Morte no Nilo (Death on the Nile, 2022)

“The murderer is here… and will stay here”

Mais um caso a ser desvendado pelo incrível detetive Hercule Poirot. Em 2017, vimos a adaptação de “Assassinato no Expresso do Oriente”, possivelmente o romance mais famoso de Agatha Christie, dando início ao que deve ser uma franquia protagonizada pelo personagem – e eu estou muito empolgado com essa possibilidade! Depois de vários atrasos devido à pandemia de Covid-19, “Morte no Nilo”, também dirigido e protagonizado por Kenneth Branagh, finalmente chega aos cinemas, é uma experiência incrível! É, sim, mais previsível do que o primeiro filme (não demoramos quase nada para matar a charada de quem estava por trás da morte de Linnet), mas, ainda assim, é um excelente filme pelos cenários que explora, pela maneira como a história é conduzida e, é claro, pelos detalhes que são brilhantemente adicionados ao fim.

Sem contar a pitada de emoção que a participação de Bouc traz ao filme.

Hercule Poirot encontra, “por acaso”, seu velho amigo Bouc no Egito, enquanto está observando as pirâmides, e acaba se envolvendo em uma trama imensa que culmina em um assassinato em um navio no Nilo… uma das coisas de que mais gostei em “Morte no Nilo” foi o fato de a história ser construída ao longo da primeira metade do filme ainda antes do assassinato: é fácil perceber quem está prestes a morrer, e então ficamos tentando perceber as pessoas ao redor de Linnet e que motivações cada um teria para cometer o crime, enquanto nos aprofundamos em toda a história de traição e interesse que a envolve. Inclusive, outras tentativas de assassinato, quando eles estão visitando um antigo templo, por exemplo, que são cenas que são colocadas para nos distrair, de certa maneira, de um plano muito mais antigo e mais elaborado que qualquer coisa simples como uma rocha rolando.

A principal história que envolve Linnet, e que é a única que é realmente desenvolvida com detalhes e tempo de tela, entregando que é em torno daqueles personagens que está a resolução do caso, é a história de como Linnet se casou com Simon Doyle, um homem que namorava Jackie de Bellefort, sua melhor amiga, até então… tudo acontece depressa, porque Linnet e Simon se casam depois de seis semanas que se conheceram, e Jackie parece persegui-los por todos os lugares, atormentando-os. O filme quer nos convencer, no entanto, de que não foi Jackie ou Simon que mataram Linnet quando providencia, para eles, álibis que parecem bastante convincentes – mas tudo é bastante bem articulado. Ainda que entendamos que os álibis são enganações, o filme consegue nos deixar curiosos para entender como foi que eles levaram o plano adiante…

Por muito tempo, imaginei que o plano fosse de Simon e Jackie, mas que uma terceira pessoa havia atirado… e, então, acompanhamos Hercule Poirot enquanto ele faz seus sempre interessantes interrogatórios, que acabam levando a uma série de outras mortes. Diferente de “Assassinato no Expresso do Oriente”, não existe apenas uma vítima, e percebemos a tensão aumentar no barco enquanto o tempo para que a resolução do caso venha à tona vai se esgotando. Louise Bourget é assassinada pouco depois de seu interrogatório, no qual ela sugere a possibilidade de ter visto o assassino de Linnet saindo de sua cabine naquela noite, e então a trama vai crescendo, as inimizades e acusações também, e em algum momento achamos que todos se voltariam contra todos e ninguém sobraria vivo… mas foi a terceira morte do filme que me pegou mesmo.

“Morte no Nilo” traz de volta Bouc, um personagem querido de “Assassinato no Expresso do Oriente”, e que eu tinha certeza que continuaria vivo como uma espécie de “sidekick” do Hercule Poirot – ele ganha até uma história de amor com Rosalie, uma antiga amiga de Linnet, e uma investigação promovida por sua mãe, o que também justifica a presença de Poirot no navio, mas o filme me surpreende quando ele está mais envolvido do que pensamos… ele não foi o assassino de nenhuma das duas mortes até então, mas ele descobrira o corpo de Linnet antes do que Hercule imaginava e não disse nada, porque roubou seu valioso colar para poder fugir e se casar mesmo sem a permissão da mãe. No fim, sofri muito por Bouc, porque não acho que ele tenha feito nada de muito errado, e ele acaba morrendo apenas por ter visto quem matou Louise Bourget.

Assisti incrédulo à morte de Bouc!

É essa terceira morte que dá ao filme o tom mais emotivo que ele ganha na reta final, porque Bouc era um personagem querido e sua morte nos pega desprevenidos, assim como o faz com Poirot… então, ele finalmente conecta todas as pontas e reúne os personagens para contar a história de como o assassinato aconteceu – acredito que essa seja uma prática comum dos livros de Agatha Christie. Infelizmente, eu ainda nunca li um livro da autora (pretendo corrigir isso em breve, mas minhas leituras andam bem atrasadas ultimamente), mas é um recurso similar ao utilizado em “Assassinato no Expresso do Oriente”, e que claramente tem muito a ver com o estilo de escrita da época… talvez seja algo bastante expositivo, mas, particularmente, eu acho uma delícia acompanhar a narrativa de Hercule Poirot enquanto vemos todas as peças se encaixarem.

Dessa vez, com a ajuda da tripulação, Poirot tranca todos os suspeitos no bar do navio, e então ele desvela todo o mistério por trás da morte de Linnet Ridgeway-Doyle. Não há grandes mistérios na revelação de que tudo fora arquitetado por Simon e Jackie, que ainda estão juntos e planejaram ficar com a fortuna dela, mas é bacana entender como eles cometeram o assassinato, com os álibis que forneceram, e como isso se conectou a pequenos detalhes aos quais talvez não tenhamos dado muita atenção, como o fato de a tinta vermelha de Euphemia ter sumido. Depois de tudo esclarecido, sabendo que eles não terão como fugir, Jackie abraça Simon e atira em ambos ao mesmo tempo, totalizando cinco mortes no Nilo. “Morte no Nilo” é previsível, mas visualmente bonito e delicioso de se acompanhar… mal posso esperar pelo próximo caso de Hercule Poirot.

 

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