Lost 3x05 – The Cost of Living

Um homem bom.

A DESPEDIDA DO SR. EKO. O Sr. Eko é um dos personagens mais interessantes que “Lost” apresentou na segunda temporada – lembro-me de como ele era misterioso em seus primeiros episódios, e de como o seu primeiro flashback trouxe vida à série e me fez comentar algo como “É assim que um flashback deve ser feito”. “The Cost of Living”, exibido em 01 de novembro de 2006, é a conclusão do arco do personagem, em um episódio impactante que traz um pouquinho mais do seu passado, e embora não traga nenhuma grande novidade para a história do personagem, reforça algumas discussões levantadas com ele, a respeito do que uma pessoa é capaz de fazer para sobreviver… eu gosto muito do tom filosófico que “Lost” costuma assumir e de como suscita discussões: nesse caso, nos perguntamos se o Sr. Eko tem motivos para se arrepender…

…ou se ele só fez o que precisava para sobreviver.

Sabemos que Eko foi um homem bom – e o episódio deixa muito claro que ele fez o que pôde com a vida que lhe foi oferecida. É essa a jornada final do personagem: mesmo à beira da morte, ele desperta na ilha e tem a visão do irmão, e agora ele o busca… os flashbacks nos fazem pensar que ele o procura para “fazer sua confissão”, para pedir perdão pelos seus pecados, mas talvez não seja exatamente isso. Os trechos do passado retornam para o momento em que Eko assumiu a igreja de Yemi, depois da morte do irmão, e como ele dizia a todo mundo que “ele não era o Padre Yemi”, embora parte dele estivesse sempre tentando honrar a memória do irmão… nem sempre era possível. A história tem um final trágico e sangrento no qual ele é julgado por suas ações, e finalmente entendemos por que ele estava construindo uma igreja na ilha.

Porque ele “devia” uma igreja ao irmão.

Toda a jornada de Eko durante esse episódio tem apenas um destino possível: a morte. Buscando uma espécie de “reencontro” com o irmão depois de ver o seu “espírito”, Eko caminha até o avião nigeriano que encontramos na primeira temporada de “Lost”, mas não encontra o corpo de Yemi. Mais tarde, ele encontra o próprio Yemi, ou algo se passando por ele, e então ele fala tudo o que entendemos durante o episódio: como ele não acha que pecou, porque fez o que precisava ser feito, fez o que podia fazer, e não se arrepende, por exemplo, de ter matado um homem quando era criança, porque o fez para salvar a vida do seu irmão… e faria de novo. Ele acha, no entanto, que está falando com o próprio Yemi, de algum modo, e quem quer que esteja personificando o seu irmão faz questão de dizer que ele está errado – e então ele pergunta quem é aquela pessoa.

Essa é a grande novidade apresentada por “The Cost of Living”: o fato de que os “espíritos” e “aparições” que vemos na ilha talvez não sejam apenas coisa da cabeça das pessoas… Yemi não estava ali de verdade, mas isso não significa que o Sr. Eko não estava conversando com alguém ou com alguma coisa. Quando Eko o confronta, Yemi desaparece e logo é substituído pelo monstro de fumaça, que faz o seu retorno depois de passar algum tempo desaparecido, e então percebemos que o monstro de fumaça não apenas é forte, perigoso e letal, mas que tem consciência e, pior, a capacidade de assumir formas humanas e, assim, manipular as pessoas. Há quanto tempo isso está acontecendo? Locke e os demais até escutam algum barulho estranho, mas não têm tempo de chegar para salvar Eko – ou mesmo para ver o monstro de fumaça.

Paralela à história de Eko, acompanhamos um grupo liderado por Locke, que parte da praia em direção à Estação Pérola – Locke tem duas missões: encontrar Eko, que acabou de escapar, mesmo que esteja muito mal para ficar andando por aí, e chegar à estação onde se lembra de ter visto computadores, na esperança de que isso possa ajudá-los a salvar Jack, Kate e Sawyer… até porque o Sayid já está de volta. A trama ainda é apenas iniciada, mas é usada para tentar integrar os personagens de Nikki e Paulo à narrativa, e Nikki faz uma contribuição importante quando assiste ao vídeo de iniciação da Estação Pérola: se um dos televisores mostrava a Estação Cisne, os outros televisores não podiam, quem sabe, mostrar as outras estações da Iniciativa Dharma? Afinal de contas, o vídeo dá a entender que existem mais estações espalhadas pela ilha…

Talvez até onde Jack e os demais estão presos.

A história dos prisioneiros, dessa vez, se concentra em Jack: agora sabemos por que Jack foi aprisionado, e ele sabe que a vida de Ben está em suas mãos e que isso, de alguma maneira, lhe dá uma vantagem… a questão é: Jack vai ter coragem de deixar que Ben morra, se ele tem a mania de “sempre querer consertar tudo”? É interessante como “Lost” não permite que confiemos nos Outros, então tudo parece, o tempo todo, uma grande manipulação – inclusive aquela sequência em que Juliet vai falar com Jack, fingindo que está pedindo para que ele salve a vida de Ben, quando está mostrando um vídeo no qual pede exatamente o contrário… tudo pode ser parte de um jogo, porque sabemos que Juliet está conquistando a confiança de Jack desde que Jack fora colocado naquele aquário. Realmente, não se sabe em quem confiar: e eu adoro isso.

 

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Comentários

  1. Será que se fosse a primeira vez que você estivesse assistindo você iria descobrir que a fumaça preta tem o poder de ter a aparência e a memória de outras pessoas? Já vimos essa fumaça preta várias vezes. Só porque o irmão do Eko saiu correndo e a fumaça apareceu seria meio difícil deduzir que a fumaça era ele (mesmo o Eko perguntando: quem é você?).

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    1. Para mim, esse é o momento em que o roteiro oficializa essa questão, também na primeira vez que vi... até então, não tínhamos essa informação, mas é através dessa cena que eles estão nos dizendo: "Olha, o monstro de fumaça pode assumir a aparência de outras pessoas". E isso é parte do porquê eu amo Lost: ela não é de parar e ser excessivamente didática... ela lhe dá as informações que você as processe, mas estão lá.

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