Sítio do Picapau Amarelo (2005) – A Patricinha e o Bicho-do-Mato

Acusações infundadas.

E que comecem os mal-entendidos… Cléo e João da Luz são ótimos protagonistas, mas o carisma inicial acaba sendo quase todo do João, porque conseguimos nos afeiçoar a ele desde o primeiro momento. Em parte, também gostamos de Cléo desde o começo, quando a vemos ser explorada pela madrasta e fugir para um lugar onde as pessoas gostem dela de verdade, mas ela pisa tanto na bola com aquela questão da correntinha, achando que “o garoto que esbarrou com ela no Arraial é que a roubou”, que meu coraçãozinho rancoroso acaba a condenando um pouco – vou levar uns capítulos para perdoá-la, mas o fato de ela eventualmente se sentir um lixo por ter julgado o João injustamente ajuda a construir sua redenção. O primeiro encontro de João e Cléo é breve, mas também mágico e romântico; o segundo encontro, por sua vez, já não vai ser tão bonito assim.

Enquanto Emília e Narizinho apresentam o Sítio do Picapau Amarelo para Cléo, ela comenta sobre como “o seu pai ia adorar esse lugar”, e só então que ela se dá conta de que a medalhinha não está no seu pescoço, e seria muito bom se ela só tivesse ficado triste, mas ela pula rapidamente para conclusões completamente equivocadas: “Será que foi aquele garoto que trombou comigo quando eu cheguei no Arraial?” Cléo quer ir imediatamente para o Arraial, seja atrás do garoto ou para falar com o delegado e acusá-lo, o que é uma tremenda falta de noção. Aparentemente, ninguém ensinou para Cléo que ela não deve julgar as pessoas dessa maneira. João de fato está com a correntinha, mas porque Cléo a derrubou e não percebeu, e ele a pegou, mas não tinha tempo de devolvê-la com o delegado atrás dele… mas tudo o que ele quer é fazer isso.

No Arraial, Cléo já tem dois rapazes apaixonados por ela: Zequinha e Angico. E eu devo dizer que, depois de muito ter detestado os dois na temporada de 2004, eu gosto muito dos personagens que eles se tornam em 2005, porque eles não são tão exagerados. É claro que eu vou odiar o Angico, mas de uma maneira completamente nova, porque agora ele vai ser desenvolvido de fato como um vilãozinho menor (mal posso esperar pela chegada de Teteia!), mas o Zequinha? O ZEQUINHA DE 2005 É UM FOFO. É quase como se estivéssemos conhecendo o personagem pela primeira vez quando vemos o Zequinha tristinho tocando o violão (compondo uma música!) e conversando com o avô… Teodorico é legal com ele e o aconselha a “investir” em Cléo, mas a verdade é que o Zequinha não sabe como fazer isso… é o Angico que é todo garanhão.

Essa é uma trama interessante e que não podia nem mesmo ser sonhada quando Angico e Zequinha foram apresentadas como os netos atentados do Coronel Teodorico, que podiam fazer o que lhes desse na telha. Agora, eles parecem pessoas de verdade, com inseguranças, com virtudes, com defeitos. Zequinha é inseguro, porque ele acha que o Angico é mais bonito que ele e é “cheio da malandragem” e, por isso, quando o Coronel Teodorico o aconselha a investir em Cléo, porque ela e o Angico ainda não têm nada de todo modo, Zequinha diz que ele não tem chance nenhuma. Pela primeira vez na vida, Teodorico diz alguma coisa bacana e acaba sendo um bom avô, porque ele diz a Zequinha que seu irmão é mesmo muito bonito e muito pra frente, mas o Zequinha é inteligente, é sensível… ele não deve pensar que não tem chances com a Cléo!

Depois de sua conversa com João da Luz, Pedrinho volta animado para o Sítio, contando para a Narizinho e para a Emília que o Saci o levou até a caverna da Cuca para ver a jacaroa dormindo, mas quando ele pergunta por Cléo, as meninas falam que ela foi ao Arraial para dar queixa do menino que trombou com ela porque “ele a roubou”, e na hora o Pedrinho reage dizendo que não foi ele, porque ele sabe que não pode ter sido… e não foi. João está decidindo o que vai fazer para devolver a medalhinha de Cléo, e decide voltar ao Arraial dos Tucanos, mas fantasiado para não ser descoberto, e então deixar a medalhinha na igreja, no altar, para que o padre veja e devolva para ela… quando o João está chegando à estrada para rumar ao Arraial, no entanto, ele vê Cléo se aproximando de bicicleta, então ele tira seu disfarce e aparece na frente dela, causando um pequeno acidente

Assustada e, não podemos negar, preconceituosa, Cléo pergunta o que ele quer com ela, manda não chegar perto dela, não tocar nela, e já vai perguntando se ele quer a sua bolsa e vai tirando, o que é muito revoltante, e me partiu o coração a carinha do João perguntando se ela acha que ele é um ladrão… AI, O JOÃO NÃO MERECIA AQUILO NÃO. “Ué, quem rouba os outros é o quê?” “Eu não roubei nada. Pelo contrário, eu só vim te devolver uma coisa”. Quando vê a medalhinha, Cléo tem certeza de que foi ele que a pegou, então, e João diz que ele pode ser pobre, mas não é ladrão, e só pede que ela não conte para ninguém que o viu ali, porque todo mundo já o está confundindo com um ladrão… até ela. Então, João entra na mata de novo, e deixa Cléo pensativa, porque ele explica que ela deixou a medalhinha cair quando eles se esbarraram no Arraial, e finalmente percebe que o julgou errado.

“Droga, eu não devia ter chamado aquele garoto de ladrão. Eu fui injusta com ele!”

Então, Cléo entra na mata procurando por ele, para pedir desculpas, e João acaba descendo da sua casinha na árvore quando a escuta chamar: “Tá procurando por mim, oh patricinha?” É aqui que João o chama de “patricinha” pela primeira vez (embora nessa mesma conversa ele já troque para “princesinha”), enquanto Cléo o chama de “bicho-do-mato”, e é um clima tenso e quase divertido de puro caos, porque sabemos tudo o que está por vir par esses dois, mas a maneira como eles brigam, como se provocam, como debocham… Cléo diz que ele “é um insuportável, mas que quer pedir desculpas”, mas a mensagem é toda confusa, porque ela também fala que espera não vê-lo mais, e João, magoado, diz que está se lixando para as desculpas dela, quando todos percebemos que ele só está dizendo isso tudo da boca para fora. Ele se importa sim.

De qualquer maneira, cansado de ser constantemente humilhado e acusado injustamente, João acaba devolvendo um pouco das acusações e dizendo que “ela não passa de uma garota mimada que ficou dodói por causa de uma medalhinha idiota”, mas é claro que ele não pode saber o porquê de aquela medalhinha ser tão importante: é a única recordação que Cléo tem do pai. Então, João toca em um assunto sensível, sem saber, e a confusão só se acentua, com a Cléo respondendo sem pensar: “Idiota é você, seu grosso!” Os dois ficam sentidos e se separam ali… Cléo indo atrás de sua bicicleta para voltar para o Sítio, e João continua na mata antes de voltar para a sua casinha na árvore. É uma cena MUITO TRISTE, porque os dois ficam parados por um tempo, chorando de soluçar: os dois magoados, os dois tendo dito e ouvido coisas que não queriam.

Sofri naquela cena.

Mas estou curioso para saber o que vem pela frente!

 

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