A Família Addams: O Musical (2022)

“Pra quem é Addams…”

QUE EXPERIÊNCIA INCRÍVEL. Eu adoro “A Família Addams”, e eu adoro a história criada para os personagens de Charles Addams no musical com letra e música de Andrew Lippa e livro de Marshall Brickman e Rick Elice, que estreou na Broadway em 2010 e teve sua primeira versão montada no Brasil em 2012. Eu estava ansiosíssimo para estar novamente no teatro para conferir “A Família Addams: O Musical”, e foi uma experiência revigorante: divertido, envolvente, reformulado… eu saí do teatro em estado de êxtase, absolutamente feliz com essa incrível junção nostálgica do que eu já conhecia com o que era novidade – o resultado é uma experiência apaixonante que me levou de volta no tempo e, simultaneamente, me apresentou a algo novo. Como não sair feliz (infeliz?), cantarolando e estalando os dedos (!), com um sorriso bobo no rosto?

Vou fazer um registro bem pessoal aqui: eu assisti ao musical ao vivo duas vezes em 2012, em uma montagem já protagonizada por Daniel Boaventura e Marisa Orth, como Gomez e Morticia Addams, respectivamente, e com Laura Lobo e Beto Sargentelli fazendo os próximos dois protagonistas: Wandinha e Lucas Beineke. Desde então, eu sou apaixonado por esses personagens, por essa história e por essas músicas… é a primeira vez que eu tenho a oportunidade de rever um musical ao vivo, 10 anos depois, em uma roupagem totalmente nova – porque se em 2012 tínhamos uma montagem réplica da versão original, 2022 nos traz uma montagem non-replica que É UMA DELÍCIA! Inovador, fresco e grandioso, o musical nos envolve e nos surpreende ao manter o mesmo texto e as mesmas músicas, mas brincar com todo o restante.

Temos figurinos novos, que são excelentes, mas o que me encantou mais foram os cenários e as novas coreografias… eu acho muito interessante como musicais non-replica conseguem “reinventar” uma obra conhecida: tivemos a versão brasileira de “O Despertar da Primavera”, por exemplo, e a curiosa versão alemã de “Wicked”, que parece muito interessante. Na nova versão de “A Família Addams”, temos um cenário grandioso que traz a casa da Família Addams para o palco, e é sempre impactante ver a maneira como eles brincam com o cenário da casa, apresentando diferentes espaços internos (a sala de estar, a coleção de “instrumentos de persuasão” de Gomez, o quarto de Wandinha, a estufa) e externos, dando-nos a sensação de que realmente fomos convidados a entrar naquela casa… adorei a grandiosidade de tudo e os efeitos especiais!

“Bom Caminho” ganhou um final arrebatador que me arrepia até agora!

O elenco atual está arrasando… Daniel Boaventura continua sempre maravilhoso como Gomez, como se ele tivesse nascido para interpretar esse personagem; tenho certeza de que Marisa Orth continua incrível como Morticia (eu amo essa mulher), mas assisti com Jana Amorim no papel de Morticia dessa vez… como Wandinha, tivemos Pamela Rossini, que consegue dar o ar de “adolescente excêntrica” que a personagem exige maravilhosamente, e Dante Paccola como Lucas Beineke, e eu me apaixonei mais ainda pelo personagem agora – Dante dá a sua cara ao personagem, que é quase mais leve e divertido, e tanto ele quanto Beto o fizeram de uma forma apaixonante, cada um à sua maneira… e foi uma delícia poder rever o Dante, depois de conhecê-lo há uns anos em “Chaves: O Musical”. Lucas é o tipo de personagem de quem eu não consigo desgrudar os olhos quando ele está no palco!

A história de “A Família Addams: O Musical” é um máximo: Wandinha está apaixonada, e ela quer trazer Lucas e a sua família para jantar na sua casa, porque eles estão pensando em se casar… embora ela compartilhe esse segredo com Gomez, no entanto, ela não quer que ele conte nada para Morticia, porque “ela vai fazer um monte de perguntas e estragar tudo”, então fica aquele climão maravilhoso que culmina em uma conclusão de primeiro ato MARAVILHOSA com “Jogo da Verdade”. “A Família Addams: O Musical” é muito sobre o romance adolescente e intenso de Wandinha e Lucas, mas também é sobre o casamento de Gomez e Morticia, um casal quase perfeito, e sobre o casamento de Malcolm e Alice, os pais de Lucas, e eu adoro como o musical consegue desenvolvê-los todos em uma história divertida, leve e cheia de momentos icônicos.

O humor do musical é extremamente bem dosado. Gargalhamos, aplaudimos, guardamos conosco piadas para todo o sempre, como toda a sequência da chegada dos Beineke à casa dos Addams – são tantos momentos maravilhosos ali, como a chegada do Feioso, com o Gomez dizendo, “bem naturalmente”, que “ele acabou de chegar da aula de ca-te-cis-mo”, ou a Wandinha aparecendo de vestido amarelo, “parecendo um canário com hepatite”, ou a Morticia colocando óculos escuros por causa dos dois vestidos amarelos que de repente tomam conta de sua casa… temos as rimas de Alice, interpretada pela incrível Kiara Sasso, ou o Malcolm, interpretado pelo igualmente incrível Fred Silveira, conhecendo os “instrumentos de persuasão” de Gomez, em uma cena com um diálogo sensacional e ótimas risadas para a plateia… a gente se enche de vida assistindo a “Família Addams”.

Acho incrível como produções protagonizadas pela Família Addams mostram como Gomez e Morticia são um casal incrível… no musical, eles têm uma crise porque Morticia detesta mentiras e segredos, e é evidente que Gomez está escondendo algo, como ela acaba conseguindo escancarar durante o Jogo da Verdade – embora ele tente escapar falando sobre “a caixa da raposa”, em um monólogo impecável e hilário! Mal e Alice, por sua vez, também têm suas vidas transformadas quando entram em contato com os Addams, quando Alice toma acrimônio e fala mais do que jamais falaria se estivesse sã, e eles passam a noite trancados na casa que “nem deveria existir” por causa de uma tempestade convocada pelo Tio Fester e os espíritos dos antepassados dos Addams… no fim, Morticia e Gomez fazem as pazes, e Mal e Alice se re-apaixonam um pelo outro.

Destaque para a HILÁRIA cena do tango!!!

Wandinha e Lucas, embora sejam responsáveis por começar toda essa história, com o jantar e o futuro casamento, acabam se tornando coadjuvantes de sua própria história, mas, é claro, brilhando em casa oportunidade que têm… é fofo vê-los juntos, apaixonados, assim como é delicioso acompanhar essa representação tão bonita da adolescência, do crescer e deixar o ninho, tanto do ponto de vista de Wandinha quanto de Gomez, que está vendo sua menininha crescer, e isso o deixa “feliz e triste” – a música de Gomez para Wandinha no segundo ato, quando ela e Lucas parecem brigar porque ele não quer mais ir embora com ela ou qualquer coisa assim, é um dos momentos mais lindos e emocionantes do musical! E é lindo como a Wandinha precisava daquela conversa com o pai, precisava ouvir palavras de alguém mais velho que a aconselhasse…

Músicas: continuo apaixonado por “Bom Caminho” e “Só Dessa Vez”, e acho que é uma sequência brilhante… mas “Mais Louco Que Você” SEMPRE foi a minha música favorita no musical, e eu preciso dizer: A NOVA VERSÃO CONSEGUIU DEIXÁ-LA AINDA MELHOR! Eu adoro a música conduzindo Lucas e Wandinha enquanto eles fazem as pazes, eu adoro todo o conceito, eu adoro a letra, e eu estava curioso pelo que a versão non-replica poderia fazer com ela: E ELES ARREBENTARAM! O primeiro refrão ganha uma pequena repaginada no ritmo da música, com a Wandinha dançando em cima de um caixão cercada pelos ancestrais, como em um show de rock, e o segundo refrão ganha até uma coreografia toda certinha que é a cara do Lucas, e ele estava absolutamente fofo se soltando daquela maneira… tudo que eu queria era poder voltar e rever aquele momento.

Quem dera um dia liberassem essa cena oficialmente para eu assistir quantas vezes eu quisesse!

EU AMEI DEMAIS.

Aproveito para falar sobre referências brilhantes que “A Família Addams” encaixou durante o espetáculo – temos algumas citações a obras, como quando Morticia e Gomez falam de ter assistido a “Jogos Mortais” em seu primeiro encontro, mas também temos algumas brincadeiras muito bacanas, como “Meu bem… meu mal” e “O Quinto dos Infernos”, que eu não tenho certeza se foram propositalmente pensados para referenciar a teledramaturgia brasileira. O que mais me chamou a atenção (e me fez vibrar!!!) foram as referências A OUTROS MUSICAIS, e temos três que se destacam: primeiro a Vovó chapada depois da sua conversa com Feioso, saindo de cena cantando “Aquarius”, a música de abertura de “Hair”; depois, temos o lustre balançando durante o início da tempestade, com a inconfundível trilha de “O Fantasma da Ópera” tocando; e, por fim, a finalização do primeiro ato com uma dos ancestrais saindo do segundo andar da casa, vassoura na mão, luz verde, recriando as notas finais de “Defying Gravity”, de “Wicked”.

EU AMEI ESSAS REFERÊNCIAS!!!

“A Família Addams: O Musical” continua uma experiência única! Apaixonante para quem a assistiu há 10 anos e quer retornar para essa maravilha, e certamente encantadora para quem não conhecia a história/o musical e está assistindo pela primeira vez… elenco talentoso, uma versão non-replica inteligente e envolvente, lindíssimos cenários, figurinos, belos efeitos especiais, músicas incríveis, piadas muito bem-colocadas – tudo funciona incrivelmente bem em “A Família Addams”, uma história sobre amor, verdade, crescimento… como não amar? O musical está em cartaz de quinta a domingo no Teatro Renault, em São Paulo, e, se você tiver a oportunidade, você não vai se arrepender. RECOMENDADÍSSIMO! Uma experiência que revigora, que nos faz deixar o teatro parecendo que estamos até respirando mais leve e mais feliz.

Amo, amo, amo.

 

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