A Favorita – A segunda reportagem de Zé Bob sobre Donatela

“Como é que é?”

Adoro a dinâmica e a química de Donatela e Zé Bob. Como muita coisa em “A Favorita”, eles não são o casal “convencional”. Gosto muito de toda a proposta de João Emanuel Carneiro, e é uma pena que o público não tenha aceitado a proposta como ela foi concebida e o autor precisou adiantar uma informação que viria originalmente só à frente… gosto dessa mudança no estilo e dessa incerteza (sim, por vezes angustiante na época, agora apenas divertida) que guiam o roteiro de “A Favorita”. Assim, Zé Bob, de alguma maneira, está no meio de duas mulheres que se odeiam – e vale lembrar o que aconteceu com o último homem por quem Flora e Donatela se apaixonaram ao mesmo tempo. Mesmo assim, a dinâmica é bacana e é curioso perceber como o que Zé Bob compartilha com “Sandra Maia” é bastante diferente do que o que ele tem com Donatela.

Com Donatela, é o que eventualmente será chamado de “tesão recalcado”. Porque, em uma primeira olhada, eles parecem se odiar. Ele odeia socialites que dão festas como a que ele foi obrigado a cobrir para o jornal, e ela ficou revoltadíssima com os comentários dele sobre a festa, não apenas durante a festa, mas eternizadas quando ele publica uma matéria na qual fala sobre a cafonice da festa e sua anfitriã. Quando Donatela vai ao jornal furiosa para “tirar satisfações”, os dois acabam inusitadamente enfrentando juntos uma experiência que os faz brigar, mais do que já estavam brigando antes, mas, de certo modo, que também pode tê-los se aproximado: ficarem sem carro, sem celulares, embaixo de chuva e longe de casa – quando Donatela conseguiu uma carona para voltar para casa, mesmo contra todas as possibilidades, Zé Bob se permitiu se surpreender…

Mas isso vai voltar a acontecer.

Ganhamos mais uma pequena visão de como as coisas eram no passado, na época de Faísca e Espoleta, quando Donatela está se sentindo triste e começa a conversar com Silveirinha sobre “os velhos tempos”, e como normalmente ela ia para o centro comer um (ou três) pão com linguiça toda vez que recebia o cachê, ele resolve levá-la lá novamente, para alegrá-la – e quem aparece por lá justamente na mesma hora? O Zé Bob, é claro! Os dois se provocam como sempre (“Palhaço” “Ridícula”), até porque ele não entende o que uma milionária está fazendo ali e se isso faz parte de “suas excentricidades”, mas ele presta atenção quando uma mulher passa pedindo dinheiro e, quando Donatela percebe que eles estão com fome, ela compra lanches para eles… isso o faz pensar um pouquinho, e depois ele defende essa mesma mulher de um garçom que queria expulsá-la.

Mas tudo “muda” de fato quando um menino corre para a rua ao ver cinco reais no chão, e ele quase é atropelado… sem pensar, Donatela corre para salvar o garoto, e ele fica chocado e um pouco incomodado com a própria atitude, porque percebeu que ele não fez nada. Destaque para a Tuca comentando a cena e a reação de Zé Bob: “Surpreendente a química que existe entre vocês dois. Desde que você fez aquela matéria desbancando a Donatela bem que eu desconfiei… tamanha bronca só podia ser tesão recalcado”. Ela ainda garante para ele que a reciprocidade é total. E como, para salvar o garoto, Donatela deixou cair uma pulseirinha de ouro que foi encontrada justamente por Zé Bob, ele vai usar isso como desculpa para poder voltar a vê-la, até porque está repensando o que acreditava sobre ela: tinha um retrato muito feio da socialite, mas ela “provou ter qualidades humanas”.

Então, ele acaba ligando atrás de Donatela, e quem atende é o Silveirinha, que diz exatamente onde ele pode encontrá-la – e é claro que, quando se veem novamente, os dois imediatamente começam a se provocar, porque é a reação natural de Donatela, mas, dessa vez, Zé Bob não está ali para isso… está ali para dizer que se surpreendeu com a sua atitude e, aos poucos, eles começam a se comunicar como seres humanos, de uma forma mais civilizada, o que é um grande avanço – e, naquela briga/conversa, eles acabam se beijando novamente… e, dessa vez, é um beijo longo, quente, que eles levam até um depósito no aeroporto, e ela até tenta dizer que não pode fazer isso, porque é casada, mas ela não está realmente deixando de beijá-lo… pelo menos não até dar uns tapas nele, chamando-o de tarado e depravado, e quando ele manda “bater mais”, eles se beijam de novo.

Silveirinha tem razão quando diz que ela o quer.

E agora que a casa do Dodi caiu, é o momento!

Mais tarde, Silveirinha traz o jornal para que Donatela veja, dizendo que tem uma nova reportagem do Zé Bob falando sobre ela, e ela o manda levar o jornal embora porque ela não quer nem saber disso – dessa vez, no entanto, Silveirinha acha que ela precisa saber o que está escrito. Então, se ela não vai ler por conta própria, ele o lê para ela, e É UMA MATÉRIA ESCRITA PARA ELOGIÁ-LA, SURPREENDENTEMENTE, falando que existem mais camadas do que se pode imaginar à primeira vista… é divertido o choque de Donatela (“Como é que é?”), se levantando da cama pedindo que o Silveirinha lhe entregue o jornal porque quer ver direito. Bem, da última vez que ela beijou o Zé Bob ela ainda era uma mulher casada… agora, ela expulsou Dodi de casa e não tem nenhum compromisso com ele, pelo menos não de verdade (legalmente sim, mas é uma questão de tempo e não importa agora).

Amei o Silveirinha perguntando se “ela não ia ligar para o bonitão”.

Liga, boba!

 

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