Lost 2x18 – Dave

“See you in another life, Hurley”

ESTARRECEDOR. Um dos melhores episódios de “Lost”, com uma das conclusões mais inesperadas, curiosas e intrigantes da série! “Dave”, exibido em 05 de abril de 2006, é um episódio focado em Hurley, e eu sempre adoro os episódios focados em Hurley, embora esse tenha sido muito melhor do que o último. Dessa vez, descobrimos uma nova faceta do personagem, de quando ele foi internado em uma clínica psiquiátrica depois de ter tido um surto por se sentir culpado pela morte de duas pessoas que caíram de uma sacada que despencou quando ele chegou. Hurley começa o episódio com Libby, mostrando para ela o estoque de comida que ele guardou quando ficou responsável pelos mantimentos da Estação Cisne, e quando ela o ajuda a se livrar de tudo porque “ele quer mudar”, o destino é irônico o suficiente para mostrar todo mundo correndo para a mata, encontrando nova comida que caiu do céu.

Tudo parece um grande desafio/teste para Hurley… e as coisas se complicam quando ele começa a ver Dave, um amigo que ele tinha na época em que estava internado. São as primeiras aparições de Dave que nos levam de volta ao passado para os flashbacks – e eu adoro quando “Lost” apresenta flashbacks interessantes de personagens que já foram apresentados há muito tempo. É fácil ser um bom flashback para um personagem cujo passado desconhecemos por completo, mas é muito mais desafiador ter um bom flashback de alguém que já conhecemos, como o Hurley, e “Dave” é justamente um exemplo de um que deu muito certo. A história de Hurley no Hospital Santa Rosa nos ajuda a entender melhor a maneira como ele se vê e como se sente, nos ajuda a ver fragilidades geradas pela culpa e ainda o coloca em um cenário interessante e importante que vimos brevemente antes.

O cenário onde os números apareceram pela primeira vez.

Gostei de como o episódio conduziu toda a dinâmica de Hurley com Dave nos flashbacks – era angustiante, mas, ao mesmo tempo, me parecia completamente óbvio que Dave não existia de verdade… talvez porque eu já vi “Lost” antes (embora não me lembrasse especificamente de Dave), ou por causa de todas as coisas que assisti nos últimos anos (como “Next to Normal”), mas várias dicas foram deixadas durante o episódio inteiro, desde sua primeira aparição na quadra de basquete, para nos mostrar que Dave não estava ali de fato. Assim, quando o médico “interage” com Dave e propõe tirar uma foto dele e de Hurley, sabíamos exatamente o que ele estava fazendo… por isso, a “grande revelação” de que Dave não existia não foi lá surpreendente, mas continua sendo uma grande jogada do episódio. O tom de surpresa fica mesmo para o final.

Na ilha, Hurley precisa lidar com seus próprios fantasmas, e ele tem cenas brilhantes – eu sempre adoro quando Hurley é levado a sério e não é apenas “o alívio cômico” da série. Porque está vendo Dave, ele pensa em procurar ajuda, vai atrás de Sawyer para ver se ele tem o remédio que ele tomava no hospital psiquiátrico, e ele tem uma cena fortíssima na qual Sawyer o provoca e Hurley o ataca – Sawyer é pego completamente desprevenido, e é muito bom ver o Hurley batendo nele, com cada soco sendo um dos apelidos maldosos que Sawyer já usou contra ele. Quer dizer, eu não detesto o Sawyer, mas ele tem um caráter duvidoso e ele mereceu aquilo… destaque para o Jin rindo (inclusive, que sorriso lindo, minha gente… que homem) assistindo a tudo antes de separar o Hurley e o Sawyer, ou a Kate visivelmente se divertindo ao vir falar com Sawyer também.

Uma das cenas mais bacanas do episódio acontece quando Dave confronta Hurley sobre a realidade de tudo ao seu redor… e nós sabemos que aquilo está acontecendo de verdade, até porque muita história não tem nada a ver com Hurley, mas, naquele momento, Dave faz completo sentido. No lugar de Hurley, é muito fácil acreditar que ele está dizendo a verdade e que tudo o que ele está vivendo agora não passa de uma alucinação. Segundo Dave, Hurley continua internado no Hospital Santa Rosa, sedado, e tudo o que ele acha que viveu depois disso só está em sua mente… e ele lista os absurdos que Hurley “viveu”, como o fato de ele ter ganhado na loteria usando os números de Leonard, os números reaparecendo em todos os lugares ali na ilha, e tem ainda a comida caindo do céu e tudo o mais. É como se nada daquilo fizesse sentido…

No lugar do Hurley, eu acho que eu acreditaria no Dave naquele momento – é muito fácil acreditar nele, percebendo os absurdos de tudo o que ele viveu. É por isso que vemos Hurley à beira de um penhasco, incentivado a se jogar para “despertar”, e é Libby quem o encontra e quem o resgata, e essa é uma das cenas mais brilhantes da história de “Lost”, a meu ver. Hurley, convencido de que tudo aquilo é uma mentira, pergunta a ela como ela sabia que ele estava ali, por exemplo, porque é muito conveniente que ela apareça bem naquele momento, e ela responde dizendo que “o Jin o viu vindo para lá”, o que parece mentira, já que o Jin não fala inglês, mas ela diz que ele estava com Sun e ela traduziu… calmamente, Libby se aproxima dele, o acalma, tenta fazê-lo ver que tudo aquilo é, sim, real, e é claro que ela vai nos convencendo como convence a ele.

Mas “Lost” adora fazer uma brincadeira, plantar uma dúvida, e a sequência final do episódio me fez rir de nervoso, mas aplaudir a audácia do roteiro e a maneira como ele nos provoca! Hurley relembra como, em outra ocasião, já dissera que “achava ter visto Libby em outro lugar antes”, e então acha que isso é porque ela é fruto de sua imaginação, no fim das contas, e Libby faz uma pergunta e conta uma breve história sobre os primeiros dias no outro lado da ilha, e diz que ele não sabe nada daquilo porque aconteceu a ela e não a ele, então ele não devia dizer que ela é uma projeção dele, porque isso a ofende… ele se convence, por fim, e seria tão perfeito, mas o episódio brinca conosco ao retornar ao Hospital Santa Rosa, bem no momento em que o médico está tirando a foto de Hurley e “Dave”, para nos mostrar de onde Hurley conhece Libby… porque de fato ele já a viu antes:

INTERNADA NO SANTA ROSA TAMBÉM!

Gente, a ironia sádica dessa conclusão. Eu fiquei agitadíssimo. É MUITO BOM!

Brevemente, também, comento a outra trama do episódio, que ficou em segundo plano: “Henry Gale”. Mesmo depois de Sayid ter conseguido provar que ele estava dizendo a verdade, “Henry” não se tornou o centro desse episódio. O vemos preso na Estação Cisne, dessa vez oficialmente um dos Outros, e Sayid e Ana Lucia continuam tentando arrancar informações dele, a respeito de por que ele está ali, onde estão os Outros, quantos eles são e uma série de coisas… “Henry” até fala brevemente sobre um líder maior, sobre as escolhas que ele não tem, toda uma maneira de nos intrigar em relação aos Outros, a organização deles e seus objetivos, algo que ainda exploraremos com mais calma em “Lost” eventualmente. Por ora, “Henry” conseguiu conquistar a confiança de John Locke, depois de tudo o que aconteceu no último episódio… e o que isso significa?

 

Para mais postagens de Lost, clique aqui.

 

Comentários