Eduardo e Mônica (2022)

“E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”

Baseado na icônica e eterna música homônima composta por Renato Russo e protagonizado por Gabriel Leone e Alice Braga, o filme “Eduardo e Mônica” finalmente chega aos cinemas! Previsto para 2020, mas chegando aos cinemas brasileiros em janeiro de 2022, a espera vale a pena: o filme é divertido, carinhoso, introspectivo e belo – exatamente como a música do Legião Urbana pedia que fosse. E conta, também, com uma trilha sonora inteligente e nostálgica! “Eduardo e Mônica” é a história de duas pessoas que são muito diferentes, mas que, ao se encontrarem por acaso, acabam começando a conversar, a gostar da companhia um do outro, a querer cada vez mais estarem juntos… o filme capta maravilhosamente bem a ideia da música, usa seus elementos e confere detalhes às histórias dos personagens, construindo uma história real e palpável.

Repleto de boas referências e recriando uma atmosfera dos anos 1980, o filme nos envolve! Eu adoro a época retratada, eu adoro como discussões políticas que ainda são muito pertinentes atualmente são introduzidas no filme (uma pena que, em pleno 2022, ainda precisemos falar do horror da ditadura militar contra quem tem a cara-de-pau de defendê-la como se tivesse trazido qualquer coisa boa ao país), e eu adoro como o filme consegue nos guiar por diferentes emoções, e nos faz sentir como se fôssemos um de seus protagonistas… por vezes nos vemos na juventude imatura, sonhadora e ocasionalmente equivocada de Eduardo, bem como podemos nos ver na intensidade mais dura e madura de Mônica, em seu desejo de voar. Conseguimos torcer pelo amor deles, mesmo quando sentimos que ele não pode dar certo. Podemos chorar, sorrir, sofrer e amar.

Adoro como “Eduardo e Mônica”, o filme, consegue nos remeter constantemente a “Eduardo e Mônica”, a música – a própria introdução do filme, dividindo a tela entre Eduardo e Mônica, ele de um lado acordando e preparando uma caneca de leite, enquanto Mônica toma conhaque do outro lado da cidade… se a música diz que “Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer / E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer”, no filme os dois se conhecem quando o Eduardo está tentando ir embora de uma “festa estranha, com gente esquisita”, mas acaba perdendo o ônibus e se depara com Mônica, sentada em silêncio no meio-fio, fumando… e, então, ele começa a se aproximar, começa a conversar com ela, oferece jujuba (ela só gosta das vermelhas), e ele faz isso de uma maneira insistente, mas adorável, e então Mônica acaba se soltando também…

O Eduardo da primeira metade do filme é encantador – jovem demais e até sem-noção às vezes, falando sem pensar, mas absolutamente encantador. Gabriel Leone confere ao personagem um sorriso envolvente e um jeito de falar acelerado e impulsivo que faz com que, assim como Mônica, nós estejamos envolvidos antes mesmo de percebermos… adoro a maneira como eles se divertem no Palácio do Planalto naquela primeira noite, como ele lava a louça na manhã seguinte antes de ir embora, mas deixa o telefone para o caso de ela querer ligar para ele, como eles conversam sobre música e ele não conhece nada do que ela cita, e canta “Total Eclipse of the Heart”, uma música que ele vai cantar durante uma festa mais tarde, mostrando uma coragem e uma entrega que apenas a juventude oferece e, naquele momento, não tem como Mônica não dar uma chance a Eduardo.

Acho que cenas como o Eduardo cantando “Total Eclipse of the Heart” e movimentando a festa têm muito a ver com “E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais / Sobre o boyzinho que tentava impressionar”, porque essa é a dinâmica da relação entre Eduardo e Mônica que está nascendo: a maneira como ele tenta impressioná-la e como isso a fascina, como a faz sorrir, até chegar um momento em que ela não pode mais resistir a ele – depois de ele cantar na festa e pedir uma chance, apesar de eles serem muito diferentes, eles se beijam pela primeira vez. Ainda destacando a música, gostaria de ressaltar como o trecho “Depois telefonaram e decidiram se encontrar / O Eduardo sugeriu uma lanchonete / Mas a Mônica queria ver o filme do Godard / Se encontraram, então, no Parque da Cidade […]” é recriado quase à risca na adaptação cinematográfica.

O filme retrata bem a boa química e a boa relação de Eduardo e Mônica, especialmente quando eles estão sozinhos, quase como se vivessem em um mundo particular deles, assim como toda a dificuldade proveniente das diferenças que eles têm – afinal de contas, eles são de mundos diferentes e estão em sintonias e épocas diferentes. Tudo começa a desandar na desesperadora cena do Natal, quando Eduardo convida Mônica para jantar com ele e com o avô, e o avô diz umas atrocidades (que ouvimos ainda hoje de pessoas ignorantes) que a obrigam a sair mais cedo do jantar… depois dali, os dois viajam junto com os amigos de Mônica, mas Eduardo faz birra a viagem toda, e é o momento em que somos obrigados a deixar de simpatizar com ele, porque sua atitude não faz o menor sentido. Mas, também, nos lembramos que ele é um jovem imaturo.

Vindos de mundos diferentes, ali eles se afastam… Mônica se muda para o Rio de Janeiro, Eduardo começa a faculdade (“E ela se formou no mesmo mês / Que ele passou no vestibular”), e todos os próximos encontros os afastam cada vez mais. O primeiro deles acontece no Rio de Janeiro, quando ele vai visitá-la de surpresa e a pega depois de um plantão de 48 horas, e é incapaz de entender que ela está cansada e ele nem avisou que viria! Os dois brigam feio, ele volta embora, e ela aparece um tempo depois na faculdade dele, para conversar. Ambos pedem desculpas, mas percebem que não podem tentar recomeçar nada: ela o quer, mas o quer naquele momento, e não pode prometer que não vai querer morar em São Paulo ou na Índia amanhã; ele a ama, mas não pode ir embora dali e não pode privá-la de sua liberdade… eles se amam, mas precisam entender que eles não estão na mesma sintonia.

O que não quer dizer que nunca estarão.

O filme me surpreendeu, na verdade. Enquanto assistia, eu acreditei que as diferenças fossem irreconciliáveis, eu fiquei incomodado com as atitudes de Eduardo, mas é bom “dar tempo ao tempo” e eles voltam a se encontrar, mais cedo ou mais tarde, e talvez agora seja o momento certo para eles. Afinal de contas “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?” É bonito ver como um impactou a vida do outro, e como o tempo afastado permitiu um amadurecimento de ambos, para que ele corresse até ela naquela belíssima exposição que ela está montando, de volta em Brasília – lindíssima a cena de Eduardo vendo a exposição, se vendo nela, e então chegando até Mônica, dizendo que está atrasado… mas ele está ali. E, dessa vez, eles estão na mesma sintonia. Diferentes, sempre, mas se completando.

Adorei a sequência final e a achei emocionantíssima – além de que Gabriel Leone estava mais lindo do que nunca. A química dos personagens é palpável e eles se conectam uma última vez em um beijo apaixonado e um diálogo que nos remete a elementos citados na reta final da canção: elementos como a Mônica ficar grávida de gêmeos ou um dos filhos puxar o pai e ficar de recuperação… estamos com toda a essência da adorada canção de Renato Russo transposta para uma obra cinematográfica, com o filme adaptando a história com todo o cuidado, respeito e sabedoria, criando uma história cheia de amor, de carisma e de verdade. Sou um eterno apaixonado por Legião Urbana, e é um prazer imenso ver uma música tão singular e tão importante para a cultura brasileira ganhar a adaptação em um filme que é tão apaixonante quanto.

Saí do cinema com um sorriso no rosto e o coração quentinho. Adorei.

 

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