Sweeney Todd: O Cruel Barbeiro da Rua Fleet (2022)
“E o nome dele era Sweeney Todd…”
Uma
experiência inusitada e extraordinária. “Sweeney
Todd” ficou muito conhecido em 2007, quando ganhou uma versão
cinematográfica dirigida por Tim Burton e protagonizada por Johnny Depp e
Helena Bonham Carter, mas é uma história muito mais antiga que isso, que ganhou
sua primeira adaptação musical (com letra e música de Stephen Sondheim e texto
de Hugh Wheeler) em 1979, na Broadway – e que chega agora ao Brasil,
protagonizado pelos maravilhosos Rodrigo Lombardi e Andrezza Massei, dando vida
a Sweeney Todd, o barbeiro cruel que retorna a Londres buscando vingança, e a
Sra. Lovett, a dona de uma loja de tortas fracassada, e os dois formam uma
dupla no mínimo interessante. “Sweeney Todd” é um conto macabro e, ao
mesmo tempo, profundamente humano, intensificado pela forte e marcante
identidade musical que Sondheim conferiu à obra.
“Sweeney Todd: O Cruel Barbeiro da Rua
Fleet” conta a história de Benjamin Barker, um barbeiro honesto e ingênuo
que foi acusado injustamente de um crime e exilado por um juiz mau-caráter que
sempre quisera se casar com a sua esposa, e que também acabou com a vida dela,
ao abusar dela durante uma festa em sua casa… muitos anos depois, Benjamin
Barker retorna a Londres, transformado por tantos anos de exílio, buscando a
esposa e a filha – mas descobre que a esposa está morta e que sua filha está
sob os “cuidados” do perverso juiz que o acusou… e que agora pretende se casar
com ela. Sweeney Todd anseia por vingança
e, enquanto espera que os responsáveis por sua ruína apareçam em sua barbearia,
ele começa a matar homens que caem através de um alçapão até o subsolo da loja
da Sra. Lovett, que transforma os corpos em carne para as suas tortas…
Que se tornam um verdadeiro sucesso.
Acho que o
que há de mais fascinante em “Sweeney
Todd” é esse ar que me faz pensar muito nos contos de Edgar Allan Poe: é
algo ironicamente macabro e sarcasticamente melancólico. A história de Sweeney
Todd é uma história de dor e sofrimento, e há certa graça perversa nas ações
condenáveis dele e da Sra. Lovett agora. Visualmente, o teatro foi preparado
para transmitir essa atmosfera sombria e misteriosa, em uma organização
inusitada que propõe a imersão da plateia e sua união à história, através de
três palcos principais (um para a loja da Sra. Lovett e a barbearia de Sweeney
Todd e um para Johanna, por exemplo), um coreto central e dois “corredores”
chamados de Rua Fleet. A plateia é convidada a estar no centro da ação e a se
voltar para acompanhar as cenas que acontecem em diferentes lugares… às vezes em mais de um lugar ao mesmo tempo.
A ideia me
parece teoricamente fascinante – mas, na prática, um pouco desconfortável.
Acredito que a ideia é bacana por dividir a ação em diferentes frentes, mas é
muito difícil escolher um lugar na plateia que lhe permita assistir, com
perfeição, a qualquer cena… e temo que algumas pessoas possam se distrair mais
facilmente do que se sentadas em frente a um palco convencional, sem precisar
desviar os olhos da ação à sua frente. De todo modo, eu estava muito animado
para essa experiência, porque era a primeira vez que eu assistia a um musical
dessa maneira, e muita coisa interessante veio dessa experiência diferente,
como a oportunidade de apresentar uma música da Sra. Lovett e do Sweeney Todd,
falando sobre o passado, em um palco, enquanto o coreto principal mostrava um flashback, ou ainda músicas e cenas que
se sobrepõem.
O elenco
brasileiro, como eu comentei no início do texto, está encabeçado por Rodrigo
Lombardi e Andrezza Massei. Preciso dizer que saí do teatro ainda mais apaixonado por Rodrigo Lombardi: é um
prazer ouvi-lo cantar ao vivo; além disso, ele coloca tanta verdade e
intensidade no reencontro de Sweeney Todd com suas antigas navalhas que aquele
momento no qual ele estende a mão e diz que “seu braço está finalmente completo
outra vez”, eu fiquei todo arrepiado… ali
eu aplaudi com gosto o grande ator que Rodrigo Lombardi é! Andrezza Massei,
que eu tive o prazer de assistir ao vivo anteriormente em “Chaves”, interpretou uma maravilhosa Sra. Lovett, apaixonada,
alucinada e divertida. O elenco ainda conta com Mateus Ribeiro como Tobias
Ragg, Guilherme Sant’anna como Juiz Turpin, Dennis Ribeiro como Anthony e Caru
Truzzi como Johanna.
Adoro as
melodias de “Sweeney Todd”, e como
elas ecoam em minha mente mesmo muito tempo depois de assistir ao musical…
gosto de musicais que você pode reconhecer com poucas notas, como é o caso de “O Fantasma da Ópera”, e afirmo que “Sweeney Todd” tem uma identidade
musical tão impactante e marcante quanto “Phantom”.
A condução da história é curiosa e inteligente, porque faz com que nos
afeiçoemos a Sweeney e com que entendamos o seu desejo por vingança, em um
primeiro ato que é excelente na apresentação dos personagens, das suas
motivações e nas relações que se estabelecem entre eles, como o Anthony se
apaixonando por Johanna ou a Sra. Lovett trazendo Sweeney Todd para perto de si,
já que, ao que tudo indica, era apaixonada por ele desde que ele era apenas
Benjamin Barker, o barbeiro ingênuo de outrora.
O segundo
ato, por sua vez, é muito mais ágil e eletrizante, em uma sequência desenfreada
que nos tira o fôlego, que nos angustia e, de certa maneira irônica e perversa,
nos diverte. São reviravoltas
interessantes que culminam em um clímax surpreendente, dramático e macabro, que
é brilhantemente interpretado por cada um dos atores em cena… é engraçado como
o clímax me “surpreendente” e faz o meu coração se acelerar, mesmo já tendo
assistido ao filme tantas vezes, porque é um filme de que gosto bastante: mesmo
sabendo o que esperar, é um choque e uma surpresa assistir ao desenrolar
irônico e às consequências do desejo cego de Sweeney por vingança. “Sweeney Todd: O Cruel Barbeiro da Rua
Fleet” é uma experiência e tanto e, quando chega ao fim, queremos levantar
e aplaudir em pé à produção lindíssima e de coração aberto que acabamos de
assistir.
O “epílogo”
cantado por todo o elenco é um toque especial que me arrepia!
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