The Matrix Reloaded (2003)

“This is Zion and we are not afraid”

Eu já assisti o primeiro “The Matrix” várias vezes na vida, e, para mim, é um dos melhores filmes de ficção científica já feitos – na verdade, um dos melhores filmes já feitos, independente do seu gênero. Não tenho por “The Matrix Reloaded” e “The Matrix Revolutions” a mesma paixão que tenho pelo filme original, o que quer dizer que enquanto assisti a “The Matrix” inúmeras vezes e a última em 2019, quando retornou ao cinema pelos seus 20 anos, a última vez de que me lembro de ter assistido a “The Matrix Reloaded” é 2011 ou 2012. Com o quarto filme prestes a ser lançado, estou revisitando esse clássico das Wachowski e me descubro mais interessado em “Reloaded” do que eu me lembrava. Quer dizer, ainda tenho algumas críticas pontuais e o filme não é a grande surpresa que “The Matrix” fora, quatro anos antes, mas temos sequências brilhantes como a conversa de Neo com o Oráculo ou com o Arquiteto.

E eu adoro esse tom filosófico de “Matrix”.

Como segundo filme de uma trilogia, “The Matrix Reloaded” tem duas funções primordiais, e as atende bem: ele precisa expandir o universo originalmente apresentado e preparar o terreno para a conclusão no filme seguinte. Enquanto prepara a narrativa para a luta final dos últimos humanos contra as máquinas que controlam a Matrix, o filme se aprofunda tanto no “mundo real” quanto na simulação projetada por um computador… de um lado, conhecemos mais humanos além da tripulação original de Nabucodonosor, e chegamos a uma cidade repleta de pessoas que foram despertadas da Matrix, Zion; de outro, dentro da simulação, encontramos vários Agentes Smith com novas habilidades, e Neo deixando definitivamente para trás seu “personagem” de Thomas Anderson para se tornar o Escolhido, e é impressionante acompanhar seus novos poderes.

Acho muito interessante como o filme passa a sua primeira meia hora quase que inteiramente no nosso mundo real – é diferente do que nos habituamos com “The Matrix”, mas é isso que nos prepara para a guerra e nos faz torcer por esse mundo que não é o nosso, mas que poderia ser. Zion é maior do que podemos imaginar, e eu adoro o estilo do lugar, as roupas, a festa que eles dão e a quente cena de Neo e Trinity enquanto a festa acontece em Zion – inclusive, uma cena que, atualmente, me faz pensar bastante em “Sense8”. Também é interessante toda a construção da sociedade que se estabeleceu nos 100 anos em que os despertados lutam contra o controle das máquinas, com um Conselho e uma série de Capitães de diferentes naves, uma organização que me faz pensar em grandes clássicos da ficção científica, como minha amada “Star Trek”.

E é interessante ver os diferentes modos de pensar o futuro.

Dentro da Matrix, o filme se torna, em sua maior parte, um filme de ação desenfreada, o que acaba sendo bom e ruim ao mesmo tempo… acho que as sequências de ação, em sua maioria, funcionam melhor no primeiro filme, pelo propósito todo. Nesse segundo filme, elas podem ser ocasionalmente exageradas, como aquela longuíssima e, para mim, entediante sequência de ação no trânsito ou a luta de Neo contra mil Agentes Smith, que teria sido muito mais interessante se ela não parecesse o tempo todo com um videogame. Vale, é claro, para vermos as novas e impressionantes habilidades de Neo, o Escolhido, e eu acabo gostando muito de toda vez que ele sai voando por aí exatamente como se ele fosse o Superman. E ele realmente vai ter que “ser o Superman” se ele quiser salvar Trinity do destino com o qual ele está sonhando desde o início do filme.

A Matrix, no entanto, não tem a magia e a surpresa do primeiro filme – agora, a vemos como ela é: uma ilusão. É claro que essa é uma surpresa brilhantemente apresentada no filme original e que não pode nos surpreender na sequência, mas eu gosto demais de como descobrimos tudo no primeiro filme, como pensamos que nosso mundo pode ser uma mentira, e “The Matrix Reloaded” não consegue fazer isso como o primeiro filme fez porque jogou toda sua “realidade” para Zion e Nabucodonosor, cenários com o qual não nos relacionamos. Não vemos o que para nós é o “mundo real” (a ilusão da Matrix) como algo sendo constantemente questionado, já que os humanos despertados entram lá dentro com missões bem definidas e, para eles, o lugar é apenas uma realidade virtual projetada – e que precisa ser destruída. Essa parte é menos íntima e filosófica que no primeiro filme.

Temos, no entanto, uma única cena que me dá a mesma sensação gostosa e perturbadora (sim, é paradoxal essa relação) do primeiro filme, que é a brilhante conversa de Neo com o Oráculo, quando percebe que ela é um programa e se pergunta se pode confiar nela – então, o Oráculo fala abertamente sobre programas da Matrix, e sobre como programas que fazem o que devem fazer passam despercebidos, mas outros acabam sempre sendo vistos pelos humanos… situações nas quais os humanos os chamam de “fantasmas”, “anjos”, “alienígenas”, porque a mente humana busca entendê-los de alguma maneira. É um breve diálogo que nos remete à cena do dejá vù no primeiro filme. Toda a conversa com o Oráculo é interessante, e é ela quem índica um caminho a Neo, que ele já escolheu trilhar mesmo antes de saber: ele precisa encontrar o Chaveiro e chegar à Fonte.

O filme, então, se divide em duas ações paralelas. Nabucodonosor tem sua própria missão e o Conselho de Zion envia duas naves para ajudá-los, enquanto a cidade está prestes a ser atacada por 250 mil sentinelas que podem acabar com a raça humana. Neo e os demais entram na Matrix em busca do Chaveiro e de uma porta que levará Neo à Fonte: o lugar onde ele descobrirá a verdade e no qual, quem sabe, ele pode colocar um fim na Matrix. No meio disso tudo, várias cenas de ação, a constante participação do Agente Smith e um pouco do Chaveiro, um personagem carismático que tem menos tempo de tela do que eu particularmente gostaria. E é ele quem ajuda o Escolhido a atravessar a porta – uma alegoria interessante que nos remete a uma fala de Morpheus do primeiro filme, de quando levou Neo ao Oráculo: ele pode mostrar a porta, mas só ele pode atravessá-la.

Felizmente, o grande clímax do filme não é uma cena de ação, mas uma cena inteligente (e complicada, na verdade) com um diálogo elaborado e feito para nos confundir entre o Neo e o Arquiteto: aquele que construiu a Matrix. O visual da cena é interessante e curioso, com os vários Neos em telas atrás dele, e Neo precisa confrontar uma verdade assustadora: tudo o que ele está fazendo já estava previsto… ele está seguindo o plano da Matrix como o fez cinco vezes antes. Aparentemente, o “Escolhido” é uma espécie de falha na Matrix, um humano capaz de moldar as coisas a seu bel prazer, e que está destinado a colocar um fim na Matrix, de fato, como a “profecia” dizia… mas também a recomeçá-la. O Oráculo, o Escolhido, até mesmo Zion são parte de um plano elaborado das máquinas para garantirem o controle. E Neo está ali para perpetuar esse ciclo.

Dessa vez, no entanto, Neo faz uma escolha diferente porque existe uma variante que não estivera na equação nas demais versões da Matrix: Trinity. Neo tem que fazer uma escolha: de um lado, ele segue o plano e reinicia o ciclo, com uma nova versão da Matrix e uma nova versão de Zion, como acontece há não sei quanto tempo; de outro, ele salva a vida de Trinity, mas condena Zion ao ataque dos sentinelas. Qualquer opção envolve perdas, no entanto, Neo faz o que esperávamos que ele fizesse: ele salva a vida de Trinity, como ela salvou a sua no filme anterior. Isso quer dizer que não existe uma maneira de as máquinas manterem o controle e os humanos têm uma chance de finalmente vencer essa guerra ou que a raça humana está prestes a ser extinta? Isso, apenas “The Matrix Revolutions” responderá, mas uma coisa é certa: Neo está mais poderoso do que nunca…

No mundo real também.

 

Para minha review do primeiro “The Matrix”, clique aqui.

 

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