Ainda Estou Aqui (The In Between, 2022)
“Eu te amo”
As melhores
histórias de amor são as mais trágicas? Certamente várias das mais famosas são:
“Romeu e Julieta”, “Titanic”, “Ghost”, “Cidade dos Anjos”,
“Um Amor Para Recordar”, “Meu Primeiro Amor”… protagonizado por
Joey King e Kyle Allen, “Ainda Estou
Aqui” é um drama romântico lindíssimo sobre dois jovens que se conhecem, se
apaixonam e vivem um intenso romance de verão – até que um acidente os separa. Eu
confesso que não sabia bem o que esperar do filme, e me surpreendi com uma
história tocante e sensível sobre traumas de infância, bloqueios emocionais e
luto. Com muita delicadeza, sentimento e beleza, “Ainda Estou Aqui” constrói uma história pungente que se completa
aos poucos, com a narrativa alternando entre o presente, depois do acidente e
da morte de Skylar, e o passado, quando Skylar e Tessa viveram seu amor.
O filme
começa nos mostrando o que aconteceu depois
do acidente – que ainda não sabemos como foi. Vemos Tessa acordar no
hospital depois de ter sobrevivido a um acidente ao qual seu namorado não
sobreviveu, e apenas podemos imaginar a dor que ela está sentindo… enquanto ela
não tem forças para seguir em frente e passa dias inteiros na cama e desiste
das coisas que gostava de fazer, percebemos sinais de que Skylar ainda não fez
a passagem para a sua vida após a morte e está preso em algum lugar entre os mundos, e retornamos no tempo
para reconstituir o romance de Skylar e Tessa e entender o que ainda o prende
ali. E voltamos, inicialmente, até o lindo dia em que eles se conheceram. Acho
que eles não podiam ter tido um “primeiro encontro” mais mágico, mais
romântico, mais significativo e que combinasse mais com eles: os dois sozinhos em um cinema, assistindo a
um filme francês sem legendas, com Skylar traduzindo toda fala para ela…
Ali se cria
um tipo de conexão que não é fácil de se superar.
Depois
disso, Skylar e Tessa passaram meses
sem se reencontrar – mas continuamente pensando um no outro. O reencontro deles
acontece uns dois meses depois daquele dia no cinema, com momentos muito fofos
entre eles, seja com Shannon, a melhor amiga de Tessa, falando sobre como
Skylar “é um sonho” ou qualquer coisa assim, ou a mãe de Skylar falando sobre
como ele não para de falar “sobre a garota do cinema”. Sentimos, naqueles
momentos tão lindos, que Skylar e Tessa estavam destinados a ficarem juntos, e
é lindo ver como os dois se tornam parte um da vida do outro, como Tessa o
ajuda a ver que talvez ele não possa consertar tudo, enquanto Skylar a ajuda, aos
poucos, a baixar um pouco suas defesas que não lhe permitem se aproximar de
alguém ou dizer em voz alta que o ama…
porque ela está acostumada a perder todos que ama.
No presente,
a história é dolorosa, difícil, mas emocionante – porque entendemos Tessa. E nos arrepia o fato de que Skylar ainda está ali, como ela vai percebendo
aos poucos, através de sinais e conversas com Doris, que fala sobre como às
vezes os espíritos ficam uns dias vagando por aqui, geralmente porque existe
algo que eles ainda precisam fazer… Tessa custa um pouco a acreditar que Skylar
de fato continue ali, mas, eventualmente, ela não pode continuar ignorando as
suas tentativas de falar com ela, seja através da música, de uma foto que ele
manda no seu celular, ou das fotos que ela revela, mas que não foi ela quem as
tirou… é de arrepiar aquela cena em que ela revela uma foto de sua mão e a de
Skylar está sobre a dela, com os dedos entrelaçando nos seus. Mas ela não sabe como ela pode se comunicar
com ele, ouvir o que ele quer, dizer o que não teve a chance de dizer antes…
“Ainda Estou Aqui” é, principalmente,
sobre conseguir conclusões e seguir em frente. O relacionamento de Skylar e
Tessa teve seus problemas, e o fato de não
ser tão perfeito assim é o que o torna mais real e mais importante, porque
não muda o fato de que eles se amavam imensamente – até porque as “brigas”
sobre as quais ouvimos falar, inicialmente, foram brigas por motivos que não
parecem assim tão graves depois de uma morte como a de Skylar… primeiro, Tessa
fica brava porque Skylar expõe uma foto que ela tinha lhe dado de presente, mas
apenas porque ele queria provar para ela que as suas fotos são boas e que ela
pode se inscrever para a grande faculdade de artes para a qual a professora a
incentiva a se inscrever; depois, porque Skylar decide se inscrever para uma
faculdade que não era a que eles tinham combinado, e eles vão ficar longe um do
outro.
São brigas adolescentes e ocasionadas
justamente pelo amor que um sente pelo outro…
Acreditamos
no amor de Tessa e Skylar, torcemos por eles, sabendo que eles não estão juntos – porque, assim como em “Moulin Rouge”, começamos o filme sabendo que um deles morrerá no
final, e sabendo quem é. Ainda assim, vivemos cada momento intenso daquele amor
jovem e sincero, cada momento que eles experimentam, seja no cinema, no lago,
em um antigo hotel abandonado… e sofremos por Tessa, porque percebemos que ela
queria dizer em voz alta que o amava, mas não conseguia, e agora ele morreu e
ela nunca teve a chance de dizer isso para ele, e isso é parte do que a
atormenta. Talvez seja por isso que
Skylar continua aqui, talvez ele esteja ali para ouvi-la dizer isso uma vez
antes de partir – talvez porque saiba que não é só para ele que ela precisa
dizer isso, mas para ela mesma… dizer “Eu
te amo” em voz alta é o último passo para que Tessa derrube alguns muros
dentro de si.
A sequência
final do filme é emocionante. Tessa tem pouco tempo antes que Skylar parta para
sempre, e também precisa passar por uma cirurgia para sobreviver, e é assim que
ela chega ao mesmo lugar de Skylar, em um lugar entre mundos onde eles podem se encontrar. A direção da cena é
belíssima, apresentando a Tessa do presente, que é levada pelo espírito de
Skylar até o lugar do acidente e desmaia ali e, ao desmaiar, seu espírito sai
de seu corpo e pode assistir ao que aconteceu ali, na noite do acidente, e é
isso o que Skylar quer que ela veja, por isso ele a trouxe ali: porque ele queria que ela ouvisse tudo o que
eles falaram naquela noite, queria que ela se lembrasse de ter dito que o amava
– porque ela disse, mais de uma vez. Então, vemos, também, como o acidente
aconteceu, e é mais trágico e triste do que imaginamos, porque foi um
atropelamento…
E vemos que
Skylar salvou a vida de Tessa, recebendo todo o impacto sozinho.
O “flashback” do acidente foi intenso e o
diálogo antes dele foi lindo, o reencontro das almas de Tessa e Skylar também é
emocionante, e tudo o que eles viveram naquele pouco tempo em que puderam estar
juntos uma última vez antes que ele partisse também foi belo – uma viagem a
Paris, a reconstrução de uma foto que ela amava, um nascer do sol na praia, por
exemplo… e, então, eles se despedem, com beijos, carinho e lágrimas escorrendo,
com Tessa livre para dizer que o ama e descobrindo que, permitindo-se sentir, vale
muito a pena viver… a mensagem é bonita, e nos emociona a força de Tessa ao
fim, depois de uma perda tão dolorosa, mas que a ensinou a abraçar os fantasmas
do passado e viver com eles, para que se possa, de fato, viver, ao invés de apenas se esconder e negar-se sentir com medo de
se machucar. É um filme lindíssimo que me emocionou e me fez chorar.
Recomendadíssimo!
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