Primeiro Capítulo do “Sítio: O Preço do Verdadeiro Amor” (04 de abril de 2005)
“Agora é hora de nós dois…”
Em 2005, o “Sítio do Picapau Amarelo” assumiu o
formato novela, sob o título “O Preço do Verdadeiro Amor”. Contando
a história de João da Luz, um garoto que vive nas ruas e com fome, e Cléo, uma
radialista que acabou de fugir da madrasta que a explora, o “Sítio” tem um interessante “recomeço”,
e é por isso que eu não posso deixar de fazer um comentário típico de PRIMEIRO
CAPÍTULO. Num universo que já conhecemos, mas que está se expandindo, e com
personagens já amados se juntando a muitos novos, o primeiro capítulo de “O Preço do Verdadeiro Amor” é como o
início de uma novela mesmo, em que os personagens, motivações e situações
precisam ser apresentados: E QUE DELÍCIA DE PRIMEIRO CAPÍTULO. Terminei o
capítulo sorrindo feito um bobo, com lágrimas nos olhos, louco para continuar
de uma vez essa história.
Eu AMO o “Sítio 2005”, de todo o coração. E
reassisti-lo está trazendo deliciosas memórias.
O primeiro
capítulo é extremamente bem-escrito. Adoro como ele sabe que não precisa
reapresentar do zero personagens como a Emília, o Visconde e as crianças, mas
como, mesmo assim, se dedica a mostrar com clareza quem são, com maestria ao
captar suas personalidades e excentricidades em pequenos momentos apaixonantes,
como com o Rabicó engolindo a válvula do rádio e a Narizinho intercedendo por
ele enquanto o Pedrinho está bravo, ou a Emília fazendo todo um alvoroço para
sair de dentro de casa vestida para a festa que vai acontecer no Arraial dos
Tucanos. Em paralelo, conhecemos Cléo e João da Luz, personagens novos e que assumirão, ao longo desse e dos
próximos capítulos, os papeis protagônicos dessa história. E tudo é tão bonito,
tão grandioso, tão cheio de carisma… eu
amo cada segundo dessa experiência…
A primeira
cena é de uma típica história do “Sítio
do Picapau Amarelo”, com as crianças correndo pelo sítio de Dona Benta
atrás do Rabicó, enquanto Dona Benta e Tia Nastácia estão preparando a comida
para a inauguração da escola no Arraial dos Tucanos depois da reforma
patrocinada pelo Coronel Teodorico, o que foi uma grande surpresa: o Coronel Teodorico abrindo a mão para
patrocinar uma reforma e uma festa? Dona Benta diz que ele só está fazendo
isso porque a escola vai ter o seu nome e ele é vaidoso. Diferente do que
acontecia no “Sítio” até então, os
personagens são menos caricaturados
em 2005, e as motivações precisam ser mais convincentes e duradouras do que em
uma história que durará apenas 15 ou 20 capítulos – e é uma delícia ver o
primeiro capítulo estabelecendo algumas coisas que serão importantíssimas no
futuro dessa história.
Como a escola no Arraial.
Toda a
confusão para “capturar” o Rabicó é porque ele engoliu a válvula do rádio e as
crianças querem ouvir o programa da Cléo, então o Zé Carijó consegue fazê-lo
cuspir a válvula e o Visconde se dedica a consertar o rádio a tempo de ouvirmos
o Programa da Cléo pela primeira vez. A primeira cena da Cléo é digna de uma protagonista,
porque tem todo um mistério para mostrá-la pela primeira vez – sabe aquelas
cenas em que a pessoa aparece no recinto ou desce de um carro e o jogo de
câmera só a mostra de longe ou de costas até focar no rosto da protagonista? É
mais ou menos assim! E já na sua primeira cena, percebemos que alguma coisa está errada, porque Cléo
simplesmente adormece enquanto está
apresentando o programa, e o pessoal do Sítio fica inquieto, se perguntando se
foi o rádio que ficou mudo, e o Visconde até leva uma bronca da Emília por ter
“arrumado errado”.
Mas o problema, é claro, não é no conserto
do Visconde.
Marcela, a
madrasta de Cléo, me faz pensar na Regina de “Cúmplices de um Resgate”. Descontrolada (e a Marcela é uma vilã
muito interessante!), Marcela começa a gritar para despertar a enteada, e já
presenciamos as primeiras brigas das duas… Cléo fala sobre como está cansada,
sobre como trabalha exaustivamente na rádio, em desfiles, em outros programas,
em eventos, e Marcela diz que ela precisa
continuar trabalhando. “É… pra sustentar você. Sua parasita!”, responde
Cléo. Marcela é a típica madrasta má de contos de fadas, e durante essa
discussão, que fica cada vez mais acalorada, Cléo acaba se levantando para ir
embora, dizendo que “não trabalha mais para sustentá-la”. Cléo sai correndo
antes que Marcela possa pegá-la e, em paralelo, Narizinho conta para a Emília o
pouco que sabe sobre Cléo e sua relação com a madrasta, pelas cartas que as
duas trocavam.
Fantasiada
de funcionária da limpeza, um plano típico, mas eficaz, Cléo consegue escapar
da estação de rádio e parte imediatamente para a rodoviária, e é legal vê-la
conseguindo se esgueirar para dentro do ônibus ajudando uma senhora na sua
frente e fingindo que é sua acompanhante, para que o homem na entrada não peça
sua identidade e cause problema por ela ser menor de idade e estar viajando sem
autorização. Só existe um lugar para onde Cléo pensa em ir: há muito tempo,
desde que Narizinho enviou uma “carta de fã” para a rádio, ela e Cléo trocam
cartas, e se tornaram amigas por
correspondência. Ela acredita que lá estará segura, e então vemos nascer
toda a trama principal de “O Preço do
Verdadeiro Amor”. Quer dizer, uma delas, porque João da Luz também terá uma
narrativa extremamente interessante em breve.
O capítulo
ainda se preocupa em nos apresentar um pouquinho mais de Cléo e de sua família
em um flashback quando Cléo olha para
a foto do pai que traz em uma correntinha no seu pescoço. Vemos o pai de Cléo
no hospital, morrendo, enquanto Cléo pede que ele não morra, porque “ela já
perdeu a mãe”. O pai lhe diz que seu futuro está garantido, que “guardou para
ela um futuro brilhante, digno de uma princesa”, e é claro que Marcela está por
perto e seus olhos brilham ao ouvir isso. Antes de morrer, o pai pede que Cléo
lhe prometa que vai “buscar a felicidade nessa vida, seja onde for”, e, nesse
momento, Cléo reforça a promessa que fizera ao pai naquela ocasião: ela vai buscar sua felicidade em um lugar
onde as pessoas gostem dela de verdade… e ela espera que esse lugar seja o
Sítio do Picapau Amarelo. Ela só espera não ser descoberta.
Sem o
programa da rádio, Dona Benta manda as crianças se arrumarem para a festa no
Arraial: Pedrinho vai tocar na fanfarra e as meninas vão desfilar. Pedrinho,
Narizinho e Emília ESTAVAM MUITO FOFOS vestidinhos para a fanfarra, e Emília, é
claro, estava se achando, e fez até o Visconde anunciá-la antes de aparecer –
inclusive, essa é uma faceta da bonequinha a ser explorada nessa temporada,
especialmente depois do surgimento de Patty Pop. Mas deixemos para falar sobre
isso mais tarde. É durante a festa no Arraial dos Tucanos que vemos pela
primeira vez nosso segundo protagonista, o João da Luz. Escondido, ele espia a
festa e a comida (“Comida! Comida de
graça!”), e a sua alegria é tão genuína ao ver comida que ele poderá pegar
que o meu olho se encheu de lágrimas… era
a primeiríssima cena do João da Luz, e eu já estava quase chorando.
Aqui, a
sementinha da futuro amizade de João e Pedrinho já nasce, quando Pedrinho se
atrapalha e derruba as baquetas durante o desfile, e João o ajuda. Depois do
desfile, a nova “Escola Coronel Teodorico de Menezes” é oficialmente
inaugurada, e como o Coronel Teodorico não dá ponto sem nó, ele aproveita a
cerimônia para anunciar a sua candidatura
a prefeito. Enquanto ele está falando o seu costumeiro monte de besteiras
no microfone, João da Luz se aproxima da mesa de comidas, e o Pedrinho é a
coisa mais fofa do mundo: “Pode pegar,
foi a Tia Nastácia que fez pra todo mundo. E obrigado por me ajudar com as
baquetas”. Seria uma cena perfeita, se não fosse o babaca (sempre) do Elias vendo a cena e dizendo que o João estava
“roubando comida”, e então ele começa a gritar para todo mundo que o João é um
“ladrão” e tal.
Uma vergonha.
É uma
mesquinharia sem tamanho, sinceramente. A comida nem era do Seu Elias, pra
começo de conversa! E aquela era uma festa pública, com comida à disposição
para TODO MUNDO comer, e é patética a maneira como o Teodorico, lá no seu
palanque, quer mostrar autoridade e manda “pegar o ladrão”, quando na verdade o
João é apenas uma criança que estava com
fome. É revoltante e triste, e achei muito fofo o Pedrinho tentando
interceder por ele, dizendo que ele não roubou nada e que foi ele quem mandou
que ele pegasse a comida, mas já é tarde demais, a confusão está armada.
Enquanto João corre para fugir de toda a confusão, então, ele acaba esbarrando
em uma passageira de um ônibus que acabou de chegar ao Arraial dos Tucanos: Cléo.
É um final digno de primeiro encontro de protagonistas de “Malhação”. Os dois se esbarram, se olham, sorriem, e é como se
tudo ao redor deles desaparecesse, ao som de “Nós Dois”, da banda Jukabala.
Um momento
MARAVILHOSO.
Tem como não
amar essa temporada?
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