Free Guy: Assumindo o Controle (Free Guy, 2021)

“Don’t have a good day, have a great day!”

E se subitamente você descobrisse que mora em um videogame? Não, mais do que isso: se você descobrisse que é apenas um figurante de um videogame, um daqueles personagens não-jogáveis programados para fazer apenas o mesmo todo dia? “Free Guy: Assumindo o Controle” é um filme divertido e inteligente que brinca com esse conceito e nos faz pensar em filmes como “The Matrix”, “Jogador Número 1” e “O Show de Truman”, ao mesmo tempo em que conta uma história original e muito bem desenvolvida – acho que ele acaba de se tornar um dos meus filmes favoritos no ano! Com 80% de aprovação da crítica especializada e 94% de aprovação do público no Rotten Tomatoes, “Free Guy” nos conquista com uma história interessante, ótimos cenários, cenas de ação criativas e, é claro, um elenco apaixonante que nos fez amar cada um desses personagens!

A história de “Free Guy: Assumindo o Controle” começa sem nos mostrar que estamos em um videogame – quer dizer, se você não viu o trailer ou leu a sinopse do filme, é claro. Mas é interessante acompanhar “um dia na vida de Guy”, o protagonista charmoso e carismático interpretado por Ryan Reynolds, que está prestes a “despertar” e deixar de ser um NPC. Seus dias são recheados de tiros, assaltos a bancos e coisas bizarras que são parte de sua rotina (o humor tirado disso como na cena de Guy e Buddy jogados no chão do banco, durante um assalto, conversando tranquilamente sobre “a garota dos sonhos de Guy” é SENSACIONAL), e ele não vê problema algum nisso… inclusive, caminha com um sorriso no rosto e espera pelo dia seguinte, em que tudo acontecerá do mesmo jeito novamente. Até o dia em que ele vê a sua “garota dos sonhos” na rua.

Guy sabe que ele é diferente daqueles que ele chama de “as pessoas de óculos escuros”, sem saber que “as pessoas de óculos escuros” são jogadores, protagonistas do jogo no qual ele é apenas um figurante. Quando a garota chama a sua atenção, ele faz de tudo para vê-la novamente, inclusive roubar óculos escuro de outro personagem para, quem sabe, “ter uma chance de falar com ela” – e, ali, ele deixa de fazer o que se espera dele e começa a surpreender a todos. Afinal de contas, ele era um NPC, um personagem não-jogável, e agora todos parecem acreditar que ele é algum tipo de hacker que conseguiu roubar essa skin, e ele precisa ser detido o mais rápido possível. Enquanto isso, Guy vai descobrindo os benefícios de ser uma das “pessoas de óculos escuros”, em sequências divertidas como aquela em que foge do policial e do coelho.

O filme é um barato e certamente nos diverte, ao mesmo tempo em que nos surpreende – ele é mais “complexo” do que eu esperava, confesso. As cenas de dentro de Free City são as que me fazem pensar em “Jogador Número 1” (inclusive a reta final tem uma série de referências que teriam deixado Ernest Cline orgulhoso!) e eu adorei acompanhá-las, enquanto Guy tenta, por exemplo, oferecer um par de óculos escuros a Buddy, seu melhor amigo, em uma cena que me parece o Morfeus oferecendo a pílula para Neo. Também é incrível acompanhar o “mundo real”, em uma trama que, de certa maneira, me lembrou “The Matrix”, e é uma história protagonizada por Joe Keery como Keys e Jodie Comer como Millie Rusk, os dois responsáveis por criar um código que está sendo usado em Free City, mas que foi roubado por Antwan, um grande empresário.

A ideia de “Free Guy: Assumindo o Controle” é muito boa e funciona incrivelmente bem como uma trama de ficção científica – algo inesperado por mim antes de ver o filme! Achei que teríamos algo mais abstrato do tipo “ah, legal, um dos personagens do videogame ganhou vida” ou algo assim, mas o filme se preocupa em apresentar e desenvolver um novum que torna isso possível: o código de Keys e Millie, roubado por Antwan e usado em Free City, era de um outro jogo que usava Inteligência Artificial e no qual os personagens iam aprender, amadurecer e parecer pessoas de verdade – é exatamente o que está acontecendo com Guy nesse momento, e talvez ele seja a prova que os dois precisam para derrubar Antwan de uma vez por todas… bem, isso e mais algumas provas que seria bom se eles conseguissem reunir, como a build original do jogo de Millie e Keys.

Acredito que um dos motivos do sucesso de público e crítica do filme, além de a trama ser bem concebida e bem trabalhada, é o elenco carismático que nos conquista facilmente. Não sei se eu gosto tanto de Joe Keery por “Stranger Things”, mas ele estava ótimo como Keys, e o Ryan Reynolds é sempre um máximo, com um toque perfeito de drama e de comédia que deixa o filme leve, mas, ao mesmo tempo, sério. E eu acho que ele emula, em vários momentos, o personagem de Jim Carrey em “O Show de Truman”, na maneira como ele conversa com o seu peixe dourado toda manhã, por exemplo, ou como dá bom dia às pessoas com uma frase de efeito (se Truman tinha o Good morning and, in case I don’t see ya, good afternoon, good evening and good night”, Guy tem “Don’t have a good day, have a great day!”), ou naquela cena em que, depois de descobrir que ele é parte de um videogame, ele vai até a praia, tenta jogar uma pedra no ar e percebe que tudo aquilo que ele vê é uma mentira – é muito “O Show de Truman” aquilo!

Guy ganha a atenção e a curiosidade de todo o mundo, que adora vê-lo bancar o herói em um jogo no qual normalmente as pessoas só entram para atirar nos outros e roubar bancos e carros, e eu adoro a dupla que ele forma com o avatar de Millie no jogo, a Molotov Girl. Adoro como o filme consegue caminhar por vários momentos distintos, sendo uma divertida ação baseada em videogame em uns momentos, ser quase um filme romântico, com um toque de comédia e fofura proporcionada por Guy, em momentos quando ele anda com a Molotov Girl por lugares que significam muito para ela, ou como tem um toque de drama, ainda sem perder o bom-humor, quando Guy é confrontado com a ideia de que “ele não é real”, embora seja – ele não é uma pessoa, como a Millie, mas uma Inteligência Artificial… isso não quer dizer, no entanto, que ele não seja “real”.

Ele ainda precisa lidar com o fato de que o seu mundo inteiro vai ser apagado em 48 horas – a não ser que ele ajude Millie e Keys a encontrar o código que Antwan usou sem autorização, provando, assim, o roubo e, consequentemente, derrubando a empresa… e, então, talvez Keys e Millie possam lançar o jogo que sempre sonharam, e Guy terá uma vida de verdade, sem tiros e assaltos a bancos a cada hora. Com ótimas tiradas, bons efeitos e excelente desenvolvimento de personagens, o filme nos convence, nos faz torcer por esse personagem de videogame que “ganhou vida” e, no fim, é ele quem precisa ter as ideias e salvar o mundo: é ele quem reúne todos os NPCs e os instiga a “despertar”, o que para o jogo no mundo todo, e é ele quem precisa cruzar sozinho uma ponte rumo à build original de Keys e Millie quando Antwan retira todos os jogadores de Free City.

O clímax do filme é eletrizante, divertido e emocionante – mais ou menos como todo o filme! Aqui, o que antes era um videogame se torna um show que ex-jogadores, agora espectadores, de todo o mundo assistem, e torcem por Guy. E eu adorei como ele precisa enfrentar Dude e a sequência traz uma série de referências, com destaque, é claro, ao Guy se protegendo usando o escudo do Capitão América, com direito a uma aparição rápida do Chris Evans assistindo a tudo e perguntando o que está acontecendo… mas a cena também traz, por exemplo, o Guy usando um sabre-de-luz! No fim, Guy percebe que ele não pode vencer Dude, mas que ele pode usar os seus óculos para distraí-lo, e, quem sabe, ele também poderá acordar… então, ele corre contra o tempo rumo ao desenho original do jogo de Millie e Keys, enquanto Antwan começa a destruir os servidores para se safar.

O fim do filme é um máximo – e nos deixa com um gostinho de quero mais. Ao mesmo tempo, não sei bem o que a sequência vai contar, e espero que ela consiga manter o bom e inteligente nível desse primeiro filme! Mas foi lindo ver Guy e os demais NPCs se reunindo em um lugar muito mais interessante (que, sim, eu adoraria explorar mais, então a sequência vai me ajudar nisso!), enquanto jogadores do mundo todo agora podem interagir com eles. Guy tem duas cenas incríveis no fim do filme: uma reencontrando Buddy, seu melhor amigo, e outra dizendo a Millie o que ele sabia que ela tinha que dizer, mas não sabia como – que apesar de amar aquilo tudo, ela precisa viver sua vida no mundo dela. Então, ela percebe que Guy é o “porta-voz de uma carta de amor” de Keys para ela, e o motivo pelo qual ele despertou faz com que Millie busque Keys em uma cena lindinha.

Adorei esse filme, do início ao fim. Recomendadíssimo, todos deveriam assistir!!!

 

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