Pocahontas (1995)

“Can you paint with all the colors of the wind?”

A história do amor à primeira vista entre uma índia, Pocahontas, e um colonizador inglês, John Smith, que ajudou a conter toda a destruição de uma parte da América e de uma tribo indígena. “Pocahontas” é a 33ª animação dos estúdios Disney, e é uma história fantasiosa e romantizada do processo de colonização – porque todos sabemos como isso foi muito mais violento e absurdo do que a animação com boas músicas e visuais bonitos nos faz acreditar. Diferente das protagonistas de animações da Disney que vieram antes dela, Pocahontas é baseada em uma figura histórica real, embora, até onde minhas pesquisas foram (e elas não foram muito extensas, confesso), exista muita coisa que não se sabe sobre a história da vida de Matoaka, a índia que era conhecida como Pocahontas. De todo modo, o resultado da animação é fofo e divertido.

O filme se passa em 1607, e começa mostrando o lado dos colonizadores, e enquanto eu assistia ao filme, eu fiquei pensando em como, no passado, as escolas ensinavam a história das colonizações de uma maneira bem fora da realidade de fato – gosto, no entanto, de como a animação, que é feita para crianças e amenizada em vários sentidos, não deixa de colocar o colonizador como rico e arrogante. Não há muita explicação para o motivo pelo qual eles querem o ouro, por exemplo, porque é aquela coisa de querer o ouro por querer o ouro, é assim na história do mundo até hoje. Os colonizadores ingleses, embora com algumas piadas e tudo o mais, são pessoas que chamam os índios de “selvagens” e agem como se fossem superiores, como se os índios fossem obstáculos a serem tirados do seu caminho como for para que eles cheguem onde querem…

Explorar a terra até o seu fim.

Por outro lado, temos a vista de uma outra realidade a partir dos olhos de Pocahontas, e eu acho essa parte do filme extremamente fascinante… eu gosto de como a personagem explora os cenários naturais de onde vive, de como navega sem medo por cachoeiras (!), ou como tem dois animaizinhos como seus melhores amigos – e esses personagens servem àquele propósito mais fofo e cômico da Disney, que encantou crianças por gerações. Pocahontas é uma índia importante na região, por ser filha do chefe da tribo, e ela foi prometida em casamento a um homem sério do qual ela não tem certeza que gosta… por isso, ela vai tentar trilhar o próprio caminho e escapar desse casamento, e é nessa “fuga” que ela acaba conhecendo, sem querer, John Smith, o bonito colonizador que é um dos líderes da expedição que está chegando agora à América.

Eu tento abandonar qualquer preconceito a respeito da colonização e comprar a ideia romântica do filme, porque eu gosto das cenas de Pocahontas com o John Smith, sem contar que o John Smith é gato – como pode um desenho 2D ser tão bonito, né? A troca de ideias entre os personagens é bastante rica e interessante, porque não está baseada apenas em John Smith falando sobre modernidades como estradas, carruagens e prédios altos (algo que, de certo modo, fascina Pocahontas, por ser algo novo e curioso), mas também há a parte de Pocahontas, que serve como um contraponto a tudo o que John Smith sempre tomou como verdade sem questionar: será que os índios são mesmo tão selvagens assim e será que eles precisam dessa “civilização” como os colonizadores querem dizer que eles precisam apenas para que se sintam menos mal consigo mesmos por estarem explorando as terras e os massacrando?

“Colors of the Wind” traz a Pocahontas questionando John Smith e é PERFEITA.

 

“You think the only people who are people

Are the people who look and think like you

But if you walk the footsteps of a stranger

You'll learn things you never knew you never knew”

 

A ideia do filme é interessante, mas, numa vibe meio “Romeu e Julieta”, ele é a representação de um “amor” exagerado num curto espaço de tempo, fruto da inocência e da novidade. De qualquer maneira, essa relação que Pocahontas e John Smith construíram nas poucas vezes em que se encontraram e no pouco tempo que passaram juntos é importante para amenizar a batalha iminente entre nativos e colonizadores. Quando tudo parece explodir e o mundo está ruindo ao redor de Pocahontas e John Smith, os dois se impõem para defender um ao outro e, consequentemente, seus mundos que se chocam – ela impede a execução de John Smith quando ela está por acontecer, e ele impede que o chefe da tribo, o Chefe Powhatan, pai de Pocahontas, leve um tiro de um dos seus, que só queria qualquer desculpa para iniciar uma briga.

Então, o filme termina em tom de despedida, quando John Smith precisa retornar para a Inglaterra para se tratar do tiro que levou ao proteger o Chefe Powhatan, pois eles não têm como tratá-lo ali… a tripulação de John Smith também aceita ir embora ao perceber que o governador era corrupto e interesseiro e que, na verdade, não existe ouro nenhum naquele lugar, de qualquer maneira. Então, diferente da maioria dos filmes da Disney que são baseados em um romance, o casal protagonista não termina junto – Pocahontas gostaria que John Smith ficasse, mas ele precisa se tratar do seu ferimento; John Smith gostaria que Pocahontas fosse com ele, mas ela não pode abandonar o seu mundo e a sua tribo, que também precisa dela. Então, eles se despedem, John Smith tendo a benção do Chefe Powhatan para voltar no futuro, se assim desejar.

Mas o reencontro é história para “Pocahontas II”.

 

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