir e fugir daquilo tudo, então ela segue em
frente, rumo a um casamento completamente infeliz no qual ela passa anos
implorando pelo amor de Charles, um amor que ele não está (e nunca esteve)
disposto a dar. É doloroso ouvir Diana falando, em algum momento do musical,
que Charles a amou brevemente quando ela deu à luz ao primeiro herdeiro:
William. Na época do segundo já, Harry, ele queria uma menina…
Diana chama
a atenção. Ela é carismática, natural, e mesmo sem os anos de treinamento que a família real tem, ela
consegue conquistar o povo na primeira vez em que sai em público, durante “The World Fell in Love”. A Princesa
Diana conseguiu a façanha de ser adorada não apenas pelas pessoas do Reino
Unido, mas pelo mundo todo, e eu acho
que esse é um dos primeiros motivos pelos quais Charles era tão distante e
chato com ela: rancor. Enquanto todos
se unem para falar sobre Diana (“She
Moves in the Most Modern Ways”), Diana está se tornando o centro das
atenções, e eu acho um máximo ver o povo buscando Diana ao invés de buscar
Charles, e um momento do musical, próximo ao fim do primeiro ato, a mostra à
frente enquanto Charles está atrás dela, como um acompanhante – algo que eles
devem achar humilhante para um membro
da família real.
Com o
casamento infeliz e os constantes encontros de Charles com Camilla, Diana toma
uma decisão ao fim do primeiro ato, nos entregando um encerramento de primeiro
ato perfeito – um momento que eu acho importantíssimo para qualquer musical: o fim do primeiro ato às vezes deixa uma
impressão mais forte do que a própria conclusão do musical em si. “Pretty, Pretty Girl” é uma das minhas
músicas favoritas no musical, e eu adoro ver uma Diana que está decidindo ser ela mesma, sem usar as roupas
impostas a ela, por exemplo, e resolvendo que ela pode usar a imprensa a seu
favor, já que eles a usam há anos, de qualquer maneira… enquanto a Coroa se
gaba justamente por ser “diferente” do seu povo, Diana gosta que eles sintam
que ela é como eles, e quer se aproximar, quer ajudá-los… outra atitude
condenada por Charles e Elizabeth: ela
está agindo como uma “plebeia”.
Diana não se
importa – Diana faz o que lhe dá na telha dali em diante, dentro do possível. O
segundo ato traz uma Princesa Diana mais decidida, corajosa e protagonista de
“escândalos”, que só são “escândalos” porque vão contra o que a família real
queria que ela fizesse, porque não é nada condenável nem nada… infelizmente,
parece-me que Diana sofreu até o fim da sua vida esperando que, em algum
momento, o Príncipe Charles abandonasse Camilla e dedicasse seu amor a ela, e
as cenas de Diana implorando por esse amor me causaram um desconforto (“Just Dance”
chega a ser difícil de assistir, sério), mas eu gosto de como ela também teve o
seu amante (“Here Comes James Hewitt”),
e de como tentou fazer a diferença
ajudando as pessoas com a sua presença e a sua influência – cada vez, é claro,
incomodando mais a tal da realeza britânica.
Achei
INCRÍVEL como o segundo ato mostrou Diana visitando as pessoas doentes do país,
usando a sua influência e o fato de ela ser amada por todos para ajudá-los – Diana
esteve presente, por exemplo, em 1987, em uma inauguração de uma unidade para
tratamento de AIDS, e protagonizou, talvez, um dos apertos de mão mais famosos
e importantes da história. Uma figura tão pública e respeitada como Diana
ajudou a quebrar estigmas ao se recusar a usar luvas para apertar a mão de um
paciente, ajudando a “educar” o povo a respeito de como não acontecia o contágio, em uma época em que as pessoas que
sofriam de AIDS eram tratadas com ignorância e preconceito. E foi lindo como o musical conseguiu recriar
a cena do célebre aperto de mão, inclusive com o flash saindo do ângulo no qual
a foto original foi tirada. A cena é lindíssima e emocionante, e eu acho
que é o momento que nos mostra, de uma vez por todas, por que Diana era amada: não
tinha como não amá-la.
A maneira
como ela mostrava se importar, como fez todos se sentirem importantes, como
significou tanto na luta contra o preconceito.
Percebendo
todo o estrago que segredos e mentiras podem trazer, Diana faz algo inesperado
– e resolve contar tudo. Mas o faz de
maneira anônima. Durante outra cena maravilhosa do musical, “The Words Came Pouring Out”, ela
telefona a um jornalista e escritor que está escrevendo um livro sobre ela, e
se voluntaria para “dar uma entrevista”, e é um livro “escandaloso” trazendo
uma série de informações sobre a família real, como o fato de o Príncipe
Charles ter um caso de anos com Camilla… isso não sai exatamente como o planejado,
no entanto, quando o Príncipe Charles resolve ir à TV e assumir o seu caso com
Camilla, e Diana ousa ao não deixar isso barato e encontrar sua própria maneira
de chamar a atenção naquele dia: o
famoso “vestido da vingança”, em “The
Dress”, um vestido ousado que vai ser
tão notícia quanto o anúncio de Charles.
Sério: como não amar a Diana?
Amamos a
Diana, torcemos por ela, sofremos ao seu lado e ficamos arrasados com a
fatídica conclusão do musical, que é a sua morte em um “acidente de carro” em 1997.
Durante anos, as pessoas falam sobre Diana ter sido assassinada, e eu acho
praticamente impossível pensar o contrário: Diana não era, no fim das contas, a
garota bobinha e maleável que viveria dentro da caixinha proposta pela família
real – ela foi “subestimada”, como ela anuncia na primeira música do
espetáculo, e agora ela estava “causando problemas”. Acho que o pior de tudo é
que os grandes “problemas” que a Princesa Diana causou foram tentar ter um
casamento feliz, se importar com as pessoas e tentar ajudá-las. No fim de sua
vida, exausta de tudo, Diana só queria sua liberdade de volta, e é isso o que a
família real lhe promete quando anuncia o divórcio dela e do Príncipe Charles.
Mas Diana nunca teve sua liberdade.
Destaco o
diálogo dessa reta final de “DIANA The
Musical”, que ousadamente sugere que Diana foi morta quando a Rainha Elizabeth conversa com ela, fala dos
“escândalos” e diz que, no passado, cortariam sua cabeça por isso, e às vezes
“ela sente falta desses tempos”. Pouco
depois, Diana “sofre um acidente de carro”, e o timing é simplesmente “conveniente demais” para a família real. “If (Light of the World)”, a última
canção do musical, é dolorosa, mostrando o paralelo da Diana sonhando com tudo
o que poderá fazer agora que não será mais princesa com as inúmeras manchetes a
seu respeito, com tudo o que ela fez pelas pessoas, e as manchetes, então,
cedem lugar a novas, sobre um acidente de carro e, eventualmente, sobre a morte
de Diana. Então, Diana deixa o palco silenciosamente e sem fazer tudo o que
queria e podia ainda fazer, mas deixando um legado marcante e um povo que a ama
e sempre a amará.
Aquele “The people who will change the world are not who you think will change
the world” me destruiu de vez. O musical é bonito e eu gostei
bastante, mas é impossível não terminá-lo com um gostinho amargo na boca.
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