Chicago: O Musical (2022)
“Senhoras e
senhores… o que verão a seguir é uma história de crime, ambição, corrupção,
violência, adultério e traição. Todas essas coisas que a gente adora.
Obrigado”
O TANTO QUE
EU AMO ESSE MUSICAL! “Chicago” é um
musical original da Broadway, que estreou pela primeira vez em 1975, e que
desde que retornou aos palcos de Nova York, em 1996, já soma quase 10.000
apresentações, sendo o segundo musical há
mais tempo em cartaz na Broadway (atrás apenas de “O Fantasma da Ópera”). Com música de John Kander, letra de Fred
Ebb e libretto de Fred Ebb e Bob Fosse, “Chicago”
é uma sátira inteligente e bem-humorada que se passa em Chicago, durante os
anos 1920, uma época em que a cidade era tomada pelo som do jazz… e de vários
crimes que criavam “celebridades”. Em 2002, o musical ganhou uma adaptação
cinematográfica incrível, protagonizada por Chaterine Zeta-Jones, Renée
Zellweger e Richard Gere e, nesse ano, o Brasil ganha a sua segunda adaptação,
protagonizada por Emanuelle Araújo e Carol Costa.
É
interessante e, quiçá, inusitado, pensar em como Chicago é a história de uma
cidade dos Estados Unidos, no século passado – e consegue ser tão atual e
universal! “Chicago” conta a história
de duas mulheres ambiciosas que são presas depois de cometer assassinatos… de
um lado, temos Velma Kelly, uma dançarina que atirou no marido e na irmã quando
os pegou juntos depois de uma apresentação; de outro, temos Roxie Hart, uma
sonhadora e aspirante a vedete que atirou no amante que estava tentando
largá-la. Agora, as duas aguardam seus julgamentos, enquanto tentam encontrar
maneiras de conquistarem o júri e, consequentemente, serem absolvidas, ao mesmo
tempo em que pensam em aproveitar a intensa e constante cobertura da mídia e o
fato de elas terem se tornado o assunto mais comentado dos jornais para saírem famosas…
“Chicago” é um musical bastante irônico e
debochado – uma sátira que nos diverte horrores! Torcemos por essas mulheres,
enquanto o musical nos conduz por uma história que fala sobre injustiça e
impunidade, criticando tanto o sistema judiciário extremamente falho como o
conhecemos e a glamourização da mídia. “Chicago”
traz protagonistas imperfeitos, mas carismáticos, pelos quais nos apaixonamos,
em um verdadeiro espetáculo que envolve glamour, imprensa, assassinato, jazz,
circo, julgamento… é uma delícia assistir a “Chicago”,
e é impressionante como o musical não tem cenários ou trocas de figurino, mas,
mesmo assim, nos deixa vidrados e apaixonados graças aos seus personagens, às
músicas cativantes e envolventes, e a agilidade e sagacidade de um roteiro
inteligente que nos deixa com um sorriso no rosto e uma vontade imensa de
aplaudir!
Adoro,
também, o fato de “Chicago” trazer a
orquestra no palco – para mim, a
orquestra ao vivo é uma das partes mais importantes que torna a experiência de
assistir a um musical tão intensa e tão marcante. O “Overture” é sempre uma das minhas partes favoritas dos álbuns dos
musicais, porque parecem me transportar de novo para quando eu estava no teatro
e, mais do que ouvir, eu podia sentir
essas músicas! No caso de “Chicago”,
é gostoso poder olhar para a orquestra também, além de ouvi-la, algo que
normalmente não acontece nos musicais, poder ver os personagens interagirem com
o maestro, por exemplo, como quando a Roxie está feliz em ver seu nome
estampado no jornal e fica mostrando para ele… sem contar que as músicas de “Chicago” são incríveis, adoramos esse
som de jazz e blues e, ironicamente, saímos marcados pela melodia de “Mr. Cellophane”.
A versão brasileira,
sem surpresa alguma (porque os musicais brasileiros e as versões nacionais de
musicais da Broadway são incríveis!), é um espetáculo dançante, sensual,
divertido, envolvente… incrível! Eu saí do teatro sem conseguir parar de sorrir
(não que eu quisesse), sentindo-me PROFUNDAMENTE FELIZ por eu ter conseguido
vivenciar aquilo tudo! E, agora, infelizmente, não posso deixar de lado a minha
sensação de que não importa o que eu escreva, eu não vou fazer jus aos meus
sentimentos, meu fascínio e meu amor por esse musical e por essa versão, que
não vou poder citar todos os talentos envolvidos por trás dessa produção ou
elogiar todo mundo que eu gostaria de elogiar, mas, de modo geral, eu digo a
toda a equipe que tornou essa versão brasileira de “Chicago” possível: obrigado
por tornarem essa experiência tão maravilhosa.
O elenco
brasileiro conta com Emanuelle Araújo dando vida à excêntrica, talentosa e
confiante Velma Kelly – que vê o seu reinado ameaçado quando o seu destaque nos
jornais começa a diminuir porque a “nova estrela de Chicago” é Roxie Hart.
Emanuelle Araújo, que eu acho maravilhosa para papéis cômicos, dá à Velma um
tom divertidíssimo, e ainda nos agracia com momentos como “All That Jazz”, uma das músicas mais icônicas de “Chicago”. Confesso que eu esperava uma
tradução para o título da música, mas, ainda assim, foi incrível para
começarmos a entrar no clima do musical… Velma também é uma das estrelas, ao
lado de mais cinco mulheres incríveis, de uma das minhas cenas favoritas no
musical: o icônico, macabro e divertido “Tango
do Presídio”, que me fez ter vontade de levantar daquela poltrona do teatro
e aplaudir em pé!
Ao lado de
Emanuelle Araújo, temos a querida, fofa e talentosíssima Carol Costa como Roxie
Hart. Roxie é diferente de Velma porque ela tem certa inocência da qual ela
precisa se livrar e, paradoxalmente, usar se quiser se dar bem no julgamento
que está por vir… Carol, que eu assisto ao vivo pela segunda vez em um musical,
concede à sua Roxie o ar jovem, angelical e travesso que a personagem exige, e
ela consegue brilhar e dominar aquele palco mesmo quando está sozinha nele,
como na já mencionada sequência na qual ela está maravilhada com o seu nome em
letras garrafais no jornal – mesmo que seja, você sabe, porque ela acabou de
matar um homem… Roxie é uma personagem divertida que adoramos acompanhar, que
amamos ver crescer e entender todo esse jogo que envolve muita interpretação e
manipulação da imprensa para ser bem-sucedida!
E, ao seu
lado, temos Eduardo Amir sendo o adorável Amos… e nos emocionando com “Mr. Cellophane”.
Lilian
Valeska dá vida à Mama Morton, certamente um dos grandes destaques do musical!
Com uma voz incrível, uma presença impressionante e todo o carisma de que
dispõe, Lilian é uma Mama divertida e que nos conquista já em “Se Tu Faz Pra Mama” – que é outra
música de “Chicago” que eu adoro de
todo o coração! Mama Morton é uma personagem inusitada: ela representa a
corrupção dentro do sistema carcerário, e nós a amamos… ela é a responsável por
colocar as garotas que ela acolhe como suas protegidas, em uma espécie de toma
lá dá cá que ela deixa bastante explícito durante a sua música principal, em
contato com jornalistas, advogados e agentes… é muito divertido acompanhar a
interação de Mama com Velma, e as duas chegam a ganhar um dueto na reta final
do musical, já depois do julgamento de Roxie Hart…
Mas eu
preciso dizer que o personagem que eu mais amo e que tem a maior parte das
cenas que eu mais adoro em “Chicago”
é Billy Flynn. Tendo Paulo Szot como titular no papel, Billy Flynn foi
magistralmente interpretado por Marcelo Vasquez no dia em que eu assisti ao
musical, e ele não poderia estar mais entregue e envolvente – adorei assisti-lo
como Billy Flynn!!! Billy é “o melhor advogado de Chicago”, e embora ele entre
com a irônica e divertida “Só Importa o
Amor”, é claro que tudo com que ele se importa é o dinheiro… ele não
pergunta, por exemplo, se Roxie é inocente, mas se ela tem ou não cinco mil dólares para pagar pelos seus
serviços! E, assim que assume o caso, ele entrega cenas brilhantes ao lado de
Roxie, e eu destaco “Com a Arma na Mão”,
que é a cena na qual ele “reinventa” a história da noite do assassinato durante
uma coletiva de imprensa de Roxie…
E toda a construção como se ela fosse uma
marionete é genial!
“Chicago” é exagerado e, ao mesmo tempo,
real – e, por isso mesmo, uma sátira tão brilhante. Velma é esquecida porque
outra “estrela” aparece, e Roxie quase perde seus holofotes quando uma “louca
de ciúme faz chacina na suruba”, mas então ela mostra que entendeu mesmo como esse jogo funciona, e
rapidamente inventa uma gravidez que a coloca novamente em destaque nos
jornais, e ela ainda rouba umas ideias de Velma para o seu julgamento, durante “Tudo é Mágica”, que é outra sequência
brilhante do musical. “Chicago” é irreverente,
crítico, inteligente, debochado, além de ter um carisma gigante, músicas
incríveis e performances impecáveis: certamente, um dos melhores musicais que
eu já assisti na vida! Em cartaz em São Paulo, o musical é uma experiência
inesquecível que, se você tiver a oportunidade, não deveria perder!
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